2008-01-15

Abundância


Rubens

A nossa sociedade da abundância deixou de saber comer. Isso parece-me evidente. E temos em oposição padrões de beleza escanzelados, quando a norma é o excesso de peso, da mesma maneira que há uns séculos atrás, quando a norma eram os esfaimados, os pintores retratavam madonnas roliças. A gordura não é formosura. E é demasiado perigosa para não ser levada a sério. Mas, no extremo oposto, ver modelos a morrerem esfaimadas porque a moda lhes diz que assim é que são bonitas também não me parece saudável. É todo um mundo de excessos: vai de um lado ao outro da escala e parecem-me ser as duas faces de uma mesma moeda de desordens alimentares e desequilíbrios profundos que só fazem sentido numa sociedade que tem demais.



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4 comentários:

TheOldMan disse...

Tens razão, Hipatia.

Mas eu não tenho grande consideração por alguém que se prejudique deliberadamente (porque sabem quais as consequências) para ganhar dinheiro.

É apenas mais uma forma de prustituição.

;-)

TheOldMan disse...

Era prostituição (mas a grafia não conta se apagarem a luz).

;-)

Hipatia disse...

Resolvemos a grafia se lhe chamarmos antes putedo? Talvez não... não é bem a mesma coisa e, para o caso, prostituição é bem pior.

Anónimo disse...

Mais Vozes

Não queiras ser uma modelo escanzelada como essas que temos por aí que até metem impressão, e além do mais, nem bonitas são !!

Continua assim ...roliça, "roliça" no bom sentido, claro

Estás tão farta de estar fechada em casa ???

Não seja por isso, vou-te já buscar...Vrummmmm...
Finurias | Homepage | 01.15.08 - 10:42 pm | #

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Quer-me parecer que o ideal de beleza de cada época é sempre o mais afastado do padrão corporal da maioria, por oposição ao que é vulgar.
As "escanzeladas" são o espelho do nosso esquecimento do que é ter fome. E o reflexo de uma mentalidade de só olhar ao espelho para ver o umbigo sem ver os outros, como os escanzelados pela fome por imposição.
Quando não há memória o que se constrói é como aquelas vivendas com muitas variedades de azulejos.
maria árvore | Homepage | 01.15.08 - 11:19 pm | #

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Menino, não tenho dessas pancas. Não mais. Obviamente que fico escandalizada por, na maioria dos casos, as lojas só terem números onde cabem anorécticas sem mamas. Mas com o meu corpo, ainda que não com as compras, estou de bem. A questão é o mundo de excessos em que caímos facilmente. Nenhum deles saudável. Um dia destes, também vais ver legislação sobre fast-food e afins. Não deve demorar muito, da mesma forma que é cada vez mais rápido o ritmo com que tascas e cafés são encerrados pela ASAE. E o paternalismo do Estado continuará a estender as unhas. Tenho cá para mim que tal só acontece porque deixamos: os excessos com a comida, a bebida, as drogas, até o desporto, são um sinónimo evidente de uma mentalidade desregrada. E essa é facilmente sujeita a legislação imposta por quem se acha no direito de nos proteger de nós mesmos, já que nós há muito que desistimos de o fazer.

(não posso sair; cai na asneira de ir trabalhar ontem e acabei a injecções. Snif!)
Hipatia | Homepage | 01.15.08 - 11:51 pm | #

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O problema quando estamos a lidar com doenças como a anorexia e a bulimia é que elas só até certo ponto estão relacionadas com a beleza. A compulsão vai muito além disso, mesmo que tenha começado por um desagrado com o corpo por comparação imposta, aprendida ou bebida de qualquer forma dos padrões da sociedade. Aquela gente prefere morrer a comer; chegam a um ponto em que até sabem que estão a morrer, que estão demasiado magras, mas há ali um nojo da comida e delas próprias que as impedem de ter força para ultrapassar a doença.

Depois há o lado oposto, de gente tão gorda, mas tão gorda, que nem de banda gástrica lá vai. Gente que sabe que está gorda, demasiado gorda e, ainda assim, continua a comer, a não fazer exercício. E continuam a comer muitas vezes porque é na comida – especialmente nos açúcares – que encontram o estímulo que as leva, o refúgio que lhes apazigua a alma quando chegam a já nem se poder mexer e a auto-estima há muito que partiu de abalada. E, mais uma vez, entramos em casos patológicos.

No meio-termo, vivem todos os outros. E, se é certo que em terra de gordos, quem for magro é rei, também é certo que há um bombardear constante de mensagens e de imagens que nos tentam enfiar num qualquer rebanho. Hoje em dia, o rebanho dos magros por lipoaspiração ou redesenhados nos spas da moda.

Sabermo-nos diferentes e especiais dentro da nossa normalidade, sem necessidade de nos mascararmos ou escondermos atrás dos objectos que a publicidade sempre presente nos quer impor como ideal de vida, torna-nos subversivos: o rebanho é sempre bem mais fácil de conter dentro do redil.
Hipatia | Homepage | 01.16.08 - 12:07 am | #