2008-05-30

Fake Plastic Women





Found at bee mp3 search engine
She looks like the real thing
She tastes like the real thing
My fake plastic love.

Gela-se a alma enquanto lá fora chove ainda e faz frio, nesta Primavera que não desgruda o Inverno que não se vai e nas montras das lojas, mulheres perfeitas e plásticas, anunciam as roupas da estação nova que ninguém pode vestir.

Gelam-se os abraços frios de mulheres perfeitas, plásticas, de braços sempre abertos e disponíveis para o figurino que a moda quer vestir e em números deprimentes onde só mulheres perfeitas, plásticas, teimam em caber, com sorrisos estáticos e mãos sempre abertas, mas que nessas mulheres perfeitas, plásticas, são apenas mãos sem rasto, sem traço de vida.

Gela-se o interesse das vidas que passam pela montra e olham só o preço das roupas penduradas em mulheres perfeitas, plásticas, ou então já nem chegam sequer a olhar para os braços apenas abertos cheios de coisa nenhuma de manequim de montra sem vida, plástico, perfeito, carregando as roupas novas, deprimentemente decotadas e curtas, da estação que não chega para quem passa vivendo, longe das montras carregadas de perfeição a ganhar pó.

Gela-se…



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(toma lá, Tozé)

2008-05-29

Petroleiros! (*)


aqui

Na investigação que está a ser feita pela Autoridade da Concorrência ao aumento dos preços do combustível, a pedido do Governo, os previlégios das gasolineiras estão também a ser investigados.

A Galp pode assim perder uma grande fatia do negócio, uma vez que é a responsável pela maioria das grandes instalações de armazenamento, transporte e distribuição de gasolina, gasóleo e GPL.

No entanto, não está sozinha. A Repsol e a BP também são accionistas do oleoduto entre as refinarias de Sines e Aveiras. As três operadoras controlam 80%.

(notícia completa aqui)


A Galp não comenta e o presidente da APETRO anda a comentar demais. E o Ministro, que manda investigar, continua sem actuar. Desde 2006 que se espera, pelos vistos.



(Como é possível que agora alguém acredite que, desta, o Governo mostra mesmo serviço? É que se é certo que o povinho já anda farto da mama evidente das gasolineiras, a inacção do Governo faz esse mesmo povinho achar que lá pelos corredores do poder deve andar tudo à cata da mesma teta.)




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(*) que é para não lhes chamar a todos azeiteiros, que o azeite não tem culpa.

QED


(clicar para ver melhor)

Escreva muito ou escreva pouco, melhor ou pior, há muito que este meu blogue garantiu o número mínimo de visitas diárias: parece que pénis, clítoris, cenas de sexo e o Jared Leto têm sempre público garantido…



(e tanta gente que vem ao engano!)

2008-05-27

Phoenix


aqui

Às vezes é como se, ao faltarem-nos os grandes eixos estruturantes das grandes ideias motivadoras, nos fosse momentaneamente fácil - e até reconfortante - encontrar uma qualquer ideia. Mas as próprias ideias estão sujeitas hoje em dia às regras da oferta e da procura, do melhor marketing, da visibilidade mediática e poucochinha.

Acho que quase tudo nos serve, nesta era que nem tem direito a nome próprio. Ainda seremos pós-modernos? E estas gerações que passaram a ser designadas por letras: y, x, z, abc... É quase como se já não houvesse palavras ou, havendo palavras, estas estivessem gastas de sentidos. Dos grandes sentidos essenciais, pelo menos.

E, sem se poder pensar a ela mesma, como fica a Humanidade? Leva para Marte e para a Lua o caos sem significado? Conseguirá ainda nomear a esperança, fazer dela um desígnio colectivo? Por entre os pingos da crise, da desagregação, do valor facial convertido em divindade, surge o medo, o sectarismo, a seita e a verdade convertida em dogma. Daí ao ódio e aos conflitos vai o passo pequeno medido em lucro.

Sem relançarmos as formas de nos pensarmos e ao Mundo, não saberemos largar as grilhetas e conquistar o infinito: temos demasiado lastro a segurar-nos a esta Terra e aos seus jogos do costume, os seus interesses do costume, à falta de grandes desígnios cada vez mais habitual. E Marte continuará longe.

Fêmea


aqui

Espáduas brancas palpitantes:
asas no exílio dum corpo.
Os braços calhas cintilantes
para o comboio da alma.
E os olhos emigrantes
no navio da pálpebra
encalhado em renúncia ou cobardia.
Por vezes fêmea. Por vezes monja.
Conforme a noite. Conforme o dia.
Molusco. Esponja
embebida num filtro de magia.
Aranha de ouro
presa na teia dos seus ardis.
E aos pés um coração de louça
quebrado em jogos infantis.

