Esboço sobre os tiques dos políticos
Não é bem que a gente não acredite neles, o que a gente não acredita é que eles acreditem. Talvez o problema seja apenas de cariz patológico, uma doença profissional adquirida ao longo dos anos, durante a escalada, no interior do aparelho partidário. A surdez, a cegueira, o autismo e a compulsão do discurso generalista. Como disse, uma doença profissional.
Os portugueses, quais extremados budistas, não são de extremos, nem à direita nem à esquerda, acomodando-se ao virtuoso “caminho do meio”, e votando ao centro. Naturalmente não tardou aos profissionais da política adaptarem-se ao luso-budismo, posicionando-se por forma a recolher o filão dos votos, ao centro. Temos assim um sistema onde a alternância democrática se dá entre o centro-centro-ligeiramente-esquerda e o centro-centro-ligeiramente-direita. A gente volta ligeiramente à direita quando nos dizem que as finanças públicas estão num caos, a gente volta ligeiramente à esquerda quando os ordenados sobem menos que a inflacção, a gente dança o vira, dando voltas sempre no mesmo lugar.
E porque a gente, por mais voltas que dê, vota sempre ao centro, criou-se no centro uma maioria acomodada: os profissionais da política ao centro, os da meia-direita mais os da meia-esquerda. Para estes profissionais da política é já um pouco indiferente o eleitorado português no seu todo. Digamos que interessa apenas convencer aquela meia dúzia dos “mais budistas que o buda”, teimosamente ao centro, que hora votam centro-centríssimo-ligeirissimamente-direita, hora votam centro-centríssimo-ligeirissimamente-esquerda, e de forma alternada, para que o cômputo geral seja um puríssimo centro, “o caminho do meio”.
Uma classe profissional acomodada e sem lutas sérias no exterior, uma vez que o ganha pão do partido está garantido ao centro, volta-se inevitavelmente para o ganha pão individual, que depende exclusivamente das lutas internas para subir dentro do partido.
Aqui temos o problema, tal como nos têm chamado repetidas vezes a atenção: uma avaliação externa é condição sine qua non para garantir a qualidade de um serviço. Sem uma avaliação externa, as políticas de promoção acabam inevitavelmente por cair no compadrio, ou pior, tendem a compensar quem se dedica à promoção interna da sua carreira, em detrimento de quem se dedica a cumprir e melhorar a missão original do serviço. Se as pessoas a quem o serviço serve são irrelevantes para o ganha pão, não sobe quem melhor serve, sobem os carreiristas.
A surdez, a cegueira, o autismo e a compulsão do discurso generalista? Sintomas de passar mais tempo preocupado com o que se pensa no interior do partido do que com o que pensa a gente cá de fora. Como disse, uma doença profissional.
Ontem pedi licença e hoje estou a cumprir o mais que merecido elogio. Porque há textos que apetece plagiar. Porque há quem diga muito melhor do que nos seria possível aquilo em que acreditámos. Porque o Draw merece mais visitas, mais comentários.
Porque me apetecia ter sido capaz de escrever este brilhante texto.
Não é bem que a gente não acredite neles, o que a gente não acredita é que eles acreditem. Talvez o problema seja apenas de cariz patológico, uma doença profissional adquirida ao longo dos anos, durante a escalada, no interior do aparelho partidário. A surdez, a cegueira, o autismo e a compulsão do discurso generalista. Como disse, uma doença profissional.
Os portugueses, quais extremados budistas, não são de extremos, nem à direita nem à esquerda, acomodando-se ao virtuoso “caminho do meio”, e votando ao centro. Naturalmente não tardou aos profissionais da política adaptarem-se ao luso-budismo, posicionando-se por forma a recolher o filão dos votos, ao centro. Temos assim um sistema onde a alternância democrática se dá entre o centro-centro-ligeiramente-esquerda e o centro-centro-ligeiramente-direita. A gente volta ligeiramente à direita quando nos dizem que as finanças públicas estão num caos, a gente volta ligeiramente à esquerda quando os ordenados sobem menos que a inflacção, a gente dança o vira, dando voltas sempre no mesmo lugar.
