2006-10-10

Curiosidade politicamente incorrecta


aqui


Vamos cá! Parece que são dez. Quer dizer, eu nunca fui à catequese, mas fui criada numa sociedade que se diz muito Católica. E também já vi nos filmes e houve aquele ano em que a minha mãe se esqueceu de assinar a dispensa e tive que gramar Religião e Moral até aquela santa senhora que dava as aulas me ter convidado a não pôr lá mais os pés… Por isso, são os tais dez e cá vou eu. Não vou criticar os Mandamentos. Longe de mim! Parecem-me quase todos tão bonitos (tirando a treta da castidade, mas lá iremos chegar), tão elevados, tão…

É que a questão não está nos Mandamentos, claro. Está na minha manifesta incapacidade para perceber como se pode violar praticamente todos e, depois, só porque se vai a casamentos e baptizados e se leva os filhos a terem a cabeça regada antes de poderem perceber o que se passa, ainda se achar que se milita no Catolicismo…

E este nem sequer pretende ser um post provocador. Claro que sei que o é, porque assim vai ser entendido. Mas não queria ser. Só gostava mesmo que alguém me explicasse como funciona a coisa. É assim como com as regras de trânsito, que todos as conhecemos, mas contornamos sempre que a polícia não está a ver? Mas é que neste caso, o vosso polícia não está sempre a ver? E – se há muito desistiram de ir à Igreja pedir ao padre as Ave-Marias de penitência – como convivem com a culpa de terem pecado tanto e tanto e tão repetidamente?

Gostaria muito de perceber como se faz isso de ser um Católico Não Praticante. E até onde vai e a partir de onde não pode ir mais. Dai que tenha ido buscar os Mandamentos e escalpelizá-los em função do que vejo ser feito à minha volta.

O primeiro é Amar a Deus sobre todas as coisas. Ok, este parece-me pacífico. Mas, caso o vosso coiro ou o da vossa família estivessem em causa, não era num piscar de olhos que O renegavam? Bem, pode ser que “coisas” não contemple seres vivos e talvez seja por ai que se dá a volta ao Mandamento… Alguém explica?

O segundo diz que não se deve invocar o nome de Deus em vão. Mas, mais uma vez, estou a ver o caldo entornado. Serei só eu que vê – e ouve – o nome d’Ele convertido em interjeição? E que a toda a hora O chamam pelos motivos mais comezinhos? E que até há quem, durante o orgasmo, berre bem alto por Ele?

Depois há a questão de guardar os Domingos e as Festas de Guarda. Isto não quer dizer que todo o rebanho se deveria deslocar ordeiramente até à Igreja mais próxima nesses dias? E porque fica tanta gente em casa? Ainda por cima, parece que há muito o dízimo já não é 10% do ordenado, por isso podem confiar que não vão dar mais do que o vosso tempo – e a salvação da vossa alma – cumprindo o sagrado terceiro Mandamento… E não, “a catedral” dos lampiões parece que não estava nos planos originais.

O quarto Mandamento compele a honrar pai e mãe… E, no entanto, quantos velhos não são abandonados onde quer que seja, sem merecerem mais do que uma visita anual, se tanto?

O quinto Mandamento diz para não matar… Pergunta de agnóstica convicta: os animais contam, certo? E as plantas? E nos países com pena de morte? A vida não é toda vida, ou só é toda vida quando nos interessa defender um qualquer argumento? Então que andamos todos a fazer à vida que nos rodeia e nos sustenta? E porque há ainda armas e exércitos e assassinos?

O sexto Mandamento é, então, para esquecer. Diz ele que é para não pecar contra a castidade. E gostaria mesmo de saber quem o pode realmente afirmar hoje em dia. É que nem sequer é virgindade. É castidade mesmo. Isso quer dizer que nem uma punheta, nem um vibrador, nem sequer joguinhos sem penetração. Casto é casto e não há cá nada disso, certo? (Ainda bem que não sou católica, ou então lá ia usar as palavras do poeta: “eu pecador me confesso”…) Como fica? Esquece-se este e tenta-se cumprir com todos os outros? É por isso que não praticam? Por praticarem de mais?

O sétimo Mandamento é não roubar. Ok, não precisam de dizer em voz alta ou sequer escrever a verdade… mas nem um plagiosinho quando não estava ninguém a ver? Um cinzeiro num bar? Um pacote de batatas de fritas (dos pequeninos, obviamente) na mercearia da esquina?

O oitavo Mandamento é não levantar falso testemunho. Parece-me bem! Mas também não quer dizer que temos que excomungar a maioria dos políticos, dos jornalistas e vários bloggers, bem como todos os fanáticos pelo futebol? E quantos de nós já não se saíram com uma frase do tipo “eu não tenho a certeza, mas parece que foi sicrano”?

O nono Mandamento é fixe! Deixa as mulheres puras, não é? Afinal, só manda não desejar a mulher do próximo. E, como as lésbicas não contam para o dogma, só os homens é que têm de prevenir-se. Para as mulheres hetero, é a festa. Força, meninas! O Mandamento é misógino, mas a culpa não é vossa! Não se esqueçam é da castidade...