Natália Correia - Auto-retrato


Talvez um dia sejamos capazes de afastar das linhas das estrelas sonhadas, ou das linhas escritas em destino nas palmas das mãos, a loucura de não viver apenas. Plenamente!


(a minha avó fez oitenta e oito anos)

2008-05-26

Velho!


aqui


Isto de fazeres anos no mesmo dia da minha avó, loiro, não sei se é bom sinal.

Agora, mau sinal é ainda não me teres atendido o telefone. Grunft!

Beijo de parabéns :)

2008-05-25

Copo pela metade



Will you loose the flowers
Hold on to the vase?
Will you wipe all those teardrops away from your face?
And I can’t help feeling as I close the door
I have done all of this many times before




E enquanto o tempo se mistura com a memória e o desejo, incendeiam-se as cartas que nunca foram escritas. Contam, como sempre, a parte deitada fora, enquanto se esforçam por esquecer o que doeu. Arrastam-se vozes num quase choro, bebendo o golo sôfrego de um copo nuns dias meio cheio, noutros dias meio vazio. E vazam-se letras, que se substituem a beijos, em lábios mudos, como quem fecha mais uma porta, ritual repetido. Querem tudo. Tudo! Mas a alma está cansada. E a música toca ainda, vai rodando, inebriante. Arrastam-se as palavras, como se arrastam os acordes. Esvoaça o fumo de mais um cigarro e tudo se vai transformando em pó. Deita-se fora a dor e o alento vai junto. É fado. É a vida feita cabaré, onde acordes lentos contam, com lassidão, mais um rumo desperdiçado. Que haja um barman para ouvir as histórias, enquanto mais uma lágrima escorrega por cada face para ir salgar a bebida forte, que queima as gargantas quase tanto como os gritos silenciados. Borboletas cegas pela luz, esperam ainda ter asas ao raiar do dia. E contabilizar, por fim, o que sobrou.

2008-05-22

Impotência


William Stoehr

De lado de dentro, tentáculos esventram e dilaceram. É um monstro. Aliado ao cansaço e à espera, agora é apenas medo. Um medo seco, sem sentido, silencioso.

2008-05-20

Outra noite

Greed's all gone now, there's no question
And I can see you push your hair behind your ear
Regain your balance
Doesn't matter where she is tonight
Or with whoever she spends her time
If these arms were meant to hold her
They were never meant to hold her so tight
For the love of that girl
Greed's all gone now, panic subsides
When I could run, pulling arms to love her
Try to put myself on the inside
Of the love of that girl
Tears swell, you don't know why
For the love of that girl
They never fall, they can never run dry
For the love of that girl
Promise is never over, never questions that needed reply
But she could breathe deep into my neck
Let me know I'm just on the outside
Of the love of that girl
Tears swell, you don't know why
For the love of that girl
They never fall, they can never run dry
For the love of that girl
Greed's all gone now, there's no question
And I can see you push your hair behind your ears
Regain your balance
Doesn't matter where she is tonight
Or with whoever she spends her time
If these arms were meant to hold her
They were never meant to hold her so tight
For the love of that girl
Tears swell, you don't know why
For the love of that girl
They never fall, they can never run dry
For the love of that girl



(vou estando sem palavras; não me apetece dizer)

2008-05-19

Vamos ajudar a Mónica


aqui


gostaria de saber se conhece algum campo de papoilas em flor neste momento.estou á procura de um para uma filmagem e pouco encontrei...

(ver caixa de comentários do post anterior como responder ao pedido)


Sei que tenho alentejanos a lerem-me. Sei também que não haverá provavelmente melhor sítio para encontrar um lindo campo pintado de vermelho e verde. Mas também pode ser fora do Alentejo. Tem é de ter papoilas. E têm de avisar a Mónica para o mail que ela deixou no comentário.
Obrigada!

2008-05-18

Cartas


aqui


Recebi uma carta. Não uma carta com um texto lá dentro, antes uma carta com um presente manhoso, para brincar comigo e, ainda assim, carregado de intimidade, daquelas pequenas coisas que se partilharam por qualquer motivo e passaram a pertencer a duas pessoas.

