aqui
A Cristina quer saber onde estava eu na véspera da Revolução. E como a Cristina pergunta, eu respondo. E aviso já que quero que a Maria Árvore, o Cap, a Deep, a I., a Emiele, o Carlos, o Bartolomeu e a Fabulosa (desconvocada por falta de comparência) me contem também.
Ora bem, acho que já não sou a primeira a admiti-lo, mas não faço mesmo ideia do que fiz no dia 24/04/74. Sei, pelo menos, onde devia estar: em casa. A minha irmã tinha nascido há um mês, a minha mãe estava de licença, a minha avó tinha ido ajudar. E eu, nos meus três anos feitos quatro dias antes da minha irmã nascer, estava confinada à casa do recém-nascido e às pancas de fedelha que tinha deixado de ser filha única. Do dia 25 já me lembro. Mas não tenho memórias gloriosas: lembro apenas que queria ver os "Mikis" (desenhos animados) e só dava a mira técnica e música. É uma pobre lembrança de um dia em que sei que o meu pai telefonou para casa a avisar que estava um carro de guerra em frente à Câmara do Porto e a minha mãe telefonou para o emprego, que por acaso era para o Exército, e o amigo que a atendeu a tratou como a uma desconhecida qualquer. A partir dai, a família mobilizou-se: o meu avô, de pé partido, foi ao Banco levantar todo o dinheiro – que ninguém sabia o que ia acontecer – e tratou-se de abastecer as despensas. Também se distribuíram as espingardas de caça pela família. Depois, voltou tudo à normalidade e eu tinha outra vez desenhos animados. A festa a sério, aquela que foi vivida realmente como consagração, aconteceu mais tarde, no 1º de Maio. Disso, lembro lindamente um mar de gente e a felicidade profunda nos olhos do meu pai e do meu avô. Quase tanto como se afinal ainda estivesse a acontecer um outro parto na família, um que tinha demorado demasiado tempo a acontecer.
Ora bem, acho que já não sou a primeira a admiti-lo, mas não faço mesmo ideia do que fiz no dia 24/04/74. Sei, pelo menos, onde devia estar: em casa. A minha irmã tinha nascido há um mês, a minha mãe estava de licença, a minha avó tinha ido ajudar. E eu, nos meus três anos feitos quatro dias antes da minha irmã nascer, estava confinada à casa do recém-nascido e às pancas de fedelha que tinha deixado de ser filha única. Do dia 25 já me lembro. Mas não tenho memórias gloriosas: lembro apenas que queria ver os "Mikis" (desenhos animados) e só dava a mira técnica e música. É uma pobre lembrança de um dia em que sei que o meu pai telefonou para casa a avisar que estava um carro de guerra em frente à Câmara do Porto e a minha mãe telefonou para o emprego, que por acaso era para o Exército, e o amigo que a atendeu a tratou como a uma desconhecida qualquer. A partir dai, a família mobilizou-se: o meu avô, de pé partido, foi ao Banco levantar todo o dinheiro – que ninguém sabia o que ia acontecer – e tratou-se de abastecer as despensas. Também se distribuíram as espingardas de caça pela família. Depois, voltou tudo à normalidade e eu tinha outra vez desenhos animados. A festa a sério, aquela que foi vivida realmente como consagração, aconteceu mais tarde, no 1º de Maio. Disso, lembro lindamente um mar de gente e a felicidade profunda nos olhos do meu pai e do meu avô. Quase tanto como se afinal ainda estivesse a acontecer um outro parto na família, um que tinha demorado demasiado tempo a acontecer.
21 comentários:
pois, eras mais pucanita que eu :))
mas o primriro 1º de Maio, realmente, só não se lembra quem ainda não era nascido:))
BEIJOCAS
Já vou responder, mas minha querida, de várias formas tenho «respondido» a essa questão no Pópulo quando tenho falado nos outros anos nos passados meses de Abril. Quando conto histórias desse dia são a maioria delas «autobiográficas».
Sou bem mais velha do que vocês, e o dia mais feliz da minha vida se excluir o nascimento do meu filho. Para «ajudar á festa» faço anos nesse dia!
