2005-03-11

11 - M


11 - M Posted by Hello

Perder num gesto a vida sem saber
porquê, qual a razão desta viagem
traçada por um deus que não conheces
num ziguezague do destino


Fernando Pinto do Amaral



A Mar já disse tudo...

1 comentário:

Anónimo disse...

Mais Vozes

On : 3/11/2005 1:10:10 PM Diálogos Interactivos (www) said:

Perante tanta dor, perante o que não sei explicar, só me apetece o silêncio...
Beijo
Bom fim de semana


On : 3/11/2005 1:39:28 PM Hipatia (www) said:

Bom fim de semana, Diálogos


On : 3/11/2005 1:53:37 PM duende (www) said:

A questão não se resume a isso e tu sabe-lo tão bem como eu. São-no. Cobardes, quero dizer. É também o medo, a insegurança, o horror, que fomentam. Não há novidade aí. Mas a cobardia, o horror e tudo o resto são fomentados todos os dias por muitos povos. Onde estão as homenagens aos milhões que morrem de fome, sida e muitas outras doenças? Onde está África, por exemplo? Não têm um dia, têm todos os dias. Só não têm é flores e manchetes. Sem qualquer desrespeito pelas vítimas do terrorismo, há homenagens que me soam sempre a hipocrisia.


On : 3/11/2005 2:11:11 PM Hipatia (www) said:

África não merece apenas um dia. Merece-os todos. Mas África é vitima da nossa vergonha, deste sabermos que nada fazemos, deste deixar andar. Por isso calamos.

Nos comboios de Madrid embarcamos também. Foi muito mais próximo do que tudo o que queremos esquecer. Por isso também é tão mais simples soltar um grito de raiva.

Nada é simples. Nada é linear. Mas dá sempre jeito ter memória selectiva.

África representa a cobardia do Mundo. Não merece só um dia. Madrid representa a cobardia engatilhada em precisão, fazendo do terror a arma apontada ao nosso quotidiano. Se não me identifico com a mulher a quem roubam um filho para o vender como escravo, não consigo deixar de pensar que naquele combóio podia estar eu. Ou tu. Ou outra qualquer pessoa que me é próxima.

Talvez seja essa a grande diferença. Talvez por isso eu hoje tenha gritado aqui contra a cobardia de uns poucos. Um acto isolado, macabro. Para "as Áfricas" que ainda existem - e são tantas - não basta, não chegará nunca, tão pouco.

Mas, sem dia marcado, já pus nesta Voz as minhas "Áfricas". Podes encontrá-las aqui: http://vozemfuga.blogspot.com/ 20...ga_archive.html


On : 3/11/2005 3:29:34 PM duende (www) said:

Eu li, Hipatia. Entendo, é claro. Só a proximidade é terror suficiente. E realmente podia lá estar um dos meus. Há um ano depois de ouvir as notícias passei boa parte do dia ao telefone com a minha família de Madrid. Solidária depois do susto. Afinal metade de mim está em Espanha. Mas mesmo assim... é neste dias que mais me lembro dos tantos mortos de que ninguém fala (ousa falar). Nem eu.


On : 3/11/2005 5:10:04 PM vague (www) said:

Ó Duende, mas não é por existir uma África 'negra', negra de abandono e de pobreza, e tão esquecida! que temos de ignorar o terrorismo q existe pelo mundo fora e é cada vez mais refinado. Há várias frentes de luta e de solidariedade, é importante q não se esqueça nem o Ruanda, nem Angola, nem as vítimas do 11 de Março ou do 11 de Setembro. O 11 de Setembro foi uma coisa de arrepiar sobretudo pq a minha irmã tinha chegado de NY há pouco tempo e só por um acaso do destino não viajou mais tarde.
Estás a fazer algum texto sobre África, Hipatia?
Estes temas são importantes mas deixam-nos desconfortáveis, não é?...Há pouco estive a ver o site das vítimas do 11Março, aquelas fotos, humanos como nós...enfim, nem há muitas palavras mais a dizer.
Bom fim de semana por aqui.
Beijinhos


On : 3/11/2005 5:14:42 PM vague (www) said:

Rectifico; a mim o 11 de Setembro tocou-ME particularmente pelo motivo q indiquei, mas acima disso tudo e desse sentir particular está um outro meu sentimento sem nome, a ver aquelas pessoas que se atiravam de dezenas de andares para o silêncio.


On : 3/11/2005 5:44:23 PM duende (www) said:

Não temos, nem nunca devemos igonar, Vanus. O meu ponto aqui é que os media, ignoram quase todos os outros e com isso também nós.


