A minha mãe fala. Tem uma voz de veludo, macia.
O meu pai, fala lá do fundo com o som das coisas sérias.
Quando a minha mãe ri, parece que no quintal esvoaçam mil pombas.
Quando o meu pai se ri, acorda o mais profundo, que está para acontecer..
Quando a minha mãe chora, fico com medo e agarro-me a ela com braços de vida.
Quando o meu pai chora, faço-lhe festas nos cabelos e vejo nele um homem único.
Quando a minha mãe conta histórias, na noite, saem-lhe flores pela boca e durmo agarrada ao seu perfume.
Quando o meu pai me conta histórias, elas tornam-se reais e as suas invenções ficam a viver, para sempre, no meu quarto, ao lado dos brinquedos.
Quando me acorda, a voz dele é doce e sem tempo.
Quando ela me acorda, traz palavras apressadas anunciando o primeiro beijo do dia.
Mas as suas vozes pela manhã sabem sempre a café com leite.
Quando a minha mãe sussurra, os segredos ficam guardados para sempre.
Quando ele me diz alguma coisa ao ouvido, toda a gente de lá de casa fica a saber.
Quando a minha mãe espirra, parece um passarinho a piar.
Quando o meu pai espirra, acorda todos os pássaros do bairro.
Quando eles dizem que sou bonita, o som é igual mas com sabores diferentes.
Como gosto das diferenças.
E eu? Qual será a minha voz?
(Miguel Horta)
4 comentários:
Olá desaparecido!
:))
Que bom voltar a ouvir a tua voz meiga! :)
Mas que ternura! Tão, tão doce... só falta um dos teus desenhos. Bem aparecido sejas.
Um destes dias explico a razão da minha ausência... A maçã das letras, também é minha.
Acho que todas entendem as várias razões do silêncio...
-Agora estou de volta!
Beijos.
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