2009-04-30

O Mundo (im)perfeito

.
«os textos que aqui publiquei pertencem-me inteiramente do ponto de vista legal e não tolero que sejam usados para fins que considero moralmente questionáveis.»
Isabela


Aqui há tempos, a propósito de uma infeliz situação de plágio, disseram-me (acho que foi a Catarina) que os nossos textos nunca voltam a saber ao mesmo. Esforcei-me – tenho-me esforçado – para não deixar que isso me aconteça e talvez por isso ando a repescar alguns textos antigos para a primeira página. Mas não tem chegado e, para além do esforço consciente para não me deixar abalar pela sacanice alheia, o certo é que ando bem menos fluente na escrita desde aquele momento.

E nem é tanto pelo plágio em si, mesmo que também seja. Tal como disse na altura, a licença autoral que subscrevi até é a mais ligeira, a que menos restrições impõe a quem quiser usar as palavras que, ao longo destes quase cinco anos, foram sendo esparramadas pelo Voz em Fuga.

O maior dano veio da devassa, com origem no tipo de texto plagiado. Não vieram cá buscar textos sobre política, economia, qualquer fait-divers da actualidade. Vieram buscar textos onde o que estava exposto eram sentimentos e vivências pessoais. Por mais que já tudo tenha sido dito e redito, aquela era a minha forma de dizer, a minha experiência, o meu feitio. E, quando isso acontece (mesmo que há distância de anos aqueles até nos pareçam hoje textos infinitamente pobres e inacabados), é realmente a apropriação da nossa intimidade o que mais nos afecta e agride. A pulhice do plágio é também insidiosa por isso, por ser mais do que roubo, por ser uma invasão.


Na altura em que essa historieta aconteceu, retive sobretudo a experiência maravilhosa da solidariedade. Tinha sido verdadeiramente mais difícil de aguentar se não tivesse havido tanta gente a chegar com um comentário, uma palavra de força, até visibilidade em sítio alheio, sobre o que estava a acontecer. E, por isso mesmo, neste post faço um parêntesis para voltar a agradecer cada palavra a todos os que vieram compartilhar a minha indignação. Soube bem e ajudou, meus amigos!

Quando detectei textos meus plagiados, a Isabela tinha sofrido o mesmo abuso no mesmo sítio: cópia integral, sem referência à fonte e autoria, de textos que eram íntimos e, por isso mesmo, haviam sido profundamente devassados. A lei reconhece e pune o plágio – mesmo num mundo difuso como é este dos blogues – e, nesse sentido, era profundamente evidente a malfeitoria de que havíamos sido alvos. Perante a exposição que foi dada ao tema, o blogue plagiador desapareceu e a Isabela e eu continuamos. Mas agora O Mundo Perfeito fechou.

A Isabela fechou o blogue porque foi alvo de um tipo de abuso ainda mais destrutivo do que o plágio. Foi citada (sem autorização, é certo, mas com referências à autoria suficientes para que o plágio nunca pudesse ser invocado) por um sítio de extrema-direita, misógino, racista e reaccionário (não faço o link; há coisas que também é nosso direito não divulgar) que pegou nos seus textos – profundamente pessoais, concordasse-se ou não com eles – sobre o Mundo Colonial tal como a Isabela o viveu e percepcionou enquanto participante activa, os descontextualizou e os (ab)usou para defender uma ideologia que não é, de forma alguma, a ideologia política da Isabela.

E, neste mundinho pequeno de blogues e de inter-referência entre pares cada vez mais limitado, quase todos os que se escandalizam por tudo e por nada reservaram à Isabela muito menos revolta, indignação e exposição do que um caso como o dela realmente merecia. Isso, visto deste canto perdido e esquecido (que também chega atrasado ao assunto), do blogue marginal (assim o quis e quero) que sempre se recusou a sair da margem, é percepcionado como uma verdadeira filha da putice. Onde está a indignação que cresce sempre tão lesta quando o assunto remete para os conhecidos de sempre? Os comentadores do costume – os que vão sobrando, pelo menos – têm agendas evidentes e a Isabela não faz parte delas. E a blogosfera é, cada vez mais, coutada privada de muito poucos e de interesses ainda mais limitados.

