2005-06-30

Lei de Talião

Stop the murder, deter the crimes away
Only killing shows that killing doesn't pay

Diamanda Galás - Iron Lady



A Humanidade parece ser uma Besta cheia de hábitos, repetindo ad eternum os erros do passado. Se tiver sido bem varrido para debaixo do carpete da memória, então tendemos a achar que o erro nem existiu. A memória sempre foi indigesta!

Mas hoje, tarde ou cedo, acaba-se por saber (quase) tudo. E aí, penso que os media, apesar de todos os exageros e todas as debilidades tão fáceis de apontar, jogam um papel vital: cada um dos segredos mais escabrosos e cabeludos, cada uma das facadas na Humanidade, dadas a mais das vezes alegadamente em defesa dessa mesma Humanidade, acabam publicadas em algum sítio, até num qualquer blogue, até numa nota de roda-pé de um jornal das 20h.

Só temo que, no final, por mais inteligentes que nos julguemos, acabemos a regressar aos esquemas primevos da existência e que a lei de Talião continue a ser a pena que sabemos aplicar: olho por olho, dente por dente...

Aliás, que mais apetece fazer a quem "inventou" barcos prisão para evitar ser apanhado pelas pouquíssimas regras que a "democracia" e a "liberdade" conseguiram implementar nos esquemas de relações à escala internacional?

2005-06-29

Linha Branca

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As grandes cadeias de distribuição garantiram a semana passada que não farão reflectir nos consumidores o aumento do IVA no preço final dos seus produtos.

O Carrefour foi o primeiro a tornar pública esta decisão, ao anunciar que vai manter os preços de 737 produtos de marca própria, apesar da subida do IVA de 19% para 21%, disponibilizando para o efeito até um milhão de euros até ao final do ano.

Os supermercados Pingo Doce, do grupo Jerónimo Martins, fizeram saber de imediato que também não vão reflectir os dois pontos percentuais de aumento do IVA nos preços de venda de todos os produtos.

A Aucham (Jumbo e Pão de Açúcar), bem como a Sonae Distribuição (Modelo Continente) manifestaram igualmente a intenção de manter os preços, reafirmando a sua política de baixos preços.


Gostaria de conseguir acreditar.

Mas confesso que, ultimamente, ando farta de promessas.

De promessas e de barulho, a troco de nada.

Farta de gente que promete e não cumpre; farta de gente que faz barulho e não apresenta contrapropostas.

E talvez seja eu que sempre trabalhei em ambientes competitivos, onde os objectivos são para cumprir e ultrapassar e não uma coisa que ninguém sabe muito bem o que é.

Ao mesmo tempo, sempre vi gente a deixar o mundo passar a correr, sem nada fazer para se actualizar, agarrada a privilégios velhinhos e torpes, polvos de tentáculos bem agarrados a cadeiras do poder. E os que trabalham de facto à espera que o velho caia da cadeira, para que algo mude por fim.

São normalmente estes que nada fazem os que mais berram. E isso parece-me sintomático. Ontem ouvia o Miguel Sousa Tavares, na TVI, a falar dos sindicalistas, como uma espécie de classe à parte, a meio pau entre os que trabalham e os que mandam. Falava também em como, tantos deles, estão perfeitamente alheados nas realidades laborais de hoje e como tantos nem sequer entendem que é flagrantemente injusto para alguns trabalhadores que outros, do mesmo nicho contributivo, tenham privilégios especiais.

E parece-me que Sousa Tavares tem razão quando diz que não basta fazer barulho: se, por um lado, o Governo fez as suas contas - mesmo com erros, como se viu - e apresentou as medidas que achou necessárias, então agora quem berra em nome dos "trabalhadores" (gosto tanto destas designações generalistas o suficiente para não designarem nada) que se chegue à frente com contrapropostas. Alguém já viu alguma?

Bem, parece que as Grandes Cadeias estão a apresentar uma contraproposta. E uma de saudar: é que se se pode viver com sapatos velhos, já não se vive sem pão.

Cá por mim, está decidido: vou dedicar-me às "linhas brancas". A marca é cada vez mais secundária, especialmente em alturas em que pouco sobra, quando sobra, no fim do mês.

2005-06-27

Esconjuro

Eu fugi do passado para vir encontrá-lo num blog esverdeado.

