2008-12-07

Das palavras

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«Para além de um ponto crítico dentro de um espaço finito, a liberdade diminui quando os números aumentam.»

Frank Herbert - Dune


Às vezes sinto que encho páginas atrás de páginas de palavras mudas, como se pelo número compensasse a pobreza implícita de palavras que não vibram.

Ou talvez seja por isso que dou ritmos às frases, abusando de figuras de estilo, para que não pareçam todas tão silenciosas, escritas em silêncio para em silêncio serem lidas.

Só que o número não resolve.

E amontoo palavras num espaço cada vez mais finito, o que pode, eventualmente, apenas conduzir ao caos. Como moléculas de gás aprisionadas, soltam-se depois iradas, enfurecidas, mudas ainda e cada vez mais pobres pelo gasto excessivo de energia.

8 comentários:

ikivuku disse...

Também já me ocorreu essa imagem de as palavras se comportarem como um gás. Do que aprendi quando estudei termodinâmica não me parece que tenhas que te preocupar. As moléculas que agitas com figuras de estilo aumentam de velocidade e quando confinadas a um espaço limitado provocam sensíveis aumentos de pressão e temperatura. O pior que poderá acontecer será uma violenta explosão. Mas infelizmente não será ainda amanhã a véspera desse dia.

Anónimo disse...

escreve-se em silêncio e lê-se em silêncio. é o melhor som do Mundo


cg

Fabulosa disse...

percebo. ou acho que percebo. não é a quantidade de palavras, as figuras de estilo, nem o ritmo, mas sim o que elas dizem que importa. =)

Hipatia disse...

Posso então estar descansada, que não vou fazer um big bang? Nem me admira, lol: acho que nem um big shsss conseguiria realmente fazer. Mas tenta-se ;-)

Hipatia disse...

Sempre achei que era mais complicado gerir o silêncio do que o ruído :)

Hipatia disse...

As palavras, nuas e silenciosas, sobre uma qualquer página que as carregue, esperam apenas que as preenchem de sentidos. E, quando não há mais nada além de meia dúzia de linhas e talvez um azul-cueca a pintalgá-las, por mais que o emissor tente, é no receptor que se concentra todo o ónus.

I. disse...

1 - Isso dos gases é um problema. Já experimentaste aero-om?

2 - Tu deves ser a irmã perdida do meu gajo. É. Os dois doidos pelo Blade Runner, os dois a ler Phillip K. Dick, e agora vai-se a ver também és fã do Herbert e sua saga do Dune, a mesma que já ocupa uma prateleira inteira lá em casa?

3 - Não me parece que as tuas palavras pequem por pobreza, finitude ou seja lá o que for. Liberta as que te apetecer, quando te apetecer. A malta cá vai passando e lendo ;)

Hipatia disse...

1.Acho que estes gases não passam assim tão facilmente, lol.

2.É, às tantas somos cunhadas e nem sabemos, eheheh. Obviamente que gosto do Herbert. Muito! Eu até do filme gostei :D

3.O formato post é fácil. Eu acho, pelo menos. Mas, ao mesmo tempo, nessa facilidade queremos pôr tanto que acabamos a esgotar algumas palavras. As mais complicadas, talvez, por mais usadas ou abusadas e por serem aquelas aparentemente mais simples. São essas as que mais facilmente precisam romper o silêncio e também as que ficam mais amputadas no seu sentido se não chegam a ser recebidas na melhor das condições por entre o ruído deste meio.