Devo seguir até o enjôo?
Posso, sem armas, revoltar-me?
Carlos Drummond de Andrade - A Flor e a Náusea
O palco da intriga é o do costume. Orquestram-se rumores nos tempos mortos. Cauteriza-se a solidão abocanhando a vida dos outros.
O palco da intriga é o do costume. Uma esquina qualquer de um qualquer chat. Ou uma esquina de Messenger, que vai dar ao mesmo.
Contam-se pedaços de vida dos outros, que as deles são demasiado banais. Inventam-se estórias pelos outros, pois que a vida deles é sem história.
Violam-se segredos e até computadores alheios, ávidos de mais segredos que engrossem a intriga. E comenta-se e volta-se a comentar. E mandam-se pedaços de segredos de boca em boca, tecla em tecla, sem pudor.
Não importa que se viole a vida alheia, que se profane o íntimo de cada um. Há um rumor suculento, há uma intriga. E há sempre uma comadre disposta a contar um conto. Que inventa muitos pontos. Que todas as intrigas têm de ser bem cabeludas.
Tenho nojo!
Que se calem de vez os rumores nauseabundos que conspurcam a vida dos outros. Que se calem as intrigas de vão de escada, as comadres on-line e sem vida. Que se cale a besta invejosa, faminta de assunto em rodapés de lamúrias.
Que arranjem vida, pois se são tão avaras da vida alheia. Que deixem os segredos repousar. Que os murmúrios possam ser ditos sem temores. Que façam dos dias algo útil. Que se cale o fútil.
Gente ressabiada e mesquinha, sempre pronta a minar, contaminar, infestar, a felicidade alheia. Gente pequena, sem futuro e sem passado, invejosa de quem vive. Gente incapaz de guardar sigilo, mesmo quando sigilo se lhes pede. Gente feita fogo fátuo, com cheiro pestilento, de novidade velha ou nova em riste. Gente com demasiado tempo nas mãos, encarquilhada em desenganos, infeliz.
Não medem consequências. Não pensam em resultados. Horas seguidas na coscuvilhice, aviltando tudo e todos. Gente sem pudor e sem princípios, marias de muitos ais, marias sem moral.
(Hoje estou demasiado enojada! Há quem não mude. Há quem não queira mudar. Há demasiada gente peçonhenta e mal amada, amarga, indigesta. E o pior é que estes de que falo, são tal e qual pragas daninhas e multiplicam-se numa sanha destrutiva e visceral. Gente infeliz, incapaz de respeitar a privacidade e a felicidade alheia. Hoje estou mesmo muito enojada, que não há outra palavra para a náusea que me turva.)
Posso, sem armas, revoltar-me?
Carlos Drummond de Andrade - A Flor e a Náusea
O palco da intriga é o do costume. Orquestram-se rumores nos tempos mortos. Cauteriza-se a solidão abocanhando a vida dos outros.
O palco da intriga é o do costume. Uma esquina qualquer de um qualquer chat. Ou uma esquina de Messenger, que vai dar ao mesmo.
Contam-se pedaços de vida dos outros, que as deles são demasiado banais. Inventam-se estórias pelos outros, pois que a vida deles é sem história.
Violam-se segredos e até computadores alheios, ávidos de mais segredos que engrossem a intriga. E comenta-se e volta-se a comentar. E mandam-se pedaços de segredos de boca em boca, tecla em tecla, sem pudor.
Não importa que se viole a vida alheia, que se profane o íntimo de cada um. Há um rumor suculento, há uma intriga. E há sempre uma comadre disposta a contar um conto. Que inventa muitos pontos. Que todas as intrigas têm de ser bem cabeludas.
Tenho nojo!
Que se calem de vez os rumores nauseabundos que conspurcam a vida dos outros. Que se calem as intrigas de vão de escada, as comadres on-line e sem vida. Que se cale a besta invejosa, faminta de assunto em rodapés de lamúrias.
Que arranjem vida, pois se são tão avaras da vida alheia. Que deixem os segredos repousar. Que os murmúrios possam ser ditos sem temores. Que façam dos dias algo útil. Que se cale o fútil.
Gente ressabiada e mesquinha, sempre pronta a minar, contaminar, infestar, a felicidade alheia. Gente pequena, sem futuro e sem passado, invejosa de quem vive. Gente incapaz de guardar sigilo, mesmo quando sigilo se lhes pede. Gente feita fogo fátuo, com cheiro pestilento, de novidade velha ou nova em riste. Gente com demasiado tempo nas mãos, encarquilhada em desenganos, infeliz.
Não medem consequências. Não pensam em resultados. Horas seguidas na coscuvilhice, aviltando tudo e todos. Gente sem pudor e sem princípios, marias de muitos ais, marias sem moral.
(Hoje estou demasiado enojada! Há quem não mude. Há quem não queira mudar. Há demasiada gente peçonhenta e mal amada, amarga, indigesta. E o pior é que estes de que falo, são tal e qual pragas daninhas e multiplicam-se numa sanha destrutiva e visceral. Gente infeliz, incapaz de respeitar a privacidade e a felicidade alheia. Hoje estou mesmo muito enojada, que não há outra palavra para a náusea que me turva.)
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