(...)
No conozco la astucia,
no soy como la hoja del chopo
que en oruga se oculta y arracima
antes de dar su tierno cuerpo al viento,
soy clara y sin pudor,
soy entera y tajante,
y no sé seducir.
Clara Janés – No Sé (in, Eros, 1981)
Não sei se escrevo de forma feminina. Talvez escreva. Talvez diga as coisas de uma forma cuidada (mas nem sempre) e que isso possa ser entendido como uma escrita feminina.
Há uns dias atrás, a miga chamou-me aqui o nome que me deu lá na casa dela: umbigo. E talvez afinal seja isso. Esta minha disposição para falar do meu umbigo. Talvez seja uma forma feminina de vir falar, dizer qualquer coisa, depois de ter andado a cirandar pelos blogues e ficar a achar que não tenho nada novo para dizer. Mas ainda assim – e de forma que suponho seja bem feminina – sou teimosa o bastante para escrever qualquer coisa.
O Frogas, por outro lado, acha que eu nunca conseguirei enresinar o bastante, ainda que queime as pestanas a ler o que os quatro vão postando por lá. E às tantas é porque não sou gajo e não sei escrever de outra forma. Mas o Cachucho, após várias reclamações à gerência face à sobre-abundância de nus femininos, hoje lá me deu uma guloseima e eu, femininamente, trouxe-a para a minha voz para melhor me deliciar.
Pelos vistos, vou conseguindo discutir em mil pormenores estranhos as virtudes da horticultura à portuguesa e, suponho, esta brincadeira tem toda uma lógica de toca e foge de que acusam muitas vezes as mulheres no geral e a mim, em particular. Talvez também seja uma forma feminina de lidar com outros temas, sem os aprofundar particularmente e o abf tem-me divertido com o troco que me vai dando e com a quantidade de comentários que passei a ter aqui nesta tasca perdida. De forma bem feminina, sinto-me lisonjeada.
Depois, ainda vem a Catarina pôr-nos o George Clooney em t-shirt e a perguntar-nos se não está mesmo a jeito para que lhe saltemos à espinha e, de bom grado, de forma também ela toda loucura-hormonal-feminina, não tenho quaisquer pruridos em confessar que sim. Claro que sim!
Mas, depois disto tudo, ouço alguém a dizer-me – quase com aquele jeito de um "toma cuidado" paternalista – que esta minha casa é como espreitar à minha fechadura. Que até o fundo escuro é intimista, feminino. E aí já me dá para pensar. Não é que não saiba bem que me desvelo por cá. Não é que não tenha consciência que vou falando de coisas que me atingem, me preocupam, me deliciam. Mas assusta-me que vejam para além do umbigo que quero mostrar. Ou que achem que vêem.
O meu blog é um par de calças de cintura descida. Deixa ver o umbigo. O resto... bem, o resto espero não mostrar demais.
Talvez seja só mais uma daquelas paranóias femininas de querer preservar algum mistério...
No conozco la astucia,
no soy como la hoja del chopo
que en oruga se oculta y arracima
antes de dar su tierno cuerpo al viento,
soy clara y sin pudor,
soy entera y tajante,
y no sé seducir.
Clara Janés – No Sé (in, Eros, 1981)
Não sei se escrevo de forma feminina. Talvez escreva. Talvez diga as coisas de uma forma cuidada (mas nem sempre) e que isso possa ser entendido como uma escrita feminina.
Há uns dias atrás, a miga chamou-me aqui o nome que me deu lá na casa dela: umbigo. E talvez afinal seja isso. Esta minha disposição para falar do meu umbigo. Talvez seja uma forma feminina de vir falar, dizer qualquer coisa, depois de ter andado a cirandar pelos blogues e ficar a achar que não tenho nada novo para dizer. Mas ainda assim – e de forma que suponho seja bem feminina – sou teimosa o bastante para escrever qualquer coisa.
O Frogas, por outro lado, acha que eu nunca conseguirei enresinar o bastante, ainda que queime as pestanas a ler o que os quatro vão postando por lá. E às tantas é porque não sou gajo e não sei escrever de outra forma. Mas o Cachucho, após várias reclamações à gerência face à sobre-abundância de nus femininos, hoje lá me deu uma guloseima e eu, femininamente, trouxe-a para a minha voz para melhor me deliciar.
Pelos vistos, vou conseguindo discutir em mil pormenores estranhos as virtudes da horticultura à portuguesa e, suponho, esta brincadeira tem toda uma lógica de toca e foge de que acusam muitas vezes as mulheres no geral e a mim, em particular. Talvez também seja uma forma feminina de lidar com outros temas, sem os aprofundar particularmente e o abf tem-me divertido com o troco que me vai dando e com a quantidade de comentários que passei a ter aqui nesta tasca perdida. De forma bem feminina, sinto-me lisonjeada.