O décimo Mandamento avisa para não cobiçar coisas alheias. É o caos! Numa sociedade como a nossa, onde objectos novos se anunciam em catadupa e o carro do vizinho parece sempre melhor do que o nosso, quantos – em consciência – nunca pecaram? E quantos não se preparam para pecar mais um bocadinho, indo empenhar a vida ao banco (a juros! Ai a usura!...) para ter um carro igualzinho ao do vizinho?

Sei que fui simplista e abusei. Mas a questão mantém-se pertinente para mim: ninguém precisa deixar de acreditar em Deus. Eu nunca deixei de acreditar no Divino… Mas precisam mesmo de normas e dogmas que não cumprem? Precisam dizer-se uma coisa que não são? O que é isso de ser um Católico Não Praticante?


___
Nota: A formulação dos Mandamentos é conforme o que consta na Wikipédia para o Catecismo Católico.

39 comentários:

Bastet disse...

De onde foste tu tirar esses dez mandamentos Hipatia Ludovina? Creio que o primeiro não reza como dizes. Vê Exodus 20.

Hipatia disse...

Achas mesmo que eu ia saber estas coisas de cor e por ordem? Fui aqui:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Dez_mandamentos

De acordo com a Wikipedia, serão estes os Mandamentos ensinados na Catequese, que é por onde comecei o post, dizendo que nunca lá tinha posto os pés. Se há mais do que uma versão, então isto é mesmo ainda mais complicado do que eu pensava...

É que, sendo a Igreja una, não será estranho que a wikipédia (brasileira, é certo) disponibilize uma versão que não é a única?

Oh caraças!

:S

Luis Duverge disse...

ZZZZZZZZZZZzz...não abia nexixidade.
Filha ... os dez bistos e rebistos por Moisés e confirmados por Nosso Senhor Jesus Cristo, Amen (repete tu tb filha). São a berção iluminada para o Homem e à sua imagem a Mulher seguirem o caminho da vida eterna, Amen (repete tu tb filha).
O Homem criou as suas próprias regras e desbiou-se do caminho de Deus. Criou a Constituição em Portugal ou se quiseres num bisão mais Univerxal Os Direitos Humanosss.
Reflecte comigo, filha. Quais são os que estão mais perto do céu ? E do inferno ? Achas que o noxo presidente Cabaco,o noxo Primeiro ministro Xoxé Sócrates (que nos faz a vida Grega), o Procurador Xeral da República nos podem salvar ?
Como bês o caminho está traxado e só Deus nos pode salvar,Amen(repete tu tb filha).
Vai em Pax e que o Senhor te acompanhe.

Hipatia disse...

lolada!

E então? És dos que praticam, portanto...

eheheh

(nunca estive num confessionário; se for qualquer coisa semelhante, ando a perder uma boa piada há anos)

Claire-Françoise Fressynet disse...

Fogo pá !!! não da para comentar que não li esse livro.Mas pelo que contas cheira a esturro .

Maria Arvore disse...

Julgo que todas as leis são produzidas com atraso. Ou seja, quando uma lei é promulgada é porque se quer corrigir algo que acontece com muita frequência e daí a necessidade da lei. ;)
Nesta linha, os dez mandamentos registam em termos históricos o que eram algumas das prácticas correntes na época.
Como são os mesmos que continuam em vigor, só posso concluir que o Catolicismo não conseguiu ao longo destes anitos convencer a maioria dos seus seguidores a alterá-los. ;)))

vanus disse...

Primeiro, uma coisa é a teoria e outra é prática; segundo, todos sabemos pela ciência (que é quem nos manda hoje) que uma não bate nunca certo com a outra; e terceiro só fui praticante ao 12, 13 anos, quando no meu colégio meteram um padre aí de uns 23 anos com um olho azul outro verde para nos confessar, as como umas semanas depois o mandaram outra vez para a irlanda devido às bichas na sacristia, deixei logo de acreditar em deus.

Resumindo, o que é preciso é darem-nos alguma coisa feito cenoura, e cenoura por cenoura, prefiro uma que possa trincar :)

Hipatia disse...

E nunca te tentaram ler o livro, Claire?

eheheh

Hipatia disse...

Essa explicação está espectacular, Maria Árvore. Nunca me teria ocorrido que há aqui um fenómeno de recorrência na violação legal e que só o facto de ser necessário legislar retrata tão bem o ponto de partida e permanência da inépcia de fazer cumprir a lei :))

A incompetência do bonecreiro é consequência da inamovível teimosia do boneco em mudar?

Anoche soñé que oía
a Dios, gritándome: ¡ Alerta!
Luego era Dios quien dormía,
y yo gritaba: ¡ Despierta!


António Machado

Hipatia disse...

Também não praticas, Velvet?

;-)

Hipatia disse...

