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Estão nus? Vão nus? No casulo fútil onde se escondem, a nudez é relativa. Tão relativa quanto o ego é capaz de a fazer. E recusam-se a admitir a nudez, mesmo que tenham já exposto, de forma indelével, a nudez e pequenez da sua personalidade.
Tal como o rei seria, no seu orgulho, incapaz de admitir a sua nudez, não sabem, na sua soberba, colocar-se no seu lugar. Alcandoraram-se a um pódio, um altar e por lá querem ficar. Será grande o tombo e penso que, na maioria dos casos, começa bem antes dos sintomas definitivos. Começa, aliás, no dia em que tantos de nós, que apenas estamos ou queremos estar de fora, passamos a ter pena, da mesma forma que se chega a ter pena do rei: aquela piedade corrosiva e envergonhada, não por nós, mas por figuras tão ridículas que se tornam dignas de dó.
No fundo, o trágico, o que me parece mesmo mais trágico, é a cegueira. Uma cegueira tal que mentirão a si mesmos só para não terem de ver, não terem de ver-se...
(a propósito do Berlusconi e mais umas coisinhas...)
13 comentários:
Borges dizia que a cegueira não era mais que um longo entardecer, o que acho das descrições mais bonitas que alguém jamais fez; só que um dia, o sol põe-se.
E quando não se é verdadeiramente cego, eventualmente, acaba-se por ver :)
(a propósito, deixa-me ir vestir qualquer coisinha)
Uma das coisas mais importantes que aprendemos ao longo da vida é a humildade...
Mas, como não podemos andar sempre sob autoescopia, resta-nos o olhar e a crítica dos mais próximos, para corrigir rumos.
se bem, que em certos momentos da vida, é importante "andar nu", para repor os equilíbrios em falta. Mas esta não deverá ser uma posição permanente.
....Acho que vou vestir qualquer coisinha....
Só se deve desnudar quem nada tenha para esconder.
;-)
"Uma cegueira tal que mentirão a si mesmos só para não terem de ver, não terem de ver-se..."
já alguém disse:
«ñ há maior cego, do que aquele que ñ quer ver».
tão verdade!
Na verdade, quase ninguém é capaz de olhar para o próprio umbigo e, realmente, ver o que lá está. Também é verdade que, quase todos nós, de uma forma ou outra, andamos sempre com o cu, ou parte do cu, à mostra. No entanto, existe aquilo que o Gaivina abaixo chama de humildade. Quanto a mim é, provavelmente, quanto basta para saber quando subir as calças.
Claro que, em certos momentos, é obrigatório exercitar o ego. Mau seria se assim não fosse. A falta de auto-estima é trágica. Mas a soberba é algo que - pelo menos a mim - causa pena. E eu não gosto de ter pena de nada nem ninguém. É um dos sentimentos mais complicados de gerir, não te parece, Gaivina? E isto tanto se aplica ao grande figurão que nem tem nada a ver connosco, como ao vizinho do lado a quem deu um achaque qualquer que nem vale a pena tentar compreender.
Obviamente, não descarto as minhas falhas. Também preciso pôr roupa, claro, até porque sou bastante egocêntrica. Mas tento ver, ou deixar que me mostrem, os meus limites e, assim, evitar figuras tristes :)
Todos temos sempre algo a esconder, Old Man. Felizmente, nenhum de nós nasceu perfeito. Não vale é atirar pedras esquecendo os nossos telhados de vidro ;-)
De qualquer forma, é sempre preferível desnudar a par, ie, lidar com os nossos defeitos e os dos outros em pé de igualdade, respeitanto e dando-se ao respeito. A partir do momento em que alguém acha que vale mais do que outro é que o caldo fica realmente entornado :))
Quantos mal entendidos não seriam evitados se todos fossemos capazes de evitar a cegueira que, por vezes, nos turva a visão, Só Nos Credita?
Ah, também viste o bonito espectáculo que o dito senhor deu numa entrevista... fiquei de queixo caído.
Parece que a atitude do eu tenho razão contra tudo e todos é uma moda que está em alta, até neste cantinho...
(o cantinho a que me referia é o nosso Portugal... não vás tu entender que me referia à tua casinha-blog. Por aqui não sopram esses ventos, e ainda bem ;)
Será cegueira: a cegueira de que o dinheiro tudo compra e esse é o único critério de verdade.
Sinto como trágico o facto de essa cegueira se estar a expandir e ser aceite. Compram-se orgãos de comunicação social para perpetuar a cegueira. E torna-se aceitável que os jornalistas sejam relógios de repetição das ordens do dono.
Foi muito feio, não foi, Lisa? Quase tanto como a atitude do Mário Soares na tomada de posse do Cavaco Silva. Ou então como algumas guerrinhas que vão surgindo em todo o lado à conta de cegueiras que nem me interessa, realmente, compreender.
Eu sou egocêntrica, snob muitas vezes, um tantinho presunçosa e, em alguns dias, tenho as minhas calças pelos joelhos. Mas acho que ainda sei dar a mão à palmatória, quando é preciso. E, mesmo julgando os outros, tento pelo menos aceitar que me julguem a mim de volta. Há sempre dois lados de cada história e nenhum argumento pode ser definitivo. Se nos fechamos numa qualquer verdade, assumimos um dogma qualquer redutor. Espero saber partilhar opiniões. Talvez seja o único caminho que sei para evitar guerrilhas que não engrandecem ninguém...
É mais do que só dinheiro, Maria Árvore. É este mundo fast-food e a necessidade de poleiro. É o tentar ser pela aparência do ser aquilo que o ser nunca será. É cegueira, surdez, ego. E não sobra muita mais :(
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