J.Q.



Confunde-me esta normalidade em que vou soterrando os dias, a fazer de conta que é normalidade o choque assimétrico em que me gizo.

E, por cada grito que dou, há um silêncio miudinho que me fere os tímpanos.

Já não fujo do passado, nem do presente, nem sequer das ânsias de futuro. Fujo desta indistinta lembrança de mim, da voz que me foge, do silêncio que me abala.

Exorcizo-me. Calo-me. Grito-me. Em silêncio. Farta dos pedaços desconexos que, como slides, são os cacos remanescentes do passado, que não se enterra, que não encontra túmulo, nem se aquieta.

Esconjuro-te!

Pragmatismo












Existe em mim uma capacidade para admirar o belo, mesmo que, tanta vez, escolha não lhe dar demasiada importância. E, no entanto, quando temos algo verdadeiramente belo entro mãos, quando o sentimos quase como nosso, como se ali estivessem reunidas fontes de prazer insuspeitas ou, por vezes, bastante suspeitas até, só nos resta apreciar, abusar, de tanta beleza e encontrar o prazer possível, sem desdenhar da sorte.

(Não fui muitas vezes acusada de pragmatismo. Aliás, há quem me ache muito pouco pragmática. Mas confesso que, depois de lutar durante anos com uma série de medos tolhedores, estou cada vez mais pragmática em muitas áreas da minha existência. E siga! Sem medos. O que for, será...)




E, sim, Bastet, tens razão: a presença do medo ocupa os intervalos...



___
imagem aqui


2005-06-26

Domingo

Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.


José Régio – Cântico Negro


A minha relação com a fé organizada será sempre um "sei que não vou por aí". As preces, para mim, não precisam ser mediadas. Como uma anedota, se não a contamos em discurso directo ao interlocutor, perdem-se pedaços. Sempre achei que as minhas preces são os meus ais em versão suspiro e não precisam de intermediários. Nem público.

Que coloque preces ao indizível apenas faz de mim humana, certo? Não foi, também, por esta capacidade de imaginar algo não concreto que nos permitimos fazer a separação para além do irracional? Mas não aceito que me contaminem quaisquer vislumbres de fé com interferências de uma organização forçada. Que não me contaminem esta vontade última de saber, de decidir, se e quando vou por ali. Afinal, não serei mais do que, como todos nós, o fruto possível do "amor que há entre Deus e o Diabo"…

E por isso, um dos meus poemas favoritos é este "Cântico Negro", do José Régio. Lembrei-me dele hoje, enquanto ouvia a Diamanda Galas cantar as suas Litanias e duas Testemunhas de Jeová me interromperam o sossego do Domingo. E nem a voz da Diamanda as pôs em fuga. Tive de ser eu. E não fui particularmente simpática. Sempre achei que esta gente não "atacava" ao Domingo… Será que já nem guardam o dia de descanso?

Mas fiquei com inspiração para um post. As inspirações fazem-se disso: pequenos nadas que são importantes para nós, que guardamos na memória e, por um acaso, se soltam como um suspiro. E um dia destes terei que postar aqui um outro texto que escrevi há muito e foi, então, demasiado polémico. Mas não hoje…

2005-06-25

Baixinho!


aqui


Esta paragem semi-forçada dos blogues deixou-me com imensos temas possíveis para palrar durante semanas. Mas agora não me lembro de nenhum...

É frustrante para quem, como eu, nasceu na freguesia mais central do Porto e foi criada quase paredes meias com o velho Estádio das Antas, ver-se agora na obrigação de trabalhar no dia de S. João. E como não sou "gaija" que goste de perder nada - pelo menos na totalidade - acabei numa sardinhada a 23, com previsões de recolher a horas decentes. Não aconteceu. Acabei recolhida a horas particularmente indecentes para quem tinha o despertador para as 07:00h. Tão indecentes, mas tão indecentes, que me entrou gente porta adentro e não ouvi rigorosamente nada.

Além disso, se não se pode festejar na véspera, trata-se de fazer a festa no dia. E, lá está, mais festa menos festa e já não temos a idade de ontem e pagam-se caro os exageros e fica-se um bocadinho mais cansado do que era suposto. Particularmente se regam a festa com um vinho caseiro rosé, fresquinho, da zona da Bairrada, que escorrega indecentemente bem e só se sente quando se deixa de sentir os tornozelos. Só encontrei os meus hoje de manhã. Afinal, até estavam no sítio do costume. Mas ontem eu iria jurar que não. Ontem eu iria jurar muitas coisas. Muitas. Hoje já não juro nada...

