2008-04-24

Antes do adeus


Antiga delegação da PIDE/DGS no Porto.



aqui



aerograma


Mas não puxei atrás a culatra,
não limpei o óleo do cano,
dizem que a guerra mata: a minha
desfez-me logo à chegada.

Não houve pois cercos, balas
que demovessem este forçado.
Viram-no à mesa com grandes livros,
com grandes copos, grandes mãos aterradas.

Viram-no mijar à noite nas tábuas
ou nas poucas ervas meio rapadas.
Olhar os morros, como se entendesse
o seu torpor de terra plácida.

Folheando uns papeis que sobraram
lembra-se agora de haver muito frio.
Dizem que a guerra passa: esta minha
passou-me para os ossos e não sai.

Fernando Assis Pacheco - Monólogo e Explicação




(em minha casa ainda se guardam aerogramas)

2 comentários:

Anónimo disse...

Eu estou a ouvir a musica do Paulo Carvalho que a mãe mostrou aqui.
Feliz 25 de Abril!!!


Mónica

Hipatia disse...

Sabes, minha querida, esta não é uma daquelas músicas que a mãe e eu gostamos muito e ouvimos com frequência. Mas uma vez por ano, vale pelo que simboliza e suponho que já te tenham dito como foi que, ao som desta música, as tropas preparam-se para ir para a rua e mudar as coisas em Portugal. E, tens razão, foi um feliz 25 de Abril :)

Beijinhos