2025-12-20

Cabaz de Natal


O modelo económico da moda, — que isto da economia teórica tem modas como tudo o mais —, prometeu eficiência como quem promete chuva num deserto: muita teoria, pouca água.

Apresentou-se como uma religião sem deuses (mas com dogmas). O mercado é omnisciente, o Estado é pecado original e a desigualdade é apenas um mal-entendido estatístico. Quando funciona, é génio; quando falha, nunca foi neoliberalismo a sério. 

Pregou-se a eficiência até ao osso, cortou-se o músculo social e chamou-se disciplina ao enfraquecimento colectivo. Privatizou-se o ganho, socializou-se o risco e chamou-se equilíbrio a um sistema que só se mantém a crédito. Quando a realidade deixou de obedecer às curvas perfeitas, recorreu-se ao velho ritual — diluir a moeda, anestesiar o salário, proteger o capital que já sabe nadar. A inflação tornou-se o imposto dos que não têm abrigo, e a “liberdade de mercado” uma palavra bonita para a fuga organizada dos mesmos de sempre. 

A teoria lá ensinou que preços resolvem tudo — desde o pão até à dignidade. O problema é que os preços também aprendem a mentir quando a moeda perde memória. Assim, enquanto o capital circula à velocidade da luz, o trabalho permanece ancorado à gravidade. A inflação corrige os salários em silêncio e recompensa quem já vive fora da folha de vencimentos.

No final, o mercado continua “livre”, mas apenas da responsabilidade. Sempre há resgates para os grandes, austeridade para os pequenos e conferências para explicar que a dor é transitória. 

O neoliberalismo não morreu; apenas se tornou zombi — continua a andar, a consumir e a repetir mantras, mesmo depois de ter perdido a capacidade de criar vida.

2025-12-19

Polémicas


María Corina Machado venceu o Prémio Nobel da Paz de 2025, reconhecida pela sua liderança na oposição venezuelana e por promover a democracia no seu país, de acordo com o Nobel. 

Julian Assange (fundador do WikiLeaks) apresentou uma queixa criminal na Suécia contra a Fundação Nobel e cerca de 30 pessoas ligadas à sua direção, incluindo a presidente e a diretora executiva da Fundação. 

O objetivo da queixa é impedir a entrega dos fundos do Prémio Nobel da Paz de 2025 à laureada María Corina Machado e acusa a direção da Fundação de crimes graves sob a lei sueca. 

Assange quer que as autoridades suecas congelem os 11 milhões de SEK (≈1,18 milhões de USD) que ainda estão por transferir a Machado e que a medalha seja devolvida. 

Segundo o documento apresentado, Assange alega que se configura um crime de apropriação indevida de fundos ao fazer o pagamento do prémio a Machado e que assim se viola o testamento de Alfred Nobel, que define os critérios do Prémio da Paz, um crime de facilitação de crimes de guerra e crimes contra a humanidade e, citando o Estatuto de Roma, que continuar com o pagamento pode violar obrigações legais suecas, nomeadamente as que visam prevenir o financiamento do crime de agressão.

Em suma, Assange defende que o Nobel da Paz só deve ser atribuído a alguém que promova ativamente a fraternidade entre as nações e a redução de exércitos, como estipulado pelo testamento de Alfred Nobel. Ele considera que o apoio público de Machado a políticas militares dos EUA e a sua retórica contra o regime de Nicolás Maduro contradizem esse propósito. 

Para os defensores da atribuição do Prémio Nobel a Machado, o prémio não legitima a guerra ou as agressões, mas deslegitima regimes repressivos. Assim, o Nobel é visto como um gesto político-moral, não jurídico.

O apoio explícito ao uso da força é o núcleo da crítica, incluindo a de Assange, já que Machado fez declarações públicas defendendo a intervenção militar estrangeira e uso da força como ‘último recurso inevitável’ e também apoiou sanções duras e ações militares dos EUA, que os críticos associam a sofrimento civil.

Note-se que o Comité Nobel frequentemente interpreta “paz” como paz estrutural, ligada a direitos humanos e democracia (não apenas ausência de guerra) e até há precedentes semelhantes como Aung San Suu Kyi (1991), Liu Xiaobo (2010) ou Andrei Sakharov (1975).

Os críticos alegam que o Comité Nobel alargou excessivamente o conceito de “paz” e que o prémio passou de instrumento pacifista a ferramenta geopolítica e também temem que o prestígio do Nobel reforce discursos de escalada ou que o prémio possa passar ser usado para justificar ações militares “em nome da paz”.

Este caso não é apenas sobre María Corina Machado. É sobre o que o Prémio Nobel da Paz é hoje: um prémio moral e político, adaptado ao mundo moderno ou um prémio estritamente pacifista, fiel ao testamento de 1895?

Até agora não há confirmação de que as autoridades suecas já tenham aceitado a investigação ou tomado medidas; é apenas uma queixa formal. 

