2025-12-20
Cabaz de Natal
2025-12-19
Polémicas
María Corina Machado venceu o Prémio Nobel da Paz de 2025, reconhecida pela sua liderança na oposição venezuelana e por promover a democracia no seu país, de acordo com o Nobel.
Julian Assange (fundador do WikiLeaks) apresentou uma queixa criminal na Suécia contra a Fundação Nobel e cerca de 30 pessoas ligadas à sua direção, incluindo a presidente e a diretora executiva da Fundação.
O objetivo da queixa é impedir a entrega dos fundos do Prémio Nobel da Paz de 2025 à laureada María Corina Machado e acusa a direção da Fundação de crimes graves sob a lei sueca.
Assange quer que as autoridades suecas congelem os 11 milhões de SEK (≈1,18 milhões de USD) que ainda estão por transferir a Machado e que a medalha seja devolvida.
Segundo o documento apresentado, Assange alega que se configura um crime de apropriação indevida de fundos ao fazer o pagamento do prémio a Machado e que assim se viola o testamento de Alfred Nobel, que define os critérios do Prémio da Paz, um crime de facilitação de crimes de guerra e crimes contra a humanidade e, citando o Estatuto de Roma, que continuar com o pagamento pode violar obrigações legais suecas, nomeadamente as que visam prevenir o financiamento do crime de agressão.
Em suma, Assange defende que o Nobel da Paz só deve ser atribuído a alguém que promova ativamente a fraternidade entre as nações e a redução de exércitos, como estipulado pelo testamento de Alfred Nobel. Ele considera que o apoio público de Machado a políticas militares dos EUA e a sua retórica contra o regime de Nicolás Maduro contradizem esse propósito.
Para os defensores da atribuição do Prémio Nobel a Machado, o prémio não legitima a guerra ou as agressões, mas deslegitima regimes repressivos. Assim, o Nobel é visto como um gesto político-moral, não jurídico.
O apoio explícito ao uso da força é o núcleo da crítica, incluindo a de Assange, já que Machado fez declarações públicas defendendo a intervenção militar estrangeira e uso da força como ‘último recurso inevitável’ e também apoiou sanções duras e ações militares dos EUA, que os críticos associam a sofrimento civil.
Note-se que o Comité Nobel frequentemente interpreta “paz” como paz estrutural, ligada a direitos humanos e democracia (não apenas ausência de guerra) e até há precedentes semelhantes como Aung San Suu Kyi (1991), Liu Xiaobo (2010) ou Andrei Sakharov (1975).
Os críticos alegam que o Comité Nobel alargou excessivamente o conceito de “paz” e que o prémio passou de instrumento pacifista a ferramenta geopolítica e também temem que o prestígio do Nobel reforce discursos de escalada ou que o prémio possa passar ser usado para justificar ações militares “em nome da paz”.
Este caso não é apenas sobre María Corina Machado. É sobre o que o Prémio Nobel da Paz é hoje: um prémio moral e político, adaptado ao mundo moderno ou um prémio estritamente pacifista, fiel ao testamento de 1895?
Até agora não há confirmação de que as autoridades suecas já tenham aceitado a investigação ou tomado medidas; é apenas uma queixa formal.
Mas note-se que este tipo de queixa criminal é altamente incomum e marcante, pois normalmente as decisões do Comité Nobel não são desafiadas legalmente desta forma.
A queixa de Assange força algo raro: uma discussão legal, não só simbólica, sobre os limites do Nobel.
2025-12-18
Portugal e o Paradoxo da Migração
Normalidade
Aqui vemos o clássico desfile da normalidade: ovelhas em modo “copiar/colar”, todas felizes a marchar para lado nenhum.
No meio, a ovelha preta, que claramente perdeu o memo da reunião e lá está ela - a rebelde, a diferente, a que decidiu que lã preta era a nova moda.
Enquanto as outras seguem o GPS do rebanho, ela parou para pensar. É aquela ovelha que nas reuniões do pasto pergunta "mas porquê?" quando o pastor diz para irem todas para a esquerda.
Provavelmente é chamada de estranha e as companheiras reviram os olhos cada vez que decide parar, quando na verdade só desligou o piloto automático.
Moral da história: ser diferente dá trabalho, mas pelo menos não dói no pescoço de tanto concordar e há sempre um manguito para nos valer.
2025-12-17
A Grande Revelação do Ministro
2025-12-16
A saga do alumínio
2025-12-15
Um milagre inexplicável
2025-12-14
Sinfonia Natalícia
2025-12-13
Se isto abana!...