Bem, estou de volta!

(Mas calem os carros, calem o trânsito, calem até os pássaros! Preciso de café, litros de café. Preciso de água, muita água... Baixinho! Falem todos baixinho... ai!)





E alguém que me explique porque se desconfigurou o blogue!

2005-06-22

Porque não tenho tempo...


Soledad Fernandez, El Abanico Rojo


Quisera ser abanico
Nestes dias de calor!...

Ó injustiça tremenda
Que me tirais a prebenda
De dar um gosto a quem quer;
Um sopro mimado e fresquinho
Com amizade e carinho
Como gosta uma mulher!

Mas um dia há-de calhar.
E quando eu menos esperar,
Acontecerá um dia
Em que eu perco a timidez
E me ponho, com altivez
A abanar a Hipatia

Dela guardarei um nico
Por lhe secar o suor!
Quisera ser abanico
Nestes dias de calor!

Espumante (ali em baixo, nas Vozes do post "O dia mais longo")


Perdoem-me todos a quem não respondo hoje. Prometo as respostas que merecem. Estou devedora delas, aliás. Mal possa. Só que não vai ser hoje. A qualquer momento, fico sem bateria no telemóvel e no portátil.

Prefiro usar estes instantes de vida das baterias para pôr no blog o poema que o Espumante me dedicou. Porque posso ficar outra vez sem Vozes. Porque não posso, não quero, ficar sem este poema.

Obrigada, Espumante :)


2005-06-21

A palavra ainda tem valor


factais


Sabes, Cap:

As palavras perdem, tanta vez, os seus sentidos ou então vestem outros tão distintos do objectivo original, que com frequência esquecemos que "estúpido" e "estupendo" têm origem no mesmo assombro.

O dia mais longo

.

Apetecia-me escrever um post sobre o Solestício de Verão.

Mas estou com demasiado calor!

Recomendo este, a que roubei o título. Diz tudo o que me apetecia dizer hoje, não estivesse calor a mais para escrever...

Hoje soube-me a pouco

E que é que foi que ele disse?
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
Passa aí mais um bocadinho
que eu estou quase a ficar louco
Hoje soube-me a tanto....
Portanto, hoje soube-me a pouco

Sérgio Godinho - Com Um Brilhozinho nos Olhos


Gosto da ideia de estar a amadurecer. Do conforto que passar para além dos trinta me soube dar. Gosto da postura, da energia, da voz, de uma certa atitude de gente grande que ainda não perdeu as rédeas da infância. Da alegria espontânea de quem ainda sabe brincar e da contenção necessária de quem já se sabe adulto.

Um dia disseram-me que os rostos são espelhos à volta da vida... Talvez porque muitos assim o sintam, é com demasiada facilidade que, às vezes, aparafusamos um rosto novo e nos escondemos atrás da máscara. Na Net temos os nicks. Esconderijos ideais provavelmente, mas que nos fazem, também a nós, rodar à volta da vida, numa espécie de carrossel, que não há maneira de parar.

Não nos levarmos demasiado a sério talvez seja, de facto, a forma mais fácil de rodar com a vida e não apenas vê-la passar. Isso e um sorriso. Nada como uma cara bem disposta para que o dia esteja ganho.

Mas há dias em que é difícil...

2005-06-20

Respeito

We bound to respect
Cause and effect


Rage Against The Machine - Voice of The Voiceless



(estava a tentar que a fúria passasse, mas contar até mil não resultou...)

Fico fula com abusos. Fico mesmo! Detesto quando me tentam levar o braço quando nem a ponta do dedo dei. E, sim, hoje venho avariada do emprego, onde me aconteceu uma dessas. E não gostei e trago-a ainda atracada na garganta.

A última coisa que esperava era sentir-me insultada no meu próprio blogue. É que mesmo que entenda que os comentários são escritos, muitas vezes, sem se pensar nas implicações, ou interpretações possíveis dos mesmos, respeito é bonito e eu gosto. Especialmente de pessoas que nunca desrespeitei!