E, no entanto, o que mais me cativou na carta foi o envelope. Lá estavam remetente e destinatários devidamente manuscritos. E fiquei a pensar como, neste mundo de teclas, telefones, sms, pc, voz em todos os formatos e feitios, podemos chegar a conhecer intimamente alguém e, ainda assim, nos surpreendermos com algo tão pessoal como a caligrafia.

Acho que vou passar a escrever cartas. Tenho saudades manuscritas.

2008-05-17

Sinto-me enganada!


Marcin Bondarowicz


Na última semana, por motivos que não vêm agora para o caso, visitei várias vezes o Hospital de S. João e não vi uma única funcionária com ar de ter as mamas esteticamente melhoradas.

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(Já agora e ainda a propósito de peidos que fazem primeiras páginas de pasquins: vai um cigarrinho ou o avião já descolou? Não descolou? Não há gasolina por causa dos aumentos sucessivos?… Transferiram a que restava para os bombeiros, certo? Que não? Então? Ah! Está reservada para aquele senhor que anda na Fórmula não sem quantos à minha custa e do resto do povinho a dar voltinhas sem sentido num carro tão poluidor que já devia estar proibido… Deviam pôr o gajo a biodiesel, é o que é. Não pode ser? Então porquê? Também o multavam por não estar a ser um cidadão cumpridor e a deixar-se chular nos impostos, como àqueles senhores políticos que resolveram pôr os tractores da freguesia a combustão alternativa? E, já agora, chamem lá o Marinho para dar parecer! Talvez se lembre de considerar o cigarrinho do PM crime público agora que quer voltar a meter no saco do privado os maus-tratos familiares. E nem vale a pena pôr-me a falar do privado, ou isto descamba de vez! Afinal, não comecei o post para falar do putedo que vai nas administrações cada vez mais gordas num País cada vez mais esfaimado e nas óbvias benesses do poder que só manda os fiscais aos tascos, mas fica sempre ceguinho quando se trata de inspeccionar como se fabricam preços e outras manigâncias dos cartéis do costume. Pronto! Já estou maldisposta. E eu que só queria falar de mamas…)

2008-05-15

Gente feliz com lágrimas(*)



Não há nada mais triste do que uma pessoa seca, alguém que já não tenha sequer mais lágrimas para chorar.


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(*)Título de João de Melo

2008-05-12

The Adversary



You see me in a foreign face
In ships that sink without trace
In your father's doubt
Will he praise or shout?

Behind the burning cross
Begrudged imagined loss
When you run to me, run to me, run to me
You try to fly, but you cannot fly
You try to hide, but I'm by your side
You run from me, run from me, run from me
I am the adversary
I am the adversary
I am the adversary
I am your foe
I go where you go

Between ideals and fact
Between the thought and the act
You sink without trace
Grow to hate your face
Will you sell all you own
To sit in a shadow by a throne
Will you run to me, run to me, run to me?

You try to fly, but you cannot fly
You try to hide, but I'm by your side
You try to run from me, run from me, run from me
I am the adversary
I am the adversary
I am the adversary
I am your foe
I go where you go

You will see me behind every door
You need not look for me at all
To her I'm just another
To her I am unknown

On your shoulder her hands lightly rest
As she lets fall her soft summer dress
Without self-conciousness of floating off in sleep
Without intention triumphs admid all defeat

She moves in her own sheltered way
My invisible hands are not at play
To her I'm just another
To her I am unknown

From the cold snow into the water
To her I'm just another
To her I am unknown

(Run from me, run from me, run from me)
I am your foe
I go where you go

I Have The Gun

2008-05-10

Ibsen à 6ª


Edvard Munch


Ontem fui ver a estreia, pelo grupo Ensemble, de "A Dama do Mar", para ser confrontada com as verdades e as consequências; ou de como uma mulher reencontra a liberdade enquanto outra se deixa comprar tentando ser livre. A cada um o seu tormento. Terrível! Aquela coisa semelhante ao mar, que atrai enquanto causa temor e é como a vida; ou de como criamos as nossas grilhetas quando nos sujeitamos às escolhas condicionadas, para acabarmos transformados em carpas velhas a nadar num pequeno lago de águas paradas enquanto, a poucos metros, se expande o oceano.


(E, no intervalo, descobri que estava a partilhar a assistência com Manoel de Oliveira. Não, ninguém lhe dá a idade que tem, apesar da bengala!)

2008-05-09

As time goes by



The world will always welcome lovers
As time goes by.


Acho que desta vez, depois de muitos e muitos anos, só lembrei, suspirei, deixei que os olhos apenas se marejassem, sorri e continuei o dia.

