2006-07-12

Catrineta


aqui


E há todo este desespero a crescer em mim, mudo. Um arremedo de loucura, uma paranóia narcisista, um esgar do ego em contramão. E não sobra muito mais que este monstro mudo, este frio permanente. E era como se já não soubesse inventar as alternativas na paisagem mental que sempre soube povoar a belo prazer para me fazer fugir para longe deste monstro que trago dentro. É que sempre inventei rotas de fuga, de mim, para mim, contra mim, o caralho. Mas há alturas em que não dá e este filho da puta de monstro que trago dentro, que me entope, silencioso, este cabrão tormentoso e mal disposto que me tira o tesão pela manhã e não me deixa tusa para nada o resto do dia, vai-me comendo devagar. Como se tivesse esquecido as alternativas que sempre inventei, como se não tivesse sempre bastado encolher os ombros e fazer outras coisas e refugiar-me nos meus silêncios para não o deixar ganhar. Porque todos os monstros silenciosos sempre foram só meus, para esganar rapidamente, sem perdão. Mas este filho da puta quer ser mais do que eu, não se maça nem se esquece, fica a comer-me os minutos e não sei sequer como enxotá-lo. É um buraco negro e suga, suga, suga... De dentro de mim, tentáculos esventram-me e dilaceram-me. É um monstro. Aliou-se ao cansaço e à espera e agora é apenas medo. Um medo seco, sem sentido, silencioso.

(leva-me a ver o mar num barquinho a remos e deixa que o medo que tenho do mar ensurdeça este medo que me come...)

8 comentários:

vanus disse...

Sabes que o pensamento faz eco, não sabes? A não ser que encontre alguma coisa que o absorva, ele não pode sair, continua a bater nas paredes do corpo e por cada pensamento igual, temos várias vagas de eco seguidas, ensurdecedoras. Ao fim de algum tempo, os terminais nervosos cansam-se e deixam de o ouvir, tal e qual o despertador da manhã.
E a manhã, está quase a chegar; já a estou a ver ali ao fundo :)

(na água o ruído propaga-se ainda mais)

TheOldMan disse...

É abandonar o medo á sua própria solidão e seguir em frente, aproveitando sempre as coisas boas.

O optimismo é como o sol; o que não revela com a sua luz, ofusca com o seu brilho...

;-)

(O Verão é a altura ideal para ser optimista, pois já temos o cenário montado...)

Bastet disse...

Oh amiga! Logo hoje que a Bastet faz aninhos? Ao Sol a atitude é diferente... acredita!

Hipatia disse...

Sei sim. E quase sempre arranjei forma de encontrar algo que o absorvesse. Desta vez, nada parece estar a funcionar, nem sequer a escrita. E é da espera, eu sei: dêem-me antes um facto e deixem-se agir sobre ele. Não fui feita para esperar...

Hipatia disse...

Por cá, Old Man, está um calor de trovão com cheiro a incêndio. E um ar pesado, à espera de que algo aconteça. Eu vou sentindo-me parecida :S

Hipatia disse...

Já lá fui dar os parabéns :) Sua velha carangueja! Não sabias fazer como eu e arranjar um blogue virgem?

CAP disse...

Blogue virgem em quê, menina Hip?
Nem em acrahaldas... ;)

(por aqui, o trovão passou e deixou o céu bem mais limpo)
Xuac!

Hipatia disse...

O blogue é virgem de signo, Cap. Afinal, nasceu a 24 de Agosto. Quanto ao resto... pois é verdade! O desgraçado nem sequer tem orelhas :)))