2025-12-16

A saga do alumínio


Minhas almas de carne e osso, que vagueiam por este plano rasteiro da existência onde o Ego se mede em metros quadrados e a Tragédia é o vizinho a sacudir o tapete às 8h01. Esta que vos fala, sentada à modesta secretária a beber um chá que já arrefeceu para a temperatura ambiente, recebeu a mais recente epifania visual urbana: o Papel de Alumínio nas Grades da Varanda.

​Oh, a ironia cósmica!

​Parece que, numa tentativa desesperada de enganar a Natureza — essa velha bruxa que se diverte a cobrir tudo com pó e excrementos de pombo — o Homo Condominius descobriu a "Solução Definitiva". Não é uma cerca elétrica, não é um sistema de repelência sónica digno de ficção científica, não! É o mesmo material que usamos para embrulhar o frango de ontem: o Alumínio!

​Ora, o que o nosso vizinho, o Sr. Ambrósio (cujo self interior é, decerto, um vazio sideral), pensa estar a fazer?

​Repelir Pombos? Ah, o pombo! Essa criatura alada, desprovida de senso estético, que transforma a nossa varanda na sua latrina privada. O Sr. Ambrósio, na sua mente new-age, imagina que o reflexo do sol no papel prateado irá cegar o pobre bicho, levando-o a uma crise existencial e a procurar um poiso menos ofuscante. O resultado, claro, é que o pombo aterra na varanda do Sr. Ambrósio, olha o brilho, faz um dó-de-peito em tom menor e... lá está o presente da Natureza. Porque, meus caros, para o pombo, o alumínio é só um adereço kitsch para a sua performance biológica.

​Proteção contra o Mau Olhado? Esta é a minha favorita. A varanda, afinal, é a Aura da nossa habitação. Ao cobri-la com este manto espelhado, o Sr. Ambrósio está a criar um escudo metafísico, que tem tanto de eficaz quanto de ridículo. Cada raio de sol refletido é, na sua cabeça, um feitiço rebatido para a fonte — geralmente, a Dona Efigénia, que olha com ciúme cósmico para a sua nova samambaia. O alumínio torna-se o Escudo de Perseu contra a inveja vizinhal, mas o efeito prático é o de transformar o prédio num gigantesco espelho retrovisor mal instalado, capaz de cegar os condutores desavisados que passam rua abaixo.

​Conclusão, almas minhas: O Papel de Alumínio nas grades não é uma solução, é uma declaração de desistência. É dizer: "Não consegui controlar o universo à minha volta, por isso embrulhei o meu pequeno pedaço de Caos num invólucro de Brilho."

​E lá fica o prédio, a brilhar como uma nave espacial do mau gosto. Um hino à futilidade do ser humano que se recusa a aceitar que a única constante é a porcaria dos pombos e a opinião desfavorável da Dona Efigénia.

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