2008-05-25

Copo pela metade



Will you loose the flowers
Hold on to the vase?
Will you wipe all those teardrops away from your face?
And I can’t help feeling as I close the door
I have done all of this many times before




E enquanto o tempo se mistura com a memória e o desejo, incendeiam-se as cartas que nunca foram escritas. Contam, como sempre, a parte deitada fora, enquanto se esforçam por esquecer o que doeu. Arrastam-se vozes num quase choro, bebendo o golo sôfrego de um copo nuns dias meio cheio, noutros dias meio vazio. E vazam-se letras, que se substituem a beijos, em lábios mudos, como quem fecha mais uma porta, ritual repetido. Querem tudo. Tudo! Mas a alma está cansada. E a música toca ainda, vai rodando, inebriante. Arrastam-se as palavras, como se arrastam os acordes. Esvoaça o fumo de mais um cigarro e tudo se vai transformando em pó. Deita-se fora a dor e o alento vai junto. É fado. É a vida feita cabaré, onde acordes lentos contam, com lassidão, mais um rumo desperdiçado. Que haja um barman para ouvir as histórias, enquanto mais uma lágrima escorrega por cada face para ir salgar a bebida forte, que queima as gargantas quase tanto como os gritos silenciados. Borboletas cegas pela luz, esperam ainda ter asas ao raiar do dia. E contabilizar, por fim, o que sobrou.

10 comentários:

Anónimo disse...

São tantos os acordes e os ritmos da vida... Nesta altura apetecia-me uma Rumba... ou um Bolero... :)

vanus disse...

mais um destes e vou aí directamente dar-te umas porradas, depois já podes reclamar que te doi o rabo...
olha, que a cabeça manda muito nestas coisas, digo-te eu que percebo do assunto.
vê lá se começas a mudar o que pode ser mudado, que o resto é mandar para onde der.

Hipatia disse...

Escolheste logo duas coisas que não faço ideia como se dançam, lol. Eu sou muito básica nas minhas danças: dois para cá e dois para lá e que não me calquem os calos ;-)

Hipatia disse...

Eu sei, eu sei. Mas tu também sabes que eu tenho de ver os monstros para os conseguir enfrentar. Ai vai tudo à frente. A espera é que é tramada, este não ter o que fazer, o não poder ir logo de fuças e resolver. Não fui feita para a inacção, tu sabes :(

Maria Arvore disse...

Enquanto há barmans, há esperança: o melhor par de ouvidos no divã do balcão para curar todas as maleitas.:)

E se o problema é a espera faz de conta que estás num bicha de trânsito e vai fazendo sinais com os dedos. ;)

Hipatia disse...

Nem me fales em trânsito! Para todo o lado por onde tentei fugir hoje, alguém tinha esquecido que, com a chuva que caía, andar depressa não era opção. Foi-me valendo o toca-toca e as musiquinhas que cantarolava perante o ar espantado de quem comigo se cruzava.

(o barman também pode ser um espaço em branco para preencher de letras, mesmo quando nem as letras fazem muito sentido)

Claire-Françoise Fressynet disse...

E que nunca acabe a musica

Hipatia disse...

Os frames só ganham realmente sentido com uma boa banda sonora :)

Maria Arvore disse...

(é o meu barman favorito ;)

Hipatia disse...

(não é à toa que andamos por aqui)