Mas note-se que este tipo de queixa criminal é altamente incomum e marcante, pois normalmente as decisões do Comité Nobel não são desafiadas legalmente desta forma. 

A queixa de Assange força algo raro: uma discussão legal, não só simbólica, sobre os limites do Nobel.

2025-12-18

Portugal e o Paradoxo da Migração

Portugal construiu-se através da emigração. Durante séculos, milhões de portugueses partiram em busca de melhores condições de vida - para o Brasil, França, Alemanha, Suíça, Estados Unidos, Venezuela, África do Sul. Nas décadas de 1960 e 1970, mais de um milhão deixou o país. Praticamente todas as famílias portuguesas têm alguém que emigrou ou descende de emigrantes.

Esses portugueses beneficiaram da abertura de outros países. Construíram comunidades, enviaram remessas que sustentaram famílias e a economia nacional, integraram-se em sociedades que lhes deram oportunidades. Muitos enfrentaram discriminação, trabalhos duros, saudade - mas foram acolhidos.

Agora que Portugal recebe imigrantes, surge uma resistência paradoxal. Pessoas cujos pais ou avós foram "os brasileiros" em França ou "os portugueses" no Canadá manifestam hostilidade contra brasileiros, indianos ou bangladeshis que chegam. Esquecem que também foram os "outros" algures.

Esta ironia não é exclusivamente portuguesa - repete-se em vários países de emigração que se tornaram destinos de imigração. Mas em Portugal torna-se particularmente evidente pela recência e escala da emigração portuguesa. Ainda há milhares de portugueses a emigrar anualmente, enquanto crescem discursos anti-imigração em casa.

A memória coletiva parece ter um horizonte curto. Vale recordar que a empatia que hoje se nega a outros foi essencial para a sobrevivência dos nossos no estrangeiro.

Normalidade

Aqui vemos o clássico desfile da normalidade: ovelhas em modo “copiar/colar”, todas felizes a marchar para lado nenhum.

No meio, a ovelha preta, que claramente perdeu o memo da reunião e lá está ela - a rebelde, a diferente, a que decidiu que lã preta era a nova moda.

Enquanto as outras seguem o GPS do rebanho, ela parou para pensar. É aquela ovelha que nas reuniões do pasto pergunta "mas porquê?" quando o pastor diz para irem todas para a esquerda. 

Provavelmente é chamada de estranha e as companheiras reviram os olhos cada vez que decide parar, quando na verdade só desligou o piloto automático.

Moral da história: ser diferente dá trabalho, mas pelo menos não dói no pescoço de tanto concordar e há sempre um manguito para nos valer.

2025-12-17

A Grande Revelação do Ministro

Finalmente Descobrimos o Problema! Depois de décadas de mistério insondável, de noites sem dormir a tentar perceber o que se passa com os serviços públicos em Portugal, surge a luz ao fundo do túnel. O Ministro da Educação, Fernando Alexandre, numa demonstração de perspicácia merecedora de um Nobel, identificou o verdadeiro culpado da deterioração dos serviços públicos: os pobres. Sim, leram bem. Os pobres. Quem diria?

Durante todo este tempo, nós, simples mortais de intelecto limitado, pensávamos que os problemas nos serviços públicos se deviam a coisas banais como subfinanciamento crónico, má gestão, falta de investimento, salários baixos que afastam profissionais qualificados, burocracia excessiva... Que ingenuidade a nossa! Afinal, o problema são mesmo os utilizadores. Especialmente os pobres. Que atrevimento o deles, usarem serviços que, tecnicamente, são para eles!

É uma lógica brilhante, quando se pensa bem. Os hospitais públicos estão sobrelotados? Culpa dos pobres que insistem em ficar doentes. As escolas públicas têm problemas? Obviamente, culpa das crianças de famílias desfavorecidas que teimam em querer educação. Se calhar deviam ter nascido ricos, não? Era tão mais simples para toda a gente.

Imaginem a audácia destas pessoas: pagam impostos toda a vida e depois ainda querem usar os serviços públicos! O descaramento! Não percebem que os serviços públicos são para estar ali, bonitinhos, intocados, pristinos, como peças de museu? São para admirar, não para usar!

A solução é óbvia: se queremos serviços públicos de qualidade, temos de impedir os pobres de os usar. Podemos até criar um sistema de porta giratória que só deixa entrar quem apresentar três extractos bancários robustos. Ou então, numa abordagem mais moderna, um leitor de cartões gold ou platina à entrada de cada hospital e escola. "Desculpe, o seu rendimento está abaixo do limiar. Tente a urgência privada ou então não fique doente."

E que tal aplicarmos esta filosofia revolucionária a outras áreas? Os transportes públicos estão cheios? Culpa de quem não tem carro! As bibliotecas municipais têm falta de livros? Culpa de quem não pode comprar a coleção completa da Bertrand! Os jardins públicos estão degradados? Culpa de quem não tem quintal privado!