Vou-te já responder ;) mas o onde estava é tão prosaico e pucanino que só rindo :P
O 1º de Maio de 74, foi a confirmação por parte da população (sobretudo operária), de que aceitavam e compreendiam as consequências do golpe de estado ocorrido uma semana antes.
Agora, a título de curiosidade e acerca dessa pergunta mítica, "onde estavas na véspera, ou no dia 25 de Abril de 74", tenho uma recordação que considero engraçada, pois vivi uma cena do tipo "quinta dimensão", eu conto.
Quando se deu o 25 de Abril tinha 18 anos e tinha começado a trbalhar ha um mês e pouco numa empresa ao início da rua do Alecrim.
Tinha nessa altura conhecido uma senhora com quase o dobro da minha idade (35) anos com quem iniciei 2 dias antes do golpe de estado, uma relação... de flirt. Na véspera da revolução tinhamos jantado e assistido (se não estou em erro no São Jorge) a uma sessão, em seguida, ela sequestrou-me ;) num quarto de pensão em Santos. Foi uma noite de ginásio e pela manhã, encontrava-me completamente extenuado. Porém, o sentido de responsabilidade obrigou-me a sair daquele edílico leito e a encaminhar-me até ao Cais do Sodré.
Mal chegámos à rua, notámos que algo de diferente se passava, tenho a sensação que até a luz do dia estáva diferente, muito poucas pessoas na rua, etc.
Demos um beijo, despedimo-nos e comecei a andar meio inebriado, quer pelos efeitos da noite, como pela atmosfera que não conseguia identificar muito bem.
Ao chegar ao largo, depois de percorrer a distância sempre sob aquela sensação incómoda de algo em suspenso no ar, encontro o início da rua dio Alecrim vedada ao trânsito e dois colegas do novo emprego que me esclarecem atabalhoadamente que tinha havido uma revolução e que não podíamos passar, que podia ir para casa e regressar no dia seguinte. Foi ouro sobre azul, rumei à estação dos comboios, direitinho a casa e à cama, onde o guerreiro descansou saborosamente os ossos.
Poderia algum dia esquecer-me de onde estive na véspera do 25 de Abril?
Isséquera!!!
Não vai ser fácil responder, porque não me lembro de grande coisa. Eu era pequena e Trás-os-Montes ficava (e ainda fica!) tão longe, que até os ecos da Revolução demoraram a chegar cá.
De qualquer form, tentarei.
Boa semana. :)
ora que carga de trabalhos... não tenho uma ideia concreta da "véspera"! provavelmente apenas nas minha rotinas, e talvez ai arranje pano para o fato pois elas eram garridas... olha vou ter mesmo de matutar. tentar colar imagens do 25A e dias seguyintes e ver se desencanto algo d erelevante na véspera_mas com poucas esperanças, que as minhas rotina era muy castamente despistadas...
;)
Pois era pucanina :) E disse-te que não ia ter uma resposta de jeito ;-)
Eu sei, Emiele. Mas como te andaste a queixar de que este ano e coisa e tal que o 25 até ficou pobrezinho e não sei quê, achei que não havia mal em fazer-te pensar num post sobre a véspera ;-)
Somos da mesma colheita, lol. Deves ter uma memória do assunto tão boa como a minha :D
Bartolomeu, vou pôr-te ali em cima na "lista dos convocados". Assim, transformas esta resposta que me deste em post lá no teu. É que eu acho que esta memória merece ser post. Grande revolução! :D
A I., tu e eu não podemos mesmo contar grande coisa. Mas vê só que coloquei na lista a Fabulosa a pensar que me ia responder que estava no berço e, vai-se a ver, só nasceu três anos depois :D
Carga de trabalhos? Grunft!
(não precisa ser nada de relevante; acho que nem toda a gente se poderá gabar, como o Bartolomeu, de ter andado aos tiros, eheheh)
Caraças que só vi agora!
Dá-me sff uns três quartos de hora que já venho responder.