2025-12-12
A Grande Batalha Aritmética de 11 de Dezembro
2025-12-11
Greve Geral
Ah, caros concidadãos. Que época magnífica para se estar vivo, empregado e ligeiramente desesperado em Portugal. O ar está carregado de promessa. Não a promessa de um futuro melhor, mas aquela promessa pesada e húmida que precede uma trovoada — neste caso, uma greve geral. E no centro desta tempestade perfeita, ergue-se, como um monumento à sagacidade burocrática, o nosso flamante Novo Código do Trabalho.
Os arautos do progresso, aqueles que usam fatos de linho em reuniões com ar condicionado, batizaram-no de "Moderno". "Flexível". "Competitivo". Palavras tão reluzentes e ocas como os prédios de vidro onde são proferidas. A modernidade, claro, não está em garantir que um trabalhador consiga pagar uma renda e comer algo mais sofisticado que atum de lata no mesmo mês. Não, senhor. A modernidade está na sublime arte de transformar direitos adquiridos com suor e protesto em meras "sugestões" negociáveis.
Olhe para a joia da coroa: o tal "banco de horas anualizado". Uma invenção tão brilhante que só podia ter sido concebida por alguém cuja maior fadiga laboral é carregar o cartão de crédito corporativo. A ideia é simples e bela na sua perversidade: as horas extra não são para pagar, são para "gerir". Trabalha 60 horas numa semana a apagar fogos? Excelente! Na semana seguinte, folga uma tarde. Chama-se "equilíbrio". Eu chamo-lhe a versão laboral de fiado. É a uberização do emprego estável: você é o seu próprio mini-empresário, sempre à beira da falência de energia física.
E depois temos a facilitação dos despedimentos. Outro triunfo da linguística orwelliana. "Facilitação" soa tão bem, tão fluida. Como "facilitar o fluxo do trânsito" ou "facilitar a digestão". O que se está a facilitar, meus amigos, é o passe do patrão para lhe mostrar a porta com um custo que deixou de ser proibitivo para se tornar um mero inconveniente contabilístico. A mensagem subliminar é clara: "Sorria, seja produtivo e não aborreça, senão facilitamos a sua transição para o estatuto de ex-colaborador."
E, claro, a desregulamentação dos horários de trabalho. Adeus, tetos rígidos de horas por dia! Olá, "adaptabilidade"! Porque o que o trabalhador português, já especialista em fazer milagres com um salário mínimo, realmente queria era a nobre incerteza de não saber se hoje sai às 18h ou à meia-noite. É uma injeção de adrenalina na rotina! Quem precisa de planear uma vida familiar, de ir ao ginásio, ou simplesmente de desligar, quando se pode viver na emocionante expectativa de um email do chefe às 21h?
Perante este festival de boa-vontade patronal, a resposta sindical era inevitável: uma Greve Geral. Aquela tradição portuguesa tão nossa, tão bela no seu caos coreografado. Os mesmos profetas do apocalipse económico que nos venderam o Código como a salvação, agora torcem as mãos e lamentam a "intransigência" e o "atraso". É de uma ironia deliciosa. Esperavam o quê? Que oferecessemos rosas e bolos a esta reforma que cheira a velha receita de espremer até à última gota? A greve é o soluço seco de um país que já engoliu muitos sapos e se apercebeu de que este vem com um fato de três peças e uma calculadora.
No fim, o espetáculo é perfeito. De um lado, o Governo e os seus apóstolos, a falar de "atrair investimento" com a doçura salivar de quem vende um país-usado. Do outro, os sindicatos, a berrar "Atentado social!" com a fúria ritual de quem sabe que está sempre a perder terreno, mas não pode admiti-lo. E no meio, nós, a plebe assalariada, a tentar decifrar se esta "flexibilidade" toda é a corda que nos vai safar do poço ou a que vão usar para nos amarrar melhor.
O futuro promete. Promete cansaço. Promete instabilidade. Promete aquele brilho especial no olho do patrão quando se lembrar que, tecnicamente, você agora pertence à empresa 24 horas por dia, sete dias por semana. Se tudo correr como planeado, seremos a força de trabalho mais "moderna" e "flexível" da Europa.
Completamente exaustos, mas moderníssimos.
E pronto. Afinal, como dizia o outro, o trabalho liberta. Agora, literalmente, até das suas próprias horas de descanso.
2025-12-10
A Eurovisão da moral relativista
Oh, meus amantes do kitsch e do conflito geopolítico disfarçado de festival da canção! Que alegria ácida nos traz esta edição da Eurovisão, que promete ser menos um concurso musical e mais uma simulação avançada da ONU — se a ONU tivesse key changes, pirotecnia barata e coreografias que parecem ter sido ensaiadas num parque de estacionamento do Ikea.