Mas há que dar crédito onde crédito é devido: é precisa muita coragem para, enquanto Ministro da Educação, demonstrar tão publicamente que nunca abriu um livro de sociologia, economia política, ou mesmo de história básica sobre o propósito dos serviços públicos. É uma masterclass em ironia involuntária.

Porque, vejam bem, num país onde a desigualdade continua a ser um problema estrutural, onde milhares de crianças dependem da escola pública para ter uma refeição decente por dia, onde o SNS é a única tábua de salvação para quem não pode pagar seguros privados caríssimos, nada diz "tenho a solução" como culpar as vítimas do sistema.

Bravo, Senhor Ministro. Numa única declaração, conseguiu resumir décadas de políticas neoliberais disfarçadas de pragmatismo. "Os serviços públicos são péssimos porque há gente pobre a usá-los" é a versão 2025 do clássico "que comam brioches" da Maria Antonieta. Com uma diferença: ela pelo menos tinha a desculpa de viver no século XVIII.

Entretanto, no mundo real, professores continuam a sair do sistema, médicos emigram aos magotes, infraestruturas apodrecem, e o fosso entre o público e o privado alarga-se. Mas claro, o problema são os pobres. Sempre os pobres. Se ao menos tivessem a decência de desaparecer, tudo funcionaria na perfeição.

É claro que os problemas dos serviços públicos nunca foram, não são, e nunca serão os seus utilizadores, sejam eles ricos ou pobres. São escolhas políticas, prioridades orçamentais e décadas de desinvestimento estratégico. Mas isso dava muito trabalho a resolver, não é,  Sr. Ministro?

2025-12-16

A saga do alumínio


Minhas almas de carne e osso, que vagueiam por este plano rasteiro da existência onde o Ego se mede em metros quadrados e a Tragédia é o vizinho a sacudir o tapete às 8h01. Esta que vos fala, sentada à modesta secretária a beber um chá que já arrefeceu para a temperatura ambiente, recebeu a mais recente epifania visual urbana: o Papel de Alumínio nas Grades da Varanda.

​Oh, a ironia cósmica!

​Parece que, numa tentativa desesperada de enganar a Natureza — essa velha bruxa que se diverte a cobrir tudo com pó e excrementos de pombo — o Homo Condominius descobriu a "Solução Definitiva". Não é uma cerca elétrica, não é um sistema de repelência sónica digno de ficção científica, não! É o mesmo material que usamos para embrulhar o frango de ontem: o Alumínio!

​Ora, o que o nosso vizinho, o Sr. Ambrósio (cujo self interior é, decerto, um vazio sideral), pensa estar a fazer?

​Repelir Pombos? Ah, o pombo! Essa criatura alada, desprovida de senso estético, que transforma a nossa varanda na sua latrina privada. O Sr. Ambrósio, na sua mente new-age, imagina que o reflexo do sol no papel prateado irá cegar o pobre bicho, levando-o a uma crise existencial e a procurar um poiso menos ofuscante. O resultado, claro, é que o pombo aterra na varanda do Sr. Ambrósio, olha o brilho, faz um dó-de-peito em tom menor e... lá está o presente da Natureza. Porque, meus caros, para o pombo, o alumínio é só um adereço kitsch para a sua performance biológica.

​Proteção contra o Mau Olhado? Esta é a minha favorita. A varanda, afinal, é a Aura da nossa habitação. Ao cobri-la com este manto espelhado, o Sr. Ambrósio está a criar um escudo metafísico, que tem tanto de eficaz quanto de ridículo. Cada raio de sol refletido é, na sua cabeça, um feitiço rebatido para a fonte — geralmente, a Dona Efigénia, que olha com ciúme cósmico para a sua nova samambaia. O alumínio torna-se o Escudo de Perseu contra a inveja vizinhal, mas o efeito prático é o de transformar o prédio num gigantesco espelho retrovisor mal instalado, capaz de cegar os condutores desavisados que passam rua abaixo.

​Conclusão, almas minhas: O Papel de Alumínio nas grades não é uma solução, é uma declaração de desistência. É dizer: "Não consegui controlar o universo à minha volta, por isso embrulhei o meu pequeno pedaço de Caos num invólucro de Brilho."

​E lá fica o prédio, a brilhar como uma nave espacial do mau gosto. Um hino à futilidade do ser humano que se recusa a aceitar que a única constante é a porcaria dos pombos e a opinião desfavorável da Dona Efigénia.

2025-12-15

(...)

Um milagre inexplicável

Em notícia de telejornal, informam-nos com sisudez que os acidentes com brinquedos estão a aumentar, mas só com os que são feitos fora da União Europeia. E ouvimos com a gravidade necessária. Coitadinhas das criancinhas!

