Não sei se já repararam, mas retirei o "word verification" há mais de duas semanas. Volta e meia, lá aparecem a cuscar uns incautos perdidos mas, até agora, nem um spamzito para amostra, nem uma tentativa de assalto ao template, nem uma única facadinha virtual...
Acho que vou passar a assinar com o meu nome e a queixar-me de dez em dez minutos...
I deplore brutality. . . . It's not efficient. William S. Burroughs - The Naked Lunch
Só me apetece fugir para bem longe dos tentáculos peçonhentos da demagogia bacoca com que se contabilizam mortos como se fossem sacos de batatas e se ferem os olhos em prime-time e se discursa por tostões.
These mist covered mountains Are a home now for me But my home is the lowlands And always will be Some day you'll return to Your valleys and your farms And you'll no longer burn To be brothers in arms
Through these fields of destruction Baptisms of fire I've witnessed your suffering As the battles raged higher And though they hurt me so bad In the fear and alarm You did not desert me My brothers in arms
There's so many different worlds So many different suns And we have just one world But we live in different ones
Now the sun's gone to hell And the moon's riding high Let me bid you farewell Every man has to die But it's written in the starlight And every line on your palm We're fools to make war On our brothers in arms
Disseste-me ali numa caixa de comentários que "nós perdemos a fome de pararíso-Além porque não sabemos e morremos sem saber se há." E eu acho que sabemos, sim. Não está padronizado, nem encerrado numa qualquer verdade. Está antes no que queremos que seja. E pode ser apenas a beleza de um pôr do sol no deserto, onde nada parece poder sobreviver e, no entanto, uma árvore ergue ainda os seus braços para o céu tingido de azul e fogo.
(Talvez no dia em que formos irmãos sem armas, afastando das linhas das estrelas sonhadas, ou das linhas escritas em destino nas palmas das mãos, a loucura de não viver apenas).
Sou só eu e este mau humor que não me larga nos últimos tempos ou há dias em que saímos de casa e ficamos rodeados de gente profundamente feia? Feia mesmo! Daquela de meter medo ao susto. Daquela que deveria ser proibida de usar acessórios como se árvores de Natal, obrigando até o meu pedaço mais distraído a tropeçar em tamanha fealdade.
E quero lá saber o que dizem as revistas da moda, mais a moda de acreditar na moda das revistas: a chinelinha, soquinha e afins com berloques em douradinho é do mais pobre que existe, por mais pintalgado que pareça. E estão sempre em pés feios, de gente feia. Profundamente feia. Enfeitada à moda, como se uma árvore de Natal prêt-à-porter de suburbanos com a mania, a caminho da praia.
E esta gente feia, cheia de socas, chinelinhas e berloques, faz-me até sentir saudades do bom do Sr. Manuel e da sua Maria, que esses ao menos quando se enfeitavam para ir à praia era com a bela da panela da feijoada, mais a boneca com o tintol... E não tinha tudo ar de brinde da mesma revista.
(...) aquela - tão difícil de explicar - condição subjectiva de participar de um território dos vivos e dos mortos(...) Uma comunidade que está no sangue, nas dores, nos sentimentos de cada um.
Uma esquina e lá estão as pedras levantadas. Outra esquina e não há passeios... só obras. Mas, no meio de tanta obra, a Obra é demasiado pobre. Que estão fazendo ao meu Porto? Que nos sobra?
Fica a ideia mitificada da velha urbe "donde houve nome Portugal", das glórias passadas, representadas e aplaudidas hoje nas glórias do futebol: "O Porto é uma naçom!" E fica o resto, lembrado, cantado, nas vozes de Sérgio Godinho, GNR, Rui Veloso... E fica o granito, cinzento, cada vez mais triste, mesmo de cara lavada e privilégios de património mundial. E ficam os problemas sociais de bairros degradados, por entre as evidências de tráfico de droga, memórias de corrupção policial e tudo o mais que, de facto, "nos oculta o mistério" desta terra. E ficam as casas degradadas, a que já não se pode mudar a traça, as ilhasao alto da habitação social para onde se "empurrou" a população dos Guindais, depois de a enxotar das barracas com vista panorâmica para o Douro. E ficam as pontes: a memória em baixo relevo da que caiu, a beleza de ferro das que, centenárias, ainda se mantêm de pé e o cimento armado dos projectos de Edgar Cardoso, que todos esperavam que caíssem. E fica a nova Infante D. Henrique, gémea perfeita, já que a do Freixo é outra história: falta o arco, tem demasiados pilares a fender o rio e pouca altura para fazer sombra às companheiras. E ficam as ruas esventradas onde passa agora o metro. E fica este horripilante arranjo aos Aliados, cinzento, triste, morto. Eu gostava das flores. Gostava tanto daquelas flores!
