Isabela
E nem é tanto pelo plágio em si, mesmo que também seja. Tal como disse na altura, a licença autoral que subscrevi até é a mais ligeira, a que menos restrições impõe a quem quiser usar as palavras que, ao longo destes quase cinco anos, foram sendo esparramadas pelo Voz em Fuga.
O maior dano veio da devassa, com origem no tipo de texto plagiado. Não vieram cá buscar textos sobre política, economia, qualquer fait-divers da actualidade. Vieram buscar textos onde o que estava exposto eram sentimentos e vivências pessoais. Por mais que já tudo tenha sido dito e redito, aquela era a minha forma de dizer, a minha experiência, o meu feitio. E, quando isso acontece (mesmo que há distância de anos aqueles até nos pareçam hoje textos infinitamente pobres e inacabados), é realmente a apropriação da nossa intimidade o que mais nos afecta e agride. A pulhice do plágio é também insidiosa por isso, por ser mais do que roubo, por ser uma invasão.
A Isabela fechou o blogue porque foi alvo de um tipo de abuso ainda mais destrutivo do que o plágio. Foi citada (sem autorização, é certo, mas com referências à autoria suficientes para que o plágio nunca pudesse ser invocado) por um sítio de extrema-direita, misógino, racista e reaccionário (não faço o link; há coisas que também é nosso direito não divulgar) que pegou nos seus textos – profundamente pessoais, concordasse-se ou não com eles – sobre o Mundo Colonial tal como a Isabela o viveu e percepcionou enquanto participante activa, os descontextualizou e os (ab)usou para defender uma ideologia que não é, de forma alguma, a ideologia política da Isabela.
E, neste mundinho pequeno de blogues e de inter-referência entre pares cada vez mais limitado, quase todos os que se escandalizam por tudo e por nada reservaram à Isabela muito menos revolta, indignação e exposição do que um caso como o dela realmente merecia. Isso, visto deste canto perdido e esquecido (que também chega atrasado ao assunto), do blogue marginal (assim o quis e quero) que sempre se recusou a sair da margem, é percepcionado como uma verdadeira filha da putice. Onde está a indignação que cresce sempre tão lesta quando o assunto remete para os conhecidos de sempre? Os comentadores do costume – os que vão sobrando, pelo menos – têm agendas evidentes e a Isabela não faz parte delas. E a blogosfera é, cada vez mais, coutada privada de muito poucos e de interesses ainda mais limitados.
Um blogue como o Voz em Fuga não representará nada, a minha indignação ficará aqui para muito poucos a lerem. É certo que é culpa minha, que a marginalidade tem sempre consequências. Mas não consigo evitar lembrar que quando cá cheguei, ou no ano anterior, ou até no ano seguinte, um tema destes tinha dado a volta três vezes a uma blogosfera indignada. Hoje, nem merece um rodapé. E o mundo perfeito acabou. Acabou mesmo!