Oh pá! Se me tivessem arranjado um padre de 23 anos, irlandês, com um olho de cada cor, eu também teria ido à missa. Até era bem capaz de ir lá à frente, abrir a boquinha, mostrar a língua, receber a hóstia e depois ir sentar-me, muito comedida, a pensar na cenoura :)))

Mas olha lá, não houve uma altura em que a Igreja dizia que um olho de cada cor era sinal do demo e/ou bruxaria?

Anónimo disse...

Suponho que um católico não praticante será alguém com uma fé mais ou menos vaga, que não se preocupa muito com as regras ditadas pela religião, ou porque tem a percepção de que as mesmas terão sido criadas por um maníaco emocionalmente desequilibrado e nada têm que ver com Deus, ou porque pura e simplesmente não perde tempo a reflectir sobre esses assuntos. E diz-se católico porque é essa a religião dominante, porque foi a religião com que cresceu e porque lhe confere uma carapaça de respeitabilidade sem lhe dar dores de cabeça. E também porque é uma religião que possui, convenhamos, templos mais que decentes, práticos amplos e frescos e à mão de semear. Quando questionadas, tais pessoas afirmam, e muito bem, que estabelecem as suas próprias regras com Deus na relação privada que estabelecem com Ele. Os mais doutos criam interpretações e simbologias. A maioria nem faz ideia do que isso seja. Perderam a noção de pecado. Parece-me aceitável. Afinal, não existe nenhuma religião conhecida que não venha ao nosso encontro ajoujada de ordens e mandamentos estapafúrdios impossíveis de cumprir e a renegar a natureza. A católica não é melhor nem pior que as outras.
O importante é que têm fé. Que é o que, verdadeiramente, me parece impossível de entender...

TheOldMan disse...

Esqueces que o cristão actual inventou uma boa maneira de lidar com a coisa.

Primeiro aligeira a importância do acontecimento (foi agora mesmo. Aínda nem é bem um pecado).

E depois pensam em algo que tenham feito de bom e que possa anular o peso da sua "irregularidade".

É claro que conseguem quase sempre compensar. É a isso que se chama agora "consciência cristâ".

No fundo o cristão moderno continua um pouco supersticioso.

;-)

Hipatia disse...

Mas, lindo, eu até percebo os teus argumentos; não consigo é entender como se é qualquer coisa pela negativa da própria essência do que se diz ser. Assumir uma religião implica - necessariamente - saber-lhe e seguir-lhe os ritos. E não me convence a treta de respeitabilidade: há muito que as pessoas não querem sequer saber a que deus veneras, ou não veneras, para te aporem ou retirarem qualquer resquício de respeito. Em muitos casos, esta é bem mais consequência de uma certa fama ou notoriedade e, quase sempre, da quantidade de poder que alguém detém.

Mas uma organização tem regras e implica, sempre, que aceites respeitar as regras que a regem. Não me lembrei de nada mais fundamental e regulamentar que os Mandamentos. Dai que continue sem perceber porque insistem as pessoas em dizerem-se Católicas quando, há muito, são para todos os efeitos tão agnósticas como eu. Foram - muitas delas - baptizadas à força (não tiveram escolha) e postas na catequese, tal como foram postas na natação. A fé - a tal "coisa" que não sabes o que é - já é diferente: eu acho que é preciso acreditar em alguma coisa. Pode não ser no Deus padronizado e inverosímil das religiões organizadas, mas acredito que o Homem carrega em si a necessidade de Divino. Nem que seja para deixar de ter de assumir todas as culpas :)

Hipatia disse...

Isso acredito mesmo: a superstição sempre foi um bom cimento para manter o rebanho ordenado. Aliás, as religiões organizadas sempre provaram serem excelentes fomentadores de superstições, enquanto se assumiam como as únicas capazes de as anular, mantendo assim o controlo de uma sociedade com potencial fragmentário. Mas, lá está, para isso "inventaram" umas quantas regras (nomeadamente as que invocam a infalibilidade papal), enquanto ao mesmo tempo se diziam as únicas depositárias do Verbo.

Dai que continue na minha: como ser, sem praticar?

Claire-Françoise Fressynet disse...

HIP: onde passas o natal?

Hipatia disse...

Passo o feriado em família a empanturrar-me de coisas que estou proibida de comer. Posso acreditar tanto que o Menino já nasceu (na antiga festa do solstício e tudo...) como no Pai Natal em cores Coca-Cola, mas um feriado dá sempre jeito ;-)

Anónimo disse...

"... Implica saber e seguir-lhe os ritos..."
Eu acho mesmo que a maioria não sabe, não reflecte, não questiona, porque muito simplesmente não pensa, não está nos seus hábitos, não lhes interessa, tanto faz e ser é fácil, ser católico parece bem, sei lá porquê, menos o sabem eles, nem sequer têm noção dos conceitos. Os poucos que o fazem arranjam soluções intermédias de compromisso. É simples.
Eu continuo a não ver assim tanta diferença entre deus (fé) e igrejas. As igrejas entretêem-se desde tempos imemoriais a incomodar o ser humano e a ignorar os animais e as plantas, angariando companhia. Deus é uma abstração fantasmagórica com a qual o ser humano se entretém desde os seus primórdios para iludir a solidão, esquecendo os animais e as plantas.
Dispenso ambas as formas de entretenimento, mas compreendo a necessidade, claro que sim, é óbvia e como tal digna do dó que lhe dedico.
Considerando o tempo há que anda sobre a terra, o ser humano, já seria de esperar que tivesse ganho juízo...