E fica, sobretudo, para cada tripeiro, a memória e o amor à terra em que se nasceu, mesmo que uma visita guiada ao Porto que hoje temos deixe saudades profundas do Porto com que sonháramos.
O sexo parece ter sido inventado há cerca de 2 mil milhões de anos. (...) Com a invenção do sexo, dois organismos quaisquer podiam trocar parágrafos, páginas, livros inteiros do seu código de ADN.
Carl Sagan – Cosmos
...mas ainda foi preciso mais uma porra de anos para que se inventasse o cyber-sexo e viesse a moda de mandar só livros assépticos em branco...
Desde que a "revolução antitotalitária" varreu o leste Europeu, o Mundo encontrou-se perante uma evidência: o degelo da guerra fria "aqueceu" o Médio Oriente, com prolongamentos para o Norte de África. E os riscos parecem ser tão mais graves quanto mais simplistas formos nas análises. Não há nada simples no Médio Oriente. Nunca houve.
Não se pode olhar superficialmente paras as singularidades desta região, que passam pelas questões relacionadas com os seus recursos petrolíferos ou com os seus problemas religiosos. O Médio Oriente parece englobar, num mesmo cenário, tudo o que se encontra em oposição ideológica na actualidade: Ocidente e Oriente, Norte e Sul, Islão e Cristianismo (com a interferência de toda a problemática associada à existência do Estado de Israel), laicidade e religião, fundamentalismo e modernidade.
Temo cada vez mais que haja um profundo desconhecimento das reais variáveis em causa, simultâneo, constante e mútuo. E temo ainda mais que o medo baseado nesse desconhecimento precipite um qualquer acontecimento que faça rebentar aquele que Edgar Morin chamou o barril de pólvora do Mundo. Já esteve mais longe de acontecer...
Velhos são os trapos, Agatha :) Este aqui é só - e apenas - demasiado avariado, demasiado alucinado, demasiado charmoso, demasiado delicioso, demasiado... ;-)
(O que não falta são homens bonitos. Faltam sim homens que não precisam ser bonitos. Há neles qualquer coisa que nos tira o centro de gravidade...)
Não me apetecem paninhos quentes, nem meias palavras para dizer o óbvio: toda gente quer sempre tudo o que acha a que tem direito, mesmo que ninguém lhes reconheça direito algum. E eu - que ando com um fastio que não passa - só quero mandar muita gente ao raio que a parta.
Talvez seja esta mania de dar explicações a menos, oferecer um bocadinho e não poluir o ar de demasiadas exigências. No fim de mais um dia, com cheiro das férias (dos outros) no ar e a paciência esgotada, em lugar de vir para aqui pedir, apetecia-me vir para aqui dar. Porrada, se preciso fosse. Mas dar qualquer coisinha...
Estou farta de tanta cena de S&M, especialmente quando - cada vez mais - me encontro apenas colada ao fetiche de voyeur. E, raios!, não pedi para ver o cu a tanta gente!