O cenário está montado: estamos todos numa arena brilhante, prontos para celebrar a união através da música, o poder redentor de uma power ballad em falsete, e a inquebrantável tradição europeia de fingir que gostamos de ethno-trance da Moldávia. Mas este ano, a cortina de glitter esconde uma tensão mais densa que o sotaque dos comentadores italianos. Porque, caros amigos, a Eurovisão decidiu, com a coragem moral de uma lebre em câmara lenta, que há boicotes que são trendy e há boicotes que são… inconvenientes.
De um lado, temos as várias delegações que se retiraram ou ameaçaram fazê-lo. Países que decidiram que a sua consciência não lhes permite brilhar ao lado de um participante que representa um Estado acusado de violações dos direitos humanos. É uma posição nobre, sem dúvida. Faz lembrar aqueles amigos que se afastam de uma festa porque discordam do anfitrião, mas só depois de garantirem que aparecem nas fotos iniciais para o Instagram. A sua ausência será sentida e a contribuição para o orçamento também.
E do outro lado, no centro do furacão, Israel mantém-se. Com direito a spotlight, a votações do público, e provavelmente a uma act cheia de simbolismo ambíguo sobre "luz após a escuridão" ou "esperança além do medo". A União Europeia de Radiodifusão (UER), essa entidade cuja neutralidade é tão flexível quanto as regras do que constitui uma "canção", coça a cabeça, consulta manuais de relações públicas de 1992, e anuncia: "Cumpre os critérios!" Os critérios, claro, são uma coisa misteriosa e movediça, como a definição de "bom gosto" numa atuação da Sérvia. Incluem não ter letras explicitamente políticas (a menos que sejam suficientemente vagas), não incitar ao ódio (a menos que seja feito com uma melodia cativante), e não violar a "natureza apolítica do evento" — uma piada tão grande que merecia a sua própria novelty act.
E assim se constrói o paradigma Eurovisivo 2025: podemos expulsar a Rússia com o fervor de um key change dramático (e com toda a razão, diga-se), mas perante Israel, a resposta oficial é um shrug sonoro acompanhado de um "É complicado, queridos." É a política do "Um Apartheid Não Se Faz Em Um Dia" aplicada à indústria do entretenimento. A mensagem é cristalina: há conflitos que mancham a aura de paz e amor do evento, e há conflitos que… bem, que podem pelo menos gerar engagement nas redes sociais e umas quantas manchetes dramáticas. Ratings, meus caros, ratings!
Então preparemo-nos para a noite final. Enquanto os fãs acenam bandeiras e choram com as baladas, e os jurados trocam votos de forma suspeitamente geopolítica, a realidade lá fora — de morte, destruição e sofrimento inimaginável — será temporariamente suspensa. Será substituída por três minutos de pop otimista, uma coreografia sincronizada e a host sorridente a dizer, em inglês perfeito: "Que a música una-nos a todos!"
A ironia é tão espessa que se poderia cortá-la com uma faca de plástico da merchandising oficial. A Eurovisão, esse farol de kitsch e convivência, revela-se, uma vez mais, o espelho mais honesto do nosso continente: incapaz de tomar uma posição clara quando o custo é alto, especialista em criar palcos onde a dissonância cognitiva soa como uma melodia harmoniosa.
Portanto, sentem-se, peguem nas bandeirinhas e nas lágrimas fáceis. Vamos aplaudir a coragem da UER em manter o status quo. Vamos celebrar a união através da música. Mas não se esqueçam: nesta edição, o background mais impressionante não será a LED wall. Será o silêncio ensurdecedor sobre o que realmente está em jogo.
E o vencedor é… a hipocrisia, com 12 pontos de todos os jurados.
2025-12-09
Intervenção
"A extrema direita que eu assumo é ter na mão direita um punho que carrega uma caneta
Voz armada com bala de chumbo, tiro seguido de fumo, sou mulher e sou poeta
Querem voltar atrás no tempo, plantar o medo cá dentro, gritam "Deus, Pátria е Família"
E um marido que traga sustento ou mais um olho cinzento, diz quе foi contra a mobília"
2025-12-08
Candidato Vieira
2025-12-07
Epístola de Santo André Ventura aos Confusos
2025-12-06
Do tempo
2025-12-04
Dezembro
2025-12-03
Viver com 3 gatas
2025-12-02
O Livro das Profecias Televisivas
Capítulo I – A Visão dos Estúdios Eternos
1. E aconteceu que André, Profeta da Indignação, foi arrebatado em espírito para um grande estúdio iluminado por holofotes que não conheciam descanso.
