2006-11-29

O meu corpo


Quando acordo
encho-me logo
com o fresco da manhã.

Brinco todo o dia
com o meu corpo.

Salto,
corro e bebo água em grandes goles
sentindo-a rodopiar dentro da barriga.

Trago sempre o meu corpo comigo
e a sua sombra, também.

Mas é à noite,
quando toda a casa está em silêncio
e o meu gato
dorme enroscado aos meus pés,
que me lembro Dele.
Sim!
Do meu corpo!

Deitado na cama
sinto o coração bater de mansinho:
escuto-o com a minha mão.

O meu peito
sobe e desce
a cada respirar:
até parece uma borboleta batendo asas.

Então,
todas as pequeninas coisas
que compõem o meu corpo,
aconchegam-se
antes de adormecer.


Nota: Poema/desafio de Miguel Horta, criado para as oficinas complementares à exposição de Rebecca Horn, “Bodylandscapes” (Centro de Pedagogia e AnimaçãoCentro Cultural de Belém)

10 comentários:

Anónimo disse...

P= ”trago sempre o corpo comigo”
Q= “a sombra faz parte de mim”
P ->Q ; |= Q ->P

Maria Arvore disse...

Gosto dessa imagem do nosso corpo como o nosso gatinho de estimação.
E sobretudo, de uma alegria de estar vivo que transparece em cada palavra como se viver e ter consciência de que se está vivo fosse tão divertido como saltar à corda. :)

Miguel Horta disse...

Maria:
>Mais uma vez publico poemas para a infância, como que a relembrar que o nosso corpo crescido em tempos foi pequenino.
por outro lado, neste blog, outras questões sobre o corpo têm ocupado os nossos debates.
Relembrar o nosso corpo para construir uma resposta honesta, assertiva.

Anónimo disse...

Ops a anº não esta ca hj que gostaria de contestar o seu raciocínio .
Não entendo nada de matemática filosófica mas é tentador.

Hipatia disse...

Sabes, acho que tens de passar a escrever mais na Voz. Eu nunca sou capaz de transmitir tanta doçura e sabe-me bem vê-la por cá :)

Miguel Horta disse...

tenho fases...às vezes ando muito ausente

Anónimo disse...

Gaivina o objectivo era para desenharem ou para escreverem ? E a idade das criança?

Miguel Horta disse...

Tratava-se de um conjunto de oficinas em que as crianças experimentavam através de alguns artefactos e do desenho as impossibilidades do corpo. Algumas dessas "Máquinas de corpo e alma", foram feitas pela Ana Mané, uma belíssima cenógrafa.estas oficinas permitiam um conhecimento mais aprofundado das questões levantadas pela Rebecca na sua obra.

Anónimo disse...

Hj foi 1 manhã divertida eu nas tintas e a minha ados brincando com este texto, e num momento substitui o corpo por outra palavra,funciono sempre.

Miguel Horta disse...

É muito porreiro ter-te aqui pelo VOZ! :o)