Ana Maria Brandão
Antes:
«De baixa em baixa, esta é a sina da funcionária pública de Ponte de Lima, vítima de uma doença degenerativa que a faz depender de terceiros para "sobreviver". Depois de ver dois pedidos de reforma antecipada recusados pela Caixa Geral de Aposentações (CGA), Ana Maria Brandão está de baixa médica desde Dezembro, por depressão e assim vai continuar pelo menos durante mais 30 dias. (...)
Portadora de cervicalgia e lombalgia degenerativas, Ana Maria Brandão, de 44 anos, funcionária administrativa da Junta de Freguesia de Vitorino de Piães, em Ponte de Lima, esteve três anos de baixa mas a 5 de Novembro de 2007 foi obrigada pela CGA a regressar ao trabalho. Tal como faz no seu dia-a-dia, cumpriu o horário laboral sempre acompanhada pelo pai, sentada numa cadeira, encostada a uma parede. Isto até que o ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, anunciou que entraria novamente de baixa médica até que a CGA procedesse à reapreciação do caso, o que acabaria por ditar, nesse mesmo mês, novo "chumbo".»
(ver também vídeo aqui)
Agora:
«Em Novembro, o País soube que Ana Maria, de 44 anos, tinha uma cervicalgia degenerativa. Não sei bem o que é mas pareceu-me grave na foto. Sim, Ana Maria teve foto nacional: com colar cervical e cinta lombar. Pois apesar disso, a Caixa Geral de Aposentações obrigou-a a voltar ao trabalho - ela era funcionária de uma Junta de Freguesia, em Ponte de Lima - onde não ia há três anos. Uma daquelas histórias que nos fazem abanar a cabeça: só neste País! Agora, ficámos a saber que esta história era ainda mais deste País do que temíamos. Tendo de passar por uma junta médica, que devia pôr a coisa a limpo, Ana Maria foi antes ao Bom Jesus, em Braga. E aí sentiu um daqueles formigueiros que precedem os milagres. É, ficou boa. A Junta de Freguesia deveria convidar Ana Maria a devolver, em dobro, os três anos de salário que recebeu sem trabalhar. Não para repor a justiça, isso temo que Ana Maria não compreenda. Mas, em linguagem que ela entenderia, para pagar uma promessa.»
Ferreira Fernandes - Os Milagres Pagam-se
17 comentários:
Inacreditável!
Este chica-esperta devia mesmo pagar a promessa.
Porque admiti-la é como admitir o chico-esperto do Vale e Azevedo.
É. Trabalhar também me dá cabo das costas, ele há dias em que as tenho todas apanhadinhas. E o que me deprime, hein?
Vou ali à CGA (ou a Braga) e já venho...
:(
Deveria ficar escandalizada, certo?! Entao porque e' que esta noticia nao me surpreende?!
Muito triste...
A questão, Maria Árvore, é que infelizmente não é a única. E, quando se juntou a um jornalismo cada vez mais medíocre e só interessado em parangonas, foi levada em ombros com um exemplo dos coitadinhos e dos sacanas dos gajos nas juntas médicas. Ora, se é certo que nas juntas médicas devem ser chumbados vários pedidos de gente que bem o merecia ver aceite, pergunto-me quantas mais - muitas mais - não são da estirpe desta chica-esperta que, com quarenta e poucos anos, se preparava para ir para casa coçar à nossa custa. E, sabes, num País em que toda a gente se queixa e atira culpas para cima de alguém, já não me espanta que a percentagem de chicos-espertos a apresentarem-se a juntas médicas fosse francamente superior aqueles que delas realmente precisam. Mas pelos vistos foi milagre e, afinal, o Teixeira dos Santos é que deve ter metido a cunha ao Bom Jesus.
E a mim então, nem imaginas, I. E ainda falta tanto para os 65! Será que se eu me embrulhar numas ligaduras consigo que me ponham em casa de papa para o ar, durante três anos, com o ordenadinho garantido ao fim do mês até achar que já está na hora de escalar até ao alto do Bom Jesus?
Pois não chega mesmo a surpreender para quem convive com gente suficiente para saber o que realmente acontece no Portugalinho. Como eu, que vejo diariamente tanta coisa que já quase nada me surpreende. Mas surpreendeu-me o ano passado as repercussões da história da desgraçadinha e dos jornalistas agarrados à jugular das Juntas Médicas e até mesmo a atitude do Governo na altura. Este desfecho é que já me parecia mais previsível: basta ver quantos não andam por ai agarrados à teta do rendimento mínimo, a parir filhos para aumentar abonos ou a conseguirem baixas à conta de fraudes, tirando todos os outros que continuam a comprar vivendas, carros topo de gama e a passarem férias em paraísos declarando como rendimento o ordenado mínimo nacional.
65? Olha a finória... Eu só completo 40 anos de descontos aos 66, tá? (Tenho culpa de antes ter feito dois anos de trabalho à borlix, tenho? Pois tenho.)
Cá para mim, e com as ideias que aí andam, lá para os 70 falamos...