Um blogue como o Voz em Fuga não representará nada, a minha indignação ficará aqui para muito poucos a lerem. É certo que é culpa minha, que a marginalidade tem sempre consequências. Mas não consigo evitar lembrar que quando cá cheguei, ou no ano anterior, ou até no ano seguinte, um tema destes tinha dado a volta três vezes a uma blogosfera indignada. Hoje, nem merece um rodapé. E o mundo perfeito acabou. Acabou mesmo!

36 comentários:

Maria Arvore disse...

Não acompanhava regularmente. Mas quando espreitava via um blogue feito com pés e cabeça e é pena, porque como se costuma dizer «os bons morrem cedo».

Toze disse...

Um dia espero vir a ser plagiado, e quando acontecer, então ficarei a saber que aquilo que escrevo é mesmo de boa qualidade !

E por seres "boa"
Toma lá um beijo :)

Hipatia disse...

Estas coisas a mim irritam-me profundamente. E este caso em particular deixa-me furiosa. Já quando dei com o Voz seguido por um daqueles robots manhosos numa treta qualquer de mulheres nuas ou lá o que era passei-me; nem quero imaginar o que fazia se me acontecesse uma destas, porra!

Hipatia disse...

Nem digas uma coisa dessas, Tozé! Não ias gostar. Nunca sabe a elogio!

Micas disse...

Isabela (A Micas é a minha cadela que agora também tem um blogue)

Obrigada por esta reflexão. Senti-me de facto muito maltratada pela blogosfera. Não era o plágio em si, quero dizer, a mera cópia, mas esta questão da usurpação de uma mensagem que para mim tem algo de sagrado, estar a ser usada exactamente por quem nunca poderia servir-se dela para esses fins. Tu poderias ter pegado naquele texto e ter-te servido dele para documentar a realidade colonial. Nem precisavas de me perguntar se podias. Estou farta de ver textos meus sem link pela blogosfera fora. Mas aqueles indivíduos, que pretendem servir-se dele para mostrar como deveria ser o mundo e infelizmente, para eles, já não é, não poderiam tê-lo feito. É imoral. E enquanto eu for viva e puder estrebuchar, tenho de me revoltar, de me manifestar.
O feedback que recebi foi o de uma série de pessoas que não viam problema nenhum ali, e que achavam que o que escrevemos é domínio público, e que portanto, podem usar e abusar. Houve ali algo de contra natura que me perturbou. A indiferença. O desrespeito pelo que é nosso e que não vale nada mas que afinal agrada todos os dias a 500 leitores que ali vão voluntariamente ler o que produzimos. Mas que é uma merda e não nos pertence.
E tu percebeste bem o que eu senti. obrigada. Devo dizer que me sinto justiçada desde que uma pessoa me tenha entendido. E tu entendeste.

Hipatia disse...

O que é legal ou de acordo com a lei é apenas uma ténue linha divisória. Não reflecte nunca cabalmente o que é imoral ou amoral, o que consegue escapar legalmente pela porosidade da ética. Ter um blogue aberto ao público acarreta o risco de nos virem buscar os textos e abusarem deles. Sabemos isso e, de certa forma, até aceitamos esse risco. Mas isso não implica que sejamos objecto de abuso e devassa. Para além de tudo o que possa ser dito sobre a utilização formalmente correcta de um texto publicado, há a deturpação abusiva e ideologicamente fraudulenta dos textos. Se quando é cópia sem referência resume-se o caso ao preto e branco do é crime, é roubo, não deixa a apropriação – mesmo com as necessárias referências –, lá porque está em conformidade com a forma de fazer, a ser eticamente correcta. Poderiam ter posto quantas citações quisessem, mas se há subjacente uma ideologia que não é a nossa e, a vários níveis, profundamente reprovável, então não basta nunca o preto e branco. A lei não pode ver apenas a forma – e não o faz – qualificando também em função da intenção. E, no teu caso, a intenção é desonesta, mesmo que a forma seja válida. É por isso que não entendo que achem que é possível baixar os braços. Muito menos entendo que, andando tantos de nós por aqui e sujeitos à mesma violência, tantos se predisponham a não dar valor ao episódio. Sofreste uma agressão e uma violação dos teus valores e princípios. Usaram os teus textos como se fosse válido transformá-los num qualquer abjecto panfleto de extrema-direita. Isso costumava contar para alguma coisa; costumava ser suficiente para tantos que apregoam aos quatro ventos Abril e a democracia fazerem mais do que olhar para o lado. Mas afinal parece que, no meio de agendas várias, isso agora pouco importa. Pois olha: a mim importa; e eu vi; e indignei-me. Não podia ficar calada.

