Olha-me e entra pelos meus olhos. Diz-me que não te atemoriza a densidade do negrume nem te espantam súbitas explosões de luz. Que as nuvens e a brisa te são próximos. Que ancoraste a alma, e prossegues mesmo quando sopram dos vendavais.
Olha-me e revê a tua imagem. E diz-me que fincas os pés no chão, entre malhas de relva molhada, e resistes ao desalento e à incerteza. Que a terra te passa a força dos abetos e estás certo de que se pode ir mais, muito mais além.
Olha-me e mergulha além das lágrimas. Diz-me que te aguentas em mares revoltosos e não soçobras na lisura de lagos. E diz-me que não temes fantasmas nem assombros, que não recuas nos pântanos nem te escondes sob o quotidiano.
Olha-me de soslaio e vira o rosto devagar. Como quem se assegura do que vê. E diz-me que as labaredas te envolvem sem dano, que o calor te assalta e arrebata. Que procuras insólitas não desalentam nem desincendeiam.
Olha-me de frente e fecha os olhos. Diz-me que me continuas a ver. Ou melhor, não digas nada e abraça-me devagar como quem desliza para si, fundindo todos os elementos.
Viajante - Olha-me
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