2006-10-29

Eu, anónima!

O que já sabia dos blogues confirmei: em grande parte, este é o paraíso do discurso impune, da cobardia mais desenvergonhada, da desforra dos medíocres e dessa tão velha e tão trágica doença portuguesa que é a inveja. Mas fiquei a saber, e não sabia, que os blogues, mesmo anónimos, são uma fonte de informação privilegiada e credível para o nosso jornalismo.

Miguel Sousa Tavares, citado
aqui



Já ninguém estranha que a caça à notícia fácil passe a servir de mote a textos de vulgaridade atroz; a não-verdade passou há muito a ser a estopa onde um fogo de um qualquer "ismo" se acende... e clama-se por cabeças e por sangue e esvaem-se de significados todos os palavrões do mundo, usados e abusados com gratuitidade, sugerindo mais do que afirmando qualquer novo epíteto em busca da nova acha de uma fogueira, sem vaidades por tão vulgar, que se tenta manter em combustão permanente. Que Fama tão reles nos dão tantos a ler!

Oh paisinho este, onde a notícia já não se fundamenta em factos, onde qualquer comadre mentirosa se intitula jornalista, onde qualquer guerra inventada serve de pretexto à venda de mais um jornal ou revista e onde o respeito se finda nas parangonas fantásticas!

E que não me venham os culpados alegar falta de culpa - que toca a todos já que visa a todos - e o respeito consegue-se respeitando. Bitolas diferentes não me servem, nem sequer a desculpa infantil do “ele é que começou primeiro”.


E tantos que antes tinham tanto orgulho na carteira profissional, são hoje a minoria. Sobra a precariedade e o facilitismo. Sobra quem tenha ainda púlpito e se queixe. Sobra quem perde toda a razão por não ser razoável nos seus ataques.


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Nota: o título do post é uma adaptação do título I, Claudius, do Robert Graves, caso não tenham reparado...

4 comentários:

Maria Arvore disse...

Os jornais sempre se fizeram para se ganhar dinheiro com eles, só que até há algum tempo nem todos eram tablóides. ;) Hoje qualquer orgão de comunicação social é gerido para ser vendido como outra mercadoria de supermercado.
E faço esta introdução por causa da culpa que mencionas. Porque a meu ver, a culpa é de muitos, de proprietários a jornalistas, incluindo o MST já que aceita ser comentador nos inenarráveis "telejornais" da TVI. Aqueles jornalistas que não pactuaram, foram despedidos (por exemplo, http://www.blogda-se.blogspot.com/).

TheOldMan disse...

Mas quem é que no seu perfeito juizo vem à blogosfera em busca de informação?

Só mesmo gente de horizontes limitados...


;-)

Hipatia disse...

Claro que a culpa é de muitos; aliás, é de quase todos, começando em fedelhos mal preparados que vão desaguar, com contratos a termo, às redacções, passando por patrões, por profissionais desencantados e desiludidos, até chegar ao público que compra e vê as tretas que dão dinheiro.

Eu até estava capaz de dar o benefício da dúvida a MST e ao livro dele (de que não gostei nem um bocadinho), já que um blog anónimo que, em apenas um dia ou coisa parecida, já tinha sido "puxado" para as grandes discussões da blogosfera e ainda servia de fundamento a caricaturas de notícias, cheirou-me a esturro desde o início. Tanto blog novo que aparece todos os dias, tanto sítio a falar de plágio e tanto sítio a falar de MST, como ficou este tão conhecido tão depressa? Alguém estava interessado em que ficasse conhecido, por certo. Mas - e ainda que só tenha vontade de generalizar também - não me apetece que o meu blog seja metido no mesmo saco que muitos blogs que conheço; nem o meu direito a ter um pseudónimo. E, que queres, quando alguém se julga no direito de - ao generalizar - me insultar a mim também, acabou por perder qualquer razão que lhe assistisse. Além do mais, fossemos uma de nós as duas as plagiadas, dificilmente poderíamos ir ou para a TVI ou para o Expresso contar do nosso fel. Quem tem púlpito, devia ter mais cuidado com o que diz. Afinal, um blog - por mais visitas que tenha - ainda anda bastante longe, em termos de audiências, de uma coluna de opinião no Expresso ou um comentário na TVI.

Hipatia disse...

Também há os preguiçosos, Old Man...

;-)