2008-01-11

Cingel II

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(…) and that government of the people, by the people, for the people, shall not perish from the earth.

Abraham Lincoln, The Gettysburg Address


É nosso direito protestar contra esta democracia franzina e raquítica, mas apenas enquanto exercermos os nossos deveres de cidadãos. E para o fazermos não precisamos apelar à velha lógica dos bufos de antigamente, agora com direito a sítio para queixinhas electrónicas ou chamadas para a polícia à conta de cigarros.

É exigir que todas as leis sejam sempre cumpridas, que nenhum crime prescreva, que todos recebem assistência quando em necessidade, que todos são iguais, não importando sexo, cor ou credo. É exigir que as contas públicas sejam tornadas públicas, que os dossiers não se escondem nas gavetas, que ex-ministros não fotocopiem segredos de gabinete. É esperar que as promessas eleitorais sejam cumpridas ou esperar que seja muito bem explicada a conjuntura que alterou a rota. É saber que o último dinheiro que a UE vai enviar para esta choldra não é usado ao desbarato em empreendimentos de fachada, estranhamente próximos do sítio do costume e deixando para o interior as estradas feitas à pressa e mal amanhadas, onde todos os dias morre gente. É pedir e ter explicações sobre a prostituição instituída entre política e capital e ver os caciques que se acham acima da lei a não poderem valer-se da lei para não prestarem contas dos seus mandos e desmandos. É não continuarmos a ler sobre grandes negociatas e conseguirmos seguir a árvore genealógica do poleiro. É ver a máquina fiscal a funcionar sem medo quando se aproxima dos grandes capangas. É saber que teias e redes de tráfego de influências são desmanteladas e que os políticos são penalizados por negociarem "jobs" para os seus "boys" já sem vergonha na cara. É saber quem paga a quem e que fazedores de opinião estão na lista de ordenados de quem.

E é, depois de ver isto tudo, exigir que alguém responda, nem que para isso seja necessário impor uma mudança que nos faculte o acesso directo a quem senta o cu na A.R. a dizer que nos representa, para haver um nome e uma cara, em vez de apenas uma grande manada indistinta.

Não podemos continuar a ser um povinho miserabilista que só sabe chorar-se. Em sociedade, todos os direitos implicam iguais deveres. Até o dever de não esquecer que, mesmo quando os politiqueiros de profissão acham que podem mandar e desmandar, ainda há o direito do povo de dizer basta. E um dia destes, se o povo parar de apenas queixar-se, talvez baste de vez.

2 comentários:

Maria Arvore disse...

Que rol rigoroso dos desmandos que se vivem na nossa actual democracia. :) Os tais que levam muita gente a achar que tudo é igual e o melhor é ficar de pantufas no sofá. Quando o que é preciso é tomar consciência que se somos nós que os elegemos para as assembleias e para os governos eles têm o dever de nos respeitar e nós o direito de os substituir. O povo é que é o patrão e tem de assumir o cargo. ;)

Hipatia disse...

Só que é um patrão daqueles bem típicos, que estendeu a mão para comprar o Ferrari e depois desatou a queixar-se porque os Chineses fazem mais barato :(((