Anónimo disse...

O seu Blog acabou há 2 dias e eu já sinto tanto a sua falta. Fazia-me bem à alma,era quase um vício lê-lo. Por favor, volte.

Hipatia disse...

Olá anónimo. Vou apagar dois dos soluços repetidos, ok? Mas, já agora, como vai saber a Isabela a quem tanta falta faz? Um e-mailzito não servia?

Anónimo disse...

Como eu lamento tudo quanto aconteceu… Por ti: pelo esbulho e indecoroso uso do fruto da tua criatividade; Por todos nós, teus seguidores indefectíveis: pela privação de um bem a cuja fruição nos habituaste, consubstanciado no teu jeito de transmitir as tuas inquietações, na tua irreverente visão do mundo, nas pertinentes explosões de "mau feitio", no mordaz derrube de bacocos pedantismos e demais pecadilhos por aí campeiam; tudo isto sempre suportado por uma bela e irrepreensível prosa.
Resta-me a esperança de que, passado o luto, reapareças, e que eu saiba buscar-te, lá, onde quer que te encontres.

Rui Silva

fado alexandrino. disse...

Vim aqui ter graças a um texto de Eduardo Pitta.
Não percebo tanto barulho.
O que havia a fazer era ir ao tal blog e contrariar com palavras o que quer que lá estivesse escrito.
A Dona isabela não permitia comentários aos seus escritos.
Isso é o primeiro passo para criar equívocos.

Hipatia disse...

Isso mesmo, Fado Alexandrino: vá a um site de extrema-direita "contrariar" escritos. Vá e que lhe faça bom proveito, especialmente quando lhe caírem em cima e ainda não tiver percebido o barulho. E tem a certeza que conhecia o blogue da "Dona" Isabela? É que eu por acaso conhecia-lhe caixas de comentários.

fado alexandrino. disse...

Hipatia disse...

Nunca me acanhei de defender as minhas ideias em todos os blogs onde entro.
Se a senhora tem medo de lhe baterem na blogsfera é lá consigo.
O blog da dona isabela fazia censura aos comentários.
É a mesma coisa de que não autorizar comentários e revela que se tem medo de defender as ideias próprias.

I. disse...

Achei a situação execrável. Só descobri na quinta feira, porque deixei de ter feeds e fui lá espreitar a ver se percebia porquê. Fiquei abananada. Tenho muita pena que acabe o Mundo Perfeito.

(olha que ando seca e fartinha da blogosfera, sabes? é impressão minha ou isto parece uma imensa Caras, onde se desfilam vaidades, onde ninguém já tem respeito pelo alheio -seja criação ou sentimento - onde a devassa é considerada normal porque os mais lidos são aqueles que abrem as portas à tal devassa, expondo a sua vida e da sua família. que saudades do saudável anonimato)

Anónimo disse...

Cheguei aqui através do blog da Isabela que, descobri hoje, fechou. Gostava que tivesse sido "fechado só para obras" mas parece que é por "falência". E tenho pena, muita pena. Não só por acabar um blog que eu visitava regularmente mas proncipalmente pelas razões que levaram ao seu encerramento. Compreendo mas não consigo aceitar. Não consigo aceitar que alguém se deixe condicionar desta forma. Há que usar esse meio poderoso que é o blog para utilizar como arma de arremesso e devolver e dizer de sua justiça e denunciar e .... tantas outras coisas. Como disse, compreendo a atitude da Isabela mas tenho pena, muita pena.
Inês

Iris Restolho disse...

