Son morto con altri cento, son morto ch' ero bambino,
passato per il camino e adesso sono nel vento e adesso sono nel vento....
Ad Auschwitz c'era la neve, il fumo saliva lento
nel freddo giorno d' inverno e adesso sono nel vento, adesso sono nel vento...
Ad Auschwitz tante persone, ma un solo grande silenzio:
è strano non riesco ancora a sorridere qui nel vento, a sorridere qui nel vento...
O sítio em si era maior do que qualquer fotografia me faria supor. Reconheci-lhe imediatamente alguns dos pormenores, de tantas vezes vistos em imagens de filmes, de livros. Ficava estranhamente desabrigado e, naquele dia de Março, das árvores que estavam à vista, escorriam estalactites de gelo como lágrimas. Parecia-me tudo cinzento, como se a fuligem se tivesse entranhado nos caminhos, nos edifícios, no próprio céu, nas lajes, naquele tempo parado. Não quero lá voltar. Nunca mais e não importa quanto tempo passe. Mas eu posso escolher não voltar. Demasiados não tiveram escolha em lá chegar sem nunca conseguirem partir. Ou talvez tenham partido no vento.
6 comentários:
Uma das coisas que mais hei-de lembrar aos meus filhos e, se cá estiver, aos meus netos, é que a loucura-sem-palavras de Auschwitz só aconteceu há 65 anos. Tudo foi e ainda é possível, atentai! Não esqueçam!
Acho que me respondeste antes de acabar o post e é isso mesmo: foi há pouco tempo, um saltinho de história. Mas que ninguém pode esquecer, por mais que a história leve tudo, até a memória; por mais que roubem os portões; por mais que a dimensão da hecatombe transforme os números em massa obscura. Há sempre um menino que foi no vento que nos obriga a recordar, por imperativo moral se quisermos, por necessidade bem humana de preferência, para que não volte a acontecer.
«Não quero lá voltar. Nunca mais e não importa quanto tempo passe. Mas eu posso escolher não voltar.»
Existe uma lei que permita à humanidade, escolher não voltar a Auschwitz?
Talvez, enquanto as memórias daquele local, as imagens daqueles que ali foram violentados e dos seus carrascos, perdurarem no éter.
Mas, e depois?
Tenho tanto medo de lá ir! Mas um dia, vou. Acho que se tem que ver ao vivo, seguir a linha do combóio, entrar, contemplar em silêncio.
A melhor homenagem que se pode fazer às vítimas deste horror é a memória.
Nisso tens razão, Bartolomeu: não há como não voltar a Auschwitz-Birkenau enquanto houver memória. Mas não volto lá fisicamente. É um lugar assombrado, onde o silêncio nos pesa, o frio nos corrói a alma e onde parece que ainda consegues sentir o cheiro de corpos carbonizados.
Eu sentia que precisava ver ao vivo e por isso fui. Mas, mesmo ao ar livre, tive uma sensação de claustrofobia tolhedora, uma vontade de correr para longe, um profundo mal-estar. Saber-lhe a história é obviamente o principal responsável por esses sentimentos. Mas, quase duas décadas depois de ter visitado os campos, lembro um sítio silencioso que se abateu sobre mim como se aqueles milhões de almas não tivessem descanso ainda.
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