2008-05-08

(...)



It's a nervous tic motion of the head to the left
A nervous tic motion of the head
Head to the left
It's a nervous tic motion of the, of the, to the
Left

It's a nervous tic motion of the head to the, of the, of the head
of the head to the



(assobiando...)

2008-05-06

Menino-guerreiro

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© António Martins in "Pela Boca Morre o Peixe"


Hoje, cheguei a casa, sentei-me no sofá para tirar os sapatos e liguei no entretanto a televisão. Apareceu-me Pedro Santana Lopes em pose de estadista convicto a fazer mais um discurso tão interessante, mas tão interessante, que adormeci e só acordei agora. E lembrei-me que, há uns tempos atrás, fiquei muito feliz quando o vi cair do poleiro. E recordei também como toda a gente ficou tão aliviada por vê-lo pelas costas que até se apressou a votar no PS e deu ao gajo que agora lá está a cantar de galo a maioria absoluta.

Não consigo deixar de achar que só estamos como estamos, com um Governo supostamente de Esquerda a governar mais à Direita na maioria das coisas do que o próprio ti-Cavaco, que agora não manda nada, tirando as vezes em que só encrenca, porque houve aquele período infeliz em que o Durão deu de frosques e nos caiu uma mosca na sopa.

E, retirando da equação a hipótese de haver dentro do PSD quem queira dar cabo do PSD de vez, só Pedro Santana Lopes insiste em fazer de conta que não sabe que, tirando todos os que se riem dele (onde me incluo) cada vez que aparece em frente às câmaras, só existem aqueles que se assustam (onde me incluo também) com a hipótese de haver quem ainda lhe possa dar uma oportunidade para trepar ao poleiro, mesmo que nem precise ir a votos outra vez.

Três anos não chegam para alguém mudar; especialmente alguém que nunca mudou, nunca deu provas de querer mudar e, pior, parece estar mesmo convencido que está certo. C’um caraças! O "nunca me engano e raramente tenho dúvidas" frutificou realmente dentro da laranja. Infelizmente, nos seus piores aspectos e em completa cegueira egocêntrica.

2008-05-03

Eu é menos bolos!


aqui

A Vanus tem andado a gozar forte e feio comigo e esta minha recente mania de me dedicar à culinária. Pois as coisas até vão ficando a jeito. Hoje fiz um bolo de laranja (receita da miga, obviamente, que ainda não cheguei àquela fase patética de ter um livrinho de receitas) e que está ali a arrefecer com muito boa cara. É para a mãe amanhã. Afinal, alombo em casa dela para almoçar todos os dias e tem de haver alguma restituição nestas coisas.

Mas o que é estranho é o
que acontece à migas, até quando me está a dar receitas pelo telefone. Apre! Eu bem digo que, para cada lado que olho, anda alguém a tentar alisar-lhe a lã. E, bolas, eu só consegui ouvir – e mal – sem poder dar palpites, apesar de ser acusada de dar palpites em demasia. Eram só perguntas interessadas! E pertinentes! (e muito curiosas, mas isso agora não interessa nada)

Para a próxima,
minha linda, tem de vir o MMS!

Mamas


aqui

O semanário “Sol” avança hoje que o hospital [S. João] realizou cirurgias plásticas em funcionárias da unidade, na sua maioria para reduzir ou aumentar o peito, e que algumas dessas mulheres estavam inscritas na lista de espera como os restantes doentes ou eram operadas quando faltava um doente para outra operação qualquer.

in, Público



Há sempre uma teta e alguém pronto a chupar.

O dia da bicicleta


Albert Hofmann


Morreu aos 102 anos. Dizem que não teve nada a ver com a droga...

2008-05-02

Das aparências



É! Às vezes esqueço-me que isto é tudo para rir.

Coisas que me irritam


aqui


Acho que vou abrir uma secção especial só para as coisas que me tiram do sério. E começam a acumular-se e eu começo a ficar com coisas atracadas e, convenhamos, ter coisas atracadas não é a melhor forma para ter as coisas, especialmente as que nos irritam.

E ter um blogue também tem de servir para isto, especialmente se algumas das coisas que me irritam até se prendem com algumas coisas que acontecem nos blogues. E talvez seja tudo uma questão de se ser ou não se ser e do parecer e do não parecer nas palavras que publicamos. E com a curiosidade que sempre me despertou a forma como eu também sou lida, treslida ou pura e simplesmente passada a diante, como faço com quase todos os blogues onde desaguo ou desaguei alguma vez.

