2004-11-08

Frutos proibidos


Johnny Depp Posted by Hello


Muitas das nossas tentações poderiam ser vistas como uma apetência mais velha do que a História para aceder a tudo o que é proibido. Desde o tempo da maçã que o Homem não sabe resistir. E, por vezes, acaba viciado, porque quase tudo o que é proibido acaba por ser, de alguma forma, uma fonte de prazer.

É já um cliché dizer que as mulheres, quando deprimidas, se agarram a uma caixa de chocolates. Eu confesso que não sou muito desse tipo de mulher. Especialmente porque o chocolate não me está proibido pelo médico. Talvez por isso a grande tentação sejam amendoins salgados, ou pistácios, ou batatas fritas de pacote, daquelas carregadinhas de calorias e óleos e muito, demasiado, sal. A cada um o seu fruto proibido. E proibiram-me o sal...

Mas lembrei-me, ainda à conta das tentações e dos vícios, do filme Chocolate – e já agora do livro onde se inspira, como sempre bem melhor, mesmo sem o Johnny – e de como é fácil tentar a comunidade mais tradicional e conservadora em tempo de Quaresma. Basta saber encontrar a tentação certa, o fruto proibido de cada um.

Suponho que haja mesmo pessoas como a Vianne Rosher. Pessoas com uma habilidade natural para descobrirem nos outros o seu fruto proibido e, depois, ainda serem capazes de fazer esse alguém não se sentir culpado por o provar. Talvez por isso não haja condenação de qualquer tipo por a personagem, qual "dealer", fornecer chocolate em doses abundantes a uma diabética. Penso que se trata, no mínimo, de um dom: a capacidade de dar a outro a indulgência necessária para se permitir ter e dar prazer.

Por cada pedacinho de chocolate deste filme, surge um sorriso em nós. Por cada tentação, um reconhecimento. Em cada comportamento reprimido, um olhar para o espelho. Por cada exercício de vontade em direcção à liberdade merecida, encontramos um caminho.


Não, não é o Pleasentville, o meu filme favorito sobre frutos proibidos e como prová-los pode ser libertador. Mas o filme Chocolate, para ver agora no quente das casas enquanto o Inverno se arrasta, é o filme ideal para encontrar doçura em nós e no mundo.

"Tudo o que é bom na vida, ou engorda ou é pecado". E é bem verdade que o chocolate entra direitinho para a categoria do engorda, segundo a velha sabedoria popular e, no filme e no livro, para a categoria do pecado. Mas é um pecado tão doce que, em tempos em que todos os pecados ditos capitais, ou venais, ou o que quiserem, se encontram em grande forma, tingindo o mundo de vermelho sangue, não me chega a parecer pecado nem a gula, nem a luxúria. Quer num, quer noutro, encontro fontes de prazer. E, se um engorda, o outro bem que ajuda a queimar calorias...

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