Num país onde a matemática é claramente uma ciência inexata, assistimos ontem a mais um episódio da série "Quem Conta Melhor".
Do lado esquerdo do ringue, as centrais sindicais bradavam orgulhosas: "3 milhões de grevistas! A maior greve de sempre! O país parou!" Do lado direito, o Governo, com ar professoral, ajustava os óculos: "Adesão inexpressiva. Entre 0% e 10% no privado. Nada a assinalar."
Claro, ambos estavam a contar as mesmas pessoas, no mesmo país, no mesmo dia. Mas aparentemente usaram calculadoras de universos paralelos.
A CGTP contou até três milhões (provavelmente incluindo quem estava de férias, baixa médica e até alguns reformados nostálgicos). O Governo, sempre meticuloso, só contou quem enviou email formal com assunto "Hoje estou em greve, com os melhores cumprimentos".
No meio desta confusão numerológica, o cidadão comum tentava apenas chegar ao trabalho — ou não — enquanto testemunhava mais uma masterclass portuguesa de como transformar números em ideologia e estatísticas em arma de arremesso político.
Afinal, em Portugal não fazemos greves. Fazemos eventos de interpretação criativa de dados. É muito mais divertido, embora infinitamente menos esclarecedor.
Moral da história: Ninguém sabe ao certo quantos aderiram à greve. Mas todos têm a certeza absoluta de que têm razão. E isso, meus caros, é tão português quanto o bacalhau e a saudade.
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