Quero lá saber o que dizem os críticos! Os The Divine Comedy conseguiram sempre pôr-me bem disposta, a abanar o traseiro e a bater o pé no chão. E não há assim tanta coisa que tenha esse efeito em mim…
A vida é uma coisa a que me habituei adeus susto e absurdo e sobressalto e espanto
Ruy Belo, in Como Quem Escreve Com Sentimentos
O Luís ofereceu-me este vídeo ali em baixo numa caixa de comentários e ando para arranjar forma de o pôr na primeira página de alguma forma. Acho que vai ser esta a forma. O vídeo refere-se à espécie humana como macacos e nenhum de nós tem dúvidas – já que sempre aprendeu isso e leu sobre isso – que somos primatas e temos antepassados comuns com todos os macacos. E, no entanto, emocionalmente é-nos difícil assumir esse nosso lugar natural, mergulhados que estamos numa espécie de mania de que somos superiores, que a Terra é nossa para dominar e que toda a vida que a habita, bem como todos os recursos que a compõem, são nossos para explorar à exaustão. Esta falta de consciência do nosso lado animal faz parte da atitude do Homem perante o dia a dia. Talvez seja por isso que, quando falamos do nosso lado animal, quase sempre o limitemos aos instintos mais primários, como a raiva e o sexo. Esquecemos que, embora adormecidos muita vez, todos os nossos sentidos são animais e, comparativamente, alguns deles bem empobrecidos perante alguns dos animais que connosco partilham a Terra. Talvez seja a concessão da espécie a um grande e pesado cérebro, feito em camadas, sendo que a mais evoluída tenta, ao jeito do que faz o Homem à natureza, controlar e domar as partes mais "primitivas".
E, no entanto, se somos assim uma espécie de semi-deuses, como gostamos de achar, a meio caminho entre os animais (os outros, claro, que nunca nos sabemos realmente posicionar entre eles como parte do grupo) e as divindades (que sempre criamos à nossa imagem), porque não andaremos a fazer um serviço melhor na gestão do(s) nosso(s) destino(s)? Ganhamos consciência, é verdade. Estamos condenados a ela. Mas há quase que uma tendência natural para a esquecermos, como se o compromisso com essa nossa vontade de ser mais do que animais falhasse demasiadas vezes, deixando à luz a raiva, o instinto, a violência.
Entre os nossos primos primatas, encontra-se o Bonobo, ou chimpanzé pigmeu, que sempre me fascinou e sobre o qual não sei – admito – o suficiente. Sei, no entanto, que tem uma postura mais erecta do que o chimpanzé, que um deles, chamado Kanzi – objecto de estudo no Centro de Pesquisa da Linguagem de Decatur, nos E.U.A. – parece ter sido capaz de "inventar" as suas próprias palavras (entrando assim no domínio do que o Homem pensa que é só dele) e que têm uma organização social muito particular. Essa estrutura social é essencialmente matriarcal, mas como também parece assentar em fundamentos que os afastam do tradicional chavão do "domínio" e do "poder", muitos ainda acreditam que terão antes uma estrutura partilhada entre os sexos.
Ora, o que mais me fascina nos Bonobo é exactamente a forma como gerem as suas relações sociais: pelo sexo. O sexo é entre todos e serve para tudo. Qualquer atrito é resolvido com uma boa cambalhota e, depois – exaurida a pulsão – a sociedade pode continuar com as actividades comezinhas. Temos, por isso, talvez o mais pacífico dos primatas, que prefere dar uma queca a partir para a violência. Encontrou um mecanismo, que temos tendência a associar ao nosso cérebro instintivo, para resolver querelas, enquanto a maioria dos animais recorre à força e a demonstrações de força. Aliás, nem parecem estar muito preocupados em saber quem manda ou como manda. A sociedade funciona sem grandes ênfases nas hierarquias, sem dramas de luta pelo poder, humilhação dos vencidos, glórias para os heróis. Um bocadinho de sexo e pronto.
E, enquanto anda o Homem todo preocupado em saber se parece bem ou mal beijar no primeiro encontro, se fica ou não com fama de fácil por fazer sexo pelo sexo, nos períodos de intervalo entre as diferentes lutas macacóides para trepar ao topo de uma qualquer hierarquia, os Bonobos fazem sexo e, depois, libertada toda a energia, já não há vontade para dar porradas na cabeça do vizinho.
