2005-03-30

Sem desculpas



Não lhe falava desde o Natal de 2003. Uma vergonha!

E também por vergonha não lhe falava. Porque não há razão que desculpe a sem razão de algumas palavras engatilhadas em fúria, disparadas sem dó.

Agora não sei o que dizer...

Talvez dizer apenas que, por vezes, não basta só pedir desculpas. Porque essas até podem ter sido pedidas. Nem basta sermos desculpados. Como não basta sequer o afastamento, o deixar que a vida siga o seu curso, que cada um siga o seu caminho.

A mim não basta. Não basta esta certeza que já não há mais tempo para dizer um simples olá; não basta aquietar a consciência pelas soluções encontradas; não basta fingir que não me atingiu.

A morte fez-me voltar para dentro de mim mais uma vez, para pesar o bom e o mau, para me deixar como um céu coberto de nuvens cinzentas que ameaçam o aguaceiro que nunca mais virá.

Sabia que estava doente. Sabia o seu e-mail. Deixei o tempo passar, achando que haveria sempre tempo. E nunca há...




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1 comentário:

Anónimo disse...

Mais Vozes

On : 3/30/2005 3:57:11 AM Ricardo Garcia (www) said:

Obviamente que há desculpa. Sabes que sim. Ele também.


On : 3/30/2005 4:00:22 AM duende (www) said:

Pois... já somos duas. Bah, nunca aprendemos.


On : 3/30/2005 4:59:41 AM cachucho (www) said:

Já que se fala em desculpas, mas minhas desculpas por andar afastado de um dos melhores blogs portugueses .
As férias assim o ditaram


On : 3/30/2005 5:00:05 AM cachucho (www) said:

errata: "mas minhas desculpas " , queria dizer : "as minhas desculpas"


On : 3/30/2005 8:07:20 AM Luna (www) said:

deixo um abraço..


On : 3/30/2005 9:34:46 AM Mar (www) said:

É bom que aprendamos que nunca há tempo Hipatia.
Pode ser que assim evitemos cometer os mesmos erros pela segunda vez.
É não deixar nada para amanhã!
Beijo


On : 3/30/2005 11:35:24 AM NOITE (www) said:

Concordo com a Mar, o mais importante destas situações, para além de ternatrmos corrigi-las a tempo, é claro, é retirarmos lições e não nos esquecermos delas.


On : 3/30/2005 12:11:37 PM CotaMarada (www) said:

Também concordo com a Mar. Mas há sempre tempo para dizermos o que sempre quisemos dizer e não fomos capazes. E há formas e formas de as dizer. Tu própria escolheste hoje uma.
Quando tinha 18 anos fui ao funeral da mãe da minha maior amiga (da altura). Essa minha amiga estivera toda a vida em conflito com a mãe. Durante o velório, que foi vivenciado de uma forma muito especial, com a voz do Zeca Afonso e outros cantores em som de fundo, vi a minha amiga guardar junto da mãe as palavras que ela nunca lhe tinha dito. Aí percebi que há sempre tempo para dizermos aquilo que sentimos. Mesmo quando o outro já não as pode ouvir.
Às vezes também precisamos de perceber porque é que encontramos na nossa vida apressada tantos pretextos para não termos tempo para "dizermos um simples olá".


On : 3/30/2005 1:05:09 PM Blue (www) said:

Pois é, infelizmente às vezes é tarde demais para voltar atrás...
Temo situações destas, até porque eu não sei ainda lidar com elas, mas acontecem a qualquer um, quem sabe um dia a mim também...
Jinhos


On : 3/30/2005 1:50:04 PM duende (www) said:

CotaMarada, só uma pergunta: quem ouviu essas palavras da tua amiga? A mãe? Como dizes e muito bem já não as podem ouvir. Portanto, são falhas de sentido. O culto dos mortos serve só aos vivos. Certo? (desculpa, não há qualquer hostilidade, só achei curiosa a tua resposta).

Hipatia, desculpa lá a invasão.


On : 3/30/2005 3:53:37 PM corpo visível (www) said:

Haverá sempre coisas de que nos arrependeremos vida fora.
O importante é aprender com os erros.
A culpa é demasiada pesada.
Não ajuda nada.
Só complica.
Beijo


On : 3/30/2005 4:07:42 PM CotaMarada (www) said:

Duende
Não tens de pedir desculpa. Não senti qualquer hostilidade e tocaste num ponto importante. É verdade que a mãe da minha amiga infelizmente não pode ouvir as suas palavras (escritas numa carta). Mas também é verdade que o facto da minha amiga conseguir exprimir o que sentia e simbolicamente enviar a mensagem, não se traduziu num culto dos mortos somente numa reconciliação com ela própria. É importante que as palavras não fiquem presas dentro de nós. Elas corroem-nos por dentro.