E pronto! Podem até dizer que estou a exagerar. Sou mesmo exagerada, nunca o neguei. E também nunca o escondi. Se o que queriam dizer nada tem a ver com o que percebi, devia estar melhor explicado!

2005-06-19

Nem tudo começa num beijo


Amor and Psyche


Queria ter sido capaz de te amar. Ou melhor: nem é bem isso, porque há vários tipos de amor e até acho que te amo profundamente. Mas queria ter sido capaz de te amar com aquele amor tresloucado e possessivo, quase paranóico, que nos faz perder o chão, perder o ar. Porque acho que mereces ser amado assim. E eu não soube, ou então apenas não sei como.

Queria ter sido capaz de te amar de forma ciumenta, implacável, sem espaço para mais ninguém, excepto nós. Queria ter sido capaz de fazer um casulo para nos escondermos, proteger-te do mundo, para que me protegesses a mim.

Queria que me tivesses partido o coração. Para que eu soubesse que te amei, mais do que te amo ainda, muito para lá do confortável, muito além da estima.

Queria ter-te feito meu, plenamente meu, tão meu que tivesses sido capaz de me fazer esquecer todas as minhas coisas. E eu te tivesse feito esquecer as tuas. Queria que nos tivéssemos perdido, para lá de nós, das nossas penas, dos nossos fantasmas, das nossas limitações.

Queria saber amar-te como mereces. Quero saber-te feliz. Porque te quero, ainda assim: quero-te bem! E tu sabes disso. Como podes duvidar?




La Luna (Lunatic Love Letter) - Ottmar Liebert

2005-06-18

Filmes!


Orçamento Posted by Hello



Défice Posted by Hello



Figo Posted by Hello



Fernando Gomes Posted by Hello



Sporting Posted by Hello



Apesar de gostar muito de cinema, não gosto de qualquer filme...

Haja pachorra para estes gajos todos!



(recebidas por mail; obrigada M.)

2005-06-17

Pontes

É que adoro o modo como cozinhas as palavras e como todos os teus 'posts' saem tão apuradinhos.

F.


Um elogio e tanto! Não sei sequer se o mereço, minha querida. Mas soube-me bem lê-lo, no segredo das caixas de correio. Talvez por isso me tenha sabido tão bem: não é apenas um elogio para todos lerem; foi algo só para mim. E gostei da forma como traduziste o atropelo em que perfilo as palavras, a forma como a minha escrita se faz da desordem e, tantas vezes, do exagero do tempero feito imagens, adjectivos.

Tentei muitas vezes contornar estar forma oblíqua de escrever. Porque não tenho um discurso oblíquo. Aliás, sendo tripeira de alma e coração, tenho até um discurso bastante directo que, quando temperado, é normalmente com palavrões. Mas a escrita sai-me sempre bem mais rebuscada do que desejaria.

E tu pedes-me para falar de amor. E eu não sei se tenho as palavras certas para falar de amor. O amor merece palavras claras, simples, puras. Especialmente um amor grande, profundo, adulto, magoado, feito de escolhas difíceis e de saudades maiores. Mas tentarei falar em outro dia. Está prometido. Falarei com o carinho que o teu pedido me merece, com o respeito que a obra tem de ter. Perdoa não ser hoje. Perdoa não ser talvez este fim de semana.

Mas vou escrever esse post de pontes e de amores. Para ti, que mo pediste. Mas para mim também: escreverei para recordar o sobressalto de ficar ali, com a mão na porta, dividida entre a vontade de partir ou ficar.

Só que eu ainda estou em busca de um reencontro com essa porta, essa grande decisão. E, por isso mesmo, esta não é uma boa altura para escrever sobre amores doloridos, mesmo que assim grandes, assim perenes.

Deserto

Andar no meio do Saara, bem dentro do deserto, onde os espaços são infinitos e se transformam, as cores. Sim as cores, a imensidão, a imponência, a aridez, o calor que entra janela do jipe adentro, ou será por nós adentro? O Sol lá em cima e ao mesmo tempo cá bem perto da pele.


Quem me dera, Bin!

Sobra-me apenas este calor, com cheiro a mata queimada e o céu que, em lugar de azul, se tinge de cinza e fuligem.

