2008-07-10

Apneia

Talvez o mundo exterior tenha pressa demais.
Talvez a alma vulgar queira chegar mais cedo.
Talvez a impressão dos momentos seja muito próxima…

Álvaro de Campos

Quantas das nossas palavras proferidas são tão fracas de sentidos, símbolos gastos em apneia do ser? Às vezes parece que só nos silêncios da alma guardamos um simbolismo verdadeiro.

Há semanas – já demasiadas – que não me apetece escrever, que não me apetece abrir blogues, que não me apetece ler sequer. É que às vezes fico farta de tantas palavras. E, no entanto, tenho-me refugiado entre amigos, a deixa-los falar enquanto esvazio o pensamento e me embrulho nos sons.

É como se os sentidos das palavras me ultrapassassem e os seus significados me deixassem indiferente, mas o calor de vozes conhecidas em amena cavaqueira me permitisse manter a essência comunicacional. Quase como ser embalada num ronronar caloroso, feito de sons perfeitamente identificáveis sem, no entanto, ter de fazer qualquer esforço para identificar seja o que for.

Talvez as amizades também se façam disso, uma espécie de ruído permanente e constante que nos integra e onde nos deixamos ficar. Na voz dos meus amigos embalo as sem-vontades e sou perdoada dos silêncios e dos sussurros.

4 comentários:

Claire-Françoise Fressynet disse...

Escreves tão bem ;-))
adoravas ser génio todos os dias

Hipatia disse...

Não tenho essa pretensão, Claire. Mas fico muito feliz quando os outros gostam :)))

Claire-Françoise Fressynet disse...

A pretensão não era para aqui chamada, era só ser génio todos os dias e pronto ;-)))

Hipatia disse...

Não quero ser génio, ora :D
Além de que precisava comer muita sopinha ;-)