E porque a gente, por mais voltas que dê, vota sempre ao centro, criou-se no centro uma maioria acomodada: os profissionais da política ao centro, os da meia-direita mais os da meia-esquerda. Para estes profissionais da política é já um pouco indiferente o eleitorado português no seu todo. Digamos que interessa apenas convencer aquela meia dúzia dos “mais budistas que o buda”, teimosamente ao centro, que hora votam centro-centríssimo-ligeirissimamente-direita, hora votam centro-centríssimo-ligeirissimamente-esquerda, e de forma alternada, para que o cômputo geral seja um puríssimo centro, “o caminho do meio”.
Uma classe profissional acomodada e sem lutas sérias no exterior, uma vez que o ganha pão do partido está garantido ao centro, volta-se inevitavelmente para o ganha pão individual, que depende exclusivamente das lutas internas para subir dentro do partido.
Aqui temos o problema, tal como nos têm chamado repetidas vezes a atenção: uma avaliação externa é condição sine qua non para garantir a qualidade de um serviço. Sem uma avaliação externa, as políticas de promoção acabam inevitavelmente por cair no compadrio, ou pior, tendem a compensar quem se dedica à promoção interna da sua carreira, em detrimento de quem se dedica a cumprir e melhorar a missão original do serviço. Se as pessoas a quem o serviço serve são irrelevantes para o ganha pão, não sobe quem melhor serve, sobem os carreiristas.
A surdez, a cegueira, o autismo e a compulsão do discurso generalista? Sintomas de passar mais tempo preocupado com o que se pensa no interior do partido do que com o que pensa a gente cá de fora. Como disse, uma doença profissional.
Ontem pedi licença e hoje estou a cumprir o mais que merecido elogio. Porque há textos que apetece plagiar. Porque há quem diga muito melhor do que nos seria possível aquilo em que acreditámos. Porque o Draw merece mais visitas, mais comentários.
Porque me apetecia ter sido capaz de escrever este brilhante texto.
1 comentário:
Mais Vozes
On : 1/24/2005 4:34:49 PM Maria Branco (www) said:
De facto é um texto fantástico! E também eu gostaria de escrever algo assim! Os meus parabéns ao Draw! Obrigada aos dois pela partilha! Beijos Hipatia e Draw...
On : 1/24/2005 4:36:15 PM Maria Branco (www) said:
De facto é um texto fantástico! E também eu gostaria de escrever algo assim! Os meus parabéns ao Draw! Obrigada aos dois pela partilha! Beijos Hipatia e Draw...
On : 1/24/2005 4:39:40 PM Hipatia (www) said:
Até estás como eu, Maria... não nos chegam as letras para os elogios ao Draw: só mesmo a duplicar.
Beijo grande!
On : 1/24/2005 5:59:22 PM Caliope (www) said:
Eu, que nada percebo de política, gostei da parte do vira eheheh
Gosto da imagem dos tugas a dançar o vira.... eheheh De fatinho saloio e tudo.
Beijinhos.
On : 1/24/2005 6:14:46 PM Hipatia (www) said:
Mas tu lembras-te de cada uma... ainda estou para aqui a pensar numa história de nortes e cabeças e outras coisas e, um dia destes sai post. Às tantas, também lá meto o vira e o fatinho saloio
Beijo
On : 1/24/2005 6:27:54 PM Caliope (www) said:
Eheehh
Já sabes que sou uma subversiva.
Mesmo quando se está a falar de assuntos sérios, a minha mente estáa desenhar imagens distintas do tema a ser tratado...
P.S. Se quiseres ajuda para o post da guerra norte e sul, conta comigo. Esse é a minha áea preilecta de dssertação (hummmmm.... a preferida também não.... mas é uma que em faz soltar umas boas garagalhadas LOLOL)
On : 1/24/2005 6:28:57 PM Hipatia (www) said:
eheheheh
Tens tão bom gosto
On : 1/24/2005 6:32:56 PM Caliope (www) said:
P.S.
Devias ter vergonha Hipatia...........
Abusar assim do Draw Tsc Tsc Tu não deixaste escapar nem uma virgula LOLOLOL
Parabéns ao autor... E que me desculpem ambos o meu vira saloio à tuga LOLOL
Eheheheh
On : 1/24/2005 6:37:59 PM Hipatia (www) said:
Bem, o Zé Povinho fez anos há poucos dias... ele andou (quase) sempre acompanhado de uma tal de Maria Paciência. Talvez o Draw tenha suficiente dessa qualidade mariana para nos perdoar às duas os desatinos
On : 1/24/2005 6:54:33 PM Caliope (www) said:
Ai. BalhameDeus Mulheri.
O homi teria de seri santo...
LOLOL
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