Antes o cheiro da areia, da secura. Antes o desejo de uma aragem que não corre. Antes um sol que nos queima até às entranhas. Mas é limpo ainda. Puro. Não cheira a verde destruído.

2005-06-16

hmm...


aqui


Há dias em que não vejo um boi do que se passa por aqui.

Mas hoje a culpa não é da Net...

Acho que vou ali comprar cigarros e já venho :)

2005-06-15

A teoria da vaca


aqui


Este pequenino filme - uma comédia romântica deliciosa - provoca-me sempre uma gargalhada, além de me fazer babar alarvemente pelo Hugh Jackman, nunca tão lindo como aqui. Recomendo-o, claro, especialmente às leitoras femininas e, muito em particular, à Maria Árvore, porque não consigo concordar com a escolha de hoje do Tom Cruise.

No filme, Jane (Ashley Judd) apaixona-se por um colega de trabalho. Tanto e tão rapidamente que em meia dúzia de semanas já cancelou o aluguer do apartamento, uma vez que vai viver para uma casa nova escolhida a dedo com Ray (Greg Kinnear). Mas, mesmo por essa altura, Ray começa a mostrar sinais de um distanciamento crescente e, por fim, deixa de aparecer enquanto ela embala os últimos caixotes para a mudança de casa.

Jane vê-se assim, de um momento para o outro, sem casa e sem namorado. É então que formula a teoria da "vaca velha", uma explicação para o facto de ter sido abandonada quase no altar: se o problema não está nela, então o problema tem de ser do "bicho homem"; os homens devem ser é como os touros e, uma vez provada a vaca, já nada os faz voltar à mesma; querem é uma vaca nova, passando a anterior à categoria de vaca velha, abandonada, sem touro.

A piada é que a teoria, assim formulada e apresentada em companhia de uma fotografia de uma velhinha com ar de vovó sapiente, consegue rapidamente conquistar um sem número de adeptas por entre um exército de mulheres desiludidas e abandonadas.

E a Jane, no entretanto, consegue passar a "roommate" do Hugh Jackman... (eu atrevo-me a dizer que há vacas... perdão! gajas com sorte...) E não é que a tonta nem nota o que lhe anda a passear, seminu, mesmo por baixo do nariz?

Será porque, muitas vezes, ficamos amarradas à imagem, à paixão que nos escapou por entre os dedos, porque o que nunca podemos ter é que é especial, em lugar de reparamos nas possibilidades que estão mesmo à nossa frente?

Por mim, só queria ter a possibilidade de pôr as minhas unhas num gato destes. Até já ronrono! Bss Bss Bss... anda cá gatinho...


aqui

Pronto! Vou ao cinema...

2005-06-14

Para todos os que estão de férias...


(recebida por mail) Posted by Hello


... cuidado com o sol!

I'm so bored with cowards

(...)I'm so bored with cowards
That say they want
Then they can't handle(...)

Björk – 5 Years


Ando pela net há já provavelmente demasiado tempo, mesmo que o blogue só exista desde Agosto. Na verdade, resisti a criar um blogue, enfronhada na preconceito de que eram demasiado umbilicais e que "matavam" uma diálogo mais alargado em termos de temas e de ideias. Porque os blogues são sempre de alguém e acabam por ser ou transparecer apenas quem lá escreve. Nesse sentido, será sempre o nosso umbigo o tema em discussão. Será sempre uma perspectiva tolhida à nascença por uma opinião. Ou pela falta de tema que cada um de nós pode representar, já que nenhum é assim tão maravilhoso, especial e as vidas prosaicas perdem muitas vezes a inspiração.

No entanto, é precisamente aquilo que me afastava dos blogues o que mais gozo me tem proporcionado. E, sim, acaba por ser libertador poder mandar bitaites sobre tudo e sobre nada sem ter de fundamentar em não sei quantos autores tudo o que me apeteceu dizer. Esta liberdade de escrita ao sabor da pena (ou da tecla, no meu caso) acaba por ser profundamente gratificante, no sentido em que nos sentimos realmente livres para dizer o que nos apetece, para defender o que achamos correcto ou tão só, como é o meu caso, reconstruir o hábito há muito perdido de manter um diário.

Sinto que, muitas vezes, acabamos voyeurs da vida alheia, ao mesmo tempo que a nossa vida também é observada. Mas agora eu também deixo ver. Antes, limitava-me a andar por aí como calhava, a encontrar espaços onde depenicava pedaços de vida dos outros que, no dia seguinte, esquecia.