Não vou fazer novo comentário sobre o fim do Blog da Isabela, pois já o fiz no seu blog.

Vou sentir falta, muita falta, pois foi dos primeiros que eu comecei a ler e o que me fez querer ter um também, mas compreendo as suas razões, compreendo o que ela poderá ter sentido.

No entanto, ao dar com este blog vejo aqui um comentário do Sr.Fado Alexandrino que me deixou em brasa, com uma vontade de dizer alguma coisa e apesar de ter ponderado não o fazer, foi mais forte que eu.

Fado Alexandrino,

O facto de um bloguista regular os comentários é mais do que uma opção, é uma necessidade. A moderação não é censura, é somente isso mesmo: moderação. Algo que impede o descarrilamento do propósito do blog.

Eu sempre comentei as mensagens da Isabela e não me recordo de algum ter ficado por postar, mesmo aqueles que eram contra a opinião expressa por ela.

E como é que o facto de alguém moderar comentários, dá o direito a um blog de extrema direita, descontextualizar uma mensagem de outrem? Porque me parece isso totalmente despropositado e resultado de algum ressabiamento?!

Para além do dito blog ou site, nem sequer permitir comentários e apenas ser possível contrariar, através do envio de uma mensagem, a legitimidade da utilização de algo já postado. Mesmo assim, eu comentei, com certeza que a Isabela também o deve ter feito, mas que eu saiba e da última vez que lá fui, ainda lá estava.

Não me parece que o seu comentário faça mais sentido que o sucedido. Talvez seja por isso que não percebe o barulho...

Anónimo disse...

Estou desolada com o fim do blogue O Mundo Perfeito. Eu entrei nesta história dos Blogues em Janeiro de 2008, descobri o blogue da Isabella acidentalmente e devo dizer que passou a ser o meu preferido.
Mais, dia a dia, fui lendo todos os posts que escreveu desde 2004. E ainda há uns tempos atrás fiz copy do post "Um estilo de vida cancerígeno", para enviar a uma familiar que foi "largada" depois de uma relação de cinco anos.
E, esse post, fez-lhe bem à situação depressiva. Fartou-se de rir. E como esse, há montes de textos que são verdadeiras obras primas. Espero que volte, e que eu descubra qual o nome do novo blogue. É que eu já a sentia como fazendo parte da minha família....

fado alexandrino. disse...

Minha senhora, compreendo muito bem a sua imitaçãozinha.

Quem quer escrever muitas das vezes com polémica mas não tem estômago para ler as críticas, compra uma daqueles caderninhos que se vendem na FNAC senta-se à lareira escreve as coisinhas e guarda na gaveta.

E sim, a Isabela censurava muitos dos comentários que lhe eram desfavoráveis (o meu caso) porque nunca teve capacidade para entender uma crítica e aliás até chegava a insultar quem dela discordava.

Quem dorme com duas cadelas na cama em vez de se importar com o que um blog de extrema-direita escreve, devia era dar-lhes uma dentada.

Hipatia disse...

A todos, não tenho tempo agora para responder, mas hei de voltar.

Ao Fado Alexandrino: o ressabiamento e a dor de corno são coisas pequeninas e muito feias. E mais do evidentes em cada um dos seus comentários. Mais uma dessas acerca dos cães e vai ver que, neste blog, a má-fé também vai num instante para o caixote do lixo. Se foi isso que andou a escrever no blogue da Isabela, nem admira que não tenha sido publicado. Já agora, aviso também que costume pespegar com comentários parvos na primeira página e com identificação do autor. Assim, fica toda a gente a saber, em lugar de passar quase despercebido numa caixa de comentários. É que ter um blogue pessoal dá-nos o direito de nos recusarmos a ver as caixas de comentários transformadas em esgoto. E eu tenho por hábito fazer a descarga, ao mesmo tempo que ponho a nu a mesquinhez alheia. E ao que vinha, ficou logo evidente naquele primeiro “Dona Isabela”. Pois eu – nem nenhuma das pessoas que passam por este blogue – temos de lidar com comentadores que não comentam, apenas se queixam e deixam transparecer o fel. Se nem a diferença entre um site de extrema-direita e a blogosfera em geral você é capaz de fazer, aviso já que não é bem-vindo. E quem não é bem-vindo, é apagado. A escolha é sua, meu caro: ou vem aqui e não falta ao respeito a ninguém, ou sou eu que não tenho qualquer obrigação em respeitá-lo, coisa que você está a fazer muito difícil de acontecer.

