2008-02-11

Neocons

Oito anos depois de Clinton, os neoconservadores que apoiaram George W. Bush estão confrontados com a sua herança: um país à beira da recessão, perdendo peso no contexto internacional para as novas potências emergentes, com um aumento substancial do fosso entre a minoria dos mais ricos e todos os outros, com uma enorme crise no sistema financeiro, como resultado do processo de desregulamentação que defenderam, com grandes bancos americanos a ter de aceitar a humilhante entrada de fundos soberanos de países asiáticos no seu capital para evitar a falência e com o dólar a perder posição, enquanto moeda da pagamento internacional, para o euro. Deve ser difícil fazer pior.

Nicolau Santos, in Expresso

Será que os portugueses deviam explicar aos americanos o que quer dizer ser "conas", "coninhas" e afins? hmm...

4 comentários:

Maria Arvore disse...

:)))

E acreditas que a "maioria" dos americanos perceberiam?...
Se o exemplo que vem de cima é repudiar o diferente (como com a Amy), eles só podem sentir-se os maiores que nunca se enganam e raramente têm dúvidas...

Hipatia disse...

Não, por acaso não. Quem pode realmente confiar na inteligência da "América profunda" perante os exemplos que nos tem dado?

Senador disse...

É engraçado que bastaria trocar uma dúzia de palavras neste texto e estaríamos a falar de Portugal...

Hipatia disse...

Em muita coisa, sim; em muito mais, não. Não que não o queiram fazer, obviamente. Mas nós temos o euro :D

Mais a sério: por mais que a gestão deste Governo de imitação socialista descambe demasiadas vezes para o liberalismo, o certo é que (e apesar dos escândalos BCP), o sistema bancário português, inserido na zona euro, é bem mais regulamentado e provavelmente continuará a ser. Também por força da UE, nunca se pensaria num desequilíbrio orçamental, com um gigantesco défice, como se vê hoje nos EUA; e a tradição do "Estado Providência" europeu continua a existir, apesar das sucessivas reformas, ainda que com um SNS que vai tendo uns soluços e com reformas miseráveis para uma população de velhos que não pára de crescer. Ser pobre nos EUA deve ser mesmo fodido: não há rendimentos mínimos, nem abonos, nem saúde para todos. Lá, não é uma questão de pulseira amarela ou laranja para ver quem vai primeiro; é se há seguro ou não e, se não houver seguro, morre-se.

Não tenho qualquer dúvida que, quando olho para trás, estava bem melhor de vida no Governo do Guterres do que estou agora no Governo do Sócrates. Muitas das medidas que têm sido implementadas parecem-me injustas, muitas outras absurdas; e acho abjecta a forma como são impostas e cobradas, sempre aos mesmos e esmagando cada vez mais a classe média, enquanto os tachos existem para os do costume e a postura com que nos cobram o aperto do cinto é arrogante e acintosa. Mas, no plano geral, não consigo deixar de pensar que houve coragem política para tentar um leque de reformas que tardavam. E há resultados positivos sistematicamente escamoteados, enquanto as notícias se fazem de fait-divers e vendettas. Se pensar nos últimos oito anos, vejo um País a ir em direcção ao abismo; agora, apesar de tudo e do mal que estou e do mal que está tanta gente, vejo alguma luz ao fundo do túnel. Ou via, que esta última crise é bem capaz de dar cabo do crescimento incipiente que se começava a sentir, muito por fruto do aumento das receitas com o comércio externo e com o controlo do défice. Mas a crise está-nos a ser imposta de fora e pouco podemos fazer. Nestes últimos oito anos, andamos foi sem fazer nada para a resolver, deixando passar as oportunidades e vendo constantemente o fosso que nos separava do resto da UE a aumentar. Teríamos que conseguir um crescimento tipo o Espanhol, mas esse assusta-me sobremaneira: é, também ele, essencialmente apoiado no imobiliário, que vai funcionando como um balão da economia. Quando rebentar, como nos EUA, não seremos os primeiros a apanhar por tabela?