Que os jovens de hoje gozem Abril sem lembrarem os factos que fizeram Abril 1974 (e Novembro de 1975, já agora), ou desconheçam os seus pormenores, não me faz realmente espécie, mesmo quando protesto e digo que sim. É que mesmo quando abro a boca de espanto e quase não compreendo a leviandade com que o dia é tratado em alguns sítios – como conta, por exemplo a I., a contas com a (des)educação da sobrinha –, também é certo que percebo que é bem melhor desta forma, quando a liberdade já não é fardo, palavra forjada em luta, antes uma realidade que já nem precisa ser decomposta nas suas partes e está simplesmente assumida e interiorizada como a única realidade possível.
Os jovens convivem com a liberdade à sua maneira, não conheceram mais nada. Para muitos, os próprios pais também já só têm memórias infantis de como era antes e Abril foi demasiado abusado pelo politiquês para que não esteja já exausto para a nova geração que, cada vez mais, vira as costas à política e ao articulado que a política à moda da casa tenta preservar como seu, tipo tentáculo poderoso e desvirtuador da relação política-poder.
E assusta-me a forma como a minha geração desbaratou o que lhe foi dado, a forma como se demitiu dos seus deveres, a forma como apenas pensa que só tem direitos, que tudo é seu para ser franqueado de par em par, sem esforço, sem responsabilidade. Esta minha geração – e acho que já todos sabem que tenho em fraca conta esta primeira geração de Abril, a tal que se fez doutora de coisa nenhuma e especialista em pouco mais – está a educar os filhos para além da memória e da iconografia, está a viver ela mesma na aparência sem ícone, no desenho já sem significado, no presente sem memoração, para além da vidinha de aparências e contas e passeios dominicais pelos centros comerciais.
Só espero realmente que os jovens que esta minha geração pariu ou ainda vai parir saibam encontrar o caminho de regresso à polis. Espero sinceramente que a próxima geração – a tal que já goza Abril como um feriado simpático e nem memórias infantis tem de como era e como foi –, seja a geração que vai deixar a corda esticar ao seu limite e depois rebentar. Não sei se vão sair à rua. Mas talvez saiam. E talvez sejam eles a mandarem toda esta comandita para a rua. Ou para o Brasil, com paragem pelas ilhas.
E talvez ai Abril regresse pleno quando os jovens que hoje já nem sabem bem o que foi Abril se transformarem no povo novo, herdeiro dos avós e bisavós que cantaram as portas que Abril abriu e saíram à rua quando foi preciso, depois de muita corda, depois da corda rebentar. Ficará então a minha geração de parêntesis, a geração que teve tudo para ser e não soube ser nada, excepto a geração que transformou os pobrezinhos mas respeitados em endividados sem respeito nenhum.
Aos jovens bem jovens de hoje pertence o amanhã: os cravos já não terão cheiro, as canções revolucionários o mesmo apelo que os hinos fascistas de antanho, os símbolos ficarão escondidos sob pó e teias de aranha. Mas, por não lhes ser mais exigido que cumpram Abril, talvez finalmente Abril seja cumprido.
Os jovens convivem com a liberdade à sua maneira, não conheceram mais nada. Para muitos, os próprios pais também já só têm memórias infantis de como era antes e Abril foi demasiado abusado pelo politiquês para que não esteja já exausto para a nova geração que, cada vez mais, vira as costas à política e ao articulado que a política à moda da casa tenta preservar como seu, tipo tentáculo poderoso e desvirtuador da relação política-poder.
E assusta-me a forma como a minha geração desbaratou o que lhe foi dado, a forma como se demitiu dos seus deveres, a forma como apenas pensa que só tem direitos, que tudo é seu para ser franqueado de par em par, sem esforço, sem responsabilidade. Esta minha geração – e acho que já todos sabem que tenho em fraca conta esta primeira geração de Abril, a tal que se fez doutora de coisa nenhuma e especialista em pouco mais – está a educar os filhos para além da memória e da iconografia, está a viver ela mesma na aparência sem ícone, no desenho já sem significado, no presente sem memoração, para além da vidinha de aparências e contas e passeios dominicais pelos centros comerciais.
Só espero realmente que os jovens que esta minha geração pariu ou ainda vai parir saibam encontrar o caminho de regresso à polis. Espero sinceramente que a próxima geração – a tal que já goza Abril como um feriado simpático e nem memórias infantis tem de como era e como foi –, seja a geração que vai deixar a corda esticar ao seu limite e depois rebentar. Não sei se vão sair à rua. Mas talvez saiam. E talvez sejam eles a mandarem toda esta comandita para a rua. Ou para o Brasil, com paragem pelas ilhas.
E talvez ai Abril regresse pleno quando os jovens que hoje já nem sabem bem o que foi Abril se transformarem no povo novo, herdeiro dos avós e bisavós que cantaram as portas que Abril abriu e saíram à rua quando foi preciso, depois de muita corda, depois da corda rebentar. Ficará então a minha geração de parêntesis, a geração que teve tudo para ser e não soube ser nada, excepto a geração que transformou os pobrezinhos mas respeitados em endividados sem respeito nenhum.
Aos jovens bem jovens de hoje pertence o amanhã: os cravos já não terão cheiro, as canções revolucionários o mesmo apelo que os hinos fascistas de antanho, os símbolos ficarão escondidos sob pó e teias de aranha. Mas, por não lhes ser mais exigido que cumpram Abril, talvez finalmente Abril seja cumprido.
2 comentários:
A deseducação é na escola, que em casa e na família já lhe ensinaram o que é o 25.04 e o Salazar. Só tive que lhe precisar duas coisinhas: o Salazar já tinha morrido em 74 (resposta dela: "então não tiveram assim tanta coragem", referindo-se aos revolucionários. Lol.)
Ah, e à tarde, ainda lhe demos uns lamirés sobre a condição feminina antes de 74. Mas como ela também já levou uns lamirés sobre a dita condição em países islâmicos, não se impressionou muito. Bizarros tempos modernos :/
Mas eles já carregam a liberdade com tanta naturalidade, que só espero que lhe arranjem melhor andor. E sacudam de uma vez os vícios e tiques que 40 anos de ditadura ainda deixaram...
Obviamente que a deseducação a que me referia é na escola, que há sempre a titia para resolver o que falta. O pior são as tantas de titias (e de papás, já agora) que faltam por ai, quando já só sobra a escola.
E, sim, tenho esperança que sacudam os vícios que ficaram mas, muito especialmente, os viciados: esta comandita que nos leva que, por mais que digam que a cor é diferente, quando se vê ao perto é tudo a mesma merda :((
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