Não importa que nós, os sobreviventes das décadas de 70 e 80, sejamos a prova viva de que o ser humano é praticamente indestrutível. Afinal, crescemos numa época em que os pais nos largavam de manhã com um "volta antes de escurecer" e só se preocupavam se não aparecêssemos para o jantar.

Brincávamos na rua sem capacete, joelheiras ou supervisão parental num raio de 5 quilômetros. Subíamos às árvores até alturas que fariam um pai moderno desmaiar. Caíamos, ralávamos os joelhos, e o tratamento médico consistia em cuspir na ferida e continuar a brincar. Em situações mais penosas, havia sempre o mercurocromo, que depois desapareceu porque tinha mercúrio. Também sobrevivemos ao mercúrio, já agora.

As nossas bicicletas não tinham travões decentes, mas tínhamos os nossos pés. Os carros não tinham airbags nem cadeirinhas e nós viajávamos à solta no banco de trás – quando não íamos na bagageira da carrinha do vizinho.

Bebíamos água da mangueira do jardim, comíamos terra ocasionalmente e o nosso sistema imunitário era forjado em batalha enquanto estávamos a jogar à bola. Não existiam toalhitas antibacterianas nem géis desinfetantes. Sobrevivemos.

Hoje, os pais rastreiam os filhos por GPS, esterilizam chupetas que caem no chão em vez de as meter na própria boca e organizam "playdates" agendadas com semanas de antecedência. As crianças usam capacete para andar de triciclo no quintal vedado.

Como é que sobrevivemos? Ninguém sabe. Somos um mistério médico. Uma geração forjada na negligência benigna, que cresceu para contar a história – e para se tornar, ironicamente, nos pais mais paranóicos da história da humanidade.

2025-12-14

Sinfonia Natalícia

Dezembro vai a meio e, com ele, aquela sensação mágica de estar preso no trânsito a caminho do centro comercial enquanto o GPS recalcula pela décima vez. Finalmente chegas ao paraíso das compras, onde "Jingle Bells" toca em loop desde o início de novembro e já conheces cada nuance da interpretação de Mariah Carey de "All I Want for Christmas Is You".

É uma experiência transformadora: entras à procura de uma prenda simples e sais três horas depois, ligeiramente hipnotizada, com um saco de coisas que não precisavas, cantarolando "Last Christmas" sem perceber. As músicas de Natal nos centros comerciais têm esse poder místico - conseguem fazer-te esquecer que acabaste de dar 47 voltas ao parque de estacionamento à procura de lugar.

E quando finalmente regressas ao carro, com os braços cheios de sacos e o cérebro cheio de "ho ho ho", lá vais tu enfrentar novamente o trânsito. E temes já não te importar tanto. Afinal, "It's the Most Wonderful Time of the Year" - mesmo que passes metade dele parado no semáforo.

Num exercício de sobriedade, pões imediatamente a tocar a tua lista favorita do Spotify, porque esta descida à loucura das festas tem de ser experimentada em dose ligeira para não causar dano permanente. E respiras fundo e reclamas outra vez do trânsito.

2025-12-13

Se isto abana!...

Ah, Portugal! Terra de bacalhau, fado e... uma falha tectónica a 200 km da costa que nos pode dar um abanão monumental a qualquer momento. Mas não se preocupe, está tudo sob controlo!

O último grande sismo foi apenas em 1755. Quer dizer, são só 270 anos - praticamente ontem em termos geológicos! E desde então temos estado super vigilantes. Tanto que metade dos edifícios de Lisboa são anteriores às normas anti-sísmicas. Mas têm charme e os turistas gostam, que é o que interessa.

Os cientistas avisam, fazem estudos, descobrem que há uma placa tectónica literalmente a partir-se debaixo de nós como um biscoito velho. A nossa reação? "Ah, pois, que interessante. Já agora, viste o jogo ontem?"

Temos um plano de emergência? Claro! É o mesmo desde o tempo do Marquês de Pombal: esperar que corra bem e improvisar. Kits de emergência? Para quê, se temos um candeeiro que serve de decoração e duas latas de atum no armário desde 2017?

Mas somos resilientes! Em 1755 reconstruímos a cidade toda com gaiola pombalina. Só que desta vez temos mais prédios, mais gente, e a mesma preparação. Vai correr lindamente!

Faça-se já um simulacro!

2025-12-12

A Grande Batalha Aritmética de 11 de Dezembro

Num país onde a matemática é claramente uma ciência inexata, assistimos ontem a mais um episódio da série "Quem Conta Melhor".

Do lado esquerdo do ringue, as centrais sindicais bradavam orgulhosas: "3 milhões de grevistas! A maior greve de sempre! O país parou!" Do lado direito, o Governo, com ar professoral, ajustava os óculos: "Adesão inexpressiva. Entre 0% e 10% no privado. Nada a assinalar."