2. Ali viu quatro anciãos sentados em mesas de debate, cada qual segurando uma caneta que nunca escrevia nada.
3. E uma voz vinda da régie disse:
“Sobe aqui, e mostrar-te-ei o que virá quando terminar a emissão.”
Capítulo II – Das Trombetas das Breaking News
4. O primeiro anjo tocou a trombeta, e surgiram alertas vermelhos no rodapé: “Última Hora: Nada de Especial, Mas Estamos a Acompanhar.”
5. O segundo anjo tocou a trombeta, e um comentador apareceu proclamando que “o país está ao rubro”, embora estivesse apenas nublado.
6. O terceiro anjo tocou, e uma multidão correu às redes sociais para dizer “vi isto a acontecer em direto”.
7. O quarto anjo tocou, e a própria realidade desligou o televisor e foi dar uma volta.
Capítulo III – Da Besta das Sondagens
8. E André viu levantar-se do mar das estatísticas uma fera com gráficos por membros e margens de erro por dentes.
9. E sobre cada gráfico estava escrito: “Tendência Possível, Interpretação Incerta.”
10. A fera rugiu, dizendo:
“Eu subo, eu desço, eu torno a subir — e ninguém sabe porquê!”
11. E todos os partidos tremeram diante dela, exceto aquele que achou que era uma oportunidade de aparecer na televisão.
2025-12-01
O Falso Evangelho de São Venturo, Profeta da Indignação Perpétua
Livro I – A Revelação do Telepúlpito
1. No princípio era o Ruído, e o Ruído estava com André, e o Ruído era André.
2. Ele habitava no ecrã desde o princípio, e através dele todas as polémicas foram feitas; sem ele, nada do que se tornou viral teria existido.
3. E viu ele que o palco mediático era vasto, e disse: “Haja controvérsia!” — e houve.
Livro II – Das Multidões Sedentas de Dramas
4. E vieram multidões de todos os cantos da nação, trazendo queixas, ressentimentos e horas vagas.
5. E André subiu a um palanque improvisado — um caixote de fruta abandonado — e pregou-lhes, dizendo:
“Bem-vindos os que clamam por soluções simples para problemas complexos, porque vosso será o reino dos comentários.”
6. E as multidões rejubilaram, porque não havia nada que gostassem mais do que soluções simples e culpados à mão.
Livro III – Do Milagre da Multiplicação dos Soundbites
7. E André tomou uma frase, e ergueu-a diante dos repórteres.
8. E falou por sete segundos, e a frase dividiu-se em dez interpretações, e cada uma gerou cinquenta debates televisivos.
9. E todos comeram e ficaram inflamados, e ainda sobraram doze cestos de indignação para o dia seguinte.
Livro IV – A Tentação da Moderatio
10. E foi conduzido ao Monte da Reflexão Moderada, onde o Espírito do Bom Senso lhe falou:
“André, suaviza teu verbo, e talvez o país te compreenda.”
11. Mas ele respondeu:
“Para trás, Moderatio! Pois está escrito: ‘Não só de ponderação vive o homem, mas de cada exagero que sai da minha boca.’”
12. E assim resistiu às tentações do equilíbrio, regressando ao vale da discórdia com renovado fervor.
Livro V – Da Última Sessão Plenária
13. E chegou o dia em que André juntou seus discípulos políticos na Assembleia, para a Última Sessão Plenária Antes do Recesso.
14. E disse-lhes:
“Em verdade vos digo: um de vós ousará contradizer-me com factos.”
15. E os discípulos estremeceram, pois poucos sabiam manejar um relatório técnico.
16. E André ergueu o dedo e proclamou:
“Ide, pois, e fazei barulho entre as nações; levai a Palavra, mesmo que não vos tenham perguntado nada.”
Livro VI – O Apocalipse das Sondagens
17. E vi no céu um grande sinal: um gráfico tremendo, flutuando entre margens de erro.
18. E sobre o gráfico estava montado o Profeta Venturo, brandindo um microfone flamejante.
19. E atrás dele vinham quatro cavaleiros — Populus, Mediatix, Indignare e Algoritmus — cavalgando sobre comentários inflamáveis.
20. E cada cavaleiro trouxe consigo um flagelo: a Polémica Infinita, a Discussão Estéril, a Simplificação Absoluta e a Sondagem Diária.
Livro VII – Da Promessa Final
21. E André falou ao povo, dizendo:
“Eu sou o Princípio e o Trending. Aquele que é, que foi, e que aparecerá novamente amanhã no telejornal.”
22. E o povo suspirou fundo, murmurando:
“Que assim seja… até que o próximo escândalo nos separe.”