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Almoçar com a prima...
Almoçar com a prima era sempre uma grande chatice. Mas ela sempre fora uma madrinha empenhada na união deles os dois, além disso pagava o repasto. Aparecia com o primo, apêndice silencioso naquele casal, e escolhia, como de costume, um restaurante despersonalizado da baixa.
Sendo assim, cederam ao novo convite, preparados de antemão, para o "filme" que se seguiria.
À hora certa, lá estava a prima, com o seu leal servidor, esperando numa mesa de canto e acenando com um guardanapo, como que a dizer – "Estamos aqui"...
Sentaram-se os dois amantes frente aos desusados parentes. A mesa, de longa toalha estendida roçando o chão, talheres compostos cumprindo a etiqueta e o sorriso intrusivo da prima na sua frente.
-Estou tão contente por tu e o André terem vindo almoçar connosco – Rematou a prima – Não achas Arnaldo? O primo Arnaldo acedeu com a cabeça, pois tinha a boca ocupada com as entradas.
Ajeitaram-se os protegidos nas cadeiras, pegando os guardanapos e consultando o menu. Mal tiveram tempo de passar os olhos pelo cardápio já a prima Ester vinha afirmando:
-Eu cá tratei de pedir o cozido à portuguesa para mim e para o teu primo Arnaldo. Ele é muito lento a tomar a tomar decisões - e continuou a prima - Acho que vocês deveriam fazer o mesmo....este cozido é tão famoso!...
- Lá vou comer, outra vez, cozido com estes dois – Pensou André com os seus botões.
Enquanto a travessa do cozido não chegava, a prima Ester falava e Arnaldo concordava meneando a cabeça e deglutindo pedacinhos de broa com manteiga.
Lena, cumprindo o seu papel de protegida, ia mantendo uma conversa conveniente, nos espaços que lhe sobravam, pois a prima falava "pelos cotovelos". Arnaldo mantinha-se silencioso, ostentando uma expressão enigmaticamente gulosa.
Por fim a travessa fumegante chegou à mesa. Sem esperar pelos outros, o primo Arnaldo, atacou o chispe e a farinheira, enchendo prodigamente o prato com couve.
A prima Ester serviu-se, no meio de um discurso ininterrupto, de uns quantos pedacinhos de carne e uma "migalhinha de arroz", e, sem perder o fio à meada, continuou:
-Sabes Lena, isto de sair faz-me muito bem. Mas tenho que puxar pelo Arnaldo, senão ele fica-me lá em casa de volta dos selos, com os gatos à volta dele a miar.
André serviu-se, escolhendo só o que queria do grande prato. Comeu um pouco e, depois, pôs-se a observar a conversa da sua amante com a prima. Achou-a bela naquele papel familiar: A fealdade da prima contrastava claramente com a alvura da pele de Lena. Sobretudo gostou da conversa "politicamente correcta", que ela mantinha com aquela prima mirrada. E Lena ficava bela com aquela sua saia.
-Sabes, fui no outro dia ao "shopping" e achei aquilo uma maravilha! Tem de tudo. É lindo.... – Continuava a prima – O Arnaldo lá veio comigo...
André, que não tinha mais apetite, reparou na perna de Lena, assomada nas dobras da toalha de mesa, e procurou-a. Poisou de mansinho a mão sobre um pedaço de pele exposto, sentindo o seu calor.
Lena continuou atenta à conversa da prima que desfiava sem parar. André manteve o copo de vinho na sua mão esquerda, enquanto a direita... Discretamente, o jovem procurou a suavidade da a coxa, percorrendo a pele com a polpa dos dedos.
Continuava a prima:
-Comprei uma mala lá no "Shopping", maravilhosa, havias de ver...E aquelas montras, minha querida, dão vontade de comprar!
E a vontade de André percorrendo lentamente o caminho até sentir o tecido das cuecas...naquele segredo ocultado pela grande toalha de mesa.
O primo Arnaldo lambuzando-se de pingo de gordura colado ao queixo, respondendo afirmativamente com a cabeça a cada pergunta feita pela esposa.
E André de sorriso seráfico no rosto, muito concordante, concentrado na mão que explorava os segredos da sua amante.
Lena mantinha a compostura sem dar parte fraca no meio do monólogo da prima.
-O "Shopping" até tem um super mercado!
E André vencendo o tecido , sentindo com os dedos a floresta de pelos de Lena . E os dedos mergulhando por debaixo do pano rumo a um calor mais húmido.
- Tens que ir lá! Tudo na moda, tudo dentro da moda!
Os dedos de André, lá dentro, molhados pela água de Lena que se sentia toda a ruborizar, num calor vindo do lado de dentro...
E a prima:
-Sabes que mais Lena? Desde que namoras o André até andas com outras cores!
Estas palavras, já ela as ouviu muito distantes...
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Contributo do Gaivina