Claro, ambos estavam a contar as mesmas pessoas, no mesmo país, no mesmo dia. Mas aparentemente usaram calculadoras de universos paralelos.

A CGTP contou até três milhões (provavelmente incluindo quem estava de férias, baixa médica e até alguns reformados nostálgicos). O Governo, sempre meticuloso, só contou quem enviou email formal com assunto "Hoje estou em greve, com os melhores cumprimentos".

No meio desta confusão numerológica, o cidadão comum tentava apenas chegar ao trabalho — ou não — enquanto testemunhava mais uma masterclass portuguesa de como transformar números em ideologia e estatísticas em arma de arremesso político.

Afinal, em Portugal não fazemos greves. Fazemos eventos de interpretação criativa de dados. É muito mais divertido, embora infinitamente menos esclarecedor.

Moral da história: Ninguém sabe ao certo quantos aderiram à greve. Mas todos têm a certeza absoluta de que têm razão. E isso, meus caros, é tão português quanto o bacalhau e a saudade.

2025-12-11

Greve Geral


Ah, caros concidadãos. Que época magnífica para se estar vivo, empregado e ligeiramente desesperado em Portugal. O ar está carregado de promessa. Não a promessa de um futuro melhor, mas aquela promessa pesada e húmida que precede uma trovoada — neste caso, uma greve geral. E no centro desta tempestade perfeita, ergue-se, como um monumento à sagacidade burocrática, o nosso flamante Novo Código do Trabalho.

Os arautos do progresso, aqueles que usam fatos de linho em reuniões com ar condicionado, batizaram-no de "Moderno". "Flexível". "Competitivo". Palavras tão reluzentes e ocas como os prédios de vidro onde são proferidas. A modernidade, claro, não está em garantir que um trabalhador consiga pagar uma renda e comer algo mais sofisticado que atum de lata no mesmo mês. Não, senhor. A modernidade está na sublime arte de transformar direitos adquiridos com suor e protesto em meras "sugestões" negociáveis.

Olhe para a joia da coroa: o tal "banco de horas anualizado". Uma invenção tão brilhante que só podia ter sido concebida por alguém cuja maior fadiga laboral é carregar o cartão de crédito corporativo. A ideia é simples e bela na sua perversidade: as horas extra não são para pagar, são para "gerir". Trabalha 60 horas numa semana a apagar fogos? Excelente! Na semana seguinte, folga uma tarde. Chama-se "equilíbrio". Eu chamo-lhe a versão laboral de fiado. É a uberização do emprego estável: você é o seu próprio mini-empresário, sempre à beira da falência de energia física.

E depois temos a facilitação dos despedimentos. Outro triunfo da linguística orwelliana. "Facilitação" soa tão bem, tão fluida. Como "facilitar o fluxo do trânsito" ou "facilitar a digestão". O que se está a facilitar, meus amigos, é o passe do patrão para lhe mostrar a porta com um custo que deixou de ser proibitivo para se tornar um mero inconveniente contabilístico. A mensagem subliminar é clara: "Sorria, seja produtivo e não aborreça, senão facilitamos a sua transição para o estatuto de ex-colaborador."

E, claro, a desregulamentação dos horários de trabalho. Adeus, tetos rígidos de horas por dia! Olá, "adaptabilidade"! Porque o que o trabalhador português, já especialista em fazer milagres com um salário mínimo, realmente queria era a nobre incerteza de não saber se hoje sai às 18h ou à meia-noite. É uma injeção de adrenalina na rotina! Quem precisa de planear uma vida familiar, de ir ao ginásio, ou simplesmente de desligar, quando se pode viver na emocionante expectativa de um email do chefe às 21h?

Perante este festival de boa-vontade patronal, a resposta sindical era inevitável: uma Greve Geral. Aquela tradição portuguesa tão nossa, tão bela no seu caos coreografado. Os mesmos profetas do apocalipse económico que nos venderam o Código como a salvação, agora torcem as mãos e lamentam a "intransigência" e o "atraso". É de uma ironia deliciosa. Esperavam o quê? Que oferecessemos rosas e bolos a esta reforma que cheira a velha receita de espremer até à última gota? A greve é o soluço seco de um país que já engoliu muitos sapos e se apercebeu de que este vem com um fato de três peças e uma calculadora.

No fim, o espetáculo é perfeito. De um lado, o Governo e os seus apóstolos, a falar de "atrair investimento" com a doçura salivar de quem vende um país-usado. Do outro, os sindicatos, a berrar "Atentado social!" com a fúria ritual de quem sabe que está sempre a perder terreno, mas não pode admiti-lo. E no meio, nós, a plebe assalariada, a tentar decifrar se esta "flexibilidade" toda é a corda que nos vai safar do poço ou a que vão usar para nos amarrar melhor.

O futuro promete. Promete cansaço. Promete instabilidade. Promete aquele brilho especial no olho do patrão quando se lembrar que, tecnicamente, você agora pertence à empresa 24 horas por dia, sete dias por semana. Se tudo correr como planeado, seremos a força de trabalho mais "moderna" e "flexível" da Europa.