Eu olho para a nossa sociedade – dos supostos semi-deuses, entesados na sua pretensa importância e a olhar de cima para todos os outros animais com que partilha este frágil sopro de essência a que chamamos vida – e fico com a sensação de que erramos as escolhas em algum lugar. É verdade que os Bonobo estão perto da extinção, mas isso não é culpa deles: é culpa do Homem que lhes destruiu o habitat. Mas o Homem também vai destruindo – de forma bem gratuita – o habitat de todos. E, enquanto na sociedade humana não se pode sequer falar de sexo às criancinhas, sendo necessário até discutir quem tem ou não direito a dar "educação sexual" aos fedelhos, mas já se permite que essas mesmas criancinhas ponham autógrafos e palavras de ódio nas bombas que serão lançadas para matar as criancinhas do vizinho, os Bonobo dão mais uma cambalhota e seguem em frente, felizes da vida: não precisam continuar a sentir-se sozinhos no meio de não sei quantos biliões de semelhantes; nem precisam de inventar uma palavra – ou um som – para o ódio, nem fazer bombas, ou guerras, ou procurar uma ilusória noção de felicidade, sempre distante, sempre amputada de contentamento.
Uma gaja está sem pio, já que à conta das mudanças de temperatura, dos ares condicionados e afins, inventou mais uma laringite e viu a voz fugir-lhe outra vez e espera estar descansadita em casa a repousar e a curar a febre, já que sem voz não pode trabalhar e até o chefe a mandou embora. E o raio é que é na altura exacta em que, à socapa, marcou uma entrevista para um dos principais concorrentes, que lá porque veio outra promoção não quer dizer que tenha vindo tudo o que era preciso. E vai-se sem pio à entrevista, faz-se um esforço à goela, até porque nos disseram que não seriam mais de trinta minutos. Afinal foi hora e meia e já quase não sai som das cordas vocais em ponto de ruptura. Volta-se para a caminha, de onde nunca se devia ter saído, até porque já se foi a tanta entrevista que até já se sabe que dificilmente virá dali qualquer proposta minimamente interessante. Agora, o que uma gaja não está definitivamente à espera é que o entrevistador telefone no dia seguinte para saber se está melhor e a gaja fica com a sensação que trabalho afinal é capaz de não haver, mas há a séria possibilidade de uma tentativa para nos saltarem à cueca. Ora foda-se! Quem me mandou sair de casa?
Quando te tenho nos meus braços, que interessa onde estou? Estou nos teus braços e tudo o mais é relativo. Não há cama, nem casa, nem salas, nem carros, nem trabalhos, nem distâncias, nem medos… Só nós e os minutos que roubamos à vida, os instantes de paraíso que roubamos à eternidade. E a minha voz é música, um staccato de prazer…
Se você já sabe quem Vendeu aquela bomba pro Iraque, Desembuche. Eu desconfio que foi o Bush. Foi o Bush, Foi o Bush. Foi o Bush. Onde haverá recurso Para dar um bom repuxo No Companheiro Bush. Quem arranja um alicate Que conserte aquela fase Ou corrija aquele fuso, Talvez um parafuso Que ta faltando nele Melhore aquele abuso. Um chip que desligue Aquele terremoto, Aquela coqueluche. Se você já sabe...
Lembro-me de, há muitos anos, os Trovante cantarem que "em Beirute, nem o sol nasce", numa letra que começava com "quem recordará como foi?"... e anda-me a música a bulir-me por dentro e não lembro sequer a letra, que não encontro também em qualquer pesquisa numa net atafulhada de letras em inglês e sem sentido. E baila-me cá dentro esta ideia de que nem o sol pode nascer em Beirute ou que, mal rompa a alvorada, já ninguém recorda como é e tudo volta a ser o que cedo foi esquecido pelos caminhos mal trilhados da história que só se ri para os vencedores. E nem eu lembro a letra; nem lembro sequer onde está o velhinho vinil onde estava a letra. Nem lembrava já Beirute, não fosse Beirute continuar, depois destes anos todos, a não ver nascer o sol. Quem recordará como é, já que tão depressa se esqueceu como foi?
... o que acontece se eu escrever dez vezes a palavra sexo neste post…)
Bem, o site meter ali em baixo é bem capaz de ter uma erecção! Depois passa-lhe, claro, como passam mais ou menos rapidamente todas as tusas, haja ou não sexo (1ª) pelo meio. Mas isso pouco importa, que todos sabemos que, por aqui, a grande maioria das tusas é quando nos fodem bem os neurónios e o sexo (2ª) é clean e asséptico e sempre perfeitinho, que somos umas máquinas boas como tudo – e sem bugs – em tudo o que fazemos.
