Júlio Pomar
Vila de Sintra 10 horas da manhã. De repente, o telefone da esquadra da Portela começa a soar freneticamente. Pouco depois surgiu a ordem de serviço. A presença da autoridade era requisitada. O caos tinha-se instalado no centro da vila, repleta de gente. Toda a zona do Palácio até à estação dos comboios tinha sido invadida …por macacos.
Bem, tudo começou na minha loja de animais domésticos, ali bem ao lado do Museu.
João, o meu empregado, notou que um dos nossos belos macacos ficara com o punho preso no arame que fechava a gaiola onde o bicho estava encerrado. João abriu a porta da gaiola e libertou o nosso amiguinho, que, prontamente, saiu a correr. Antes que se desse conta, mais dezanove macacos, matraqueando excitadamente, seguiram o seu líder até ao centro da sala. Os macacos mantiveram um breve conselho de guerra. Pareceram decidir que seria injusto deixarem os seus amigos em cativeiro. Num ápice, abriram as outras quatro gaiolas. Mais oitenta macacos se juntaram ao grupo libertador, no centro da sala.
O João tentou desesperadamente agarrar alguns deles…Tarefa impossível. Um pestinha esperto abriu a porta da sala, encontrando o caminho que levava ao saguão. Aí, as escadas de emergência conduziam a uma janela aberta…à Liberdade. E cem macacos barafustastes subiram pela escada acima até ao telhado.
Naquela manhã, o senhor Almiro, dono de uma mercearia próxima, mostrava a sua mercadoria à Dona Isaltina, cliente habitual e difícil, mas para quem tinha encontrado uma forma hábil e frágil de lhe enfiar os produtos que vendia. Nisto, um bando de macacos entrou ruidosamente pela porta do estabelecimento, lançando-se directamente à secção de frutas, provocando um grito agudo na fiel cliente: Ai Santa Maria da Agrela que não há ninguém tão santa como ela! É evidente que todo stock de bananas desapareceu rapidamente. Também se esvaneceu correndo Dona Isaltina pela rua abaixo.
O senhor Almiro que não é homem de perder a cabeça, fechou a porta da loja e toda e qualquer saída daquele lugar. Quarenta minutos depois, com a ajuda da autoridade, ele e os quarenta macacos foram removidos sãos e salvos.
Não sei se vocês sabem, Sintra tem uma Academia de Música; nessa bela tarde de Outono estava a funcionar. O professor, velho e batido na arte de lidar com crianças, tentava ensaiar os seus alunos para o espectáculo a ter lugar lá pelo natal. Conseguira aquietar vinte e sete meninos cantores. Fez soar o diapasão, levantando o dedo para marcar o compasso, quando um dos meninos irrompeu numa risada.
- Hi! Hi! Hi! Desculpe-me Soutor. Mas está um macaco em cima do piano.
Claro que está! Um minuto depois estavam quatro meninos em cima do piano. Mas o macaco estava agora pendurado no candelabro da academia. Outro macaco balançava-se alegremente na cortina de veludo vermelho.
O ensaiador do coro manteve-se calmo. Já lidava com crianças há muito tempo, uma dupla de macacos era coisa de somenos. Organizou os meninos em grupos utilizando a capa do piano e das poltronas. Em poucos minutos, os macacos que não podiam competir com os meninos, foram capturados e amarrados nas capas.
Na mesma rua há um quartel de bombeiros e, naquela manhã, estava tudo calmo e sereno.
No pátio jogava-se à bola e, lá em cima quatro bombeiros jogavam à sueca.
- É a tua vez, joga lá a carta! - Disse um dos jogadores impaciente. – Para onde é que estás a olhar?
O outro bombeiro abanou a cabeça como se quisesse clarificar as ideias.
- Acabam de passara a correr cinco macacos. E um deles levava uma bola!
Aí começou a confusão!
Entraram dois bombeiros danados.
- Quem é que roubou a nossa bola?
Nesse momento, todos os chuveiros do balneário foram ligados no máximo. Um bombeiro correu a ver o que se passava. Ficou parado, petrificado, olhando a cena: dez macacos a tomarem banho de chuveiro. Foi uma correria dentro do quartel. Agarra esse macaco! Pega pelo rabo! Aquele está agarrado ao extintor, meu Deus!
Nisto soa o alarme. Os homens correram para os seus lugares no carro: o mesmo fizeram os dez macacos.
Os bombeiros não tiveram de ir muito longe. Tinha sido uma chamada da Periquita, onde era necessário um laço para retirar uns macacos que insistiam em comer queijadas no alto dos armários. Mas quando os bombeiros chegaram ao local, o dono da loja abanou a cabeça dizendo:
- Não é possível, eles estão a trazer mais!
Ah! Acabei por receber todos os meus macacos de volta…Três meses depois…
Bem…Quer dizer…
Menos um…
Esse foi visto a última vez de mão dada com um pintor chamado Júlio.
Dizem até, que vive por lá no atelier dele…
Gaivina
(e pronto! siga a marinha, que o exército está bêbado!)