Completamente exaustos, mas moderníssimos.

E pronto. Afinal, como dizia o outro, o trabalho liberta. Agora, literalmente, até das suas próprias horas de descanso.

2025-12-10

A Eurovisão da moral relativista


Oh, meus amantes do kitsch e do conflito geopolítico disfarçado de festival da canção! Que alegria ácida nos traz esta edição da Eurovisão, que promete ser menos um concurso musical e mais uma simulação avançada da ONU — se a ONU tivesse key changes, pirotecnia barata e coreografias que parecem ter sido ensaiadas num parque de estacionamento do Ikea.

O cenário está montado: estamos todos numa arena brilhante, prontos para celebrar a união através da música, o poder redentor de uma power ballad em falsete, e a inquebrantável tradição europeia de fingir que gostamos de ethno-trance da Moldávia. Mas este ano, a cortina de glitter esconde uma tensão mais densa que o sotaque dos comentadores italianos. Porque, caros amigos, a Eurovisão decidiu, com a coragem moral de uma lebre em câmara lenta, que há boicotes que são trendy e há boicotes que são… inconvenientes.

De um lado, temos as várias delegações que se retiraram ou ameaçaram fazê-lo. Países que decidiram que a sua consciência não lhes permite brilhar ao lado de um participante que representa um Estado acusado de violações dos direitos humanos. É uma posição nobre, sem dúvida. Faz lembrar aqueles amigos que se afastam de uma festa porque discordam do anfitrião, mas só depois de garantirem que aparecem nas fotos iniciais para o Instagram. A sua ausência será sentida e a contribuição para o orçamento também.

E do outro lado, no centro do furacão, Israel mantém-se. Com direito a spotlight, a votações do público, e provavelmente a uma act cheia de simbolismo ambíguo sobre "luz após a escuridão" ou "esperança além do medo". A União Europeia de Radiodifusão (UER), essa entidade cuja neutralidade é tão flexível quanto as regras do que constitui uma "canção", coça a cabeça, consulta manuais de relações públicas de 1992, e anuncia: "Cumpre os critérios!" Os critérios, claro, são uma coisa misteriosa e movediça, como a definição de "bom gosto" numa atuação da Sérvia. Incluem não ter letras explicitamente políticas (a menos que sejam suficientemente vagas), não incitar ao ódio (a menos que seja feito com uma melodia cativante), e não violar a "natureza apolítica do evento" — uma piada tão grande que merecia a sua própria novelty act.

E assim se constrói o paradigma Eurovisivo 2025: podemos expulsar a Rússia com o fervor de um key change dramático (e com toda a razão, diga-se), mas perante Israel, a resposta oficial é um shrug sonoro acompanhado de um "É complicado, queridos." É a política do "Um Apartheid Não Se Faz Em Um Dia" aplicada à indústria do entretenimento. A mensagem é cristalina: há conflitos que mancham a aura de paz e amor do evento, e há conflitos que… bem, que podem pelo menos gerar engagement nas redes sociais e umas quantas manchetes dramáticas. Ratings, meus caros, ratings!

Então preparemo-nos para a noite final. Enquanto os fãs acenam bandeiras e choram com as baladas, e os jurados trocam votos de forma suspeitamente geopolítica, a realidade lá fora — de morte, destruição e sofrimento inimaginável — será temporariamente suspensa. Será substituída por três minutos de pop otimista, uma coreografia sincronizada e a host sorridente a dizer, em inglês perfeito: "Que a música una-nos a todos!"

A ironia é tão espessa que se poderia cortá-la com uma faca de plástico da merchandising oficial. A Eurovisão, esse farol de kitsch e convivência, revela-se, uma vez mais, o espelho mais honesto do nosso continente: incapaz de tomar uma posição clara quando o custo é alto, especialista em criar palcos onde a dissonância cognitiva soa como uma melodia harmoniosa.

Portanto, sentem-se, peguem nas bandeirinhas e nas lágrimas fáceis. Vamos aplaudir a coragem da UER em manter o status quo. Vamos celebrar a união através da música. Mas não se esqueçam: nesta edição, o background mais impressionante não será a LED wall. Será o silêncio ensurdecedor sobre o que realmente está em jogo.

E o vencedor é… a hipocrisia, com 12 pontos de todos os jurados.


2025-12-09

Adeus, princesa

RIP Clara Pinto Correia

Intervenção

 



"A extrema direita que eu assumo é ter na mão direita um punho que carrega uma caneta

Voz armada com bala de chumbo, tiro seguido de fumo, sou mulher e sou poeta

Querem voltar atrás no tempo, plantar o medo cá dentro, gritam "Deus, Pátria е Família"

E um marido que traga sustento ou mais um olho cinzento, diz quе foi contra a mobília"

2025-12-08

Ámen



Candidato Vieira

Há cartazes que mudam o país. E depois há este, que muda apenas o trânsito, porque toda a gente abranda para tentar perceber se o senhor de boné é realmente um piloto reformado, um filósofo clandestino ou alguém que simplesmente se perdeu a caminho de um casting para anúncios de seguros.