Claro que quando estamos antes armados ao pingarelho, não há nem sexo (3ª) que nos safe, que a treta do umbigo fica um bocadinho mais acima ou abaixo e nunca no g-spot.
Mas a questão quase nunca é exactamente sobre sexo (4ª), claro, já que – como sempre – o sexo (5ª) é antes um óptimo mecanismo para demarcar território. Só que depois sentimo-nos é fodidos quando, após todos os preliminares bem estudaditos (um nadinha óbvios, mas também isso tem de ser), descobrimos que afinal há mais quem escreva (e melhor) sobre sexo (6º) e apanhamos com um balde de água fria: o site meter afinal brochou…
Não digo que o mal não esteja na forma como olho a coisa, claro, que nem sequer a consigo desprover de emoção e prefiro nunca me armar em "robocópula" musculada, fazendo do sexo (7ª) arma e tentando descobrir até onde vai o meu caralho imaginário, para ver se é maior do que o do parceiro. Acho que sempre evitei meter coisas estranhas no sexo (8ª) e se há sítio onde deixo o umbigo à porta é mesmo quando me dedico a qualquer tipo de cambalhota, trepa, queca, seca e Meca e tudo o mais o que quiser, puder e conseguir. Quando passa para além da partilha e do prazer negociado, se não houver brinquedos, ainda não me caíram os dedinhos…
O sexo (9ª) é sempre uma boa desculpa, mesmo quando nem é bem sobre o sexo (10ª - ufa!) que queremos falar. A soberba – que quase pode parecer inveja – é que já me parece só fodida. Mal fodida, por sinal.
Não gosto do Christopher Lambert. Aqueles olhos tortos e miopes causam-me calafrios. Mas gostei da história rocambolesca, apesar da quantidade de cabeças decepadas. E gostei, especialmente, da ideia de solidão a que Connor está condenado. A solidão de viver para sempre, vendo todos quantos poderia amar desaparecerem num dos breves minutos da sua vida imortal.
Mas, na verdade, acho que me perdi de amores pela Banda Sonora do filme. Sem ela, são só imagens, planos, sem sentimento. Com a música a tocar bem alto, o filme ganha brilho. A culpa é dos Queen, portanto :)
E ver a história de Connor e Heather a caminhar para o fim ao som de "Who Wants to Live Forever" é arrepiante para qualquer coração que ainda não perdeu o romantismo.
Quem quer viver para sempre?
E quem quer esperar o "para sempre"?
O "para sempre" é nosso hoje!
(Outro dia ameacei que republicava este post. É hoje o dia. Só para dar os parabéns ao (re)prima pelos seus três anos e ao Cap por continuar a andar por cá na nossa companhia)
Acho que comecei as comemorações antes da hora… E estive até agora a festejar os teus anos. Ai que estafa! A ver se depois ainda chego a tempo ao brinde ou, pelo menos, à baba de camelo que nunca cheguei a provar…
E há todo este desespero a crescer em mim, mudo. Um arremedo de loucura, uma paranóia narcisista, um esgar do ego em contramão. E não sobra muito mais que este monstro mudo, este frio permanente. E era como se já não soubesse inventar as alternativas na paisagem mental que sempre soube povoar a belo prazer para me fazer fugir para longe deste monstro que trago dentro. É que sempre inventei rotas de fuga, de mim, para mim, contra mim, o caralho. Mas há alturas em que não dá e este filho da puta de monstro que trago dentro, que me entope, silencioso, este cabrão tormentoso e mal disposto que me tira o tesão pela manhã e não me deixa tusa para nada o resto do dia, vai-me comendo devagar. Como se tivesse esquecido as alternativas que sempre inventei, como se não tivesse sempre bastado encolher os ombros e fazer outras coisas e refugiar-me nos meus silêncios para não o deixar ganhar. Porque todos os monstros silenciosos sempre foram só meus, para esganar rapidamente, sem perdão. Mas este filho da puta quer ser mais do que eu, não se maça nem se esquece, fica a comer-me os minutos e não sei sequer como enxotá-lo. É um buraco negro e suga, suga, suga... De dentro de mim, tentáculos esventram-me e dilaceram-me. É um monstro. Aliou-se ao cansaço e à espera e agora é apenas medo. Um medo seco, sem sentido, silencioso.