Luis Duverge disse...

Desculpa lá mas noltei aqui porque a bem da igualdade de religiões no mundo, e sendo este um blog unibersal, tens necexariamente de publicar um post idêntico sobre o Alcoitão, desculpa Alcorão dizendo à malta como são os mandamentos dos marranos. Eles lá vão ter com xéte Birgens tudo banhado num mar de leite e mel. Como é que é ? Nós Birgens nem belas, leite pode ser para eles, nós trocamos por xumo de uba. O mel, bem o mel era xe oubexe birgens, carago. Isto não é xusto, tu já biste logo xéte, agente aqui para arranjar uma birgem, espera ...já xei bou ao conbento ter com as nobixas, será que ...ali tem de ser ou axas que não ?
Bem filha que Alá esteja contigo e não te esqueças do Alcoit...Alcorão, mas bira o blog para Mecca, tu não te enganes eu dixe ... Mecca.

Anónimo disse...

Não me parece tão difícil: és católica porque és baptizada e acreditas em Deus (o Deus do papa) e em Jesus, etc. Não é praticante porque não rezas e não vais à missa.
São coisas independentes.
Podes ser do PS (porque te identificas com a sua ideologia) e não ser praticante (porque não vais aos comícios e se não gostares da cara do Sócrates até votas no PSD).
Podes ser do Benfica (porque te fizeram sócia quando eras pequenina) e não ser praticante (porque não alteras o teu programa para ficar a ver um jogo na tv, nem te passa pela cabeça ir ao estádio assistir a um desafio).

Hipatia disse...

O direito a acreditar parece-me legítimo, lindo. E - se não estivesse de alguma forma codificado nos nossos genes - com tantas provas manhosas dadas pela fé organizada, há muito que o Homem não fabricaria deuses e os adorava. Entra na mesma categoria do direito a pensar que deve existir mais vida no Universo, ou na capacidade de sonhar que se pode mudar o Mundo e, por isso mesmo, se dá o primeiro passo em qualquer direcção. Talvez por isso não confunda de forma alguma o direito a acreditar na obrigação de acreditar num Deus que outros desenharam por medida :)

Anónimo disse...

Isso. Penso que a sofia te deu uma resposta suficientemente lógica e clara para acabar com a tua inquietação. É-se católico como se é do benfica ou do ps e não há cá mais questão. Ponto.
Aliás, deixa-me que te diga que, considerando os conselhos habitualmente ministrados pela institução, os dez mandamentos nem sequer são particularmente revoltantes. Pelo contrário, a maioria até é bastante razoável. Já os pecados mortais, esses sim, são bem mais surreais...

Hipatia disse...

Nesse vespeiro não me meto, Luís :) Não querias mais nada, não é? Tantos anos de racionalismo ocidental haveriam de ter dado lugar a alguma coisa boa: é possível (apesar de estarmos a falar de algo que, quase sempre, não carece de explicação) falar e argumentar com os católicos, sejam eles praticantes ou não. Com os praticantes, mais dificilmente; mas com os não praticantes, é quase sempre possível entabular diálogo. Poderás dizer o mesmo sobre a maioria dos crentes islâmicos? Pois se, quase sempre, nem há separação entre lei divina e lei humana, se quem duvida (ou fala contra uma determinada interpretação do Corão) fica com a cabeça a prémio... Talvez daqui a uns 500 anos, quando os islâmicos olharem para trás e poderem fazer uma análise semelhante à que os católicos fazem hoje em dia da Inquisição e da Caça às Bruxas...

Hipatia disse...

Por acaso, não concordo, Sofia. Isto porque podes ser socialista sem ser do PS (novamente a diferença entre acreditar ou ser militante). Caso sejas do PS, com cartão e cotas pagas, por certo irás a comícios e afins. E respeitarás a chamada "doutrina partidária" no que toca a votos, bem como a hierarquia. O mesmo para o Benfica: se tens as cotas pagas (especialmente se te saírem do bolso) não vais nunca torcer pelo FCP. E, quem paga cotas, vê jogos. Não questiono o acreditar. Mas questiono quando dizem que são. Não vejo necessidade em dizerem-se uma coisa que não praticam, percebes?

Hipatia disse...

Os pecados capitais são muito interessantes mesmo, lol. A questão da gula e da luxúria, então... ui ui! Mas às tantas a Maria Árvore é que tem razão: são o exemplo perfeito de uma sociedade onde cada um deles era tão abundante que obrigava a legislação e ainda existem porque a legislação nunca foi cumprida :)))

Anónimo disse...

