2006-06-02

(…ainda em férias)


Braga, Bom Jesus

Tolhe-me de desdém o que em nome de qualquer divindade se instiga. Abomino o papel menor que quiseram dar (e dão ainda) à mulher ou aos que consideram hereges, ou até àqueles que, não o sendo, escolheram uma opção de vida fora dos cânones bolorentos e, por isso mesmo, são até hoje deixados nas bordas da prece.

Li demasiados Camus e Satres para ser Wicca. Nunca deixei de ser "estrangeira" na fé. Cusquei demasiado nos orientais para ainda ter uma noção única do divino. Temo a organização da crença, porque abomino qualquer prelúdio de fanatismo. Não sou sequer baptizada. Não sou nada, se calhar. Gosto de me pensar agnóstica. Acredito, não venero. Falo com o divino na primeira pessoa. Não gosto que me medeiem aquilo em que escolho acreditar.

Mas abro a boca de espanto, arregalo os olhos e persigno-me antes de entrar nas bonitas igrejas, nas maravilhosas catedrais, ou nas simples capelas esculpidas nas rochas. Há uma grandeza no granito talhado das terras do Minho e da Galiza que nos põem, verdadeiramente, em contacto com a divindade.

Depois… bem, depois olho para baixo e vejo os ex-votos e as caixas de esmolas e, rapidamente, volto a assentar os pés no chão.

11 comentários:

Nelson Reprezas disse...

Há assim uns posts teus que me apetece embrulhar e levar...
Beijos

deep disse...

Olá!
Já percebi que tenho razões para te invejar: gosto do Minho, gosto da Galiza e gosto, sobretudo de... férias e as minhas estão longe de acontecer!
Com a fé e a religião tenho uma relação que ainda não consegui clarificar. Ao contrário de ti, sou baptizada; quando vou à igreja, não o faço por obrigação, mas por necessidade - de estar sozinha, de ouvir palavras de conforto (muito raras!)- dir-me-ás que há outras formas de conseguir tudo isto!-, mas não aprovo determinadas manifestações de fé, como os sacrifícios ou as promessas, assim como não tenho a noção de pecado. Na minha rua, vive o padre da paróquia e uma série de pessoas que cumprem todos os rituais do calendário religioso, mas já percebi que não são, por isso, mais tolerantes ou cordiais. Tenho até ideia que alguns fazem questão de não cumprimentar - depois de quase 4 anos a morar nesta rua - por nos saberem, a mim e a alguns dos moradores do meu prédio, "menos católicos". Desculpa ter tomado tanto do teu espaço. Continuação de boas férias. Bjs

Hipatia disse...

Que terei escrito eu agora? hmmm...

Obrigada, Espumante :))

Hipatia disse...

Nunca te diria que tens outras formas de conseguir tudo isso. Acho que cada um de nós deve procurar a sua paz em qualquer parte, desde que a encontre. E o interior fresco das igrejas sempre me pareceu convidar à reflexão. O problema nunca esteve com a igreja, não é? Afinal, todas elas apenas se esforçam por juntar os homens "sub-sino". O pior são os homens que fazem as igrejas, os tais que se esquecem que não basta parecer bom e puro e imaculado; há que praticar cada voto, no seio da comunidade, cumprimentando os vizinhos, juntando em lugar de ostracizar.

Abusa quanto quiseres. As Vozes são vossas :))

Anónimo disse...

Eu não acredito em bruxas. Tal como a maioria das pessoas. Si, si, seguro que no las hay. Independentemente das religiões, e na minha óptica baseada no mais básico senso comum, Deus não me parece ser muito mais do que uma imensa bruxa barbuda, provida de poderes obscuros, intenções misteriosas, e voz cava. Também não acredito n'Ele (esta regra gramatical é tão ridícula que nunca resisto a obedecer-lhe, para me divertir). Aqui, por razões enigmáticas, já não estou em maioria. Aparentemente, as pessoas que desdenham da velha desdentada a remexer num caldeirão, consideram natural a existência de um barbuças lá em cima - ninguém sabe muito bem onde-, a razar os aviões e a espantar os meteoros. Claro que habitualmente estas pessoas não atribuem barbas à coisa. Normalmente referem-se vagamente a uma Entidade. Pior. Porque elas até nem sequer é bem acreditar. Respeitam. O que significa que, não fazendo na realidade a menor ideia do que se passa, e pelo sim pelo não, não vá o diabo tecê-las, não se comprometem. E persignam-se.
Mais uma vez, independentemente das anomalias contra as humanidades defendidas pelas religiões ao longo dos tempos, não o compreendo.
Sou uma pessoa bem educada. Ensinaram-me a respeitar o próximo e eu concordei. Tem lógica. Afinal, não seria natural andarmos pela vida a chamar parvas às pessoas que vemos fazerem coisas que consideramos patetas. Mas, ó pachorra!, como é difícil ser civilizado dentro de uma igreja... esses magníficos monumentos à soberba e vaidade humanas, uma coisa que já dá para compreender perfeitamente.
Gosto muito de igrejas. Vou vê-las todas. As catedrais espanholas, então, não perco uma. Bom, já me aconteceu uma vez. Culpa de satanás. E afinal é verdade, sempre é uma mulher. E - pasme-se -, das supersticiosas!
Beijo, Alien

Hipatia disse...