(leva-me a ver o mar num barquinho a remos e deixa que o medo que tenho do mar ensurdeça este medo que me come...)
Sendo este um jornal por excelência, e por excelência dos precisa-se e oferece-se, vou pôr um anúncio em negrito: precisa-se de alguém homem ou mulher que ajude uma pessoa a ficar contente porque esta está tão contente que não pode ficar sozinha com a alegria, e precisa reparti-la. Paga-se extraordinariamente bem: minuto por minuto paga-se com a própria alegria. É urgente pois a alegria dessa pessoa é fugaz como estrelas cadentes, que até parece que só se as viu depois que tombaram; precisa-se urgente antes da noite cair porque a noite é muito perigosa e nenhuma ajuda é possível e fica tarde demais. Essa pessoa que atenda ao anúncio só tem folga depois que passa o horror do domingo que fere. Não faz mal que venha uma pessoa triste porque a alegria que se dá é tão grande que se tem que a repartir antes que se transforme em drama. Implora-se também que venha, implora-se com a humildade da alegria-sem-motivo. Em troca oferece-se também uma casa com todas as luzes acesas como numa festa de bailarinos. Dá-se o direito de dispor da copa e da cozinha, e da sala de estar. P.S. Não se precisa de prática. E se pede desculpa por estar num anúncio a dilarecerar os outros. Mas juro que há em meu rosto sério uma alegria até mesmo divina para dar.
Clarice Lispector – Precisa-se
Para ti, minha querida, que distribuis doçura e alegria, mesmo com o ar mais sisudo, ou apenas sonolento, ou tão só um pouco vago. Para ti, um passeio na borda de água, em jeito de festa, corpos bailados e uma sugestão de reencontros. E a Clarice, claro. Porque não estou ai para te abraçar forte, com as tantas de saudades que sinto, ou para partilhar a alegria das pequenas coisas com o encanto amadurecido que ainda não esqueceu o prazer de apenas ficar ali, na beira da água, a sentir a magia do mar e do mundo a beijar os nossos pés descalços.
Esta imagem eu precisava roubar. Para enfeitar a Voz e a saudade. Para ver se consegue aclarar-me o sentir. Ou então só para continuar por cá, mesmo sem vontade, cansada, enfastiada, à espera de ver acontecer qualquer coisa, tirando a segunda-feira que vai acontecer mesmo que eu não queira. Ou esta coisa de esperar. Esperar sempre, quase desesperando, resultados sobre resultados, para enfrentar-me depois com as consequências. E não queria para já esta ideia na cabeça a acabrunhar-me os ritmos. Mas a ideia não vai embora. Fica como eu fico. Fica porque eu fico. E talvez por isso precisasse de uma imagem assim, para me levar os olhos para longe, para me preencher de ideias novas, para tentar vencer a inércia desta ideia maldita que se acólita, espera apenas, os resultados que não há, as consequências que não sei quais são, o medo que vou sentindo em cada acordar…
Acabou o Mundial e começa novamente a conversa habitual. De um lado, a treta dos coitadinhos na cauda da Europa, enterrados em dívidas e sem poder de compra, com Simplex que não funcionam e todas as mazelas do costume; do outro lado, as bandeiras de sempre, invocadas quando uma nova alarvidade relança o tema para as primeiras páginas dos jornais. E temos agora Aveiro a ressuscitar a "questão do aborto" que para a semana talvez já esteja esquecida. Deve ter chegado nessa altura o momento de ressuscitar a "questão Casa Pia" ou até mesmo a "questão Aquaparque", que nada se enterra em definitivo; ou então, com o País a arder como de costume, será hora de falar da "questão dos incêndios", a par com a "questão dos acidentes nas estradas nacionais", enquanto metade da população viaja de férias para o Sul; também poderá ser a "questão do aeroporto", ou a "questão do TGV", ou a "questão Alberto João", que apenas gera muitas mais questões, mas vende pasquins.
E as questões sucedem-se e nunca são resolvidas. São apenas substituídas nas agendas. Vira o disco, toca o mesmo. Toca sempre o mesmo. Sempre. Só não vemos é nada a mudar.