Desculpa mas, ao ver a tua resposta lá em cima, vejo-me obrigado a regressar para protestar. Primeiro porque insinuas que me consideras degenerado, coisa que não me considero nem por um momento. Está nos genes? Que ideia. Está na necessidade, mesmo. Quando escorregas no pavimento e te vês na eminência de te espalhar ao comprido sem nada que te dê a mão exclamas "valha-me deus!" e pronto, ficas nas mãos do acaso, que era exactamente onde estavas antes e nada mais. Não significa nada, mas podia ser que pegasse...

Depois baralhas a existência de vida extraterrestre, que é uma possibilidade científica mais que plausível - existem milhões de planetas e estrelas desconhecidos, não há razão nenhuma para supor que a terra tenha sido o único a ter criado condições de vida - ,com fé. Depois inseres ainda o sonho de mudar o mundo. Mudar mudar, alterar completamente, acho que ninguém quer, ninguém deseja que as árvores nasçam ao contrário, nem que os rios passem a desaguar no céu. Mas a história está cheia de exemplos de homens e mulheres que contribuiram grandemente para a sua imensa evolução um dos quais, dos mais falados por sinal, foi Jesus Cristo.
Confundes o natural com o paranormal, factos com superstições, realidade com imaginação. O que sem dúvida vem provar até que ponto a fé pode confundir o raciocínio de uma pessoa de bem.
Legítima? É capaz... Suponho que todos temos direito às nossas palermices privadas.
Deveríamos, contudo, evitar alardeá-las.
Não nos ficam bem ;)

Luis Duverge disse...

Eu pensava que isto era um assunto do planeta Terra, para ser levado com mente aberta, mas ao que parece temos extraterrestres e como tal não idêntificados. Muito bem então é assim:
1- Todas as religiões ao longo da história foram utilizadas pelo Homem para unir e mobilizar os povos em prol de uma vontade. Basta recordar Constantino e ver qual a opção estratégica que tomou para unir o império bizantino. As cruzadas levaram o cristianismo a lugares impensáveis À data.
2- Desde que o Homem pisa a Terra que existe a necessidade e as provas do ter fé. Quando o Homem rupestre pinta as paredes, quando são feitos os sacrifícios em animais e humanos, estamos a falar na evolução da fé ao longo do tempo. A mitologia Grega e Romana são exemplos disso. Tendo como fé o acreditar em algo superior e que "nos ajuda" ou serve de bengala psicológica nos momentos de desespero onde o racional não chega. Lembram-se do céu e do inferno, um acima das nuvens e o outro no fundo da Terra. Isto para não falar em todos os dogmas
que a religião Católica foi introduzindo ao longo do tempo.
3- A religião ainda hoje tenta travar a evolução Humana. Ao ser contra a clonagem de orgãos e de seres humanos, ao ser contra o aborto, ao ser contra os contraceptivos.
4- Hoje e basta olhar para as notícias de 24 horas no nosso planeta e perguntar, quantas pessoas (crianças, mulheres, idosos) morreram injustamente ? Quantos desastres naturais ocorreram e quantas vítimas pereceram ? As crianças Libanezas que ficaram subterradas foi em prol de quê ? Da religião Judaica ? O míssil teleguiado contra o quartel da ONU é o quê ?
Eu pergunto então já não aconteceram desgraças suficientes (vidas inocentes) para que Deus desça (e não percebo porque é descer e não será subir) à Terra ?
5- Jesus Cristo foi um Homem fantástico, disso ninguém dúvida. Com uma visão revolucionária e com espírito de missão. Numa sociedade em que os valores são idênticos aos de hoje ele inverteu completamente o sentido espiritual da vida e viveu segundo esses princípios. Mas a Madre Teresa de Calcutá e Gandhi também e ninguém o pode negar.
6- Para ser um Homem bom não temos de seguir os 10 mandamentos, ou ser fiel a alguma religião, os 10 mandamentos apenas são um resumo das 10 tentações, que à data eram mais praticadas. Nos mandamentos está reflectido os princípios básicos de um vida com regras e equilíbrio.
7- As expressões "Ai meu Deus" e similares reflectem toda uma cultura religiosa que tem subsistido. Quando dizes isso, não estás à espera que o teu "Deus" seja ele qual for te vá ajudar.
8- Quanto menos religião mais informação. Da mesma forma que quanto menos emoção mais razão. Embora a emoção, tal como a fé sejam uma mola que te projectam para lá do que alguma vez pensaste ser capaz de fazer.
9- O ser Humano seja ele qual for tem qualidades e defeitos, a forma como actua perante si e a sociedade são resultado de múltiplos factores psicossomáticos onde a Educação e a Formação são factores importantes que podem não ser impeditivos das maiores barbaridades. A invasão do templo por parte de Jesus e o modo pouco diplomático como correu com os mercadores, as invasões que ainda hoje se fazem (a do Iraque por exemplo) tem muitos seres cuja formação e educação serão considerados superiores. Mas continuamos a invadir, mesmo económicamente. Não me chega a loja de rua, a loja do supermercado, do hipermecado, do RetailParque, o conjunto de lojas no meu País, na Europa, nos Continentes, na Terra.
10- Engraçado a religião Católica está em todos os pontos geográficos referidos anteriormente e o Vaticano não é própriamente uma instituição de Caridade, nem a casa de Maomé nos Emirados Arábes seja comparável à manjedora onde Jesus nasceu muita coisa se subverteu.
11- Além do 10 existe a Educação Cívica que é pouco divulgada nos media e independente de qualquer religião.