Já li muita coisa; já entrei em muitos blogues. Houve vários de que gostei e, no entanto, nem sei lá voltar. Esqueci o nome, esqueci o endereço, esqueci até a língua falada.

Entrei em vários blogues que não tinham sistema de comentários. Em muitos desses, era exactamente onde me apetecia comentar. Entrei em muitos outros com uma lista infindável de comentários diários, onde já nem me apetecia voltar. Há muitos ditos famosos que abomino. Há alguns quase anónimos que venero.

Mas existe uma coisa que me irrita solenemente, nos blogues como na vida: gente aparvalhada que não sabe dar a cara quando se vira para o insulto fácil. Gente covarde e pequenina, que só prova que é incapaz de elaborar quer um plano de ataque quer um plano de defesa. Porque quem quer ir à luta de cabeça erguida, tem de saber que quem vai à guerra dá e leva. Comentários anónimos amarelinhos é que não!

E, não, não me aconteceu a mim. Parece que ainda não fui descoberta – felizmente – por todos quantos de alguma forma me guardam rancor. Mas vejo muita coisa por aqui, por esta net onde há os cães da história, mas também onde há lobos e gatinhos. E onde há ovelhas negras e anjos de todas as cores. E onde, infelizmente, também se encontram os reles bichos rastejantes de todas as espécies. O sintomático é serem esses bichos covardes sempre anónimos ou, pior do que isso, sabujarem-se usurpando identidades.


(um "re-post", porque a merda parece atacar ciclicamente)

2005-06-13

Adeus


aqui


Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certezade que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.

Eugénio de Andrade - Adeus




...e um "até amanhã, camaradas" por Álvaro Cunhal e Vasco Gonçalves.



Venha o próximo


aqui


O que torna esta coisa dos blogues tão fascinante é a forma como acabamos por conhecer e construir cumplicidades insuspeitas, de forma rápida mas profundamente definitiva, com pessoas que nunca nos seria possível conhecer de outra forma.

A geografia confina-nos a um espaço relativo, delimitado, um círculo de meia dúzia de quilómetros e mais uns quantos conhecimentos esporádicos. Ou aos conhecimentos de um grupo de amigos mais ou menos finito, a que se acrescentam os conhecimentos profissionais e pouco mais.

Através da net, a geografia amplia-se, as possibilidades exponenciam-se. Pessoas que estavam em cidades diferentes passam a encontrar-se diariamente, marcam tertúlias em caixas de comentários, como se fossem ao café depois de jantar. As conversas versam os temas mais variados, os sortilégios acontecem com as magias de (re)conhecimentos profundos do outro, como se nos olhássemos ao espelho, como se sempre tivéssemos conhecido aquele alguém a quem nunca vimos a cara sequer.

E poderíamos ser, de facto, loucos varridos, de cutelo na mão, preparados para uma chacina de dimensões mediáticas. Mas, ainda assim, arriscamos o convite para nossa casa, ou aceitamos ir ficar à casa de outros. Às vezes, vamos até acampar, prescindindo dos confortos adquiridos por uns tantos de anos que nos pesam, pelo conforto da companhia de amigos.

E o tempo passa a ter uma dimensão estranha. Já não é o tempo do "real"; é o tempo quantificado de forma nova. Quinze dias passam a uma eternidade. A eternidade das saudades e de "o próximo, para quando é?"; ou a eternidade em que baseamos a noção de que já conhecemos alguém há muito tempo, uma vida inteira. Porque, muitas vezes, conhecemos de facto bem melhor estes "alguéns" do que aqueles com quem privamos diariamente.



(Bungalows? Vamos a eles? Para quando?)

2005-06-09

Até para a semana :)



you are the cute but psycho happy bunny. You
adorable, but a little out there. It's alright,
you might not have it all, but there are worse


which happy bunny are you?
brought to you by Quizilla.



Roubado descaradamente no Ricardo. E o resultado dele é bem mais giro!

Que será preciso fazer para ser um kiss my ass happy bunny? Cartão cor-de-rosa, a la Coelhone?

Vou de fim-de-semana prolongado e aproveito para fazer sondagens...