On : 3/12/2005 6:58:51 AM Mar (www) said:

Eu subscrevo a vague e nem me parece que se deva comparar uma coisa com a outra. A fome no mundo é mantida pelos mesmos que sustentam o terrorismo. O repúdio e a condenaçãp é comum para ambas as tragédias, mas uma coisa não implica que se cale a outra. e não concordo com a Du quando diz que não se fala e não se homenageia. O facto de sermos cidadãos a tentos e interventivos e críticos é também uma forma de homenagem aos que são vítimas, das diferentes formas de violência. Ou então não falaríamos de mais nada dia após dia, após dia. Porque a tragédia de àfrica, da Palestina e Israel e de tantos outros pontos do globo existem dia após dia, a todas as horas do dia. O terrorismo também mas a precisão de um determinado ataque, a frieza de o calcular, e executar tornam-no particularmente detestável.


On : 3/12/2005 8:17:23 AM duende (www) said:

Para já, peço desculpa à Vague por lhe ter trocado o nick.

Mar tu dizes que a fome no mundo é mantida pelos mesmos que sustentam o terrorismo. Certo. Estados Unidos incluídos, por exemplo. Os atentados não me chocam menos do que a qualquer de vocês como é evidente. Volto a dizer que era ao silêncio a que se remetem tantas atrocidades que me referia. Até porque não tenho qualquer dúvida de que se estes dois atentados tivessem tido como alvo países do 'mundo não ocidental' pouco se ouviria já falar neles.


On : 3/12/2005 9:47:09 PM mysticat (www) said:

Infelizmente é uma questão de estatística. Uma estatística surreal e sem sentido.
Em Madrid "bastaram" 192 pessoas para ninguém esquecesse esse dia.

Em Nova Iorque 3 mil mortes são pretexto frequente para atacar outros países e exterminar outros milhares.

No sudeste Asiático foram mais de 200 mil mas já nos estamos a esquecer... Como está tudo por lá? Alguém sabe? Já não vende.. já não choca, já não é notícia.

Em África são aos milhares por dia e nem isso chega para despertar...

Alguma lógica nisto, ou é uma questão geográfica como disse a "duende"? Como "uns" já estão habituados a sofrer, mais mil ou menos mil não interessam.
Matemáticas estranhas, I'd say... Estamos a falar de vidas!

Mas cobradia sim.. de Todos Nós!

bom fim de semana.

ps: hipatia: hoje para variar, comentei na ala esquerda. A ver se me começo a socializar


On : 3/13/2005 5:55:59 AM Luis_Duverge (www) said:

A história do Homem está cheia de horrores e atrocidades, o que mais me impressiona é que hoje como ontem( este ontem pode ir para trás até ao início do Homem na Terra) continuamos a roubar vidas, das formas mais estúpidas. Já tenho reflectido e continuo seja por que razão for o direito à Vida é um valor acima de qualquer outro. Acontece que mesmo no século XXI continuamos sem saber educar os que hoje nascem. Sim porque tudo reside numa questão de Educação, saber transmitir os valores e princípios pelos quais nos devemos reger.
Desculpem alonguei-me, mas este dia tem uma memória pesada que arrasta outras memórias.
Um beijo em forma de abraço.


On : 3/13/2005 10:14:44 AM Mar (www) said:

Ok du, talvez seja assim, porque como disse o luardeagosto lá no espelho, os media têm grande quota parte de culpa na "promoção" do terrorismo. E aos media não interesa denunciar os mortos no Sudão por aquilo que já sabemos.

Mas não concordo nada com a mysticat ao "contabilizar" os mortos e dizer que bastaram 100 e tal em Madrid para ninguém esquecer o dia. Até podia ter sido apenas UM, o que está em causa é o nojo que provoca o planeamento destas mortes. E mais mil ou menos mil no Sudão, a mim chocam-me da mesma forma.


On : 3/13/2005 10:48:09 AM mysticat (www) said:

Estava a ser sarcástica.
Houve alguém que disse: " a morte de uma pessoa é uma tragédia, a morte de milhares é uma estatística." Infelizmente muitas vezes é assim que passa...

A mim também me choca, mas porque é que globalmente nos chocamos mais com UM que seja em Espanha e nos habituámos a nem ligar ou a mudar de frequência aos milhares do Sudão?

Não vale dizer que não. É um facto.
Se a preocupação e o choque fossem iguais, certamente muitas coisas já estariam resolvidas e aí sim, milhares de vidas continuariam a viver.

Tudo isto me faz confusão...
bjs


On : 3/13/2005 1:10:15 PM Hipatia (www) said:

Nem sei que vos diga!