Hipatia disse...

Estás a tresler o que eu digo, loiro? Tens dúvidas que um dos principais saltos qualitativos da espécie humana foi essa capacidade de se desprender do tempo presente, recordando o passado e imaginando o futuro? E que, ao fazê-lo, inventou essa capacidade mágica de acreditar: acreditar na “coisa” apenas imaginada, para depois dar-lhe forma; acreditar que há uma ordem implícita nos acontecimentos aparentemente fortuitos e que, por isso, podes acreditar que o sol volta a nascer amanhã, que uma determinada estrela volta um determinado ponto do céu, que voltou a ser hora de semear? Esta capacidade de acreditar no que não está lá, não existe ainda, é um acto de fé. É que fé, tal como a estou a utilizar no que escrevo, remete apenas para o fide do latim, i.e., confiança. A confiança de que algo é possível, pode acontecer. Não tem nada a ver com religião organizada e padronizada. Tem a ver com o que somos. E, do que somos, conhecemos ainda tão pouco, que me iriso sempre quando alguém começa a falar apenas em factos. Porque até os factos precisam da imaginação e, sendo que usamos uma ínfima parte da capacidade do nosso gigantesco cérebro, quem nos garante que os factos até hoje conhecidos chegam? E por que ser tão afoito em mandar o desconhecido para a franja do paranormal? Mesmo que eu não acredite – nem tu – que uma prece possa levar a uma cura, porque não aceitar que a vontade de cura de alguém e a sua necessidade de acreditar que vai ficar curada, não dão origem a um qualquer processo que resulta numa cura real? Para nós – que não sabemos acreditar assim – será sempre necessário descobrir o facto que deu origem ao resultado. Quem acredita chama-lhe apenas milagre. E esses, acontecem de facto a toda a hora. Somos, todos nós, tão diferentes e tão improváveis, sabemos tão pouco… Mas escolhemos acreditar. Seja em que for. E, por esse simples acto – que é, repito, um acto de fé – conseguimos desprender-nos da condição de ser sem passado nem futuro, incapaz de se imaginar como parte de uma grande estrutura, para lá da manada de búfalos a caçar, ou da árvore com os frutos mais maduros.

(degenerado, degenerado, não digo, mas… :P)

Hipatia disse...

Luís, bolas! Está ai tudo, ponto por ponto :) Digo-te, apenas, que quem me conhece acha que sou, por vezes, bastante moralista. Não hesito sequer em admitir que grande parte, senão todos, os princípios éticos e morais por que me rejo, são fundamentalmente judaico-cristãos. Afinal, sou fruto da sociedade em que cresci e vivo. Mas tento sempre, preferencialmente, deslocar os valores para um contexto cívico. Só ai eles me parecem fazer real sentido e só nesse contexto concebo uma capacidade minimamente adequada temporalmente às necessidades de mudança de uma sociedade em constante prgresso. A cristalização das normas e o consequente empobrecimento do pensamento, sempre provaram ser um instrumento de injustiça e, acima de tudo, um engulho na evolução.

Depois, há questão da diferenciação entre ateísmo e agnosticismo. Para mim está claro em qual deles me insiro :)

Anónimo disse...

Eu já não estava a falar de religião padronizada e organizada, fofa. Lol...
Estava a falar do que é lícito ou não acreditar, do que é legítimo esperar do futuro desconhecido, factualmente falando ou não, e que não é razoável acreditarmos em tudo o que nos der na gana, por mais colectiva e secularmente aceite que seja a crença, ou imaginativa a lenda.
Se eu te disser que acredito em porcos com asas escondidas entre os cascos, destinadas a despontar na calada da noite, permitindo aos seus utilizadores entrar em competição com as corujas nas caçadas aos ratos, ou que creio em rochas que recitam Camões ou que estou convencido ser uma reencarnação da Cleópatra, ou outro disparate que me ocorra no momento, também terei legitimidade, invocando direitos (que não conquistei) e os não sei quantos por cento de cérebro (que não conhecemos)? Porque desapareceu subitamante o divino do teu vocabulário? O que são, na realidade, "ordens implícitas", "coisas que podem acontecer", "algos" intangíveis, a não ser porcos com asas cuidadosamente disfarçados? Hein linda?
A capacidade de acreditar, se transformada em excessiva credulidade, nada tem de mágico. A capacidade de criar, de inventar criativamente relacionando os factos conhecidos com os mais confusos e aparentemente inexplicáveis, explicando-os, analisando-os, é que nos leva a descobrir os (muitos) que hão-de vir. Porque tudo, mas absolutamente TUDO (não te irises, please...) é um facto e como tal é passível de ser explicado e descoberto. Até mesmo a vontade, para pegar num dos teus exemplos. Porque não? Mas aí não entram, não podem entrar, fenómenos atávicos que mais não são do que a herança natural de milhares de anos de ignorância e obscurantismo e que por isso nada têm que ver com o nosso gigantesco cérebro por desbastar. Muito pelo contrário...