Carlos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
fado alexandrino. disse...

Muito obrigado.
Estava aqui a contar os minutos que faltariam até a senhora se dar conta que não tem capacidade para ter uma caixa de comentários aberta.
Em compreendo que vocês funcionem em circuito fechado e quando uma, ainda por cima um Ídolo, mostra um pezinho de barro a incomodidade seja geral.
Conforme pode verificar lendo novamente o que escrevi não está lá nenhuma mentira, mas às vezes a verdade é incomodativa.
É preciso muito arcaboiço para responder a todos os comentários, quer os muito inteligentes vindos das senhoras quer os grunhos vindos do tal blog de direita.
Não se incomode a fechar os comentários.
Passei por aqui vindo de outro lado e foi este o único post que li.
Pelo que vejo da sua atitude não vale a pena ler os outros e nem sequer me vou dar ao trabalho de responder mais.
Passem bem e juntem-se no chá das cinco.

Hipatia disse...

I., a questão é mais grave do que ser apenas uma Caras, como dizes. Há, acima de tudo, falta de ética e também há muita gente que - e isso já se sabia - se acoberta do anonimato e de alguma desregulamentação do meio para pensar que tudo é possível, tudo pode ser feito e tudo pode ser dito, sem receio de levarem os sopapos a que, fora daqui, estariam sujeitos. Obviamente que quando se fala da extrema-direita temos, então, uns caramelos de palas, muito fortes em bando, convencidos das suas visões deformadas do Mundo e completamente irracionais. E todos estamos sujeitos a levar com um desses cromos em cima.

Hipatia disse...

Inês, bem-vinda ao Voz em Fuga. Nesta caixa de comentários – que nunca esteve moderada ou sequer fechada – são sempre bem-vindos todos os que vêm por bem :)

Hipatia disse...

As caixas de comentários do blogue estão abertas e vão continuar a estar. Também não são moderadas. Acha mesmo que me dava ao trabalho de mudar essa situação por alguém como o Fado Alexandrino? É que nunca temi dar resposta, muito menos apagar quem for malcriado. E você estava a ser. Se não entende isso sequer, quem sou eu para lhe dar o chá que nunca tomou em pequenino? Vá e não volte, então. Gente mal-educada não faz por aqui falta alguma.

Iris Restolho disse...

Caro Fado Alexandrino,

Não é uma iritaçãozinha, isso passa com pomada e anti-estamínicos, é mesmo algum espanto perante o rol de disparates por si proferidos. Mesmo num blog, onde os comentários não são moderados (algo que diz respeitar), o Sr. consegue arranjar problemas, imagino por isso as incongruências que deveria dizer à Isabela.

Existe uma enorme diferença entre discordar e expor ideias e simplesmente contrariar, sem sentido e educação.

Começo a compreender que não foi educado para perceber tal subtileza.

Boa sorte!

Isabela Figueiredo disse...

Convém esclarecer o seguinte:
Fado Alexandrino era um dos meus fãs em primeira linha. Posso disponibilizar os comentários desvelados que me foi deixando no blogue.
Acontece que quando eu escrevia sobre transsexualidade, homossexualidade, machismo, etc., estes assuntos incomodavam-no muito. Incomodavam-no tanto que se tornou muitas vezes inconveniente. Por esse motivo censurei-lhe comentários na última fase. Nunca fui muito de eliminar comentários, mas há casos pontuais em que o fiz exactamente por uma questão de poder, para tornar muito claro que ali mandava eu. Não que me interessasse a opinião expressa por ele, mas porque o blogue era meu e me apetecia fazer alguma selecção da frequência.
Na verdade, o que ele pensa sobre a dona Isabela, não aquece nem arrefece. Nem sobre a dona Isabela nem sobre grande coisa, de forma geral.

Paulo Sustelo disse...

