(…)
But I grow old among dreams,
A weather-worn, marble triton
Among the streams.
William Butler Yeats, Men Improve with the Years
But I grow old among dreams,
A weather-worn, marble triton
Among the streams.
William Butler Yeats, Men Improve with the Years
Ontem, em pleno – e bem movimentado – cruzamento, o carro da mulher à minha frente parou e não andou mais. No chão, uma poça de gasolina ia crescendo, junto com os óbvios sinais de que a doença do carrinho era grave. Liguei os quatro piscas, sai do meu carro e dirigi-me à mulher aflita para lhe dizer ali, em pleno e movimentado cruzamento, "venha daí que vamos empurrar-lhe o carro para a berma". E as duas, ambas de salto, mala a tiracolo, lá começamos a empurrar, enquanto um monte de gajos (uma praça de táxis cheia) se limitava a assistir e, aposto, nos tratava de apreciar o rabo. De repente, ao meu lado aparecem um velhinho de bengala e uma velhinha de saca da farmácia na mão. Os dois, podres de idade e de vida, com a força de passarinhos, preparavam-se para fazer o que os gandulos na beira do passeio faziam de conta que não era preciso fazer. Mas talvez tenha sido ai que naquelas cabeças imbecis alguma fichinha caiu, ao verem dois velhinhos a fazerem como o passarinho ali da história que a Fabulosa nos deixou. E, de um momento para o outro, até me pareceu que, mais do que empurrado, o carro foi levado em ombros. Eu, que nestas coisas sou uma Madalena derretida, espetei com um passou-bem no velhote e dois beijos na velhinha (quero lá saber da gripe!) antes de fazer mais uns quilómetros para os deixar em casa bem antes do que o autocarro poderia fazer (quero lá saber do preço da gasolina!). É que um velhinho manco e uma velhinha doente deram uma bela ensaboadela de civismo nuns quantos fdps que se ficam pelos cruzamentos a galar mulheres, contar moscas e provar à exaustão o País de canastrões sem cultura cívica em que nos estamos a transformar.
11 comentários:
ahaha perfeito!
os homens eram timidos só :P
Excelente!!!
Esse é um caso que parece mesmo uma parábola ou coisa assim, coisa inventada para ilustrares o conto que a fabulosa contou.
Mas tenho reparado que, por exemplo nos autocarros, vê-se muito mais vezes uma senhora já de meia-idade levantar-se para dar lugar a alguém mais velho ou de criança ao colo, do que sujeitos cheios de vitalidade e força. Homens novos estão-se positivamente nas tintas para essas atenções.
Obviamente que se eu fosse um dos canastrões, já lá estava a empurrar o carro. O que ganhava? Uma perpectiva bem mais próxima e atenta daqueles rabos. Canastrões burros, esses.
Foi com fdp desses - e de outros -, cujo número tem aumentado a um ritmo muito mais alarmante que o da gripe, que eu aprendi a dizer com mais convicção palavrões. Há dias em que todas as asneiras que conheço me parecem insuficientes para expressar a minha raiva.
Bom fim-de-semana. :)
Ainda ha quem diga que as mulheres são "cabras" umas para as outras.
Mentira!
Tu Hip, provaste o contrário, solidariezaste-te, (dass, custou-me a escrever isto pa cacete)mobilizaste-te, disponibilizaste-te para ajudar a tua congenere a sair da situação desesperante em que se encontrava.
Agora a versão pirateada: O carro da gaja da frente pifou e tu atrás deste um valente murro no volante e vociferaste... "estas putas de merda, vêm com estes xanatos do caraças práqui atravancar a passagem a quem tem mais que fazer, agora tenho de levar com esta gaja ali feita tótó a empurrar a merda do carro... ora porra pra isto... logo tinha de me saír uma arara destas pela frente... e aqueles tótós do camamndo estão ali a olhar pradonde?
Hãn!!???
Ah pera, os gajos estão mas é a morder a peidola à marmanja... óh pá o melhor é ir lá meter a mão em cima do capôt e ver se algum dos caramelos se chega à frente e se revela um Jorge Clóni e me convida para um néspresso...
Óh tiozinhos... desamparem-me a loja... ainda torpeçam na bengala e vou ter de os levar a casa no carro...
A surpreza é que os velhotes eram duros de ouvido e perceberam que te ofereceste para os levar a casa de boleia....
;)))
Sou tão parvinho, benza-me o altíssimo!!!
Sim, sim... Era cá uma timidez!
:)
Foi uma coincidência do caraças mesmo. Tinha lido a Fabulosa à hora de almoço e isto aconteceu à tarde. E mesmo quando estava a acontecer só pensava que merecia post, exactamente por parecer ter sido escrito de propósito. Acho é que não tenho imaginação bastante e a realidade acaba sempre por nos surpreender.
Quanto ao que dizes dos autocarros (que há muito não frequento, felizmente, dividida entre o metro e o comboio quando há alternativa ao carro) ainda tens aquela cena de se fazer tudo à porta junto do condutor e, muitas vezes, o pessoal se empurrar como louco sem querer saber se à frente vão velhos, grávidas, crianças. Depois disso, como esperar que desse o lugar, até mesmo se fosse o lugar de uso exclusivo?
E tu por acaso costumas ter tempo para coçar muitas esquinas, ainda que o prémio fosse um rabo? Vá, dois rabos.
:)))
Sim, são mesmo piores do que um vírus. Pior ainda, para estes ninguém parece interessado em inventar vacina. Mas uns palavrões lá vão servido de paracetamol ;-)
Bom fim-de-semana, menina!
Bartolomeu, admito que a verdade possa estar algures pelo meio, lol. É que não sou santa nem lhe tento vestir a pele e, se não tirasse o carro do meio da estrada, o meu não haveria de passar. Mas também é certo que o "Clóni" não me levava, ainda que o "néspresso" ao fim da tarde talvez me pusesse a pensar no caso. E os velhinhos, de facto, partiram-me toda :)
Mais Vozes
Deuses! Até eu (insensível) fiquei com a lágrima no canto do olho... Esses dois velhinhos são da velha escola, aquela que diz que devemos ser uns para os outros, a do altruísmo, a dos bons samaritanos, como tu, que paraste para ajudar a senhora.
fabulosa | Homepage | 07.10.09 - 11:37 am | #
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Eu, se não ajudasse, também não conseguia passar Também não sou da fibra dos velhinhos, ainda que admita que provavelmente iria sempre ajudar se visse que mais ninguém se chegava à frente. Não tomava era a iniciativa sem ser por conveniência
Hipatia | Homepage | 07.10.09 - 7:45 pm | #
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