Faz-me muita espécie gente que tem de estar sempre a dizer o que é, como se fosse preciso uma definição em cada post, ou em cada comentário. Ora, o que somos acaba por passar sempre, até quando mais nos esforçamos por não deixar passar nada. Obviamente que pode demorar mais ou menos tempo, dependendo da franqueza com que encaramos o teclado. Ou até pode ser preciso ir matando nicks para ver se a coisa se aguenta mais um bocadinho, mas haverá sempre rabos de fora, visíveis até para os mais distraídos como eu. E, se a cara não bate com a careta, ou nos passamos a divertir com a anedota ou simplesmente passamos à frente.

Mas o que me irrita mesmo é esta mania de todos se quererem fazer passar por algo que, socialmente, será certamente impossível serem. Como um certo rebanho de gajedo que se define em cada palavra como se fosse sempre muito boa, tão boa que nem prestam contas, que só se enfeitam para agradar a si mesmas, que só compram a carteirinha da moda para se darem mimos, que pintam a unhaca para elas, que se penteiam só para beijar a própria imagem no espelho e que só lavam os dentes porque as próprias narinas estão demasiado próximas da dentuça. E, obviamente, só fodem muito e muitas vezes para fazerem exercício e libertar as endorfinas ou só depilam as pernas e a cona por motivos higiénicos.

E este gajedo todo vem para os blogues apregoar uma autoconfiança que eu sei que não existe, porque ninguém existe só nas palavras em que se quer inventar, nem para além da necessidade social de pertencer a um grupo, com os seus códigos e os seus signos; ou a própria necessidade biológica de arranjar parceiro, o que implica necessariamente agradar a bem mais do que a si próprio. A auto-imagem é condicionada por mais do que os nossos olhos; é condicionada pelo que pensamos ver nos olhos dos outros. O mesmo para auto-estima, que não é coisa que brote de palavras, tem de ser profundamente entranhada, muito para além dos supostos mimos que nunca são para agradar aos outros, nem as carteiras que são sempre iguais às das amigas e amarelas, mesmo que há um ano atrás, quando o amarelo era pimba (não sei se era, mas adiante), nunca se atrevessem a usá-las.

Pois irrita-me. Muito. Porque ninguém é completo sem imperfeições e ninguém tem autoconfiança ou auto-estima se não tiver também uma profunda noção de ridículo pessoal e o sentido de humor suficiente para lidar com as inseguranças que todos temos.

Gajedo inseguro a apregoar autoconfiança é profundamente ridículo. Bem mais do que todas as palavras do "eu sou assim para me agradar" ou o "eu nunca faço nada para agradar aos outros, que são obrigados a gostar de mim, que sou tão boa, tão boa, que nem preciso de mais ninguém". Tretas! Tretas de gajedo armado em parvo, a vir esparramar palavras mentirosas a ver se convencem alguém. O triste – o que é realmente triste – é que nem sei se se convencem a elas mesmas. Mas lá que usam as palavrinhas todas, usam. E que fazem figura, fazem. E que talvez consigam que alguém lhes tente saltar à cueca, também é possível, ainda que eu ache bem mais provável que, por trás de tanta palavrinha, ou esteja um verdadeiro mono em quem ninguém toca, ou então alguém que anda a copiar todas as revistas da moda e a passar completamente despercebida por entre uma multidão de gajedo igual, que só nas palavras escritas em blogues parecem ter espinha e talvez rodem de cama em cama a acharem-se muito fodilhonas, mas a acabarem sempre sozinhas quando chega a hora da verdade.

E eu, convenhamos, irrito-me. Muito. Ou então tenho de me rir. E nunca é agradável nem estar irritada nem ter no trombil aquele meio sorriso de dó pelas figuras dos outros. Depois, olho por mim abaixo e vejo os defeitos todos e as inseguranças e tento rir-me de mim. Enquanto o conseguir fazer, sei que sou bem mais completa, nos meus defeitos e nas minhas valias, bem mais completa que qualquer dondoca armada aos cucos a dizer como é boa, tão boa, que só lhe falta o tapete vermelho cada vez que abre a porta de casa. Do cuecame que tem escondido dentro de portas é que é melhor nem falar.

2008-05-01

Maias à porta


aqui

No norte de Portugal, é tradição exibir um ramo de giesta no dia 1º de Maio, alegadamente como protecção contra o carrapato (identificado com o demónio ou com o mau-olhado). Por essa razão a planta é também conhecida como maia.

in
wikipédia



(Não vale a pena tentar a sorte)