Sem querer fazer desta caixa um posto dos correios, gostava de perguntar à Isabela:

E se nos levasses à rua ?

Isabela Figueiredo disse...

Sustelo,
explica-me lá bem quem és tu para que eu tenha vontade de te levar à rua?
É que eu não vou assim à rua com qualquer um.

Paulo Sustelo disse...

Isabela,
sou um homem casado, com uma carrada de filhos.
A Isabela é uma personagem muito interessante e, a fazer fé no que diziam alguns comentadores do seu extinto filho, uma mulher linda. Reconheço o dilema mas de momento não tenho intenções de encetar qualquer relação extraconjugal.
Não enjeitava tomar um café consigo mas a minha pergunta era dirigida às suas crónicas: para quando um novo blog ?

Lamento que possa ter tido alguma influência no fim do mundo perfeito.

jpt disse...

Há muito tempo que não lia o blog mas recordo de quando o conheci ter achado uma boa escrita. Uma atitude algo abrasiva, fui abandonando, mas isso já são os gostos de cada um. Agora encerrar o blog porque alguém se apropriou de textos acho um bocado excentrico - mais que não seja dado que quem escreve num blog sabe que essa ~e uma hipótese constante. Mas a excentricidade é muito legítima ...

Agora com o que nao concordo nada é com o discurso do "ai, ai, a blogosfera agora é uma miséria, tipo caras e isso, no nosso tempo é que era ...". Francamente ,,,

Hipatia disse...

Será um discurso perfumado com uma nostalgia semelhante àquele que se tem pelo radio-amadorismo, JPT? ;-)

jpt disse...

ok, vénia

I. disse...

Meu caro JPT, que eu nem conheço de lado nenhum, francamente, ou não se deu conta ou certas nostalgias são boas e outras não?

É que o paralelismo que eu estava a tentar fazer partiu de um raciocínio que passo a explicar, para que veja que nem sou dada a nostalgias nem a saudades do meu tempo (o meu tempo é este, que ainda não estou nem velha nem esclerosada).

Quando neste país surgiu a Caras, que eu comprei umas vezes por curiosidade, fiquei perplexa com a facilidade com que as pessoas abriam as portas de sua casa, expondo a sua intimidade, a um público feroz que se alimenta de fofoca e não está nem interessado no bem estar ou integridade dos expostos. Hoje em dia, com a blogosfera, cada vez é mais comum as pessoas exporem toda a sua intimidade, com pormenores que vão desde o que vestem, onde moram, que carro guiam, onde os filhos vão à escola. Dos comentários percebe-se que os leitores babam com esta exposição, sentem-se em casa, entram sem limpar os pés, e apropriam-se da vida dos outros que se sentem na liberdade de comentar com toda a franqueza. E depois sentem-se à vontade para o fazer em qualquer lugar, e não entendem quando algumas pessoas os põem fora porque não estão para aturar estas atitudes.

Embora não pareça ter nada a ver com o que aconteceu com a Isabela, a verdade é que ela, que nem se expõe muito nem à sua vida privada, mas conta histórias que viveu, foi expropriada de uma dessas histórias para uso de uma ideologia que lhe repugna.

O que estes fascizóides fizeram não me parece muito diferente, em termos de motivação e carácter, da atitude sopeirinha daquelas e daqueles que abrem um blog onde se entretêm a lançar atoardas sobre bloggers ou não bloggers famosos (ou menos famosos, mas muito visíveis), a esmiuçar a vida alheia, como abutres em carniça.

Cada vez há menos (sou uma leitora de blogs há um porradão de anos, e esta é a minha experiência) pudor em distinguir a linha entre a esfera do outro e a esfera individual. Choca-me, porque esta também é uma atitude que se nota cada vez mais "cá fora".

E se isso parece nostalgia, azarucho.Eu acho que é nostalgia do futuro, porque acredito que as coisas vão ter que mudar. Tenho muita pena que cada vez veja menos respeito pela esfera pessoal e individual, que haja tanto despudor na apropriação daquilo que não é nosso. E isso vai ter que mudar.

