Possas tu sempre ser
Um Homem Novo, sem preconceitos,
Possas saber amar,
Ver no espelho os teus próprios defeitos.
Possas tu ter os ombros fortes
Para aguentar o peso da liberdade
E o coração de leão
Para não teres medo de encarar a verdade.
Deixa-as viver, meu irmão...
Fá-las brilhar, meu irmão...
Ainda há estrelas no teu olhar.
Jorge Palma – Ainda Há Estrelas No Teu Olhar II
Às vezes é difícil deixar os fantasmas descansarem. Morbidamente, acordámo-los para os sentir ainda presentes. Recordamos sensações, cheiros, sabores, recordamos um tempo, um espaço, recordamos como éramos.
Às vezes, quem éramos então não é assim tão diferente de quem somos agora. E balançamos em sentimentos comezinhos. Outras vezes, estamos tão diferentes, que a memória nos pesa como um fato velho e esburacado e o sentir de outrora está expurgado de valor.
Morro de medo de magoar as pessoas. Especialmente se as magoo por defeitos que são meus, questões mal resolvidas que tenho comigo mesma. Morro de medo de receber mais do que dou; de não saber ser melhor. E então, esvaziando de sentido a verdade que devia ser minha, deixo-a tingir-se de meios tons. Deixo que pensem que há mais do que realmente existe; que sinto mais plenamente do que consigo; que sofro mais do que realmente sofro.
Não faço por mal. Só tento não magoar ninguém. E acabo a reagir segundo as regras do esperado, em vez de pelas regras da minha verdade. Ainda assim, atabalhoadamente, enrodilhando-me em mil caminhos, acabo por magoar no fim. Mesmo tentando nunca o fazer. Ou, se calhar, por isso mesmo.
Ao mesmo tempo, revolta-me sentir que desempenhei bem demais o meu papel e que quem me deveria conhecer plenamente, não faz nem ideia de como sou. Como se não tivesse tudo passado de um jogo de espelhos e eu fico ali, qual imagem deturpada em frente a um vidro partido: as cores serão as minhas, mas os traços que as vestem estão desfigurados. E não sou eu...
Às vezes, quem éramos nunca foi percepcionado. E então, fujo para a frente. A fuga é ainda o meu socorro. Sempre foi. Guardo na memória o bom e o mau e escolho não olhar para trás. Guardo tudo. O que me enobrece, o que me causa aversão, o que me deixa com vergonha de mim, o que me enche de raiva dos outros. Mas deixo lá atrás. Não repiso. Está trilhado, não tem volta. Não marco encontros com os fantasmas do Natal Passado a ver de desta vez trazem presente.
E não sei como fugir da necessidade de ser verdadeira finalmente. Não sei como fugir desta vontade que me preenche de – esquecendo todo o mal que poderei ter já provocado, toda a dor que poderei ter já infligido – gritar bem alto: esquece-me! Esquece-me de vez! Os affairs têm o seu tempo certo e depois uma morte breve. Esquece-me. Não te iludas com o que nunca chegou a ser verdade. Não retoques a memória para engrandecer o que não foi mais do que um excelente, fabuloso – mas inconsequente – passeio pelo sexo descomplexado dos adultos.
Não há outra resposta... Talvez por isso não vá dar nenhuma. Covardemente ainda, prefiro que a ilusão se mantenha do outro lado. Prefiro outra vez não infligir qualquer dor. No fim, talvez o que realmente importe é que vou sendo verdadeira comigo...
Um Homem Novo, sem preconceitos,
Possas saber amar,
Ver no espelho os teus próprios defeitos.
Possas tu ter os ombros fortes
Para aguentar o peso da liberdade
E o coração de leão
Para não teres medo de encarar a verdade.
Deixa-as viver, meu irmão...
Fá-las brilhar, meu irmão...
Ainda há estrelas no teu olhar.
Jorge Palma – Ainda Há Estrelas No Teu Olhar II
Às vezes é difícil deixar os fantasmas descansarem. Morbidamente, acordámo-los para os sentir ainda presentes. Recordamos sensações, cheiros, sabores, recordamos um tempo, um espaço, recordamos como éramos.