Adiante se disser que concordo com todos, mesmo quando as opiniões são divergentes? É óbvio que haver uma câmara apontada pode dar ainda mais força a qualquer maluco. Mas a falta dessa câmara faz muitas vezes com que as coisas aconteçam à mesma, só que sem ninguém saber. Lembrei-me do holocausto Nazi... será que tinha sido tão imenso se a opinião pública tivesse tido conhecimento dele mais cedo? Ou então Gaza, onde a proporção de mortos é de 3 palestinianos para um israelita, mas como os "danos colaterais" israelitas já contam com demasiados jornalistas estrangeiros, cada vez anda mais longe das manchetes do mundo...

Não sei! Acho que é tudo uma questão da forma como nos atinge. Da forma como algumas coisas já nos deixam demasiado embrutecidos. Aqui há uns tempos, neste mesmo blogue, fiz um post sobre o single do "Do they know it's Christmas". Uma das coisas que dizia é que as mesmíssimas imagens que no primeiro teledisco me tinham atingido como um murro no estômago, agora me deixavam perante a constatação de que, a muitos níveis, a idade e os desenganos me fizeram perder ingenuidade e capacidade de reacção.

As tragédias que todos os dias acontecem no mundo são imensas, horrorosas, inimagináveis. Algumas delas conseguem impregnar-se na nossa pele e causam ainda uma vontade de reacção. Só o facto de ainda haver em nós essa capacidade, essa vontade, para agir faz-me pensar que, afinal, talvez não estejamos demasiado embrutecidos.

Obrigada a todos, pelas opiniões fantásticas que aqui deixaram. Eu deixo aqui novamente o Talmud:

"quem salva uma vida é como se salvasse o mundo inteiro"

Às vezes basta apenas dar um passo. Só um... Haver capacidade para ainda dar esse passo.


On : 3/13/2005 3:50:12 PM duende (www) said:

'A morte de uma pe
Hipatia | Homepage | 03.05.06 - 1:40 am | #

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On : 3/13/2005 3:50:12 PM duende (www) said:

'A morte de uma pessoa é uma tragédia; a de milhões, uma estatística.'

Mystic eu até sei quem o disse. Ironia das ironias, foi Staline. Ele mesmo responsável pela morte de milhões e não de milhares, também. Mais um que nada deve a Hitler. Os extremos...


On : 3/13/2005 3:56:48 PM duende (www) said:

Correcção: Estaline, esse grande porco.


On : 3/13/2005 3:56:53 PM Hipatia (www) said:

Todos temos dificuldades em lidar com grandes números, não é, Du? O nosso cérebro parece estar mais preparado para a dor particularizada, ou algo assim. Eu não consigo imaginar quantos são "milhões de mortos". Mas, se falar de cento e poucos, consigo imaginá-los em filinha e, às tantas, até inventar uma cara para cada um deles...




On : 3/13/2005 4:19:05 PM duende (www) said:

Discordo, Hipatia. Eu não só os consigo imaginar como acho que os vejo. Suponho que devo deixar de ler livros sobre guerras e calamidades. Mas tens razão numa coisa, os milhões não têm rosto. Grande parte deles são massa fundida uns nos outros. Literalmente.


On : 3/13/2005 4:29:11 PM Hipatia (www) said:

Só que corpos sem rosto são demasiado anónimos. Demasiado mesmo. São números, claro. E calamidades também. Mas um rosto dá sempre origem a uma identificação. Uma identificação entre o nós e o outro, tanta vez já só cadáver, ou já só fotografia...

Lembrei-me agora do programa para eliminação de crianças deficientes dos Nazis e da forma como houve necessidade de identificar cada uma, de lhe pôr o rosto num memorial, de as resgatar à desumanização...


On : 3/13/2005 8:13:24 PM mysticat (www) said:

Duende, estamos a falar da mesma coisa, mas com palavras diferentes.
Eu estou a criticar o que se passa no dia a dia, não a defender. E o Estaline, (esse grande porco, dizes bem), devia ter tido um rasgo qualquer, porque o que disse faz sentido... infelizmente...

Acho que a hipatia no último comentário conseguiu explicar melhor aquilo que me engasguei a tentar escrever.

Mas se os milhares te tocam individualmente, ainda bem. Todos nós deveríamos ser assim: mais humanos.

beijinhos*


On : 3/14/2005 4:45:02 AM duende (www) said:

Mysti, não me expliquei decentemente. Mas ontem também estava à beira de um ataque de nervos por causa do computador. Ironias, não é? Pois é. Comentar temas tão sérios e mais preocupada com o meu umbigo que outra coisa qualquer... Mas vamos à explicação: não foi minha intenção sugerir que estavas a defender ou a criticar seja o que for. A intenção foi só mesmo dar-te a conhecer o autor da frase.

beijinho também para ti.