(desculpa lá Hipatia esta apropriação, mas não há pachora para levar cházadas de quem não me conhece, e ainda por cima com atitudes de tanta sobranceria. eu também não conheço o JPT, mas ao ler o seu comentário veio-me à memória a imagem do Eduardo Prado Coelho - coitado, que já lá está - a puxar fumaças do cachimbo enquanto lança um "francamente!". é que eu posso ser uma blogger de meia tijela, sem pergaminhos nem links, mas cá por trás do teclado está uma pessoa que também come e caga, tal como o JPT.francamente.)

jpt disse...

Eu acho um absurdo isto do "nem o conheço". O que é isso, escreve-se num blog e apenas podemos dialogar com os que conhecemos (pessoalmente? do entrebloguismo explícito regular?).
Ou temos blogs com comentários abertos apenas para ali os outros expressarem a absoluta concordância? Caso não se concorde é o radical silêncio, o clic-clic vai embora ...? ou então "vá cagar ao mato"?
É uma resposta estapafúrdia (se é que é assim que se escreve). Fica V. com a sua hiper-sensibilidade e ficarei com o meu silêncio, tudo bem.
Não sem antes referir: comecei a blogar lá pelos finais de 2003. Em Maio Junho de 2004 pus para lá uns posts a resmungar contra aqueles que protestavam, já saudosistas, com o estado do bloganço português, que dantes é que era bom, que havia outro comportamento, que então já só eram VIPS a apropriarem-se, superficiais no entre-elogios, a apropriarem-se destruindo o que era dito ser "uma comunidade".
Cinco anos depois, por razões que podem ser muito legítimas, V. irrita-se e tem mais ou menos a mesma opinião. É legítimo, com toda a certeza. Deixa-a pública e permite que alguém desse público discorde, ou a associe a um discurso recorrente. "Francamente" é assim mesmo. Entre animais racionais que defecam. E que blogam.

I. disse...

Tem V. toda a liberdade e legitimidade para discordar. Afinal vivemos em liberdade. E não teria quaisquer problemas em aceitar uma discordância, e até debater opiniões diferentes. Mas não foi isso que fez. O que V. fez foi comentar de forma jocosa e até pedante a minha opinião, com esse tal "francamente". Isso não é discordar, é colocar-se acima da discussão, com uma atitude de "esta nem me merece o tempo nem o trabalho".

Não discuto que não lhe mereça o tempo nem o trabalho. Mas como o não conheço de lado nenhum, não tenho que lhe aturar os "francamentes" que lhe apetece atirar-me.

E, veja lá, até me dei ao trabalho de explicar (demorada e maçadoramente) o meu raciocínio. Com essa atitude, coloquei-me à mercê da crítica alheia. Porque qualquer um teria toda a legitimidade para me dizer "não concordo". De seguida, poderia explicar porquê, expor a sua argumentação. Mas não. V. não o faz, limita-se a arrumar aquela com quem não concorda com um "francamente".

Neste momento, já não me faz lembrar o EPC, mas aquela personagem que o caricaturizava na Alexandra Alpha (e cujo nome agora não me ocorre, mil perdões).

Humildemente me despeço, e rogo-lhe que não gaste nem mais um segundo do seu precioso tempo a ponderar as minhas imbecilíssimas palavras ou a fumá-las na sua irritação.

Anónimo disse...

Mais Vozes

eu não era leitora d'o mundo da isabela, mas li o teu texto e sinto uma grande vontade de bater nessa gentalha... roubar palavras proferidas por nós é tirar-nos personalidade, mesmo num blogue. o que é nosso é nosso!
fabulosa | Homepage | 04.30.09 - 10:56 pm | #

--------------------------------------------------------------------------------

Também eu, Fab. Também eu. E é mais do que palavras: é roubar pedaços de vida a outros e desvirtuá-los. Isso, mais até do que as palavras, é o que me deixa muito, mas mesmo muito irritada.
Hipatia | Homepage | 04.30.09 - 11:17 pm | #

Elisabeth Lorena Alves disse...

Plágio, fazendo vítimas desde sempre...
Foi-se o Poetas Mortos, foi-se o Mundo Perfeito e vão-se outros da mesma qualidade e a blogosfera fica jogada a mesmice...