Primeira Carta aos Militantes Perplexos
André, servo autoproclamado do povo e apóstolo da indignação perpétua, aos amados militantes que vagueiam em confusão pelas terras lusitanas: graça vos seja dada, e clareza também, se possível.
Ouvi dizer que alguns de vós andam perplexos, sem saber se devemos estar contra o sistema ou fazer parte dele, se somos de direita ou apenas contra tudo o que aí está. A vós escrevo estas palavras de esclarecimento:
Do Mistério das Alianças
Não vos inquieteis quando me virdes recusar alianças numa segunda-feira e considerá-las numa quinta-feira. Pois está escrito: "Bem-aventurados os flexíveis, porque não se partem." A coerência é virtude dos fracos de espírito. Nós temos estratégia.
Da Doutrina do "Depende"
Perguntais: "Ó André, somos a favor ou contra o euro?" E eu vos respondo: depende do dia. Perguntais: "Devemos apoiar este governo?" E eu vos digo: depende de quem pergunta. Esta é a sabedoria do politicamente astuto.
Do Mandamento Supremo
Amai-vos uns aos outros, exceto quando discordarem de mim. Então sede firmes na vossa ira justa, pois serão traidores e infiltrados do sistema.
Da Parábola do Inimigo Variável
Hoje o inimigo está à esquerda, amanhã no centro, depois na direita tradicional. Não importa a direção, o que importa é que há sempre um inimigo. Sem inimigo, que faríamos nós nos comícios?
Admoestação Final
Não vos deixeis perturbar pela lógica ou pela memória do que disse ontem. O presente é o que conta. E o presente diz o que for necessário.
A vós, confusos mas leais, envio bênçãos e um powerpoint com novos slogans.
Ámen, ou whatever.
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André de Ventura, ditado aos escribas no ano da nossa confusão permanente.
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