(Mas....?!!)

Hipatia disse...

Viste o post acima, fofo? Provavelmente, é uma iniciativa como tantas outras que não vai dar em nada. E, no entanto, quero acreditar que possa dar em alguma coisa; tenho fé que – de alguma forma, por uma qualquer inspiração – um dia destes não sejamos todos uma cambada de brutos, cada vez mais embrutecidos perante um dia a dia que nos rouba a esperança.

Para mim, o Divino tal como o entendo, é essa capacidade de pensar ainda a alternativa, mesmo quando a consciência do atoleiro onde nos afundamos me diga, hora a hora, que não há qualquer alternativa e que o bicho homem é assim mesmo e já não há nada a fazer.

O meu Divino é feito de esperança: esperança de que afinal não estamos condenados a este “estamos sós e sem desculpas”, de que falava o Satre. Porque no dia em que o Homem deixar de ter em que acreditar, no dia em que deixar de ter esperança, também não terá argumentos para tentar fazer ainda. Fazer ainda qualquer coisa, até um futuro melhor.

O “meu” Divino é uma muleta muito frágil, porque na grande maioria dos dias limito-me a duvidar. Mas está lá (cá?) porque quero que esteja, porque preciso que esteja. Está lá (cá?) para que o caos não me engula e anule, para que os acasos façam sentido, para que não fique condenada a uma vida sem vontade, sem esperança e, sim, sem desculpas.

Não, lindo. O Divino não desapareceu do meu léxico. Representa, talvez, um conceito diferente do teu. Só isso. Não se funde numa qualquer doutrina, nem suporta mais do que a incerteza. Mas está lá. E isso, para mim, é o mais importante.

Em que é lícito acreditar? Talvez apenas no que nos dá vontade de tentar fazer um Mundo melhor, inventar uma nova forma de transformar a água em vinho, ou tão simplesmente converter água salobra em água potável e, assim, inundar os campos da Etiópia; ou multiplicar os grãos que a EU desperdiça todos os anos e, assim, matar a fome em Angola; ou ver os poços de petróleo secarem enquanto alguém descobre como converter os grãos se areia do Sahara numa nova energia limpa e gratuita; ou que quando desejar que caia o pénis aos pedófilos, o meu cérebro esteja tão evoluído que, de alguma forma, os gajos percam mesmo o tesão… Se, para isso ou algo semelhante, tenho de dirigir uma qualquer prece feita à minha maneira, com as minhas palavras, dirigida a um Divino que desenhei à medida das minhas esperanças e dos meus sonhos, não me importa que o considerem crendice. Até um qualquer “deus est machina” me serve, feito de factos e de números. Ou um qualquer sopro de inspiração, ou a mão estendida atempadamente; ou esta vontade que tenho de ter direito a invocar o “meu deus desconhecido”, que me sorva a vida e o sangue mas, no fim, conduza a um lugar melhor.

E, quando tudo me diz que não há esperança, é nisso que acredito, já que é nessa vontade que nos move que fundamento grande parte do progresso humano.

Unknown disse...

Valeu a pena ler o post e todos os comentários, e julgo que a Maria_arvore disse tudo no comentário dela.
Os dez mandamentos são assim uma especie de codigo da estrada versão da igreja, todos os conhecem, mas poucos o cumprem. :-)

Hipatia disse...

Fiquei sem saber direito o que é um católico não praticante, mas, pelos vistos, assemelha-se a qualquer condutor português, lol

E, agora que estamos a cair nas estatisticas da sinistralidade, será que caminhamos para fundamentalistas? Aviso já que a burkha me fica muito mal :D

Anónimo disse...

Quando compreenderes que o mundo não pertence ao Homem, que já existia muito antes dele e que continuará muito para além do seu desaparecimento, talvez deixes de levar a vida tão a sério e esqueças essas esperanças tão ambiciosas quanto descabidas e vãs, apesar de muito simpáticas e consideradas nobres de acordo com os padrões dos últimos milénios :)
Não sei de que caos falas, eu vejo um mundo magnificamente organizado, feito de injustiças, crueldades e perigos, onde as secas em Africa, os pedófilos ou a fome não têm a menor importância, mas também de inúmeras coisas belas, se tiveres a sorte de poder gozar a voltinha no carrocel que te proporcionaram... até um dia. Alguns utilizam o passeio para tentar salvar o mundo. Acho muito bem, se os diverte. Dento de determinado ponto de vista, têm atingido coisas fantásticas, assim como outros têm cometido impensáveis atrocidades. Mas no lento rodar do universo, nada que conte, realmente. Podes acusar-me de frieza, indiferença, até de derrotismo, mas estarás equivocada. Tento apenas compreender o mundo que me deu a oportunidade de, por um momento, o espreitar e respeitá-lo da única forma que ele pode ser respeitado: aceitá-lo como ele é. Sei, e sinto-me afortunado por isso, qual é o meu lugar.
Tudo o resto não passa de soberba humana sem consequência.


