2025-12-31

Feliz 2026

Estamos naquele dia do ano em que a humanidade, por falta de melhor ocupação ou excesso de espumante barato, decide acreditar coletivamente na magia dos algarismos. E o calendário, esse artefacto administrativo que serve essencialmente para sabermos quando vencem as faturas, é subitamente elevado à categoria de divindade purificadora. 

A ideia de que podemos enfiar doze meses de prostração, más escolhas gastronómicas e decisões financeiras duvidosas num saco de lixo preto e deixá-lo à porta de casa às badaladas da meia-noite é, no mínimo, otimista. É o triunfo da esperança sobre a termodinâmica. Imaginamos que o tempo é um videojogo onde basta carregar no botão de reiniciar para as nossas dívidas morais serem perdoadas e o colesterol baixar por decreto. 

Há qualquer coisa de comovente nesta teimosia coletiva em acreditar que basta virar a folha para virarmos nós também. Como se a meia-noite fosse uma borracha mágica que apaga as birras, as E apesar da incongruência, eu também vou brindar. Não ao "ano novo", que não me deve nada nem me promete nada, mas à nossa infinita capacidade de nos enganarmos a nós próprios com tanto estilo. Se é para vivermos numa ilusão, que seja com uma taça na mão e a língua devidamente afiada. 

Feliz 2026, portanto. Que seja o ano em que finalmente... ah, deixem lá. Brindemos à tentativa! 😊

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