Finória? Burra mas é, que comecei a pagar impostos a tempo de completar os quarenta de serviço bem antes dos 65 e duvido que venha para casa antes dos 70 :(
Caso para dizer "holy shit"!
Coitadinha da shit!
;-)
A culpa é mesmo da falta de escrúpulos e do chico-espertismo da dita senhora. É por situações como esta que acabamos por pagar todos pela mesma medida. Em vez de se encontrarem mecanismos que desmascarem gente assim, os nossos governantes hão-de criar logo uma lei que corte o mal pela raiz -pensam eles! - e que nos meta a todos no mesmo saco.
O pior de tudo é sabermos que esta chica não é a única, não é? Eu consigo lembrar-me de uns quantos; consigo até lembrar-me de alguns piores :(
(lembraste do gajo que foi presidente do Benfica e que levava os filhos à praia montado num helicóptero enquanto dizia que ganhava o ordenado mínimo? ou as reformas chorudas da Cardona e do outro? Esta chica é diferente em quê, tirando o facto de ser ralé?)
Passar a vida a trabalhar no que não se gosta é uma terrível e dolorosa doença (nem fode nem sai de cima) melhor seria receber para desentupir, e não acredito que se toda a gente recebesse para passear, abalavam todos para coçar a cabeça e os tomates o resto da vida. Quanto aos doutores,ja se sabe...
Beijoca grande para ti
Não sabia que o caso tinha tido este desenvolvimento e pode estar a escapar-me (está certamente) algum dado importante, mas a questão dos 'milagres', enfim, não vou dar opinião sem saber pormenores e mesmo então não quero entrar neste território.
Sei é que o mundo é mais vasto e maior que aquilo que o nosso limitado conhecimento pode abarcar.
Custa a todos trabalhar, Claire. Se pudéssemos escolher, obviamente que não começávamos a dar à perna todas as madrugadas, sabendo a hora a que se começa e, cada vez mais, nunca sabendo a que hora se sai (coisa que nem devia acontecer lá na Junta de Freguesia com os seus horários de tabela e porta fechada mal toca o sino). Mas custa muito mais a suspeita que com o meu trabalho - que não é pouco - ando a pagar as artes desta Micas e que tais.
Obviamente que os milagres não têm nada a ver com o caso. Mas suspeito que alegar milagre é ainda demonstrativo de um certo tipo de gente.
Mais Vozes
Eu sou desconfiado , cada vez mais desconfiado, mas no dia em que via a reportagem sobre esta senhora ainda mais desconfiado fiquei . Depois veio o ministro de não sei o quê mostrar toda a sua indignação pela injustiça, depois e passados dois ou três telejornais lá veio a solidariedade do governo pela mão do tal ministro. Antes, antes da reportagem sobre a senhora falava-se de cadáveres que davam aulas . desses nunca vimos reportagens televisivas, para esses nunca ouvi falar de nenhuma indignação ministerial .
Eu sou desconfiado como já disse, e sou desconfiado por ter visto a reforma por invalidez ser recusada a uma senhora chamada Celeste, vi porque estava lá quando a junta medica que a avaliou não demorou mais de minuto e meio para chegar á conclusão que a celeste estava capaz de trabalhar .
Quanto à culpa de Sócrates neste caso talvez a devêssemos procurar no lado de trás da historia talvez nos devêssemos preocupar com o porquê de ter sido este o rosto do mal estar do governo com tanta injustiça .
Provavelmente, um gajo menos desconfiado, diria que o senhor ministro indignado , teve azar com o sofrimento que o levou a manifestar a sua inquietação
Para o Zé que é desconfiado fica a certeza de que de azares destes está cada vez mais recheado este país .
Vamos esperar para ver a importância que esta malandra vai ganhar
Voltando à vaca fria: estranho e provavelmente conveniente é ter passado despercebido a pasta do ministro que se indignou .
Estou cheio de vontade de dizer asneiras acredita que estou cheio de vontade de dizer asneiras daquelas que vocês por ai dizem
frogas | 07.03.08 - 1:06 am | #
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Só me pergunto por quantos casos de manifesta incompetência das Juntas Médicas para avaliarem a veracidade da incapacidade de um trabalhador, quantas Anas Marias Brandão não conseguem mesmo ir para a reforma. E, se é certo que devia haver uma avaliação externa – desde que muito bem regulada – das decisões tomadas nas Juntas da CGA (que poderiam funcionar tipo primeira instância), também me parece desejável que, sabendo nós o que sabemos do povinho que somos, não se passe a considerar todas as decisões como política de poupar tostões. Este exemplo não é o único. Suponho, aliás, que os casos da Celeste sejam a excepção. Infelizmente, mal julgados. Mas quantos chulos do sistema, que mereciam era um chuto nos fundilhos, não se preparam diariamente para forjarem doenças e assim irem para casa descansar os calos da meia dúzia de anos de vida contributiva?
Hipatia | Homepage | 07.03.08 - 6:17 pm | #
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