Sobre os Links

De palavras não sei. Por isso canto
em cada uma apenas outro tanto
do que sinto por dentro quando as digo.

José Carlos Ary dos Santos – Epígrafe


Não sou grande exemplo para ninguém. Não sou mesmo. Sempre cheia de defeitos, cheia de razões, tenho um mau humor reconhecível a léguas e uma mania de ter sempre razão, quando acho que tenho razão. Mas quero acreditar que, com as cabeçadas já dadas, fui aprendendo algumas coisas.

Aprendi, por exemplo, que posso parecer muito mais simpática e boa pessoa do que aquilo que sou realmente; que será sempre fácil ler nas minhas palavras uma doçura que, muitas vezes, não tenho. Aprendi que, para uns, pareço mais velha, para outros, incrivelmente imberbe. Aprendi que uns me imaginam alta, outros me imaginam baixa; que uns pensam que sou morena e tímida; outros me imaginam alta e confiante.

Suponho que na minha escrita há dias em que sou morena e tímida; e noutros sou loira; noutros ainda sou alta, confiante. Talvez porque eu sou, dependendo dos dias, um pouco de cada coisa. Talvez porque a nossa personalidade seja formada por demasiados cambiantes e, nuns dias, somos velhos sabedores e, noutros, crianças pequeninas a aprender a andar no mundo.

No fim, sobra que as minhas palavras são apenas um dos reflexos possíveis de mim. Não sou eu, ainda que muito do que escreva tenha um eu por trás. Todos temos o nosso ego mais forte ou mais macerado, dependendo dos dias. E, em alguns desses dias, seremos capazes dos maiores gestos de simpatia; noutros seremos a pessoa mais bruta, mais agressiva e estupidamente incorrecta que se possa imaginar.

Não sou as minhas palavras. Ou, pelo menos, não sou apenas as minhas palavras. Sou um mundo de complexos e de ideias, de fragilidades e de forças; sou piada e sou lágrima; sou capaz de me rir de mim mesma mas, também, sou capaz de ver em cada frase um ataque.

Há dias – e continuará a haver – em que não saberei ser simpática; como haverá outros em que serei doce como mel. Há dias em que escreverei textos onde todos conseguem rever-se e outros em que ninguém saberá do que falo. Tenho motes na escrita. Nem sei bem onde os vou buscar. Fazem sentido ou não, conforme os meus humores. Não serão nunca a minha totalidade, que essa, ainda assim, preservo como posso.

Não é que queira mentir, ou esconder-me. É só um último refúgio para a minha identidade, a mesma que escondo atrás de um nick, a mesma que alguns – poucos – conhecem porque assim aconteceu e me fez bem tirar a máscara.

Também é por isso que não tenho um perfil público completo no blogue, nem uma foto minha, nem um mail para além do Hipatia. Mesmo que isso, muitas vezes, não sirva para nada, é o que ainda posso fazer para me preservar. Para que não tenha novamente de voltar a procurar um espaço onde me sinta livre para escrever, em que não há quem me cobre o tanto que já dei de mim e o que ainda poderia ter vontade de dar.

Já disse várias vezes: sou uma pessoa banal, com gostos banais e alguns valores que preservo sobremaneira. Mas tenho mau feitio e, por vezes, não penso muito bem antes de escrever seja o que for. Funcionando por impulsos, mau seria se assim não acontecesse.

E agora talvez alguns de vós se perguntem a propósito de que vem isto. Bem, nada de muito transcendente. É que, lendo um post da Vague, apercebi-me que não pedi licença a nenhum dos blogues ali do lado para os linkar. E este é o meu acto de contrição, se quiserem. Quem não tiver gostado de ser linkado aqui à minha Voz, sinta-se à vontade para mo dizer. Sem colocar qualquer questão, tratarei de remover o link e, amigos como antes, não deixarei por isso de continuar a visitar-vos como há uma série de meses tenho feito.