Às vezes, quem éramos então não é assim tão diferente de quem somos agora. E balançamos em sentimentos comezinhos. Outras vezes, estamos tão diferentes, que a memória nos pesa como um fato velho e esburacado e o sentir de outrora está expurgado de valor.
Morro de medo de magoar as pessoas. Especialmente se as magoo por defeitos que são meus, questões mal resolvidas que tenho comigo mesma. Morro de medo de receber mais do que dou; de não saber ser melhor. E então, esvaziando de sentido a verdade que devia ser minha, deixo-a tingir-se de meios tons. Deixo que pensem que há mais do que realmente existe; que sinto mais plenamente do que consigo; que sofro mais do que realmente sofro.
Não faço por mal. Só tento não magoar ninguém. E acabo a reagir segundo as regras do esperado, em vez de pelas regras da minha verdade. Ainda assim, atabalhoadamente, enrodilhando-me em mil caminhos, acabo por magoar no fim. Mesmo tentando nunca o fazer. Ou, se calhar, por isso mesmo.
Ao mesmo tempo, revolta-me sentir que desempenhei bem demais o meu papel e que quem me deveria conhecer plenamente, não faz nem ideia de como sou. Como se não tivesse tudo passado de um jogo de espelhos e eu fico ali, qual imagem deturpada em frente a um vidro partido: as cores serão as minhas, mas os traços que as vestem estão desfigurados. E não sou eu...
Às vezes, quem éramos nunca foi percepcionado. E então, fujo para a frente. A fuga é ainda o meu socorro. Sempre foi. Guardo na memória o bom e o mau e escolho não olhar para trás. Guardo tudo. O que me enobrece, o que me causa aversão, o que me deixa com vergonha de mim, o que me enche de raiva dos outros. Mas deixo lá atrás. Não repiso. Está trilhado, não tem volta. Não marco encontros com os fantasmas do Natal Passado a ver de desta vez trazem presente.
E não sei como fugir da necessidade de ser verdadeira finalmente. Não sei como fugir desta vontade que me preenche de – esquecendo todo o mal que poderei ter já provocado, toda a dor que poderei ter já infligido – gritar bem alto: esquece-me! Esquece-me de vez! Os affairs têm o seu tempo certo e depois uma morte breve. Esquece-me. Não te iludas com o que nunca chegou a ser verdade. Não retoques a memória para engrandecer o que não foi mais do que um excelente, fabuloso – mas inconsequente – passeio pelo sexo descomplexado dos adultos.
Não há outra resposta... Talvez por isso não vá dar nenhuma. Covardemente ainda, prefiro que a ilusão se mantenha do outro lado. Prefiro outra vez não infligir qualquer dor. No fim, talvez o que realmente importe é que vou sendo verdadeira comigo...
1 comentário:
On : 12/14/2004 5:20:30 AM Diálogos Interativos (www) said:
Algumas vezes magoo os outros porque sou imaturo porque não me conheço e não conheço os outros na sua plenitude, penso que isto pode ser generalizado a todos os seres humanos, tento aprender sempre com essas experiências, não esquecer e nunca culpabilizar-me por isso, mas tentar sempre fazer melhor da proxima vez, tento ver no outro um terreno virgem que não devo devassar com o meu lixo, só assim posso desfrutar da magia que se liberta de uma natureza em estado bruto, pensando que o outro nunca pode ser objecto de nossa posse e tentando sempre pôr amor e paixão em tudo quanto faço`: é uma tarefa dificil é certo mas se pensarmos que a vida é um mistério maravilhosamente inexprimivel, essa sensação confere-me o poder de me auto- desculpar dos actos que irreflectidamente pratico. Bem já me estou a esticar e isto dava para um tema e não é este o espaço proprio.
Mi desculpa.
Beijinhos
On : 12/14/2004 7:34:41 AM Hipatia (www) said:
Estica-te sempre.
Adorei!
Beijinhos
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