On : 3/30/2005 4:29:21 PM vague (www) said:

E há outra coisa, permitam-me acrescentar, Duende e CotaMarada: as coisas não ditas em vida e sussurradas nesses momentos devem doer imenso a quem as diz e se calhar ainda mais pq não as conseguiu dizer e verbalizar qdo o outro as podia ouvir e sentir.

Sobre a morte: não aprecio particularmente a expressão
'culto aos mortos'. No entanto, no que ela significa de honrar a memória, de lembrar, de amar os momentos, celebra-se a vida. É assim que eu vejo estas coisas. Não o lado se quiserem institucional do culto, do dia 1 de Novembro, das flores, dos cemitérios, q são tristes e lugares de muita gente e de ninguém, mas o lado simbólico da vida dos que amamos, amámos e amamos sempre enqto houver memória.

Dói ir ao cemitério e sei q a minha avó não está lá (a minha avó com quem vivi 20 e tal anos da minha vida), mas faz-me bem ir lá visitá-la, é assim q falo qdo lá vou. 'Fui ver a avó'. Não é imensamente triste, é triste apenas.

A ela não conta que eu vá lá, a mim faz-me bem ir lá e lembrar-me que a vida é uma passagem . Paulo Lemisnky dizia: 'Esta vida é uma viagem, pena eu estar só de passagem'.

Sabem q sonhar com mortos é bom?
Um dos sonhos mais bonitos q tive foi com a minha avó. Acordei numa paz imensa.

Um beijo.


On : 3/31/2005 5:23:28 AM duende (www) said:

Claro, Cota (o nick é delicioso). Terá servido como paliativo, talvez. Ou não. Como diz a Vague e muito bem, por outro lado, são terrivelmente dolorosas porque temos consciência da sua inutilidade e da nossa própria cobardia.

Vague, durante anos caminhei para o cemitério sempre que me apetecia para depositar flores em várias campas de entes queridos. Quatro não muito distantes uns dos outros. Até ao dia em que a minha mãe lhes foi fazer companhia. Voltei lá uma vez e não consigo voltar mais.

Beijos para as três.


On : 3/31/2005 8:48:58 AM vague (www) said:

Duende, depois do q disseste só posso enviar-te um abraço, que é tudo o que tenho agora.

Hipatia linda, cada um de nós tem fases dolorosas em que nem sequer é boa companhia para si mesmo ( como te entendo!) mas é mau é qdo não se consegue deitar cá para fora tudo o q magoa, tudo o que dói .
Não faças o que eu faço, o isolamento q se procura (e se precisa) é um círculo vicioso que se reforça a cada volta dada...
Ora, mas precisamos de nos isolar ocasionalmente do mundo, caramba. Mas é bom sentir q mesmo quando não conseguimos falar nem verbalizar o que nos dói, o outro estende uma mão amiga e aceita o nosso silêncio, a nossa incapacidade em falar, o nosso mutismo, a nossa aparente indiferença e nos dá dois braços abertos inteiros que nem sempre conseguimos aceitar. E já falei demais
Um beijo, sweetie.


On : 3/31/2005 4:11:06 PM ocidental-acidental (www) said:

Cada um reage em cada momento com o que sabe, o que pode, o que consegue. Nem sempre as nossas respostas, reacções ou atitudes se enquadram bem no momento, no local e na pessoa. Mas isso não motivo para nos sentirmos mal com os outros. Não é se não for uma (má) intenção ou (má) atitude premeditada.
Tudo, assim tem e merece desculpa.
Nós vivemos e reagimos com o que temos, com a nossa humanidade. Se ter a resposta certa- politicamente correcta- é o esperado, reagir mal, ou seja, ter a reacção inesperada, ou que mais tarde nos fará sentir mal, também é resposta. E as reacções negativas são tão legítimas quanto as positivas.
Hipatia, não te sintas mal com alguma coisa e com coisa nenhuma.
Quem te conhece perdoa-te sempre!
Um beijo... sentido.


On : 3/31/2005 4:24:34 PM Hipatia (www) said:

A todos: o meu sentido obrigada!

As vossas palavras fizeram-me bem, souberam-me bem. E, mais importante ainda, puseram-me a pensar.

Não vou responder individualmente porque preciso mesmo de deixar este assunto partir, deixar que surja espaço para inventar memórias e para fazer comigo mesma a Paz que, há muito tempo, fiz entre mim e a pessoa em causa. Porque a verdade é que há muito que pedimos desculpas um ao outro. E foram sinceras e verdadeiras. Agora é tempo de olhar para trás com ternura, para a frente com saudade e para mim com melhor cara.

Mais uma vez, obrigada pelos vossos comentários.

Um beijo enorme para todos.