Depois, ainda vem a Catarina pôr-nos o George Clooney em t-shirt e a perguntar-nos se não está mesmo a jeito para que lhe saltemos à espinha e, de bom grado, de forma também ela toda loucura-hormonal-feminina, não tenho quaisquer pruridos em confessar que sim. Claro que sim!
Mas, depois disto tudo, ouço alguém a dizer-me – quase com aquele jeito de um "toma cuidado" paternalista – que esta minha casa é como espreitar à minha fechadura. Que até o fundo escuro é intimista, feminino. E aí já me dá para pensar. Não é que não saiba bem que me desvelo por cá. Não é que não tenha consciência que vou falando de coisas que me atingem, me preocupam, me deliciam. Mas assusta-me que vejam para além do umbigo que quero mostrar. Ou que achem que vêem.
O meu blog é um par de calças de cintura descida. Deixa ver o umbigo. O resto... bem, o resto espero não mostrar demais.
Talvez seja só mais uma daquelas paranóias femininas de querer preservar algum mistério...
1 comentário:
Mais Vozes
On : 1/12/2005 5:37:25 PM ocidental-acidental (www) said:
uma escrita feminina? Sim, bem me parece que sim. Mas não terá (quase) toda a escrita uma sombra do sexo que se lhe associa?
Obrigado pela inclusão em tal galeria de referências. Ainda bem que os 'comments' têm divertido.
On : 1/12/2005 5:53:14 PM Hipatia (www) said:
Têm divertido, sim, já tinha dito
Mas hoje acho que levei um puxão de orelhas É que as palavras dizem muito mas, ainda assim, não conseguem dizer tudo. Às vezes esqueço-me disso e, já por outras vezes, isso não deu bom resultado.
Beijinho
On : 1/12/2005 7:14:35 PM cachucho (www) said:
Por falar em enresinados um dia temos de falar sobre um assunto... bom, depois falamos quando eu tiver mais tempo
On : 1/13/2005 2:58:27 AM Caliope (www) said:
Se a escrita é feminina ou masculina não sei...
O que sei é que gosto de a ler. E isso basta.
Beijinhos
On : 1/13/2005 6:22:41 AM Maria Branco (www) said:
É feminina sim. É muito tua.. Gosto, gosto muito de te ler. Quanto aos comments, esses fazem-me sempre sorrir..
Um beijo grande
On : 1/13/2005 8:47:31 AM Diálogos Interativos (www) said:
Sabes...acho que a escrita não é nem masculina nem feminina, é as duas coisas juntas, só que `as vezes evidencia-se mais o lado intimista, intuitivo, sensivel, atribuido ao género feminino , outras o lado mais agressivo, factual, racional tipicamente masculino. Sabes, para ser sincero não sei de facto o que é isso de escrita femenina... sei , sim! que gosto muito de vir aqui ao teu cantinho ler o que escreves.
Beijos
On : 1/13/2005 2:13:06 PM Hipatia (www) said:
Cachucho, bolas! Essa é mesmo de gajo: vir aqui despertar a curiosidade feminina e depois dar de frosques
(o e-mail está ai ao lado; se esse não funcionar, o Mofo que te dê o outro)
beijinhos
On : 1/13/2005 2:14:33 PM Hipatia (www) said:
Obrigada, Caliope. Eu gosto muito de ler a tua. E, para que saibas, acho-a fabulosamente feminina
bjs
On : 1/13/2005 2:16:33 PM Hipatia (www) said:
Era o que eu suspeitava, Maria Não adianta muito tentar esconder certas evidências. E obrigada pelo elogio
Quanto aos comentários, nem sei explicar o deliciada que fico quando vejo que a minha seriedade pode ser contrariada. Também me liberta a mim...
Beijo grande
On : 1/13/2005 2:19:18 PM Hipatia (www) said:
Mas isso, Dialogos, deve ser para quem tem mais engenho e arte do que eu. Acho que os meus textos tresandam mesmo a "gaja", quer pela forma, quer pelo conteúdo. Mas não nego aquilo que sou, como é óbvio. E dar-me-ia um trabalho imenso - ocupando-me um tempo que não tenho - tentar disfarçar uma coisa que, no fim, nem é assim tão má.
E eu gosto de me saber lida pela tua sensibilidade
Beijo
On : 1/15/2005 8:20:51 AM ocidental-acidental (www) said:
disfarçar uma coisa que nem é má?....só é, aliás, boa...
On : 1/15/2005 8:51:08 AM Hipatia (www) said:
Porque há um espaço para tudo; porque há muitas formas de leitura; porque nem sempre somos verdadeiramente entendidos quando nos faltam os olhares, os gestos, os sorrisos, os tons da voz... por mais bonecos com que se encha este quadradinho
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