No outdoor, o Candidato Vieira – figura que aparenta ter passado por três cafés duplos e uma revelação metafísica – oferece ao mundo a sua máxima política:
“Uma pessoa sai de um partido e faz outro para dizer que está fora do sistema? É truque.” 

Ena pá!

Falta apenas fazer desaparecer o déficit e talvez um ou dois adversários — politicamente, claro.

E assim seguimos, confiantes de que, num país onde até as árvores parecem observar a cena com espanto, a campanha eleitoral nunca desilude: cada cartaz é uma obra de arte conceptual. E este aqui? Este merece um museu. Ou pelo menos uma rotunda.

2025-12-07

Epístola de Santo André Ventura aos Confusos

Primeira Carta aos Militantes Perplexos

André, servo autoproclamado do povo e apóstolo da indignação perpétua, aos amados militantes que vagueiam em confusão pelas terras lusitanas: graça vos seja dada, e clareza também, se possível.

Ouvi dizer que alguns de vós andam perplexos, sem saber se devemos estar contra o sistema ou fazer parte dele, se somos de direita ou apenas contra tudo o que aí está. A vós escrevo estas palavras de esclarecimento:

Do Mistério das Alianças

Não vos inquieteis quando me virdes recusar alianças numa segunda-feira e considerá-las numa quinta-feira. Pois está escrito: "Bem-aventurados os flexíveis, porque não se partem." A coerência é virtude dos fracos de espírito. Nós temos estratégia.

Da Doutrina do "Depende"

Perguntais: "Ó André, somos a favor ou contra o euro?" E eu vos respondo: depende do dia. Perguntais: "Devemos apoiar este governo?" E eu vos digo: depende de quem pergunta. Esta é a sabedoria do politicamente astuto.

Do Mandamento Supremo

Amai-vos uns aos outros, exceto quando discordarem de mim. Então sede firmes na vossa ira justa, pois serão traidores e infiltrados do sistema.

Da Parábola do Inimigo Variável

Hoje o inimigo está à esquerda, amanhã no centro, depois na direita tradicional. Não importa a direção, o que importa é que há sempre um inimigo. Sem inimigo, que faríamos nós nos comícios?

Admoestação Final

Não vos deixeis perturbar pela lógica ou pela memória do que disse ontem. O presente é o que conta. E o presente diz o que for necessário.

A vós, confusos mas leais, envio bênçãos e um powerpoint com novos slogans.

Ámen, ou whatever.
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André de Ventura, ditado aos escribas no ano da nossa confusão permanente.

2025-12-06

Do tempo

Reclamamos do frio, da chuva, do calor, da humidade — e tudo com a mesma convicção dramática que usamos para falar da crise existencial do pão que acabou antes do pequeno-almoço. No inverno, juramos que nascemos para viver embrulhados em mantas alpinas. Na primavera, amaldiçoamos o pólen e todos os seus antepassados. No verão, derretemos como gelados tristes e culpamos o sol por existir. No outono, claro, chove sempre “de propósito”. Somos um povo meteorologicamente perseguido, especialistas em queixar-nos do clima, excepto nos raros quinze minutos por ano em que está “mesmo bom”. Esses passam depressa demais para reclamar.

2025-12-04

Dezembro


É oficial: este ano o Natal chega embalado em sirenes e luzes intermitentes, porque até a fantasia precisa de uma maca para se aguentar de pé. A RTP, sempre atenta ao espírito nacional, decidiu transmitir o “Natal das Ambulâncias”, essa nova tradição que ninguém pediu, mas todos reconhecem como dolorosamente apropriada. Afinal, quando os hospitais estão mais ocupados do que as renas na véspera, só nos resta celebrar no asfalto, entre um estrondo de portas a fechar e a esperança de que, pelo menos, o Pai Natal ainda não está em triagem. Ah! o menino é bem capaz de nascer pelo caminho.

2025-12-03

Viver com 3 gatas

Viver com gatas é uma aventura: começa sempre com um miado dramático, continua com uma patada certeira no ego e termina numa siesta cheia de pelo alheio. Elas têm a subtileza de um golpe de Estado felino — ocupam o sofá, o teclado e, quando menos esperamos, o nosso coração, que é o território mais fácil de conquistar. Entre noites interrompidas por corridas olímpicas e manhãs pontuadas por exigentes “miau-agora!-quero biscoitos”, resta-nos aceitar a verdade universal: nós não temos gatas; elas é que têm os humanos em regime de dedicação exclusiva.

