O modelo económico da moda, — que isto da economia teórica tem modas como tudo o mais —, prometeu eficiência como quem promete chuva num deserto: muita teoria, pouca água.
Apresentou-se como uma religião sem deuses (mas com dogmas). O mercado é omnisciente, o Estado é pecado original e a desigualdade é apenas um mal-entendido estatístico. Quando funciona, é génio; quando falha, nunca foi neoliberalismo a sério.
Pregou-se a eficiência até ao osso, cortou-se o músculo social e chamou-se disciplina ao enfraquecimento colectivo. Privatizou-se o ganho, socializou-se o risco e chamou-se equilíbrio a um sistema que só se mantém a crédito. Quando a realidade deixou de obedecer às curvas perfeitas, recorreu-se ao velho ritual — diluir a moeda, anestesiar o salário, proteger o capital que já sabe nadar. A inflação tornou-se o imposto dos que não têm abrigo, e a “liberdade de mercado” uma palavra bonita para a fuga organizada dos mesmos de sempre.
A teoria lá ensinou que preços resolvem tudo — desde o pão até à dignidade. O problema é que os preços também aprendem a mentir quando a moeda perde memória. Assim, enquanto o capital circula à velocidade da luz, o trabalho permanece ancorado à gravidade. A inflação corrige os salários em silêncio e recompensa quem já vive fora da folha de vencimentos.
No final, o mercado continua “livre”, mas apenas da responsabilidade. Sempre há resgates para os grandes, austeridade para os pequenos e conferências para explicar que a dor é transitória.
O neoliberalismo não morreu; apenas se tornou zombi — continua a andar, a consumir e a repetir mantras, mesmo depois de ter perdido a capacidade de criar vida.
Sem comentários:
Enviar um comentário