I see myself suddenly
On the piano, as a melody.
My terrible fear of dying
No longer plays with me,
for now I know that I'm needed
For the symphony.
Kate Bush - Symphony In Blue
Lembro-me de lhe ouvir os primeiros sons ainda estava na escola primária. Talvez até usasse umas calças à boca de sino enquanto mirava, fascinada, o teledisco do "Wuthering Heights" e via a Kate levitar e multiplicar-se em imagens de branco vestidas.
Lembro-me que andei à procura do livro na altura, mas só li realmente a Emily Brontë bem mais tarde, o que se provou sábio, já que há idades para compreender tanta dor, tanto sofrimento, tanta desdita: "Heathcliff / it's me / I'm Cathy".
Cathy? Kate? Duas Catarinas, plenas de forças e de dores, nunca domadas...
Lembro-me da gloriosa cabeleira ruiva e da voz fascinante e exótica. Como me lembro do ar babado dos meus primos a verem a figura semi-despida no teledisco do "Babooska", com a espada, o chicote, a parafernália dos diferentes fetiches adolescentes ou, até, bem mais adultos.
Em 86, aprendi a ser mulher forte, capaz de defender o seu direito à felicidade por sobre todas as desgraças, enquanto ouvia – como ouço até hoje, quando qualquer crise me quer domar os dias – o "Don’t Give Up" e invoco os amantes abraçados, Peter e Kate, lindos... "So!"
Faz parte do meu imaginário tingido de feminino, de sensualidade. Faz parte da minha adolescência, da minha iniciação na vida adulta. Sei até hoje que nos basta ser possível respirar – "in; out, keep breathing" – para nos sentirmos vivos, ou que não há mal em "waking the witch", porque todos temos uma bruxa, uma feiticeira, uma wicca, dentro de nós.
Como sei que há formas (formulas?) para tentarmos fazer um pacto com o Divino, se isso nos servir de conforto, nem que para tal seja necessário continuar "running up that hill". Sei também que quero – que sempre quis – para mim "a man with the child in his eyes" e que vou ter de continuar a enfrentar todos os "strange phenomena" que me surgirem nas esquinas da vida.
Quando ela calçou os seus lindos "red shoes" foi desaparecendo lentamente, como um "morning fog", deixando o panorama musical mais parecido com um "empty bullring". Mas existe sempre a ansiada promessa do retorno da menina-mulher-bailarina-cantora-diáfana.
Não, nunca desapareceu completamente. É ainda a suave aparição de voz singular, "moving" como só ela. Continuo a esperar-lhe o regresso enquanto aguardo que se cumpra a promessa de estar "home for christmas", "cloudbusting" ainda...
"you’re here in my head like the sun coming out"
E, se não sei tocar piano, há sempre um piano onde me sento. Lembro a Kate e sei que também faço parte da sinfonia da vida.
Obrigada, Zig Zag Warriors, pela Kate ao fim da noite; pela Kate ao raiar do dia...
On the piano, as a melody.
My terrible fear of dying
No longer plays with me,
for now I know that I'm needed
For the symphony.
Kate Bush - Symphony In Blue
Lembro-me de lhe ouvir os primeiros sons ainda estava na escola primária. Talvez até usasse umas calças à boca de sino enquanto mirava, fascinada, o teledisco do "Wuthering Heights" e via a Kate levitar e multiplicar-se em imagens de branco vestidas.
Lembro-me que andei à procura do livro na altura, mas só li realmente a Emily Brontë bem mais tarde, o que se provou sábio, já que há idades para compreender tanta dor, tanto sofrimento, tanta desdita: "Heathcliff / it's me / I'm Cathy".
Cathy? Kate? Duas Catarinas, plenas de forças e de dores, nunca domadas...
Lembro-me da gloriosa cabeleira ruiva e da voz fascinante e exótica. Como me lembro do ar babado dos meus primos a verem a figura semi-despida no teledisco do "Babooska", com a espada, o chicote, a parafernália dos diferentes fetiches adolescentes ou, até, bem mais adultos.
Em 86, aprendi a ser mulher forte, capaz de defender o seu direito à felicidade por sobre todas as desgraças, enquanto ouvia – como ouço até hoje, quando qualquer crise me quer domar os dias – o "Don’t Give Up" e invoco os amantes abraçados, Peter e Kate, lindos... "So!"
Faz parte do meu imaginário tingido de feminino, de sensualidade. Faz parte da minha adolescência, da minha iniciação na vida adulta. Sei até hoje que nos basta ser possível respirar – "in; out, keep breathing" – para nos sentirmos vivos, ou que não há mal em "waking the witch", porque todos temos uma bruxa, uma feiticeira, uma wicca, dentro de nós.
Como sei que há formas (formulas?) para tentarmos fazer um pacto com o Divino, se isso nos servir de conforto, nem que para tal seja necessário continuar "running up that hill". Sei também que quero – que sempre quis – para mim "a man with the child in his eyes" e que vou ter de continuar a enfrentar todos os "strange phenomena" que me surgirem nas esquinas da vida.
Quando ela calçou os seus lindos "red shoes" foi desaparecendo lentamente, como um "morning fog", deixando o panorama musical mais parecido com um "empty bullring". Mas existe sempre a ansiada promessa do retorno da menina-mulher-bailarina-cantora-diáfana.
Não, nunca desapareceu completamente. É ainda a suave aparição de voz singular, "moving" como só ela. Continuo a esperar-lhe o regresso enquanto aguardo que se cumpra a promessa de estar "home for christmas", "cloudbusting" ainda...
"you’re here in my head like the sun coming out"
E, se não sei tocar piano, há sempre um piano onde me sento. Lembro a Kate e sei que também faço parte da sinfonia da vida.
Obrigada, Zig Zag Warriors, pela Kate ao fim da noite; pela Kate ao raiar do dia...
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