(Mulher, n tenho tempo pa isto...!!! :D )

Hipatia disse...

Poder-se-ia desculpar a Humanidade de uma série de catástrofes ditas "naturais" e até culpar uma qualquer divindade irada da sua ocorrência e consequência. Mas há demasiadas catástrofes que são exclusivamente da responsabilidade humana e, para essas, há que arcar com as consequências, no pior dos casos, ou resolvê-las, caso ainda seja possível. O mundo não pertence ao Homem, mas o Homem parece não saber isso. É a maior praga que alguma vez percorreu a Terra, destruindo tudo no seu caminho. Que o engenho que levou a tanta destruição seja, um dia destes, voltado para a salvação é a minha esperança. Ai está a minha fé :)

No rodar lento do Universo talvez pouco conte; mas conta no tempo breve em que a essência que nos polvilha de vida consegue existir, brilhante como um farol.

(nem eu, lindo :))))

Unknown disse...

Estava a ver se me imaginava de burkha, mas não me parece! ;-)

Hipatia disse...

LOL

Dava era para aqueles dias de Outono em que nunca sabemos o que vestir ;-)

Anónimo disse...

Esperança vã, volto a dizer. Não se pode salvar o que, por natureza, não quer nem pode ser salvo. Porque não existem neste mundo tais coisas como "destruições" ou "salvações", apenas renovações. E as renovações implicam dor, sofrimento, morte. São elas a mais pura essência que brevemente nos polvilham de vida e que tu vês, poeticamente, como um farol.
Pode ser que o homem venha a ser a próxima grande catástrofe natural. E porque não? Afinal tem tanta legitimidade (aqui sim ;) ) para o fazer como uma qualquer chuva de meteoros vinda do exterior, ou como a chegada de mais um glaciar. A menos que invente um dia a imortalidade, do indivíduo, da espécie e do planeta, única coisa que verdadeiramente poderia fazer a diferença. Não foi por acaso que todas as religiões arranjaram uma imortalidade fictícia: só a ausência da morte pode transformar a natureza, do mundo e do homem. Um mundo que nunca se renovaria, igual para sempre. Sem crime nem maldade, porque haveria tempo para conseguir tudo o que se quisesse, pela forma correcta, durante toda a eternidade. A fome ou a sede deixariam de fazer mossa ou, sequer, sentido. Pensa bem, não existiriam mais pedófilos, porque já nem sequer haveria crianças :)))

É por esta salvação que anseias? Eu já nem digo nada, pode ser que o engenho do homem, se lhe derem tempo, venha a dar em tanto... ;)

Hipatia disse...

Numa coisa concedo:

Não há nada como um Papão para meter medo aos Homens. Odeio, detesto, abomino, a forma como todas as religiões monoteístas organizadas transformaram o Divino em Papão. Um Papão que não pode ser desobedecido, contestado, questionado, ou a punição deixa de ser acaso, passa a sina, pena perpétua, sem expiação.

Mas recuso-me a viver sem esperança, porra! E a esperança não precisa de factos. Nem de números. Nem de comprovativos. E a (minha) esperança também não almeja à imortalidade. Não há minha, pelo menos. Às tantas, à tua também não. Nenhum de nós fez ainda um filho. Mas os filhos que são, se não a nossa parte da linhagem que continua e progride? E que mundo ficará para eles e para os filhos deles e os netos e bisnetos? E para toda a vida com que partilha este pião azul e branco anacrónico? Temo que, desta vez, não sobre nada em que a vida se apoie para continuar a existir, para lá de umas quantas moléculas insignificantes, iguais às que encontras em qualquer chuva de meteoros.

A única coisa que sei é que a minha ideia de Divino é tão pouco regulamentadora, emboca de uma forma tão entranhada em noções de liberdade que, de forma alguma, se poderia traduzir em meia dúzia de patacoadas ensinadas de forma igual, compulsiva, sistematizada, a fedelhos que preferiam (sempre achei que preferiam) estar em casa a ver os Desenhos Animados.

Não questiono a Fé. Isso nunca! Todos têm direito a acreditar no que querem, como querem. Mas questiono as religiões. Ou, às tantas, nem sequer são as religiões, que me agrada até a velhinha ideia de "re-ligar" onde a palavra religião se consubstancia. Talvez questione apenas esta necessidade tão pragmática e tão pouco espiritual de transformar a Fé dos Homens em espectáculo mediático, cheio de tectos com anjinhos com pilinhas minúsculas, ou com tribunais persecutórios, ou com a sede de poder e a necessária prostituição a que isso obriga com os interesses de uns quantos; ou com a mania de serem donos de uma só verdade.

Mas a liberdade tem de estar lá. Até a liberdade para acreditar que não caminhamos para um qualquer Juízo Final que, afinal de contas, acontece em tantos sítios já hoje e nem sequer lhes prestamos atenção.