Perdeste umas quantas, é certo. E é fácil imaginar o demo como mulher. Talvez seja das artimanhas. Um gajo qualquer barbudo não saberia cantar tão bem a canção da sedução. E, sim, até as pessoas inteligentes têm atitudes patetas. Algumas persignam-se ao entrar nas Igrejas. E não viram o cu ao santo dos condutores, sujeitando-se a ficar sem gasóleo onde Judas perdeu as botas. Sabes o pior? Depois lembrei-me como se chegava à tal. Era mesmo fácil, se não tivesse virado para o lado errado ao lado dos cavalos. Terá de ficar para a próxima, junto com as 299 igrejas de Braga que não vi :)

Gostei particularmente dessa ideia d'Ele (oh para mim a imitar-te, eheheh) de voz cava, a enxotar meteoros. Parece-me bem. Afinal, se não continuar a fazer alguma coisa lá em cima, no tal sítio que ninguém sabe bem onde fica, seria necessário demiti-lo. E, depois, como inventariamos guerras se todos os deuses fossem apeados? Ou onde encontraríamos (alguns de nós, pelo menos) a tal entidade a quem pôr as culpas e exigir benesses? A falta de divindade deixa-nos profundamente sós, já o provaram os existencialistas. Não sabemos viver sem "alguém" a quem atribuir as culpas de todos os acasos. É difícil um mundo sem regras, lindo. Ninguém gosta de caos, por mais profundamente libertador e criativo que possa ser.

Anónimo disse...

Mas quem é que vive no caos? O mundo todo é um emaranhado de regras, a maioria delas até muito bem pensadas e útias, sim senhor. Não me consta que Deus tenha sido para aí chamado, ainda que, em alguns casos, insistam que sim.

(ai agora a culpa foi dos cavalos, é?! Ui, que raiva de satanás... :) )

(Braga tem mais 299 igrejas? Ai. Raiva redobrada do demo.)

Alien

Hipatia disse...

Deus não foi chamado para nada, excepto para resolver os problemas com a desordem que a humanidade enfrenta. A mesma desordem que obriga a regras e, quando estas faltam, tenta-se enformar via uma qualquer entidade reguladora :)

Olha que se quiseres rezar ao demo vais ter de ajoelhar :PP

Beijos, mas é, que sou lindinha :)))

Anónimo disse...

Pois a mim o mundo parece-me na sua essência bastante bem ordenado, e de uma comovente simplicidade. Grande parte das desordens que observo, tanto individuais como colectivas advém do facto de se ter metido Deus ao barulho. Olha para mim. Sou uma pessoa ordenada, cumpro todas as regras lógicas relevantes e vivo em paz e serenidade, desde que não me venham com o Além. E garanto-te que Deus não mora, nem jamais morou ou morará, aqui, em nenhuma das suas variedades.
Precisas de uma entidade reguladora? Pergunta aqui ao pai. O pai responde. Com a vantagem de ser de carne e osso e de não dizer disparates. Simples. Fácil fácil.

Lindinha? Não. Aí está uma coisa que uma persignadora nunca poderá ser.
Jinhos :))
Alien

Hipatia disse...

"Sou uma pessoa ordenada, cumpro todas as regras lógicas relevantes e vivo em paz e serenidade..."

eheheheh

Pai querido, que estás tão longe, eu também sou uma pessoa ordenada (mas sem hábito) e também cumpro todas as regras lógicas relevantes... Mas depois há coisas que me tiram do sério, me fazem mandar a lógica às urtigas. Um lindo cucifixo, por exemplo... Até me persigno outra vez! Ai!

E claro que sou lindinha! Afinal, só a costela esquerda é que saiu do lado do demo ;-)

Anónimo disse...

Mais Vozes

Vem a Viana ver Santa Luzia. Não te arrependes!
Ricardo Garcia | Homepage | 06.02.06 - 2:16 pm | #

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Não deu tempo para ir, Ricardo. Eu conheço e sei bem como é maravilhoso. Tenho pena de não ter tido tempo para mostrar a quem estava comigo
Hipatia | 06.03.06 - 9:22 pm | #