2006-11-26

Tantas vidas

"Não acaba o que morre, mas o que se esquece."

O texto de Fernanda Câncio sobre a morte da jornalista (e blogger) Maria José Margarido teve o poder de me apanhar de surpresa. As homenagens são muitas vezes palavras vãs debitadas com solenidade. Ali não. E restou – pelo menos para mim – a ideia de que foi "uma de nós", não alguém distante que escrevia num jornal. Ficou apenas a ideia de alguém que queria, precisava, escrever. E eu – e acho que todos os que têm um blog – podemos de facto relacionar-nos com isso. Esta necessidade de contar e recontar pedaços de estórias que são vida, apenas e sempre que nos recusamos a esquecer. Como a mulher na estação de Atocha. Como a editora que quis voltar às reportagens. Como a colega (e amiga, suponho) que assim contou, em mais do que uma distante homenagem, nas palavras sentidas do adeus que teve de ser. Demasiado cedo. E, sim, suponho que para quem tem esta urgência de escrever, de contar, ficam sempre demasiadas vidas por decifrar.

__________
(...)
este interposto objecto

e o seu leve peso de eternidade

Mário Cesariny

10 comentários:

Miguel Horta disse...

Tocou-me bastante...

Maria Arvore disse...

E vão dois que tanto deixaram por decifrar.
Nestas alturas não há nenhum cabaz de palavras que acalme a angústia.

vague disse...

Fiquei impressionada quando soube. Que coisa tão trágica é a vida quando a morte vem assim, numas férias, quando um avião se lembra. 4 pessoas jovens.

TheOldMan disse...

Quem morre deixa sempre imenso por dizer.

;-)

Hipatia disse...

Achei mesmo um texto profundamente sentido, Gaivina.

Hipatia disse...

Nunca há. Mas quase sempre conseguimos manter o distanciamento. É fácil quando estão longe, quando nada nos dizem. Mas, depois, há palavras que nos tocam e nos levam para perto. E a capa da indiferença levanta-se por momentos.

Hipatia disse...

A morte de alguém obriga-nos sempre a encarar a nossa própria finitude, Vague. Mas, à distância, o "outro" é um ponto pequenino, que nos merece apenas um "oh!". Há, no entanto, palavras que nos obrigam a mais do que isso.

Hipatia disse...

Mas nem toda a gente que morre partilha da urgência de dizer. Como sempre, é a nossa medida e, se nos calha arranjar um ponto de identificação, até as palavras passam a comportar um peso diferente, Old Man.

Maria do Rosário Sousa Fardilha disse...

Epá Hipatia, que horror, não sabia que era ela! A notícia já me tinha deixado mal porque conheci um dos jornalistas que também morreu (e que não via há anos), e agora isto.

é horrível.

Hipatia disse...

É horrível, sim.