2006-01-31

Brokeback Mountain


aqui


O preconceito está normalmente associado a uma atitude ignorante que dá origem a uma opinião ou a um conceito formado por antecipação, geralmente de forma precipitada, sem conhecimento ou análise profunda dos factos. É usado primeiramente para emitir opiniões irreflectidas, teimosas, sobre tudo o que é julgado como "diferente" ou "anormal" segundo os parâmetros de cada um, sendo que este "um" se encontra integrado num comunidade, também ela moldada e sociabilizada em função de preconceitos, figuras muito úteis para manter uma certa "ordem" na convivência dentro dessa comunidade. Antigamente até queimavam mulheres nas fogueiras por escaparem a essa tal "normalidade". Num contexto sociológico, implica normalmente o julgamento do "outro", do "desconhecido", do temido porque "diferente" ou temido por seguir "normas diferentes" das do sujeito. E, sim, envolve os medos de cada um, medos primários, a mais das vezes moldados pela sociedade em que nos inserimos, pela cultura e pela religião, no sentido de resguardar a "normalidade" social de tudo o que é diferente e, nesse sentido, visto como "anormal".

Eu tenho muito pouca paciência para quem julga - com ares de psiquiatra de livro de bolso - se outra pessoa é ou não mentalmente sã, especialmente se tal se prende numa avaliação imediata da sanidade de alguém em função das suas opções sexuais. "Sanidade mental" é um conceito para ser usado com cuidado, muito cuidado. Não é para ser arrebolado para um texto que mais não pretende que catalogar a capacidade mental de alguém em função da aparência ou da forma como vive a sua intimidade, especialmente a intimidade sexual.

Um dia destes, ainda acabamos todos mórmons do Utah, a julgar a "sanidade mental" do galinheiro pelo grau de histerismo das galinhas...

E se ser americano já me parece suficientemente mau, ser um mórmon do Utah parece-me profundamente intragável. Antes o meu Portugalinho cheio de defeitos, desde que ninguém dê ouvidos aos tais que se chamam liberais e de direita e mais o raio que os parta.

3 comentários:

Hipatia disse...

On : 1/31/2006 10:59:44 AM SoNosCredita (www) said:


Adoro sentir-me diferente, especial, única!

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On : 1/31/2006 1:51:20 PM frogas (www) said:


Infelizmente a parvoíce retrógrada e tacanha não é um exclusivo da direita, por vezes até mora mesmo ao nosso lado encapotada com lindos discursos em prol das liberdades individuais.

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On : 1/31/2006 2:03:48 PM vanus (www) said:


Repara, aquilo que desejamos para todo o ser humano em termos individuais é muitas vezes oposto ao que desejamos em termos sociais (como funcionamento social), a maioria das vezes incompatível até, e não há mais perverso ou mentalmente insano aquele que assume toda a sociedade reflectida num único ser humano, como se as leis fossem obrigatoriamente para ser cumpridas sem flexibilidade.
São aqueles que mais regras sociais cumprem, e mostram que o fazem (a prova essencial à burguesia para poder dormir à noite descansada) que na intimidade se mostram mais aberrantes, tal e qual os mórmons do utah, que além de poligâmicos costumam desvirginar tudo o que é sobrinha em idade menor; mas nunca faltam ao sermão.

Por isso, se fosse a ti não me chateava muito, quem mais mostra ser mentalmente são perante o que é socialmente estabelecido, é no fundo quem menos o é.

Mas isto digo eu que sou meia tarada

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On : 1/31/2006 4:57:45 PM mochofalante (www) said:


Mas estamos a ficar melhor no que toca a saber lidar com as diferenças....

Espero que contnuemos assim, para melhor claro

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On : 1/31/2006 5:06:19 PM deep (www) said:


O teu texto lembrou-me a seguinte passagem de "Loucura" de Mário de Sá-Carneiro: "Loucura? Mas afinal o que vem a ser a loucura?... Um enigma... Por isso mesmo é que às pessoas enigmáticas, incompreensíveis se dá o nome de loucos...
Que a loucura, no fundo, é como tantas outras, uma questão de maioria. A vida é uma convenção: isto é vermelho, aquilo é branco, unicamente porque se determinou chamar à cor disto vermelho e à cor daquilo branco. A maior parte dos homens adoptou um sistema determinado de convenções: É a gente de juízo...

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On : 1/31/2006 5:13:20 PM maria arvore (www) said:


Os defensores de públicas virtudes, vícios privados rotulam outros como insanos para perpetuarem o seu poder.

