Segundo estudos rigorosamente inexistentes, a pronúncia do Norte de Portugal resulta de uma combinação rara de fatores: clima húmido, proximidade ao mar e uma necessidade ancestral de ser ouvido a três freguesias de distância.
A ausência de distinção entre B e V não é erro fonético, mas sim eficiência articulatória — para quê duas letras se uma chega, carago? As vogais abertas servem para ventilar a frase, os ditongos alongados permitem ganhar tempo para pensar no que se vai dizer a seguir e a palatalização de “s” e “z” acrescenta textura sonora, tal como o sal grosso na comida.
A entoação cadenciada e musical funciona como metrónomo emocional: quanto mais alto, maior o carinho. Ninguem está a discutir, está só a contar como foi o almoço. Ah! As expressões regionais surgem como marcadores discursivos avançados. “Carago” pode significar surpresa, afeto, indignação ou tudo ao mesmo tempo. E um foda-se é tudo, até exclamação. No Norte de Portugal a pronúncia é uma experiência sensorial completa.
Conclusão científica: quem acha que os nortenhos estão sempre zangados, sofre apenas de défice de exposição prolongada ao sotaque. Recomenda-se ouvir diariamente, de preferência num café saboreando um cimbalino, até o ouvido se adaptar e o coração também.
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