(...)Em privado, o primeiro-ministro não terá problema algum em assumir que a conjuntura é má e que Portugal não tem músculo para resistir à tempestade. No entanto, esta verdade dita a uma multidão de pessoas por um governante é como lume em capim seco: o incêndio é imediato, os benefícios são nulos. Em resumo: assumir o lado negro é como pedir calma aos gritos.
Politicamente não resulta, é uma péssima gestão das expectativas.É por isso que o Governo se esforça em desvalorizar as previsões do FMI e sublinhar os erros cometidos nos últimos anos. É verdade, os relatórios de Primavera do FMI erraram quase todas as estimativas feitas desde 1999. Os números só acertaram em 2002. Todos os outros bateram ao lado: cinco vezes abaixo do resultado final – as previsões eram pessimistas; e três vezes a cima – ou seja, revelaram-se optimistas. O que se conclui daqui? Simples, que as previsões são previsões. E que embora sejam importantes para calibrar as decisões não lhes devemos atribuir valor absoluto.
Um último ponto. Os números do FMI abrem o período de caça às previsões económicas. Seguem-se as da OCDE, da Comissão Europeia e do Banco de Portugal. Até lá, não vale a pena acreditar em tudo o que o Governo diz. O cepticismo aqui deve ser a regra da casa. Mas também não vale a pena entrar em pânico e pedir a Sócrates que faça um ‘hara-kiri’.(...)
André Macedo
2 comentários:
Olá Hipatia!
Eu disse lá, e repito, que não sei nada de economia. Mas aqui trata-se de bom senso, e como se diz na transcrição que fizeste, estas divulgações de previsões é como «pedir calma aos gritos». Não dá.
E é facílimo apontar o dedo, «a culpa é tua». OK, e agora? Fica-se à espera?...
A economia não se faz só de factores numéricos e facilmente mensuráveis; gere também expectativas e os mercados podem ser profundamente irracionais, exagerando na resposta a perigos supostos. Dai que as crises sejam, muitas vezes, bem mais complicadas do que os factores que lhes deram origem. E propagam-se. Se só houver gente a pedir calma aos gritos, não vamos longe. E se só houver gente a gritar fogo no imediato para tentar catar alguma pequena vitória instantânea, então as consequências reais serão bem mais complicadas do que os resultados dessas pequenas guerrilhas. E serão péssimas para todos.
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