E é para responder aqui (ou não)?...
É que aos 10 anos eu ainda não tinha sexo, só uns beijinhos de lábios fechados. ;)))
Ah estás aqui! Estava a acabar de perguntar ali em cima se tinhas visto este :D
E respondes onde quiseres, já sabes. Que se há coisa que se conquistou foi liberdade para dar beijinhos onde quiséssemos. Mas aqui não podes mandar beijinhos aos outros ;-)
Então se permites, Hipatia, eu prefiro falar aqui, apenas pela razão que vou dizer coisas demasiado pessoais que não diria no meu blogue. Pelo 25 de Abril eu fiz post no dia 25 e no dia 26 e digo em todo o lado que o considero o dia mais importante da minha vida.:)
Já o dia 24 foi a mesma rotina de qualquer dia de semana dos meus 10 anos. De manhã, escola. Depois, almoço em casa. Depois ATL, para fazer os trabalhos de casa e preparar o espectáculo - teatro, canto e dança - de final de ano, e ali ficava até às 5 da tarde. A seguir ia para a colectividade onde alternava os dias de ginástica com as actividades lúdicas para jovens e onde aprendi as canções que com o maior dos espantos ouvi pela rádio no dia 25 de Abril, e que me tinham recomendado muito que não as cantasse pela rua. Foi por isso mesmo que não tive dúvidas no dia 25 de que o que estava a acontecer só podia ser uma coisa boa. Até pensei que o monitor do grupo que tinha sido preso há uns meses poderia sair da prisão e, em verdade, ele saiu de Caxias no dia 27.
A minha única pena foi no dia 25 de Abril o meu pai e o meu irmão terem saído para a rua e deixarem-me em casa com a minha mãe e as abençoadas telefonia e televisão ligadas. Disseram-me que era perigoso levarem-me e ainda, a grande afronta ;) de que eu era miúda. Mas vinguei-me no 1º de Maio em que saí com a família toda para a rua e mesmo ali à minha frente na manifestação, a um palmo de mim, estava ao vivo e a cores o José Gomes Ferreira, o escritor que eu adorava porque acabara de ler As Aventuras de João Sem Medo.
já tá. também pouco havia para contar :(
Já tens a resposta no Letras... com pouquíssima cor!
Eu percebo (mais ou menos) que prefiras dizer aqui e és bem-vinda, já sabes. Mas quando o nosso blogue deixa de ser um espaço onde podemos dizer coisas pessoais, não estará na hora de ter um outro (secreto ou quase) onde podem ser ditas todas as coisas?
Lembro-me que já uma vez me tinhas falado desse animador de tempos livres que estava preso em Caxias. Aliás, lembrei-me disso quando escolhi aquele poema de Sophia de Mello Breyner Andresen que deixei ali em baixo no post sobre o Salazar e o seu novo largo.
E essa treta do que podia ou não podia ser feito por mulheres e meninas foi, provavelmente, uma das mais duradouras conquistas daquele Abril distante. Ou melhor, daquele 1º Maio onde já todos fizeram a festa.
Se "aquilo" era pouco para contar, Carlos, vou ali e já venho :)
Belo post, homem!
Tem a cor que basta, Deep. E parece que um crucifixo que demorou mais tempo a apear do que aquele da escola primária onde andei: esse foi-se com a foto do velho :)
Mais Vozes
responder a essa questão vai ser um problema... eu até nasci em Abril e tudo, mas nessa altura corria o ano de 77...
fabulosa | | Email | Homepage | 04.26.09 - 11:16 pm | #
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eheh
Acho que fiz mal as contas: achei que eras de 74 e estava à espera que me respondesses qualquer coisa tipo "estava no berço"
Hipatia | | Email | Homepage | 04.27.09 - 6:32 pm | #
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eu sei que tenho bastantes cabelitos brancos, mas este ano fiquei-me pelos 32...
fabulosa | | Email | Homepage | 04.27.09 - 9:40 pm | #
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Já foste desconvocada
Hipatia | | Email | Homepage | 04.27.09 - 9:42 pm | #
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