2007-08-17




... fui!

XIV.

aqui


V. e F. sonharam não estar sós. Sonharam no mesmo dia, à mesma hora, o caminho que um e outro estavam a trilhar nesse momento.

V. e F. sonharam um com o outro e, como Narcisos, apaixonaram-se pelo reflexo paralelo.

V. e F. criaram o acidente, o ponto de ruptura, a ponte.

V. e F. continuam em rota para o infinito, mas inventaram um imaginário diferente, povoado de ideias velhas pensadas de forma nova.

V. e F. quebraram a rotina ao sonharem a alternativa. E ergueram-se mutuamente aos pedestais onde antes haviam colocado os deuses, condenados a pés de barro e a serem apeados um dia.

V. e F. encontraram a curva do espaço-tempo e todas as possibilidades. Mas mascaram ainda a descoberta mútua de utopia.

Agora já podem dizer "bom dia" em sonhos e já sabem esperar o local onde a Voz e a Fuga passam a seguir o mesmo caminho.



Os outros posts desta série:

I
II
III
IV
V
VI
VII
VIII
IX
X
XI
XII
XIII

2007-08-16

Antecipando...


aqui


Hoje o dia tem gosto de segunda-feira; amanhã o dia terá gosto de interminável...

XIII.


aqui

V. e F. sonharam que existiam. Sonharam que tinham história, ganharam consciência de ser. Cada um à sua maneira, mas o mesmo sonho. Um sonho feito feitiço, questão intemporal.

V. e F. sonharam que havia mais do que só caminho. Sonharam o além da linearidade.

V. e F. não podiam sonhar o impossível, mas souberam sonhar o improvável, o que não há no seu mundo limitado de existências com rumo definido.

V. e F. sonharam o que nunca aconteceu e, porque o sonharam, a ideia tomou forma, passou a existir, encontrou um corpo de matéria e uma energia de luz.

V. e F. iluminaram as possibilidades para além das rotas deterministas e inventaram um acidente.

Se o soubessem dizer, se houvesse alguém para ouvir, expressariam a sua iluminação, luz brilhante, intensa, divina.

2007-08-14

XII.


aqui

No céu nocturno, uma galáxia baila, na sua forma espiralada, rematada em braços tentaculares. Um mesmo corpo, no entanto. Uma mesma gravidade. Uma mesma força centrífuga albergando mil sóis, mil hipóteses, mil destinos, paralelamente inconscientes do destino de cada um e do destino comum que os familiariza.

Onde está o ponto de partida? Existirá ponto de chegada? Como ficou assim ordenado em permanência o caos brilhante de estrelas? Onde se encerram as partículas da matéria e onde explode a energia?

Como se faz um Big Bang?

E onde se curva o espaço-tempo de cada vida breve, estilhaçando a linearidade paralela que a aprisiona no desconhecimento?

Inocência


John Atkinson Grimshaw - A moonlit road

(...)será inocente a nossa inocência? A inocência é um estado clandestino na ditadura do mundo;


Herberto Helder



Há uma inocência plácida e imberbe que me foge; há uma vontade enorme de não a perder completamente. E revolto-me...

2007-08-13

XI.


aqui

Existirá em nós uma memória ancestral, que carregamos connosco, inconscientes da sua presença? Existirá em nós um saber mais velho do que a vida, este pequeno fogacho de vida, que é cada um de nós? Existirá uma memória profunda, feita de ADN de estrelas, ou das regras da ciência, ou da alma das ilusões?

Onde guardamos o que sabemos não sabendo e que, num qualquer acaso, intuímos como verdade?

Porque necessitamos de deuses, de ordenar o caos? De explicar o inexplicável? Onde escondemos as circunstâncias que não sabemos acolher? Que parte delas enforma o tanto de desconhecido que carregamos em nós?

Seremos fortes o suficiente para inverter os rumos paralelos de vidas que não se encontram, acasos que não chegam a ser?

2007-08-12

Caramba!

.
...é de evitar a aplicação de macros à memória; quando o livre arbítrio escasseia do lado de fora, não há como não deixar que a memória se organize com a autonomia de voo de uma mosca, i.e., perfeitamente à toa; só assim é possível garantir alguma autenticidade na transcrição do passado de cada um.

José Quintas


Se mesmo um pouco zangado comigo me dás uma resposta assim à corrente que te passei, que acontecia se não te tivesse feito zangar?

Todos a bater palmas...