O gap que nos separa da Europa é bem mais complexo do que a economia pode explicar. Eu chamaria mais depressa um sociólogo para fazer a análise e um coveiro para levar tanto político plastificado para longe dos lugares de decisão. É que nos quedamos sempre com histórias requentadas, leis que não mudam ou não mudam o suficiente e políticos sem tomates para terem coragem de as mudar...
- Diga, homem enigmático, de quem gosta mais? De seu pai, de sua mãe, de sua irmã ou de seu irmão? - Não tenho pai, nem mãe, nem irmã, nem irmão. - Amigos? - Você usa de palavras cujo sentido até aqui desconheço. - Pátria? - Ignoro a que latitude se situa. - Beleza? - Deusa e imortal, de bom grado a amaria. - O ouro? - Odeio-o como você odeia a Deus. - Mas de que gosta então, estrangeiro extraordinário? - Das nuvens... as nuvens que passam... lá longe... lá longe... as maravilhosas nuvens!
E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais. (…)
Álvaro de Campos – Não, não é cansaço
Estou muito, muito cansada! Tão cansada que a ideia de escrever mais do que duas ou três linhas, ou sequer elaborar a resposta que merecem para os tantos e tantos posts fantásticos que ando a deixar ficar sem comentar, não se torna opção. E as previsões para as próximas semanas não são favoráveis, já que não me parece que, de um momento para o outro, todos os motivos que me afastam da net, do blogue, dos blogues amigos, desapareçam por milagre. Não me lembro de um cansaço assim grande, nem deste fastio que me invade. E é como se as palavras de Álvaro de Campos fizessem cada vez mais sentido:
Lá porque tu andas desaparecido, não quer dizer que me esqueça dos teus anos. Pensei oferecer-te uma gaja nua mas, depois, lembrei-me que tinhas acabado de trocar de casa e a imagem aqui acima passou a fazer todo o sentido...
Pensei que o menino se chamava Bernardo. Não chama. Pensei que seria mais betinho do que é realmente, mesmo sendo-o, está visto. Pensei que não podia esquecer-me dele hoje. Mas só espero não ser eu a dar-lhe a prenda. Que lhe dê a prenda a nossa Selecção. Eu bato palmas e canto os parabéns à mesma :)
Sonhei com qualquer coisa boa. Tenho a certeza que sonhei com qualquer coisa boa! Acordei feliz, ainda no meio de qualquer coisa que era muito boa, tenho a certeza. Era como se todo o meu corpo recordasse qualquer coisa deliciosa, muito, muito deliciosa. E quase consigo recordar. Quase! Mas falta aquele instantinho entre a coisa boa com que estava a sonhar - tenho a certeza - e o som do fdp do despertador que estragou tudo. E não lembro. Apesar de saber que era bom. Muito bom! O corpo diz-me que era mesmo, mesmo muito bom. A minha memória de galinha e aquele fdp do despertador a anunciar a Segunda-feira é que estragaram tudo. E não lembro qualquer coisa que era mesmo muito boa. Isso, pelo menos, tenho a certeza: era coisa boa!
Após o jogo do Euro contra a Inglaterra, tendo marcado um pénalti e, de seguida - deitando fora as luvas -, salvando outro, virou herói nacional. Foi herói breve, no entanto, que rapidamente começaram a aparecer as imagens do costume, com os frangos a tiracolo e a alcunha de frangueiro a querer esquecer tudo o que antes tinham sido elogios. Pois o frangueiro, não sem críticas de tudo quanto era lado, destronou de vez o Vítor Baía nas redes da Selecção e seguiu para a Alemanha este 2006. Depois do jogo de hoje, é novamente herói e o País grita "Ricardo" como se apenas um nome e um mísero jogo de futebol fossem o bastante para esquecer tudo o resto. Pão e circo, pois claro! Mas com pénaltis e Ricardo, parece que o circo é nosso e o pão não falta. Uma maré cheia à espera da queda próxima que se avizinha. Bastará sofrer um golo decisivo no próximo e já ninguém lembrará mais este. Acho é que nenhum inglês o esquecerá...