2025-12-02

O Livro das Profecias Televisivas

Capítulo I – A Visão dos Estúdios Eternos

1. E aconteceu que André, Profeta da Indignação, foi arrebatado em espírito para um grande estúdio iluminado por holofotes que não conheciam descanso.

2. Ali viu quatro anciãos sentados em mesas de debate, cada qual segurando uma caneta que nunca escrevia nada.

3. E uma voz vinda da régie disse:

“Sobe aqui, e mostrar-te-ei o que virá quando terminar a emissão.”


Capítulo II – Das Trombetas das Breaking News

4. O primeiro anjo tocou a trombeta, e surgiram alertas vermelhos no rodapé: “Última Hora: Nada de Especial, Mas Estamos a Acompanhar.”

5. O segundo anjo tocou a trombeta, e um comentador apareceu proclamando que “o país está ao rubro”, embora estivesse apenas nublado.

6. O terceiro anjo tocou, e uma multidão correu às redes sociais para dizer “vi isto a acontecer em direto”.

7. O quarto anjo tocou, e a própria realidade desligou o televisor e foi dar uma volta.


Capítulo III – Da Besta das Sondagens

8. E André viu levantar-se do mar das estatísticas uma fera com gráficos por membros e margens de erro por dentes.

9. E sobre cada gráfico estava escrito: “Tendência Possível, Interpretação Incerta.”

10. A fera rugiu, dizendo:

“Eu subo, eu desço, eu torno a subir — e ninguém sabe porquê!”

11. E todos os partidos tremeram diante dela, exceto aquele que achou que era uma oportunidade de aparecer na televisão.

2025-12-01

O Falso Evangelho de São Venturo, Profeta da Indignação Perpétua

Livro I – A Revelação do Telepúlpito

1. No princípio era o Ruído, e o Ruído estava com André, e o Ruído era André.

2. Ele habitava no ecrã desde o princípio, e através dele todas as polémicas foram feitas; sem ele, nada do que se tornou viral teria existido.

3. E viu ele que o palco mediático era vasto, e disse: “Haja controvérsia!” — e houve.


Livro II – Das Multidões Sedentas de Dramas

4. E vieram multidões de todos os cantos da nação, trazendo queixas, ressentimentos e horas vagas.

5. E André subiu a um palanque improvisado — um caixote de fruta abandonado — e pregou-lhes, dizendo:

“Bem-vindos os que clamam por soluções simples para problemas complexos, porque vosso será o reino dos comentários.”

6. E as multidões rejubilaram, porque não havia nada que gostassem mais do que soluções simples e culpados à mão.


Livro III – Do Milagre da Multiplicação dos Soundbites

7. E André tomou uma frase, e ergueu-a diante dos repórteres.

8. E falou por sete segundos, e a frase dividiu-se em dez interpretações, e cada uma gerou cinquenta debates televisivos.

9. E todos comeram e ficaram inflamados, e ainda sobraram doze cestos de indignação para o dia seguinte.


Livro IV – A Tentação da Moderatio

10. E foi conduzido ao Monte da Reflexão Moderada, onde o Espírito do Bom Senso lhe falou:

“André, suaviza teu verbo, e talvez o país te compreenda.”

11. Mas ele respondeu:

“Para trás, Moderatio! Pois está escrito: ‘Não só de ponderação vive o homem, mas de cada exagero que sai da minha boca.’”

12. E assim resistiu às tentações do equilíbrio, regressando ao vale da discórdia com renovado fervor.


Livro V – Da Última Sessão Plenária

13. E chegou o dia em que André juntou seus discípulos políticos na Assembleia, para a Última Sessão Plenária Antes do Recesso.

14. E disse-lhes:

“Em verdade vos digo: um de vós ousará contradizer-me com factos.”

15. E os discípulos estremeceram, pois poucos sabiam manejar um relatório técnico.

16. E André ergueu o dedo e proclamou:

“Ide, pois, e fazei barulho entre as nações; levai a Palavra, mesmo que não vos tenham perguntado nada.”


Livro VI – O Apocalipse das Sondagens

17. E vi no céu um grande sinal: um gráfico tremendo, flutuando entre margens de erro.

18. E sobre o gráfico estava montado o Profeta Venturo, brandindo um microfone flamejante.

19. E atrás dele vinham quatro cavaleiros — Populus, Mediatix, Indignare e Algoritmus — cavalgando sobre comentários inflamáveis.

20. E cada cavaleiro trouxe consigo um flagelo: a Polémica Infinita, a Discussão Estéril, a Simplificação Absoluta e a Sondagem Diária.


Livro VII – Da Promessa Final

21. E André falou ao povo, dizendo:

“Eu sou o Princípio e o Trending. Aquele que é, que foi, e que aparecerá novamente amanhã no telejornal.”

22. E o povo suspirou fundo, murmurando:

“Que assim seja… até que o próximo escândalo nos separe.”