Spencer Tunick

...para dar os parabéns por quatro aninhos de muita coisa já contada a abrir o apetite para o que ainda há-de ser contado Chez Elle.

100 anos


aqui

Na frente ocidental nada de novo.
O povo
Continua a resistir.
Sem ninguém que lhe valha,
Geme e trabalha
Até cair.


Miguel Torga – Comunicado


Não fizessem ainda tanto sentido algumas das palavras que gostaríamos de ver esquecidas e enterradas como passado, talvez escolhesse outro poema. E, apesar de o meu favorito ser aquele em que a liberdade que está em nós é alcantilada à força de uma prece, deixo este comunicado que ainda não perdeu – infelizmente – actualidade.

2007-08-10

X.


aqui

Terá de ser inventado um acidente. Mas quem poderá inventar um acidente em caminhos avessos a choques, a confrontos? Quem poderá causar o descarrilamento do paralelismo paralisador, sempre a avançar em direcção ao que não está lá e é destino, meta construída de miragens, sem expectativas?

Terá de haver um acidente. Uma catástrofe, uma catarse. Terá de se provar errado o caminho ladeado de nada, feito de coisa nenhuma, que ainda assim é destino. Terá de ser quebrado o fado de dois nadas paralelos como as paralelas que os guiam.

Terá de se inventar um acidente. Um acidente que mude o mundo ao contrário, que glorifique o caos. Terá de se inventar um acidente que quebre as amarras do vazio paralelo.

2007-08-09

Delivery

Parabéns, Nadine :)

IX.


aqui


Não há ponto de partida. Não há ponto de chegada. Só um infinito virado oito, deitado, dorminhoco, preguiçando para além de qualquer verbo, desembaraçado de todo o apocalipse.

Linhas paralelas que se anulam mutuamente. E, no entanto, continuam lá. Existem fora da esfera da vontade, fora da zona de compromissos e dos contornos com que se amofina a rotina.

Linhas em espelho cego brilhante, sempre iguais. Rotas comprometidas com o desconhecimento, sem atritos, sem fricções. Sem sombras, sem fazerem qualquer sombra. Completamente incapazes de sombrearem a presença na ladeira comum.

Flores minhas...


aqui


As flores de estufa parecem-me sempre imperfeitas na sua beleza inteira.

Acho que gosto mesmo é das flores da beira da estrada, ou das que crescem selvagens pelos quintais, ou coladas aos muros e às paredes das casas. Flores onde a natureza se reproduz. Flores coloridas e perfumadas. Flores plenas.

2007-08-08

VIII.


aqui

Terá de existir um dia um acidente. Um acidente que reconheça que nada se faz com duas linhas paralelas, excepto continuar vê-las trilhar o seu rumo com destino a sítio nenhum.

Terá de haver um acidente, um erro, um quebrar de protocolos, de dogmas, de impossibilidades.

Terá de haver um dia um acidente e, após o desastre, já nada será linear.

Excepto talvez V. e F., ainda seguindo lado a lado, sem saberem que percorrem o mesmo caminho e sem imaginarem a intersecção.

Cansam-me cada vez mais estas paralelas sem encontro marcado com a curva onde a verdade se pode quebrar.

Joe Cocker - Summer in the City

É!

2007-08-07

VII.


aqui


Cansam-me os destinos paralelos. Cansam-me profundamente. Cansam-me de tão monolíticos, avessos a alternativas. Cansam-me na forma como se assumem "um", como o "um" passa a "único", como lhe colam um rápido "ismo" em contramão.

Cansa-me a cegueira; a incapacidade ou impossibilidade de verdade de um mundo perfeitamente ordenado no meio do seu paralelismo.

Cansa-me a mesma música, tocada da mesma forma, uma oitava abaixo ou acima e sempre com a mesma dissonância.

Cansa-me...

Só dez?


Magnolia, Paul Thomas Anderson, 1999



Edward Scissorhands, Tim Burton, 1990



City Lights, Charles Chaplin, 1931



Notorious, Afred Htchcock, 1946



All About Eve, Joseph L. Mankiewicz, 1950



Before Sunrise, Richard Linklater, 1995



Velvet Goldmine, Todd Haynes, 1998



Pleasantville, Gary Ross, 1998



The Constant Gardner, Fernando Meirelles, 2006



What's Eating Gilbert Grape, Lasse Hallström, 1993



Fui apanhada numa corrente que me pede Dez Filmes, Dez Cineastas. E cá vão eles (os primeiros que me lembrei, por isso devem estar bem) e amanhã logo vejo a quem passo isto :)


Passo a corrente à I., à Tuxa, à Fábula, ao Cap, à JP, ao Jorge, ao José, ao , ao Miguel e à Luna.