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On : 1/31/2006 7:44:54 PM Gaivina (www) said:


São estas vozes todas , tão distintas, que fazem este blog tão diferente
Hipatia | Homepage | 02.10.06 - 8:08 pm | #

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On : 2/1/2006 8:49:33 AM Bastet (www) said:


Credo, o raio que me parta?!!! Não estarás tu a fazer aqui uso de preconceitos Hip?

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On : 2/1/2006 10:56:42 AM Hipatia (www) said:


Serei muita coisa, ainda que não seja gay. E, ainda que o fosse, não seria poria melhor ou pior pessoa e, muito menos, admitiria que me avaliassem a sanidade mental pela opção sexual. E, cada um de nós, não é diferente, especial, único, de alguma forma?

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On : 2/1/2006 10:58:11 AM Hipatia (www) said:


Não é não, Frogas. Até porque os de direita ainda o afirmam, pelo menos. Não sei se não será ainda pior uma certa hipocrisia de esquerda, que diz nim, ou diz sim, mas depois faz exactamente o contrário

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On : 2/1/2006 11:00:50 AM Hipatia (www) said:


Devemos ser as duas meias taradas mesmo, miga

E, depois, nem sequer o conceito de sanidade mental tem limites bem definidos, não é? Quase apetece perguntar a que escola de pensamento se estão a reportar, mas desconfio que não saberiam dar-me tal resposta. É que o mal do preconceito é, tanta vez, ser avesso a quaisquer esclarecimentos e reconhecimento das falácias evidentes

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On : 2/1/2006 11:02:50 AM Hipatia (www) said:


Também eu, Mocho. Mas, depois, olho ali para o lado para a nossa vizinha Espanha e vejo como vamos perdendo o pé ao progresso. E nem só ao progresso material, porque o social e mental também continuam em marcha à ré

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On : 2/1/2006 11:04:44 AM Hipatia (www) said:


É isso tudo, Deep. E Mário de Sá Carneiro sabia bem do que falava, não é? Afinal, teve de enfrentar a um tempo os dois tipos de preconceito. Parece que, infelizmente, não ganhou a batalha. Perdemos todos nós

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On : 2/1/2006 11:05:31 AM Hipatia (www) said:


Como sempre, Maria Árvore. Deve ser por isso que gosto tanto de grãos na engrenagem

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On : 2/1/2006 11:07:05 AM Hipatia (www) said:


E que não ponham em ninguém qualquer letreiro, excepto talvez o do mérito reconhecido e, tantas vezes, dificilmente alcançado, Gaivina

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On : 2/1/2006 11:12:54 AM Hipatia (www) said:


Que raio de carapuça enfiaste tu, Bastet? Por acaso achas que os gays são mentalmente insanos e alguma vez o afirmaste? Tens assim tantas certezas sobre o que é loucura? Ou o que é sanidade? Pois há uma certa ala da direita (admito que talvez tenham o reconhec
Hipatia | Homepage | 02.10.06 - 8:09 pm | #

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Brokeback Mountain

On : 2/1/2006 2:36:48 PM cruzeiro do tejo (www) said:


O que para uns é normal, para outros é loucura completa, e então? quem dá o direito a quem de julgar o que é ou não normal?
A normalidade é feita de leis que a sociedade impos para seu bel prazer, porque dá jeito!
Uma sociedade hipocrita que se continua a reger por parametros pré estabelecidos...é a triste sociedade em que vivemos.

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On : 2/1/2006 4:30:15 PM Hipatia (www) said:


É isso mesmo, Cruzeiro. Mas irrita-me que haja tanta gente com "tempo de antena" e, por isso, resolvi arranjar o meu também

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On : 2/2/2006 6:15:18 AM cruzeiro do tejo (www) said:


E fizeste tu muito bem!! eheheh

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On : 2/2/2006 7:49:33 AM Hipatia (www) said:




Hipatia | Homepage | 02.10.06 - 8:12 pm | #

Daniel disse...

Sou de esquerda, não tenho preconceitos de qualquer espécie contra absolutamente ninguém, respeito e só espero ser respeitado, sou português, norma´l ... ah!! quase me esquecia: sou mórmon!

Hipatia disse...

Um mórmon português, normal (se existe normalidade) está a léguas de distância dos mórmons a que me referia: aqueles lá do Utah, mais as suas campanhas raivosas e descabidas contra um filme, só porque fala de homossexualidade masculina. Podes dizer que aquela gente, mais as suas campanhas e os seus cartazes e os seus preconceitos merecem, realmente, invocar o nome da Divindade? Eu tenho sérias reservas em relação ao fanatismo. Todo o fanatismo. Deve ser por isso que me afasto de toda a religião organizada: num instante se transforma num viveiro de preconceitos e de ódio contra o outro, só porque o acha diferente.