Cojones!


aqui


Acabar com os privilégios dos maiores comedores a viverem à minha custa? Subvenções, acumulações de vencimentos, reforma ao fim de 12 anos... tudo a prazo. Mas só se a lei passar. E a lei tem de ser aprovada pelos comedores.

Apertar o cinto aos que têm, que o bolso do pobre já só tem buracos. Acho bem. Acho muito bem. E de "cojones".

Mas será que passa a lei? Pelo menos já se viu quem anda a fazer cara feia. Ai afinal era pelo dinheiro que estavam lá? Então, rua! Que isto do cargo público, deveria ser para defender o povo e nunca o próprio bolso!


2005-06-07

O início do fim


aqui


Ontem celebrou-se a Batalha da Normandia, o início do fim da Segunda Grande Guerra.

As minhas capacidades para fazer sentido com datas nunca foram grande coisa. Prova disso é ter postado erradamente sobre as bombas atómicas de Hiroshima e Nagasaki no dia em que deveria estar a fazer referência a uma das mais célebres batalhas de todos os tempos (mais uma vez, obrigada CC), depois de passado o ataque de narcisismo de ontem.

Mas é um marco histórico e também me mereceria aqui lanternas acesas: pelos tantos de rapazes mortos naquelas praias e pelos caminhos de França adentro mas, especialmente, pelos tantos de mortos e moribundos que a abertura dos portões de todas as torturas nazis impediu, finalmente, que continuasse.

Lanternas acesas, vivas, pelos mortos. Uma pequena chama que não se deve deixar apagar. A Batalha da Normandia foi o início do fim da Guerra. Mas foi também um pequeno sopro de esperança: uma esperança num futuro melhor, numa vida melhor, longe da guerra, com uma Europa unida. A mesma Europa que, hoje, volta a ameaçar desintegrar-se.

Ficam ali em baixo as minhas lanternas por Hiroshima e Nagasaki. Fica aqui a celebração correcta. Fica aqui o Dia D.



El mismo viento que rompió tus naves
es el que hace volar a las gaviotas

Óscar Hahn - El Doliente


aqui

60 anos


aqui


O dia 6 de Agostp marca a data que ensinou ao Homem como é um cogumelo atómico. A cidade destruída chamava-se - chama-se ainda - Hiroshima.

Dia 9, três dias depois, marca a data que nos lembra que somos capazes de repetir os erros. A cidade destruída chamava-se - chama-se ainda - Nagasaki.



El mismo viento que rompió tus naves
es el que hace volar a las gaviotas

Óscar Hahn - El Doliente

2005-06-06

Cyrano

Mais que diable allait-il faire,
Mais que diable allait-il faire en cette galère ?...
Philosophe, physicien,
Rimeur, bretteur, musicien,
Et voyageur aérien,
Grand risposteur du tac au tac,
Amant aussi -- pas pour son bien ! --
Ci-gît Hercule-Savinien
De Cyrano de Bergerac
Qui fut tout, et qui ne fut rien.*


As inseguranças são um campo minado e, a qualquer momento, um pé pode escorregar e todo o nosso eu entra em desequilíbrio. Não adianta que nos digam que não, que é mentira, que bem que estamos, que somos, que parecemos. Todos os espelhos à nossa volta apenas sabem devolver uma imagem grotesca, um nariz descomunal, um "panache".


Que dites-vous?... C'est inutile?... Je le sais!
Mais on ne se bat pas dans l'espoir du succès!
*



A bela e o monstro dentro de nós. Somos ambos! E, a mais das vezes, nem sabemos onde está, verdadeiramente, a diferença entre a percepção que temos de nós próprios e a forma como somos percepcionados. Em dias maus, apenas o monstro salta do espelho...

______
* Edmond Rostand - Cyrano de Bergerac

2005-06-05

E se a minha panela falasse?

Ana Jotta é uma das artistas mais originais e surpreendentes no contexto artístico português, revelada na década de oitenta. A sua obra, extremamente singular, utiliza suportes como a pintura, a escultura, o bordado ou os objectos do quotidiano, num exercício diarístico em que a artista contrapõe a intimidade do dia a dia à assumpção das suas realizações enquanto obra de arte.

aqui



No meu entender, a arte envolve – ou deveria envolver – quer o objecto, quer o sujeito, numa relação dinâmica. Deve sempre implicar subjectividade. Deve sempre implicar emoções: as que o artista pretende despertar; as que o observador consegue sentir. Implica ainda, na minha perspectiva, a nossa vontade de nos limitarmos a uma "estética" ou de querermos uma arte abrangente, prática, inovadora, assumindo que aquilo que, num dado momento, não é considerado arte, possa passar a sê-lo no momento posterior.