Enola Gay



Enola Gay, you should have stayed at home yesterday

2007-08-06

Can a man ever be too wet?


Ewan Macgregor

Se estava ali em baixo a cantar, porque não aqui mais acima a encantar?

Espremendo...


aqui

A Voz tem até ao momento 1176 entradas. Desafiada aqui há tempos pelo Gaivina (onde andará o passaroco?...) para escolher os que gosto realmente e aos quais dou (algum) valor, descubro que são pouco mais de 90. É uma percentagem assustadora!

VI.


aqui

V. e F. são comboios sem rota de colisão. São mapas indecifráveis feitos de hieróglifos sem Pedra de Roseta. Não há tradução da história de V. para a língua de F.; não há tradução da história de F. para a língua de V.

E também não é preciso. V. e F. desconhecem-se mutuamente. Não precisam inventar um lugar no seu real para o parelelismo desconhecido.

No entanto, V. e F. têm a mesma história. São as alternativas de um feitas rota no outro. Ou ao contrário. Porque V. e F. são dois destinos em tudo iguais. Nem bons, nem maus. Apenas dois destinos paralelos, incapazes de dizerem "bom dia" ao vizinho.

Será que só queremos conhecer o que julgamos existir?

2007-08-04

Can a man ever be too wet?


Christian Bale

Hmm...

Olha o balão!


aqui

Desculpem lá, mas se fosse para sentar o meu rabinho dentro de uma (possível) bomba, capaz de explodir na descolagem em directo para todas as televisões do Mundo, só mesmo com uma valente bebedeira.


2007-08-03

Can a man ever be too wet?



Acho que está na hora de animar o blogue. Ou pelo menos animar--me a mim, nesta contagem decrescente das férias que nunca mais chegam.


Estava a pensar num por dia. Escolho um loiro para começar. Hmm...





(
ficas muito chateada se aproveitar este para te dar os parabéns que ontem esqueci?)

V.


aqui


V. e F. não sabem ainda, mas o seu mundo está a encolher. Não a encolher o bastante para que possam, desta forma, conhecer-se. Mas a encolher, ainda assim.

Mas as paralelas não deixam de ser paralelas só porque o espaço que as desune se condensa em distâncias infinitesimais. O fosso continua lá, fundo, intransponível. E o fosso é também cortina de fumo e reposteiro de veludo escuro.

O mundo encolhe e, ainda assim, a partilha não desata os laços feitos pontes. É que não há pontes entre paralelas. Só nada feito espaço.

V. e F. são a improbabilidade, a impossibilidade matemática, o dogma intocável e irreversível feito palavra paralela.

2007-08-02

Meritocracia


aqui


Em Portugal, o mérito continua a esbarrar sempre no tamanho da cunha do gajo da frente. E o País é pequenino, até para as cunhas.

IV.


aqui


V. e F. são caminhos paralelos em momentos diferentes do espaço e do tempo. Não se encontram, não se medem, não concebem sequer o confronto improvável na simetria.

O velho não aprende com o novo. O novo não aprende com o velho. São caminhos paralelos distantes, que nem abeirando-se da balaustrada do destino conseguem surripiar uma miragem do outro.

V. e F. não se conhecem, nem conhecem sequer a possibilidade de se conhecerem.

V. e F. têm um caminho igual a trilhar, experiências feitas e sem sentido.

Que adianta saber o que se não pode partilhar?

2007-08-01

Plágio ou algo assim

Woven Hand - Sparrow Falls




Fiquei tão contente de ver o regresso!

III.


aqui


F. era destino cobiçado, capricho, onda de choque. Era rota vespertina imaginada pela manhã.

F. era trilho, sem muralhas nem prisões. Era o rio tumultuoso, em choque contra os pedaços do caminho.

F. era desígnio assolapado, conjuro de forças ancestrais. Era Astarte, era Ísis, a Lua, a Mãe Terra em combustão.

F. era fogo quente e velho, já borralho, sabedor. Era enciclopédia de oportunidades perdidas, dicionário de rotas novas.

F. era receptáculo, destino desprendido de acasos.

F. era fado já, cantando ainda um caminho.