2008-07-14

O (des)acordo


(recebida por mail)

O acordo ortográfico tem feito correr rios de tinta. Nos blogues, praticamente todos se manifestam contra o acordo e, em quase todos, lá está o link para a petição on-line. Depois, começamos a ler os textos e não há distinção entre "à" e "há", "lembras-te" e "lembraste" são exactamente a mesma coisa e o verbo haver aparece nas formas mais bizarras, para já não falar no verbo "estar" que há muito passou a ser o verbo "tar". Ora, convenhamos, que autoridade tem esta gente para reclamar contra o acordo? Não deviam primeiro aprender a escrever em qualquer uma das versões do português?

12 comentários:

vanus disse...

Hipatia, considero este post altamente anti-democrático, perverso e talvez até mesmo, anti-constitucional; um gajo, qualquer gajo, tem direito ao erro ortográfico.

E isto de lhe tirarem o acordo da língua escrita tal como está, e o obrigarem a escrever quase sem erros, está mal. Muito mal.
Então onde fica a nossa liberdade? Ou a liberdade do erro ortográfico é menor que qualquer outra?

Até te ofereço um exemplo do que se pode vir a perder por causa disso:
Quando aqui há tempos o nico trouxe uma ficha para fazer em casa em que estava escrito “a vós do pastor era suave”, e ele perguntou se se escrevia com s ou z, a irmã percebeu de imediato, que em se tratando de uma coisa da escola, não podia ser um erro, logo, tinha que ser poesia.

O que tu não percebes, é que o que lês nos blogs não são bizarrias linguísticas, é poesia, pura poesia; e quem melhor que os poetas para poder reclamar uma língua?

:p

vague disse...

eu vinha concordar mas depois de ler a Vanus (olá Vanus:)* acho q ela é q tem razão :)


Hipatia, tu acreditas q eu vi num site de uma instituição seguradora a palavra "há", escrita sem o "há"???
Dá para acreditar??

vanus disse...

Olá Vague.
Parabéns atrasados :)

Hipatia disse...

Ah! Então é isso! Poesia. E eu que ando tão enganadinha! Já viste há quanto tempo eu podia ter a "Vós em Fuga" e passar a ser profundamente democrática? Depois até era capaz de assinar a petição :D

Hipatia disse...

Acredito, Vague. Infelizmente acredito :( Aliás, nem precisas ir tão longe: hoje em dia basta abrir um jornal.

Mas o que me parece mesmo ridículo é haver quem não tenha noção de ridículo e escreva demasiado mal, mesmo quando se mostra contra o acordo ortográfico. Consegues ler os exemplos da imagem? Agora diz-me cá: qual é a diferença entre passarem a escrever húmido sem o "h", sabendo que cumprem a norma, ou escreverem como agora hediondo sem o "h", cheios de confiança que estão a escrever bem?

O erro ortográfico existe e vai continuar a existir. Eu dou vários, especialmente no teclado, precisando com frequência recorrer a uma folha de papel para manuscrever duas versões da mesma palavra. Mas a língua é feita de bem mais do que ortografia e perder meia dúzia de consoantes não me afecta tanto como ver a gramática portuguesa tão torturada todos os dias, a sintaxe posta num canto e o léxico cada vez mais espremido.

Maria Arvore disse...

Depois de ler a Vanus também concordo que é poesia. E explica-me porque nunca me apaixono porque quem ma escreve. ;))

E como o factor sucesso está na moda, seguir as modas mesmo sem as perceber recebe a adesão de muita gente. ;)

TheOldMan disse...

A lingua portuguesa está em constante movimento, Hipatia. Só por isso o acordo ortográfico devia ser feito em pequenas avenças.

(De qualquer modo a frase inicial, se bem que não esteja completamente correcta, é muito boa para o turismo).

;-)

Hipatia disse...

Acho que pode ser pior do que apenas seguir modas, Maria Árvore. Sei que não concordas com o Acordo Ortográfico e eu não concordo contigo. É que eu não vejo qualquer mal em que a grafia acompanhe antes a oralidade (a língua realmente falada e que não vai mudar) em lugar da etimologia em que ninguém está interessado há anos. Na prática, são cerca de 2% as palavras que vão ver a sua grafia alterada e continuará a haver grafia díspar se, na oralidade, a mesma se manifestar. Cada vez que alguém pega num exemplo, lá vem o "facto" e o "fato". Isto apenas quer dizer que não entenderam (provavelmente nem se deram ao trabalho) o que está consagrado no Acordo. O "c" de "facto" é reproduzido na oralidade do português continental, o que quer dizer que ninguém vai passar a dizer ou escrever "fato". Agora, palavras como "óptimo" vão perder o "p". E depois? Para que serve realmente o "p" em "óptimo"? Mas é mesmo mais do que isso: somos um povo que não pára de falar de como deu novos mundos ao mundo e etc. Depois, queremos ser donos da língua portuguesa. Achar que a língua apenas pertence a quem vive neste rectângulo é absurdo; achar que os brasileiros não podem dispor em igual medida daquela que também é a sua língua também é absurdo; esquecer os PALOP ou Timor-Leste ou até mesmo as comunidades emigradas só nos empobrece. Na minha opinião, fazer do Português um reduto do nacionalismo é mais do que moda: é limitado e limitador e profundamente bairrista, naquilo que o bairrismo tem de pior.

Hipatia disse...

Os portugueses e os brasileiros andam para fazer um acordo desde o início do sec. XX, altura em que Portugal avançou com uma nova ortografia e a impôs às então colónias. O Brasil já não era colónia, por isso seguiu o seu próprio caminho. Não achas que já é tempo suficiente para várias avenças? E porque anda tanta gente tão preocupada com a grafia escamoteando, por exemplo, a gramática? É, deve ser poesia...

Fulacunda disse...

e falta aí nessa lista o "voçê", seguramente no top ten dos mais amados. e para constatar este é só preciso dar uma voltinha pela blogosfera, esse território onde alguns mais imprecavidos ostentam com garbo a sua peculiar ortografia na defesa acérrima da pureza ortográfica.

(estás boa hipatia? :) )

Anónimo disse...

ora, lá está este fulacunda sempre a roubar-me comentários ... (já um gajo não pode ter heterónimos na net que logo à primeira oportunidade desencalitra-se todo)

Hipatia disse...

E aquele belo link para a petição contra o acordo "ortugráfico"? Pois, já o encontrei a passear por ai, lol.

E a pureza é sempre tão relativa, não é? Que o diga o Clinton, que ainda deve achar que não fez sexo.

Mas esse "voçê" é mesmo de bradar aos céus. E multiplica-se. Acho que só as frases feitas das tias "tefone" me conseguem irritar mais.

(estás bom, Zé? adorei a fotografia do mastro, eheheh)