Lindu, aprendera precisamente, pelos mesmos livros que eu aprendi, naquele tempo em que o livro da escola era um só e o mapa do “Mundo Português” abrangia as tantas nações que falam a nossa língua. Estudámos, pois, pelo mesmo livro de capa dura onde figuravam uns meninos de calção, fazendo um gesto de saudação, bem estranho aos nossos dias.
Na parede da sala de aula, um mapa do “Grande Portugal”, contendo Angola, Cabo Verde, Guiné, Moçambique e Macau, juntamente com a porção de terra que reconheço ser o meu país, limitado, como sei, pelas suas fronteiras.
Mas tínhamos que estudar muito mais...
Do Rovuma ao Cunene, passando pelo Douro e o Tejo sulcando planícies imaginadas de um Portugal, cada vez mais vasto!
Lindu, gostava daquele mapa, particular, contendo todas as linhas de caminho de ferro de Portugal e Colónias...Isso, fazia-o sonhar...
Imaginava os comboios percorrendo planícies em Africa e contornando montanhas em Portugal. E a matéria tinha que estar decorada na próxima aula, ramal por ramal, numa sequência de viagens imaginárias que ia construindo numa cartografia interior...
Aos poucos, o seu coração crioulo, foi imaginando uma linha de comboio que percorria a sua ilha de S. Tiago, em Cabo Verde, de lés a lés. Uma espécie de automotora veloz que ligaria a cidade da Praia ao Tarrafal, recortando, numa pressa, as levadas da serra da Malagueta com a sua mancha vermelha.
Cada vez que alguma revista ou jornal, trazia uma fotografia de um comboio ou estação, Lindu pegava na sua tesoura e recortava aqueles pedacinhos ferroviários que faziam a sua existência imaginada. A colecção de recortes, presa com fita-cola sobre a sua cama, atestava um mundo que corria sobre carris.
Lindu cresceu, como todos crescemos, uns com dores, outros não. Teve vários filhos de mulheres diferentes, mas sempre um comboio viajando a imaginação.
Como todos sabemos, Cabo Verde é terra de imigração, sendo o destino de um pai, o deixar partir...
Assim partiu, para a “Tera Longi”, Teresinha, sua filha mais velha, mas de avião.
Quando Teresinha teve o primeiro filho, de um patrício igualmente imigrado, mandou chamar seu pai a Portugal, à cidade do Porto.
Lindu, fez as malas e zarpou para a ilha do Sal, para apanhar esse avião para Portugal.
Na bagagem, para além de conhecer o seu neto, um projecto íntimo e secreto...
Quando lá chegou, tomou logo a “Linha do Norte”, no primeiro “inter-cidades” disponível.
Desceu no Entroncamento. Queria conhecer o Lugar de onde todos os comboios partem para o resto da Europa....
Fui recebê-lo à estação de S. Bento, mais tarde...
Chorámos os dois, com os nossos cabelos brancos, vai-se lá saber porquê?
Teresinha estava lá, com o bebé nos braços, enquanto o altifalante anunciava um percurso de regresso a Lisboa, sem falhar nenhuma estação.
Na parede da sala de aula, um mapa do “Grande Portugal”, contendo Angola, Cabo Verde, Guiné, Moçambique e Macau, juntamente com a porção de terra que reconheço ser o meu país, limitado, como sei, pelas suas fronteiras.
Mas tínhamos que estudar muito mais...
Do Rovuma ao Cunene, passando pelo Douro e o Tejo sulcando planícies imaginadas de um Portugal, cada vez mais vasto!
Lindu, gostava daquele mapa, particular, contendo todas as linhas de caminho de ferro de Portugal e Colónias...Isso, fazia-o sonhar...
Imaginava os comboios percorrendo planícies em Africa e contornando montanhas em Portugal. E a matéria tinha que estar decorada na próxima aula, ramal por ramal, numa sequência de viagens imaginárias que ia construindo numa cartografia interior...
Aos poucos, o seu coração crioulo, foi imaginando uma linha de comboio que percorria a sua ilha de S. Tiago, em Cabo Verde, de lés a lés. Uma espécie de automotora veloz que ligaria a cidade da Praia ao Tarrafal, recortando, numa pressa, as levadas da serra da Malagueta com a sua mancha vermelha.
Cada vez que alguma revista ou jornal, trazia uma fotografia de um comboio ou estação, Lindu pegava na sua tesoura e recortava aqueles pedacinhos ferroviários que faziam a sua existência imaginada. A colecção de recortes, presa com fita-cola sobre a sua cama, atestava um mundo que corria sobre carris.
Lindu cresceu, como todos crescemos, uns com dores, outros não. Teve vários filhos de mulheres diferentes, mas sempre um comboio viajando a imaginação.
Como todos sabemos, Cabo Verde é terra de imigração, sendo o destino de um pai, o deixar partir...
Assim partiu, para a “Tera Longi”, Teresinha, sua filha mais velha, mas de avião.
Quando Teresinha teve o primeiro filho, de um patrício igualmente imigrado, mandou chamar seu pai a Portugal, à cidade do Porto.
Lindu, fez as malas e zarpou para a ilha do Sal, para apanhar esse avião para Portugal.
Na bagagem, para além de conhecer o seu neto, um projecto íntimo e secreto...
Quando lá chegou, tomou logo a “Linha do Norte”, no primeiro “inter-cidades” disponível.
Desceu no Entroncamento. Queria conhecer o Lugar de onde todos os comboios partem para o resto da Europa....
Fui recebê-lo à estação de S. Bento, mais tarde...
Chorámos os dois, com os nossos cabelos brancos, vai-se lá saber porquê?
Teresinha estava lá, com o bebé nos braços, enquanto o altifalante anunciava um percurso de regresso a Lisboa, sem falhar nenhuma estação.
4 comentários:
Eis um bonito hino à amizade de uma vida inteira e à concretização de sonhos.:)
E fez-me pensar que aqueles mapas que sempre odiei, pela imposição de decorar, afinal até podiam fazer sonhar.
no meu exame da 4ª classe,tive que debitar todos os caminhos de ferro, rios, e histórias de gente morta, depois da saudação cordial ao Salazar, e da oração ao cristo amarelo pendurado. ainda hoje me perseguem aqueles mapas de tecido.
Mas como diz a Maria, este é um hino à amizade. E isso, descrito e escrito desta maneira, torna o mundo mais bonito, Gaivina.
A nossa geração teve que empinar todas essas linhas de caminho de ferro.... Mas os comboios também me fizeram sonhar...
Tão estranho termos tido a ideia de publicar sobre amizade na mesma altura! Tinha acabado de escrever o meu texto quando te li e fiquei a pensar como gostaria um dia, de netos nos braços, continuar a partilhar amizades (e ainda tenho algumas) dos tempos dos bancos da escola primária :)
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