2008-04-10

Recessão

(...)Em privado, o primeiro-ministro não terá problema algum em assumir que a conjuntura é má e que Portugal não tem músculo para resistir à tempestade. No entanto, esta verdade dita a uma multidão de pessoas por um governante é como lume em capim seco: o incêndio é imediato, os benefícios são nulos. Em resumo: assumir o lado negro é como pedir calma aos gritos.

Politicamente não resulta, é uma péssima gestão das expectativas.É por isso que o Governo se esforça em desvalorizar as previsões do FMI e sublinhar os erros cometidos nos últimos anos. É verdade, os relatórios de Primavera do FMI erraram quase todas as estimativas feitas desde 1999. Os números só acertaram em 2002. Todos os outros bateram ao lado: cinco vezes abaixo do resultado final – as previsões eram pessimistas; e três vezes a cima – ou seja, revelaram-se optimistas. O que se conclui daqui? Simples, que as previsões são previsões. E que embora sejam importantes para calibrar as decisões não lhes devemos atribuir valor absoluto.

Um último ponto. Os números do FMI abrem o período de caça às previsões económicas. Seguem-se as da OCDE, da Comissão Europeia e do Banco de Portugal. Até lá, não vale a pena acreditar em tudo o que o Governo diz. O cepticismo aqui deve ser a regra da casa. Mas também não vale a pena entrar em pânico e pedir a Sócrates que faça um ‘hara-kiri’.(...)

André Macedo


Estranho como, em tantos sectores, se salive agora pela recessão. Como se fosse mais importante uma (improvável, face às últimas sondagens) vitória política, em lugar de reconhecer - como muito bem notou a Emiele - que uma "forte baixa" não é exactamente o mesmo que subida alguma.

Depois, hão-de aparecer também as parangonas sobre os índices de confiança. E mais uma vez a culpa será do Governo, porque todos sabemos que a culpa é sempre do Governo e que a culpa em Portugal nunca morrerá solteira enquanto houver um Governo.

Fantástico, pá! Assim é que está bem, claro.

2 comentários:

cereja disse...

Olá Hipatia!
Eu disse lá, e repito, que não sei nada de economia. Mas aqui trata-se de bom senso, e como se diz na transcrição que fizeste, estas divulgações de previsões é como «pedir calma aos gritos». Não dá.
E é facílimo apontar o dedo, «a culpa é tua». OK, e agora? Fica-se à espera?...

Hipatia disse...

A economia não se faz só de factores numéricos e facilmente mensuráveis; gere também expectativas e os mercados podem ser profundamente irracionais, exagerando na resposta a perigos supostos. Dai que as crises sejam, muitas vezes, bem mais complicadas do que os factores que lhes deram origem. E propagam-se. Se só houver gente a pedir calma aos gritos, não vamos longe. E se só houver gente a gritar fogo no imediato para tentar catar alguma pequena vitória instantânea, então as consequências reais serão bem mais complicadas do que os resultados dessas pequenas guerrilhas. E serão péssimas para todos.