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Acho que vou abrir uma secção especial só para as coisas que me tiram do sério. E começam a acumular-se e eu começo a ficar com coisas atracadas e, convenhamos, ter coisas atracadas não é a melhor forma para ter as coisas, especialmente as que nos irritam.
E ter um blogue também tem de servir para isto, especialmente se algumas das coisas que me irritam até se prendem com algumas coisas que acontecem nos blogues. E talvez seja tudo uma questão de se ser ou não se ser e do parecer e do não parecer nas palavras que publicamos. E com a curiosidade que sempre me despertou a forma como eu também sou lida, treslida ou pura e simplesmente passada a diante, como faço com quase todos os blogues onde desaguo ou desaguei alguma vez.
Faz-me muita espécie gente que tem de estar sempre a dizer o que é, como se fosse preciso uma definição em cada post, ou em cada comentário. Ora, o que somos acaba por passar sempre, até quando mais nos esforçamos por não deixar passar nada. Obviamente que pode demorar mais ou menos tempo, dependendo da franqueza com que encaramos o teclado. Ou até pode ser preciso ir matando nicks para ver se a coisa se aguenta mais um bocadinho, mas haverá sempre rabos de fora, visíveis até para os mais distraídos como eu. E, se a cara não bate com a careta, ou nos passamos a divertir com a anedota ou simplesmente passamos à frente.
Mas o que me irrita mesmo é esta mania de todos se quererem fazer passar por algo que, socialmente, será certamente impossível serem. Como um certo rebanho de gajedo que se define em cada palavra como se fosse sempre muito boa, tão boa que nem prestam contas, que só se enfeitam para agradar a si mesmas, que só compram a carteirinha da moda para se darem mimos, que pintam a unhaca para elas, que se penteiam só para beijar a própria imagem no espelho e que só lavam os dentes porque as próprias narinas estão demasiado próximas da dentuça. E, obviamente, só fodem muito e muitas vezes para fazerem exercício e libertar as endorfinas ou só depilam as pernas e a cona por motivos higiénicos.
E este gajedo todo vem para os blogues apregoar uma autoconfiança que eu sei que não existe, porque ninguém existe só nas palavras em que se quer inventar, nem para além da necessidade social de pertencer a um grupo, com os seus códigos e os seus signos; ou a própria necessidade biológica de arranjar parceiro, o que implica necessariamente agradar a bem mais do que a si próprio. A auto-imagem é condicionada por mais do que os nossos olhos; é condicionada pelo que pensamos ver nos olhos dos outros. O mesmo para auto-estima, que não é coisa que brote de palavras, tem de ser profundamente entranhada, muito para além dos supostos mimos que nunca são para agradar aos outros, nem as carteiras que são sempre iguais às das amigas e amarelas, mesmo que há um ano atrás, quando o amarelo era pimba (não sei se era, mas adiante), nunca se atrevessem a usá-las.
Pois irrita-me. Muito. Porque ninguém é completo sem imperfeições e ninguém tem autoconfiança ou auto-estima se não tiver também uma profunda noção de ridículo pessoal e o sentido de humor suficiente para lidar com as inseguranças que todos temos.
Gajedo inseguro a apregoar autoconfiança é profundamente ridículo. Bem mais do que todas as palavras do "eu sou assim para me agradar" ou o "eu nunca faço nada para agradar aos outros, que são obrigados a gostar de mim, que sou tão boa, tão boa, que nem preciso de mais ninguém". Tretas! Tretas de gajedo armado em parvo, a vir esparramar palavras mentirosas a ver se convencem alguém. O triste – o que é realmente triste – é que nem sei se se convencem a elas mesmas. Mas lá que usam as palavrinhas todas, usam. E que fazem figura, fazem. E que talvez consigam que alguém lhes tente saltar à cueca, também é possível, ainda que eu ache bem mais provável que, por trás de tanta palavrinha, ou esteja um verdadeiro mono em quem ninguém toca, ou então alguém que anda a copiar todas as revistas da moda e a passar completamente despercebida por entre uma multidão de gajedo igual, que só nas palavras escritas em blogues parecem ter espinha e talvez rodem de cama em cama a acharem-se muito fodilhonas, mas a acabarem sempre sozinhas quando chega a hora da verdade.
E eu, convenhamos, irrito-me. Muito. Ou então tenho de me rir. E nunca é agradável nem estar irritada nem ter no trombil aquele meio sorriso de dó pelas figuras dos outros. Depois, olho por mim abaixo e vejo os defeitos todos e as inseguranças e tento rir-me de mim. Enquanto o conseguir fazer, sei que sou bem mais completa, nos meus defeitos e nas minhas valias, bem mais completa que qualquer dondoca armada aos cucos a dizer como é boa, tão boa, que só lhe falta o tapete vermelho cada vez que abre a porta de casa. Do cuecame que tem escondido dentro de portas é que é melhor nem falar.