Na minha perspectiva, o bom artista é aquele que me consegue envolver com a sua criação. É aquele que me implica na tal relação dinâmica, subjectiva, emotiva. É o que tem a habilidade de, além de uma boa execução, me transportar para um universo novo, de criatividade, de novidade.

Na minha perspectiva tão subjectiva deste tema, a arte pode vir do pior executante; da mesma forma que a melhor execução me pode deixar pura e simplesmente indiferente quanto ao resultado obtido.

Não sou capaz de fazer avaliações objectivas. Não me atrevo sequer a tentar. Aliás, não percebo nada de arte e há muito que assumi que qualquer avaliação que tente fazer será sempre subjectiva.

Mas uma panela que geme - e uma panela velha, ainda por cima - pousada em cima de um carpélio preto e sobre uma banheira apenas me fez lançar uma sonora, gigantesca gargalhada. E confessar a minha ignorância sobre a chamada "arte contemporânea".


Onde fica ali o meu envolvimento com a criação artística? Poderia ser mesmo a gargalhada que me convulsionou o corpo o objectivo da criadora? Onde encontrar beleza numa criação que me parece apenas alucinada? Aliás, toda a exposição que cobria as paredes, tectos, chão da Casa de Serralves me deixou perfeitamente indiferente. Ou, pior, às gargalhadas. E não consigo acreditar que fosse esse o objectivo da artista.


Na verdade, este fim de semana, limpei os pés à arte contemporânea. Literalmente. É que um dos objectos em exposição era um tapete onde se lia "firmeza". Um tapete!

E, numa casa de banho, estava uma panela que gemia. E voltei a descer as escadas e a limpar os pés na firmeza. Às gargalhadas ainda.


Deve ser arte. Apenas não me diz absolutamente nada. Nada!

No fim, volto sempre ao mesmo resultado: gostei, ou não gostei. Como em tudo, é apenas a minha opinião. Vou continuar a expressá-la. Podem, ou não concordar com ela. Mas não me obriguem a ver o mundo pelos olhos dos outros.

2005-06-02

Sem net!

:(

E, em tempo de crise, a opção “ligação via telemóvel” está posta de parte.

Até amanhã, se tudo correr bem.

2005-06-01

O dia de hoje...

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(Lá longe, a infância parece-me cada vez mais o paraíso perdido. O tempo certo das magias e das ilusões. O jardim em flor onde os risos eram fontes e as lágrimas encharcavam o solo fértil feito esperança, num quotidiano com as magias de uma primavera sempre viva.)

aqui


Hoje é dia de celebrar a esperança. Celebrar o futuro. Celebrar a nossa continuidade possível num mundo que questionou todas as certezas, apeou Deus, fez da Terra um minúsculo grão de pó perdido e a prazo; num mundo que se apressa numa rota de colisão para a tragédia; num mundo de grandes clivagens e ainda maiores injustiças…

Em situações de caos, são sempre as primeiras a sofrerem; são os rostos inocentes e indefesos de todas as tragédias que nos ensombram o prime-time; são também o rosto da nossa culpa, a indiferença confrontada por olhos banhados de lágrimas.

São as nossas crianças. O futuro. A continuidade. E, uma vez mais, na treta destes dias de celebração de tudo e mais alguma coisa, sucedem-se as crianças no calendário manufacturado aos vizinhos europeus e aos anti-tabagistas mundiais.

Serão os rostos sofredores a porem-nos um nó na garganta à hora de jantar. Os rostos da pobreza, da miséria, do sofrimento. As fotos do costume das nossas indigestões, ano após ano, por um breve espaço de tempo, o tempo em que nos permitimos pensar nelas, o tempo suficiente para as passarmos adiante até ao próximo ano.

E, no próximo ano, será tudo igual, desesperadamente igual, desesperantemente doloroso e a carapaça da nossa indiferença sofrerá novo abalo sísmico com prazo limitado.