Todos os anos, a mesma liturgia: compra-se comida como se a família fosse um batalhão faminto regressado do Ártico. Resultado? Três bacalhaus, dois perus, arroz suficiente para alimentar uma aldeia inteira e rabanadas até Janeiro.
A apóstola do desperdício zero que há em mim, entra em modo tetris mental: "Isto ainda dá para amanhã! E para depois! E para a semana!" O frigorífico implora clemência, mas não há piedade.
No dia 26, começa a Via-Sacra das sobras: bacalhau à Brás, bacalhau com natas, bacalhau incógnito disfarçado de esparguete. E o peru ressuscita ao terceiro dia em sanduíches cada vez mais criativas.
Até ao Ano Novo, todos fazem o voto solene: "Para o ano, fazemos menos." Mas nunca se faz! Porque Natal sem excesso não é Natal — é apenas um jantar chato com um pinheiro decrépito a piscar no canto da sala.
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